por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 13 de setembro de 2013

O CONSTRUTOR DE GENTE.




PADRE AGIO AUGUSTO MOREIRA.

 

Falar do Padre ágio não é nada difícil. Falar do Padre Àgio é falar de alguém que durante toda a sua vida assumiu o sacerdócio de construir gente, como diz a musicista Izaira Silvino. É falar em SONHOS POSSÍVEIS...

Padre Ágio, nasceu no distrito de Quixará - na época pertencente à cidade de Assaré – Ceará, hoje Farias Brito. Começou a formação religiosa, aos doze anos, em Campinas, São Paulo, junto com o seu irmão David Moreira. Os estudos continuaram no Seminário Diocesano da cidade de Crato - Ceará, onde teve o seu primeiro contato com o estudo teórico da música. Depois no  Seminário da Prainha, em Fortaleza, onde aprimorou os seus estudos em musica clássica e Canto Gregoriano.

Voltou ao Cariri depois de ordenado Padre, indo trabalhar num pequeno distrito/localidade chamado Goianinha (hoje Jamacarú), em Missão Velha (CE). Lá em foi surpreendido por um grupo de trabalhadores rurais, entoando os chamados “Cânticos de Trabalho”. Divididos em voz masculina e feminina, a duas vozes, dentro de uma harmonia e afinação quase perfeita. Alí surgiu a idéia de fundar uma escola de música para trabalhadores rurais. Pensou até que ponto música poderia se transformar num instrumento de crescimento e despertar individual e coletivo  para crescimento e o desenvolvimento humano.

Em Jamacarú, levou os trabalhadores para cantar na igreja durante as missas. Iniciou uma triangulação divina entre música, religião e trabalho. Mas foi no Crato que se concretizou o seu projeto.

Começou no Lameiro, ensinando solfejo, canto gregoriano e o manuseio de intrumentos musicais (acordeon, Violoncelo piano e violão). Seus primeiros alunos foram, José Nilton Figueiredo, José Moreira e outros dois que atendiam pelos apelidos de Pituxa, Frajola. Continuou o projeto no Belmonte por volta de 1965 com a Escola de Música Heitor Villa Lobos. Primeiro os cânticos na igreja, pois lá no Belmonte já não via mais os cânticos de colheita. A partir daí direcionava-os para as aulas teóricas de música.

Como não podiam deixar o trabalho, os alunos manuseavam instrumentos de trabalho(pás, enxadas, facões, arados, etc.), enquanto outros cuidavam de gado. E à noite trocavam seus instrumentos de trabalho por instrumentos musicais e se embrenhavam em partituras, solfejos e cantos. A música já era parte das suas vidas.

A comunidade aos poucos, foi agregando a escola às suas vidas, as crianças eram incentivadas pelos pais a irem estudar música, e o projeto tomou corpo. Aos poucos eles começaram a se apresentar na cidade. Depois vieram as doações de instrumentos, de dinheiro, vieram pessoas da cidade ajudar na administração da escola, o número de alunos cresceu e a comunidade agora era parte da escola assim como a escola era parte da vida deles.

Assim, já se vão mais de meio século de sonho realizado. A escola transformou-se em Sociedade Lírica do Belmonte. Possui hoje possui um auditório, uma escolinha de alfabetização para crianças, uma orquestra, coral (adulto e infantil,) palco, sala de ensaios, capela, banda de musicas, camerata, etc. Atende um contingente de cerca de 150 alunos. Possui uma orquestra formada por 65 músicos distribuídos em instrumentos de corda (violões, violinos, violoncelos e baixos), instrumentos de sopro (de madeira e de metal), teclados, além de instrumentos de percussão.

Muitos dos alunos, hoje são professores de música na escola. Outros se espalharam pelo Brasil abrilhantando orquestras sinfônicas com os seus talentos. Ex. Salvador, João Pessoa, Maceió, Fortaleza, Rio de Janeiro e, sempre que podem, retornam ao distrito de Belmonte para cursos intensivos aos alunos da Escola. Alguns optaram por permanecer na escola, cativos que são do gosto pela música, exemplados que são pela grandeza, humildade e perseverança do Padre Ágio. Hoje são dirigentes e professores da escola. Muitos deles hoje com formação acadêmica, são doutores encaminhados pelo crescimento pessoal promovido pela música. Um exemplo para o mundo.
(IMAGENS:Internet)
 

Kaika Luiz – Um produtor com a cara do Cariri contemporâneo

Começou a produzir eventos no tempo em que fazia  tertúlias na sua casa, Kaika Luiz desde cedo manteve contato com a diversidade da produção do Cariri e nos últimos vintes anos vem se destacando pelo seu trabalho de produção cultural, tendo sido responsável pela vinda para região de artistas como Moraes Moreira, Fagner, Kid Abelha, Lobão, Luiz Gonzaga e Bandas como Seu Chico (Recife), As Chicas (Rio de Janeiro), Black Dog (Rio de Janeiro), Blues Power (Rio de Janeiro), Cabruêra (João Pessoa), Os Transacionais (Fortaleza), Os Caetanos (Recife), Caco de Vidro (Fortaleza) e muitos outros, além de quase todas as bandas do Cariri. Kaika também  é um dos defensores da criação do percentual de 2% receita municipal ara cultura.  

Alexandre Lucas –  Quem é Kaika Luiz?

Kaika Luiz  - Existe uma música do Nilton César, das antigas, chamada EU SOU EU que acho me identifica bem, principalmente no trecho onde ele canta: “Eu sou eu, foi meu pai que me fez assim, quem quiser que me faça outro, se achar que eu sou ruim.” Ouvia muito essa música nos parques que vinham para o Crato fazer a festa da exposição e padroeira, principalmente o Parque Maia. Sempre achei que essa música diz um pouco de mim.

Alexandre Lucas –   O que é o Cariri para você?

Kaika Luiz  - Uma lindeza que tive a grande oportunidade de nascer. Certa vez ouvi da amiga Izaíra Silvino que “O cariri tem um artista em cada esquina”. Isso é o que vejo também: por onde você anda aqui no Cariri você esbarra com um artista. Então o Cariri é isso.  Arte pura.

Alexandre Lucas –   Como se deu seus primeiros contatos com a arte?

Kaika Luiz  - Dentro da minha própria casa, desde cedo. Tive várias influências culturais. Inicialmente com meu irmão mais velho Nacélio, conhecido por Veinho. Eu era criança e ele teve uma banda aqui no Crato. Era o THE TOPS que já tocava muita música bacana. Outro irmão, o Roncy, um pouco mais velho que eu, mas um grande apreciador de rock,  eu curtia junto. A banda Ases do Ritmo, outro grande ícone das décadas de 70/80 no Cariri. Tive o prazer de ver e ouvir muitas vezes essa moçada sob a batuta de Hugo Linard. Aí vem Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Beatles, etc. Na literatura veio do Colégio Diocesano, onde estudei todo o ensino básico. Lembro bem do meu primeiro livro que ganhei de presente da professora Almerinda Madeira no meu aniversário. Foi “As aventuras de Tom Sawer” de Mark Twain. Nunca esqueci esse presente. No cinema, desde cedo nós convivíamos com a arte do cinema aqui no Crato, pois como todos sabem, tínhamos três ótimas salas de exibição e eu garoto estava sempre antenado com o cinema. Então, eu convivi com algumas vertentes das artes desde cedo, música, teatro, cinema, literatura, pintura, tudo isso fez parte da minha vida infantil e continua até hoje.

Alexandre Lucas –  Fale da sua trajetória:

Kaika Luiz  - Nasci na Rua Teófilo Siqueira, esquina com a antiga Rua Pedro II (hoje é Rua Vicente Lemos). Ali onde hoje tem um prédio e funciona uma xerox. Minha primeira escola foi o grupo escolar Alexandre Arraes. Em seguida mudei para o Diocesano. Desde cedo já me interessava em ajudar o meu pai no seu comércio na inesquecível Cantina do Oliveira que, mais tarde, profissionalmente, comandei por 25 anos. Com o falecimento do meu pai em novembro de 2000, resolvemos fechar a empresa e a partir daí comecei a levar a minha profissão de produtor cultural com mais afinco. Na realidade eu já o fazia antes, mas só a partir do ano 2000 é que me voltei totalmente para a profissão. A minha produtora foi fundada desde 1996. Neste cenário também trabalhei e ainda trabalho com publicidade e turismo. Sou meio workaholic, sempre procurando me envolver com arte, cultura e turismo.

Alexandre Lucas –   Você tem contribuído para a produção cultural na região do Cariri. Fale desse trabalho:

Kaika Luiz  - Pois é, isso começou também muito cedo. Acho que nos tempos que fazia as “tertúlias” em minha casa. Minhas festinhas já eram conhecidas. Depois, quando fui trabalhar no comércio, fui convidado a integrar a diretoria do Crato Tênis Clube, o que fiz durante oito anos. Nesse período as festa da “Exposição do Crato” aconteciam nos salões do CTC. Minha profissão de produção se intensificou muito nesse período. Foi no Crato Tênis Clube, principalmente com alguns componentes da diretoria, principalmente o Ermano Américo, que a coisa detonou. Aí trouxemos pra tocar no clube artistas como Moraes Moreira, Fagner, Kid Abelha, Lobão, Luiz Caldas, Luiz Gonzaga, Beto Barbosa, e muitos outros. Em seguida fiz algumas produções locais com o artista Nonato Luiz, e uma mini turnê estadual com o Didi Moraes. Tenho conseguido ultimamente em parceria com a produtora Mônica Vitoriano, da MC2 Produções, realizar bons eventos aqui na região, sempre procurando buscar novas linguagens musicais em atividades em outras regiões, em sintonia com a produção local. Bandas como Seu Chico (Recife), As Chicas (Rio de Janeiro), Black Dog (Rio de Janeiro), Blues Power (Rio de Janeiro), Cabruêra (João Pessoa), Os Transacionais (Fortaleza), Os Caetanos (Recife), Caco de Vidro (Fortaleza) e muitos outros, além de quase todas as bandas do Cariri. Sempre procuramos colocar uma banda local nessas apresentações no sentido de haver uma interação entre os estilos e para o conhecimento entre artistas.

Alexandre Lucas –   Como você ver a produção cultural na região?

Kaika Luiz  - Apesar das dificuldades, sempre tem acontecido bons eventos na área cultural no nosso Cariri. Disso podemos nos orgulhar, porque não é fácil realizar esses trabalhos por conta da forte pressão que sofremos com a mídia de massa em eventos de gosto duvidoso, mas que arrasta multidões, infelizmente. Mas graças a Deus temos feito a diferença no Cariri e isso juntamente com outras produtoras, com o SESC, a Secretaria de Cultura do Crato, que sempre tem nos apoiado e a nossa luta na busca de patrocinadores que nos ajudam a viabilizar esse evento. O Centro Cultural do Banco do Nordeste também tem feito um trabalho belíssimo aqui no Cariri, o que nos dá ótimas oportunidades de ver trabalhos de grandes nomes do cenário cultural brasileiro. Em relação aos artistas, fica impossível citar a todos, mas o Cariri é destaque digo que até internacional, por conta de grandes nomes que estão produzindo trabalhos cada vez mais belos e originais.

Alexandre Lucas –   O que você propõe?

Kaika Luiz  - Além dos 2%, que a lei deveria funcionar, proponho uma maior interação entre os produtores, os artistas, o poder público e as empresas, seja comércio ou indústria, no sentido de conseguirmos parcerias fortes para a viabilização de eventos bacanas. Proponho  melhor organização da cadeia produtiva da produção cultural, a fundação de uma associação, sindicato, ou, enfim, que todos, juntos, procuremos nos organizar melhor para o nosso engrandecimento e maior participação de todos.

Alexandre Lucas –   Você também é poeta. Fale da sua poesia:

Kaika Luiz  - Pois é, a poesia também sempre fez parte da minha vida. Desde muito tempo que escrevo, mas como sou muito tímido, nunca as publiquei. De repente me deu vontade de fazer isso através das redes sociais, o que tem me dado um ótimo feedback das pessoas. Achei muito bom isso. A minha poesia é super simples, mas utilizo sempre uma linguagem bem direta e bastante forte. Às vezes utilizo da métrica, mas nem sempre. São vários temas, muitos deles de ordem pessoal, mas tem também a poesia absurda, fora de contexto e engraçada. Gosto de brincar com as palavras, as vezes uso travas-línguas, e outros recursos para torna-la única. Por conta disso algumas delas já viraram música: duas feitas pelo grande músico Pantico Rocha e outro pelo baixista Gustavo Portela de Fortaleza. Estou feliz por isso e pela repercussão do que tenho escrito.

Alexandre Lucas –   Tem planos de publicar um livro com essas poesias?

Kaika Luiz  - Tenho sim, inclusive já recebi um convite para fazer isso através da amiga Eliza Mariano, uma cratense que mora em Fortaleza, proprietária da livraria Lua Nova, um ótimo espaço cultural da nossa capital. Estou organizando tudo isso, inclusive à procura de patrocinadores para viabilizar a impressão.

Alexandre Lucas –   Quais os seus próximos trabalhos?

Kaika Luiz - Estou  organizando para este segundo semestre. Dia 5 de outubro estamos viabilizando a vinda do artista Nigroover de Fortaleza e estamos procurando apoios pra fazer novamente o Reveillo’n’roll, com bandas de rock. Tem também a realização do meu maior sonho que é o FICA – Festival de Inverno do Cariri que estou na luta pra realizar no próximo ano. O FICA já tem projeto há uns 4 anos, já está registrado, só falta o principal: apoio, mas estou sempre procurando e nunca vou me cansar disso.

O "seresteiro do Planalto" - José Nilton Mariano Saraiva

Como ninguém é de ferro, em determinadas ocasiões o então Presidente da República Lula da Silva reunia nos fins de semana alguns membros do governo, na Granja do Torto (uma das residências oficiais do Presidente da República), a fim de confraternizar e jogar conversa fora.

Evidentemente, predominava a informalidade (nada de agenda, assuntos sérios, paletó, gravata e por aí vai), até porque o objetivo era esquecer por algumas horas os grandes problemas da nação, a pressão diuturna e... se reoxigenar para a batalha da semana seguinte.

Alguns dos freqüentadores, entretanto, intimamente miravam mais à frente, porquanto já se falava abertamente, àquela altura, sobre a sucessão presidencial, vez que Lula da Silva se achava impossibilitado de concorrer mais uma vez (já houvera sido reeleito). E isso, claro, mexia com o ego e a vaidade de uns, que sonhavam ostentar o “passaporte” homologatório da candidatura sucessória das mãos do todo-poderoso chefe.

Para tentar viabilizar-se como tal (candidato indicado pelo presidente, sim senhor), alguns fugiam do lugar-comum e adotavam a heterodoxia plena, naturalmente partindo do pressuposto de que “não importam os meios empregados, conquanto o objeto de desejo seja alcançado” (nem que tivessem que se expor ao ridículo e à chacota de muitos, no decurso da engenharia política afeta).

Um dos freqüentadores assíduos de tais noitadas, Ciro Gomes (um megalomaníaco que se julgava uma espécie de “messias”) bolou um jeito todo peculiar de se chegar ao chefe ainda mais e agradá-lo mais que todos, na perspectiva de ser o escolhido: assim é que, sabedor da preferência musical do chefe, deu um jeito de colocar no “cardápio-noturno”, da Ganja do Torto, o “momento musical”: e aí, em plena madrugada do cerrado do planalto central, ecoava a sofrível voz do “seresteiro do planalto”, tanto melosa quanto interesseira.

O resto todo mundo já sabe: Lula da Silva não se deixou levar pela “puxação-de-saco”, preferindo privilegiar a competência, daí ter escolhido Dilma Rousseff para concorrer (com sucesso), à sua sucessão.

Cartas postas à mesa, Ciro Gomes, preterido e sentindo-se injustiçado, procurou as televisões para, em horário nobre, afirmar em alto e bom som que entre a candidata de Lula da Silva e a de José Serra (seu arquiinimigo), este seria muito mais preparado, porquanto, como ele, Ciro Gomes, já houvera sido governador, ministro e tal, enquanto Dilma Roussef não tinha nenhum atrativo em seu currículo.

Foi então que, orientada pelo mentor, Lula da Silva, a candidata a presidente ofereceu-lhe uma simples “coordenação de campanha”, no Nordeste. Foi o suficiente e bastante para emudecê-lo de vez. Tanto é que trocou de novo de posição: voltou com malas e bagagens para a candidatura Dilma Rousseff.


A pergunta, então, é: um cara desses, sem qualquer consistência programático-ideológica, é confiável ???  

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Embargos Infringentes




J. Flávio Vieira

                               Wanderico ensinava Sociologia em Matozinho e era uma figuraça. Alto e esguio, cabelo grande preso por uma Maria-Chiquinha, barba longa e desgrenhada, roupas simples montadas em cima de umas chinelas currulepe. Fazia parte daquele protótipo de professor sociólogo, só que não mandava rasgar livros e nem pensava em se meter em Academias. Os alunos o adoravam : tanto por sua dedicação,  como pelo carinho que dedicava a todos na Escola. Wanderico chegara a Matozinho, há pelo menos vinte anos, quando se mudara da capital. Adaptou-se perfeitamente àquela vida provinciana e trouxe na bagagem uma larga experiência pedagógica. Sabia-se pouco do seu passado  na beira-mar , mas ali sempre levara uma vida monástica.  Devia ter seus cinqüenta e lá vai lapada. Morava sozinho, fizera-se sempre um solteirão convicto. Não é que não gostasse da fruta, tanto que namorava há mais de dez anos uma mocinha bem mais nova que ele: Afonsina.  Ela fora sua aluna no colégio e era de família humilde, mas queridíssima na Vila.
                        Wanderico , um sujeito desprendido, justificava sua solteirice crônica , sua aversão ao altar, com razões bastante pragmáticas. Entendia que o casamento era uma instituição que não podia dar certo porque precisava, necessariamente, assassinar o namoro. Comer a famosa saca de sal juntos mostrava-se motivo suficiente para deixar intragável  qualquer relacionamento. Namoro e paixão, dizia sempre, eram coisas boas demais para serem liquidificadas pelo matrimônio.  Unir as duas escovas de dentes deixava, imediatamente, o tesão banguelo. Deusulive !
                        A filosofia de Wanderico, no entanto, esbarrava em muitos obstáculos. Afonsina, como toda mulher , sonhava em casar e aquele relacionamento longo a vinha deixando na berlinda. Em Matozinho, já se perguntava nas beiras de rua, se aquilo era pra casar ou pra que diabos era. Namoro longo denotava , imediatamente, intimidades na mesma proporção e, ali, todas as amizades tinham que ser, necessariamente, em preto-e-branco.  Qualquer  possibilidade de meximento prematuro  em cabaço de moça era igual a cutucar marimbondo de chapéu, com vara curta.  Assim, como no julgamento do Mensalão, sequer provas se necessitavam, as evidências se faziam mais que suficientes para a pronta condenação do acusado.
                        Passados os primeiros anos do namoro, começaram as inevitáveis pressões pelo desenlace final . Os vizinhos cutucavam a família de  Afonsina e  se foi criando um clima cada vez mais turbulento. “O homem é loiça!” , “Já era casado na capital, não pode casar de novo, né?”, “Já provou da fruta e parece que já tinham comido uns gomes antes dele!”  Todos, no entanto,  respeitavam muito Wanderico e se sentiam constrangidos em acintosamente o colocar no canto da parede. Insinuações escaparam aqui e ali, sutis indiretas se teceram, mas o professor  parecia um verdadeiro artista fingindo-se de João-Sem-Braço. Comemorado, por fim, o aniversário de dez anos do namoro, num Natal onde todos estavam reunidos, o pai da moça foi às vias de fato e , delicadamente, colocou o noivo a par das  expectativas e preocupações da família diante do infindável casa-não-casa.  Wanderico fingiu entender tudo e prometeu :
                        --- Quando Julho chegar, nós casamos, prometo ! Podem preparar a festa.
                        Afonsina e os familiares ficaram felicíssimos com a promessa e começou-se a finalizar o enxoval que já se vinha preparando há tantos e tantos anos.  A notícia espalhou-se por toda Matozinho:  finalmente  iria cair por terra o último reduto do celibatarismo regional. Os amigos mais chegados, no entanto, desconfiaram da mudança  súbita de Wanderico, sem uma resistência stalingradense,  ele que mostrava-se , sempre, um empedernido inimigo  do altar e da água benta. Na primeira oportunidade, já em meados de abril, no Bar do Giba, numa mesa de bar, entre uma e outra lapada de cana, um companheiro quis saber:
                        --- E aí, Wanderico ? Como é , rapaz, temos enterro de gente viva em julho?
                        --- Não, amigos, ainda não tem nada certo!
                        --- Como não, homem de Deus ? Você não prometeu ao pai da moça que casava logo que julho chegasse?
                        ---  Pois é, mas  pelo visto ele vai demorar!
                        --- Julho vai demorar? Mas como, Wanderico, não  chega daqui a três meses? -- Quis saber o amigo, já meio exasperado.
                        --- Eu prometi casar  quando Júlio chegasse! Vocês é que não entenderam!  Júlio é um amigo meu que foi pras bandas de São Paulo há uns trinta anos e nunca mais deu notícia, nem sei se ainda está vivo!
                        Só então Matozinho entendeu que Wanderico, diante da ameaça de prisão perpétua,  tinha impetrado  seus embargos infringentes.

Uma boa nova!

Vizinha de Abidoral, na Rua José Carvalho, em Crato, foi inaugurada uma galeria permanente dos trabalhos de Pachelly Jamacaru.Vale a pena conferir!
Particularmente,  encantou-me  o extremo bom gosto do casal: Pachelly/Socorrinha.
Agora, a opção de presentes especiais está ampliada.
Lindas peças!
Parabéns, casal da nossa admiração!

Esses tais “recursos infringentes” – José Nilton Mariano Saraiva

Em razão da aposentadoria compulsória (em razão da idade), de dois dos ministros (Cesar Peluso e Carlos Ayres Brito) que compunham o pleno do Supremo Tribunal Federal e a conseqüente indicação dos respectivos substitutos (Luis Roberto Barroso e Teori Zavaschi), o julgamento do processo conhecido por “mensalão”, que já se encaminhava à sua fase crepuscular, findou por apresentar uma guinada espetacular, espécie de reviravolta inesperada: é que os dois novos integrantes daquela corte têm apresentado uma abordagem totalmente diferente da usada pelos antigos titulares e, aí, como do lado de lá (dos réus) temos tarimbados e caros advogados, que conhecem como ninguém o “caminho das pedras” (também conhecidos como “atalhos legais”) a história tende a ser (re)contada de outra forma.
Assim é que, quando os réus já haviam sido condenados e as penas respectivas estipuladas (em atendimento ao arrazoado não tão convincente do relator ministro Joaquim Barbosa), eis que a defesa aparece com a figura dos tais “recursos infringentes”, que se trata de uma manobra absolutamente legal, permissível desde que, quando do ato condenatório, o acusado (mesmo apenado) haja sido contemplado com pelo menos 04 (quatro) votos favoráveis por parte dos integrantes do pleno do Supremo Tribunal Federal.
E como em alguns supostos crimes aventados (formação de quadrilha, por exemplo) a votação do STF pela condenação foi praticamente dividida, existe a possibilidade, sim, de que tudo seja “zerado” e tenhamos um novo julgamento (para tanto, basta que, também aqui, os acusados obtenham pelo menos quatro votos favoráveis à aceitação dos tais “recursos infringentes”.

A essa altura seis (06) dos onze (11) ministros já votaram, com o placar apontando 4 x 2 pela aceitação do pedido da defesa (basta, portanto, mais um (01) voto, dos cinco (05) faltantes, para que a decisão anterior (condenação) seja revista).

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Os "mercenários" - José Nilton Mariano Saraiva

Sabe daquela máxima de que “nada melhor que um dia atrás do outro, com uma noite no meio” ??? Pois é, em 1992, o então governador do Ceará, Ciro Gomes, durante uma greve dos médicos do estado, investiu de forma truculenta contra os integrantes da categoria, ao peremptoriamente afirmar que além de “mercenários”, os médicos eram como sal: “branco, barato e tem em todo lugar”.

Depois daí, mesmo com tamanho desrespeito e desprezo à categoria, forçou a barra para tentar viabilizar-se como ministro da Saúde nos governos de Fernando Henrique e Lula da Silva, sem sucesso (aliás, convém atentar que a família Ferreira Gomes se acha toda “empregada” na política: o irmão mais novo é governador, a ex-mulher vereadora, e o outro irmão responde hoje pela Educação de Fortaleza).

Eis que, agora que se achava desempregado (porque o povo negou-lhe mais um mandato, no executivo), recebeu do irmão-governador o “presente” que sempre acalentou, o “mimo” objeto de desejo: atuar na saúde (embora a nível estadual).

Se dará conta (ou não) do recado, difícil prognosticar; até porque, para conseguir tal desiderato, obrigatoriamente terá de mudar radicalmente seu diagnóstico a respeito dos “mercenários”  que são “barato e tem em todo lugar”.

Conseguirá o apoio dos antigos desafetos ???


sábado, 7 de setembro de 2013

O "jeitinho" - José Nilton Mariano Saraiva

A exoneração do Secretário de Segurança Pública do Estado do Ceará é a “prova provada” da hipocrisia (e dissimulação) que vige no meio político.

Escolha pessoal e intransferível da família Ferreira Gomes, desde o princípio o então coronel da polícia mostrou que não era do ramo, que não tinha aptidão para a coisa, que se constituía um autêntico peixe fora d’agua, que não passava de um blefe e, enfim, que era um incompetente em potencial em termos de gestão e comando.

E o resultado não poderia ser diferente: durante sua catastrófica permanência à frente da Secretaria de Segurança, a bandidagem deitou e rolou, fez e desfez, casou e batizou. Tanto é que os assaltos a ônibus aumentaram 155,9% e os homicídios dolosos no Estado 17,5%, quando comparados com o mesmo período do ano passado; além do que, em 08 meses do ano corrente, tivemos 24 assaltos (com explosões) em bancos, ou uma média de 03 por mês. 

De outra parte, sabe-se que quando convidado a assumir a pasta, o coronel da polícia Francisco Bezerra era um ilustre desconhecido da maioria dos cearenses, já que nunca houvera militado na arena política, assim como em qualquer outro setor de maior visibilidade; era, por assim dizer, um zero à esquerda, uma nulidade em termos de apresentação pessoal, já que com um currículo inexistente.

Pois não é que agora, a fim de não dar a mão à palmatória, já que a cobrança por um mínimo de segurança tornou-se uma grita generalizada em todo o Estado, o “padrinho” (arrependido) do senhor Secretário (o Governador do Estado) houve por bem substituí-lo, sem que antes haja elaborado um tal “jeitinho”, espécie de saída honrosa (caricata) para o dito-cujo: assim, o coronel tira o time não por incompetência, ou porque haja transformado a segurança no calcanhar de Aquiles do Governador, mas, sim, porque irá concorrer a uma vaga para Deputado Estadual nas próximas eleições.


Qual o “curral eleitoral” que o Governador do Estado irá cooptar para que descarregue seus votos numa nulidade, não se sabe: o certo é que, se o afilhado “pegar corda” e resolver mesmo concorrer, Sua Excelência corre o risco de “quebrar a cara” novamente, já que a derrota será fragorosa.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Antes tarde... - José Nilton Mariano Saraiva

O sentimento de desconfiança da população brasileira para com os políticos com assento no Congresso Nacional atingiu um nível de descrédito tal que, de certa forma, causou surpresa a atitude do presidente da Câmara Federal, em Brasília, em sugerir, colocar em votação e conseguir aprovar em tempo recorde a emenda que acaba com excrescência conhecida por “voto secreto”, nas votações naquele recinto.

Como se sabe, através do uso de tão imoral artifício, eles, os políticos, livravam a cara um do outro quando da perspectiva de perigo iminente individual (a cassação do mandato, por exemplo), assim como se ajudavam mutuamente quando se colocava em pauta projetos tidos como imorais, mas que os beneficiariam a partir de.

Só que, como nós eleitores não tínhamos como saber quem houvera votado contra ou a favor do desejo popular, recaia sobre todos eles a suspeita de nos ter ludibriado, daí o repúdio geral contra esse corporativismo nojento.

No entanto, como a repercussão da votação que livrou da cassação o “deputado-bandido-presidiário” Natan Donadon foi extraordinária, descredenciando-os ainda mais ante à população, houve como que uma espécie de “despertar” para a realidade, e daí, pra tirar a suja e tentar reverter o impacto negativo (inclusive em termos internacionais), resolveram as tais  lideranças dos diversos partidos por acabar de vez com a excrescência (espera-se que o Senado Federal a ratifique).

Até porque, em atendimento a um dos parlamentares que não houvera concordado com o resultado e recorrera ao Supremo Tribunal Federal, o ministro Luiz Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, suspendeu a decisão do plenário da Câmara que produziu tão vexatória e desmoralizante decisão, “anulando” a sessão que a produziu (deveremos ter uma nova votação e, aí, sim, já com o voto em aberto, o “deputado-bandido-presidiário” deverá ser cassado).


Fato é que, por cima de pau e pedra, aos trancos e barrancos, os ajustes vão sendo processados em nossas caducas legislações, incluindo até a Constituição Federal, há pouco tempo promulgada.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Falta "gestão e comando" - José Nilton Mariano Saraiva

Durante os 08 (oito) primeiros meses do ano corrente (jan/ago), no Estado do Ceará foram dinamitados nada menos que 24 (vinte e quatro) estabelecimentos bancários, tanto em Fortaleza e região metropolitana como no interior. Ou seja, tivemos uma média de 03 (três) assaltos por mês ou, mais precisamente, 01 (um) assalto a cada 10 (dez) dias (ontem foi a agência do Banco do Brasil de Boa Viagem e hoje a de Pindoretama).

Na capital, especificamente, o clima é de medo e apreensão, por conta da ação quase que diária de marginais, não só assaltando, mas, também matando inocentes, deixando a população em clima de permanente alerta, com medo até de sair de casa.

Convidado a comparecer ao plenário da Assembléia Legislativa para discorrer sobre o assunto, o afilhado dos Ferreira Gomes que está Secretário de Segurança do Estado, um certo coronel da polícia, pintou um quadro totalmente alheio à realidade, porquanto, na sua avaliação, a situação é de plena normalidade. E como o governo tem maioria na Assembléia, os “deputados-cordeirinhos” não o questionaram, não o debateram, aceitando passivamente as mentiras por eles expostas.

E o pior é que a coisa parece ter se intensificado ainda mais a partir do momento em que o irmão (desempregado) do governador do Estado, senhor Ciro Gomes (reconhecendo intimamente que a coisa estava sem comando), afirmou que iria prestar uma “ajuda informal” ao senhor Secretário de Segurança do Estado, numa tentativa de moralizar a pasta.

No entanto, pela volúpia com que os bandidos passaram a agir a partir de então, parece até que a fama de “valentão” do dito-cujo não assusta nem o mais amador deles, porquanto o caos se faz presente a cada dia que passa. 


Pergunta-se: até quando teremos que ficar trancados em nossas casas gradeadas, enquanto a bandidagem passeia livremente pelas ruas da cidade, pintando e bordando, fazendo e desfazendo, por falta de gestão e comando numa área tão crítica ???

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Edelson Diniz – Mais incentivos para as artes visuais


Artista que despontou nos Salões de Outubro na década de oitenta no Crato, Edelson Diniz  tem propriedade no que faz e fala. Criativamente inquieto, tem um trabalho que nos remete a cultura e a religiosidade popular. Para o artista, no Cariri existe uma produção de qualidade, mas alerta que o campo das artes visuais precisa de incentivos para  qualificar e difundir o que se faz por aqui.      

Alexandre Lucas - Quem é Edelson Diniz?

Edelson Diniz - Pra ser sincero, acho estranho dizer quem eu sou, sou estado de espírito, ás vezes artista, ás vezes bandido...

Alexandre Lucas – Como ocorreram seus primeiros contatos com a arte?

Edelson Diniz - Foi com um irmão meu, ele desenhava quando eu era criança, só que nunca se dedicou, seguiu outro rumo. Dai me senti a vontade pra me apropriar do talento dele e aliar ao que eu ainda hoje tento fazer.


Alexandre Lucas – Quais as suas influências artísticas?

Edelson Diniz - Eu diria que tudo pode me influenciar, não existe um cardápio de influências no meu processo de criação e construção. Notoriamente pode se perceber certa apropriação de traços, cores e formas do nosso folclore e da religiosidade popular, acho que é o mais evidente na maioria dos meus trabalhos.

Alexandre Lucas - Fale da sua trajetória:

Edelson Diniz – Despontei nos Salões de Outubro em Crato, nos anos 80, participei ativamente dos Movimentos OCA – Officinas de Cultura e Artes, Movimento Xá de Flor. Depois fui funcionário da Secretaria de Cultura de Juazeiro por quase 15 anos, foi de lá onde surgiu muita influência, uma vez que eu desenvolvia um trabalho com os grupos folclóricos. Hoje, produzo e tento sobreviver na medida das possibilidades do meu trabalho.

Alexandre Lucas - Como você caracteriza o seu trabalho?

Edelson Diniz - Múltiplo

Alexandre Lucas - Como você ver a relação entre arte e política?

Edelson Diniz - Não vejo relação prática entre política e cultura, a cultura oficial inviabiliza muitas vezes a produção e criação artística, vejo um certo excesso de teoria.

Alexandre Lucas - Qual a contribuição social do seu trabalho?

Edelson Diniz - Não sei se contribuo socialmente com meu trabalho, minha única meta, é encher os olhos de quem aprecia o que faço e mostro. Pode ser que influencie de alguma forma em alguém, mas não existe uma preocupação de focar uma contribuição.

Alexandre Lucas – Como você ver a produção das artes visuais na Região Metropolitana do Cariri?

Edelson Diniz - A qualidade é boa, temos grandes artistas, a produção poderia ser melhor, se houvesse mais incentivos, uma política pública prática, que sugerisse infraestrutura para qualificar e difundir o que se faz por aqui.

Alexandre Lucas – O Salão de Outubro fez história na região do Cariri. Fale sobre o significado desse movimento para as artes no Cariri.

Edelson Diniz - Significou muito na época em que acontecia, o formato era abrangente, o acesso era fácil, e a receptividade era a melhor, diria que é o alicerce de todos os movimentos que hoje existem aqui no Crato hoje em dia. Quem está à frente desses novos movimentos, passaram pelo Salão de Outubro.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos?


Edelson Diniz - Pretendo fazer uma sugestão de um  projeto para iluminar e ornamentar a cidade do Crato no próximo final de ano, sugiro que sejam criados critérios para avaliação de projetos, tipo ver o lado técnico, pesquisa de arte etc, . Fica sugestão.