por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 25 de setembro de 2017

ALGUÉM TEM SAUDADE DESSE TEMPO ???

"Fomos levados diretamente para a Oban. Eu vi que quem comandava a operação do alto da escada era o coronel Ustra. Subi dois degraus e disse: ‘Isso que vocês estão fazendo é um absurdo’. Ele disse: ‘Foda-se, sua terrorista’, e bateu no meu rosto. Eu rolei no pátio. Aí, fui agarrada e arrastada para dentro. A primeira forma de torturar foi me arrancar a roupa. Lembro-me que ainda tentava impedir que tirassem a minha calcinha, que acabou sendo rasgada. Começaram com choque elétrico e dando socos na minha cara. Com tanto choque e soco, teve uma hora que eu apaguei. Quando recobrei a consciência, estava deitada, nua, numa cama de lona com um cara em cima de mim, esfregando o meu seio. Era o Mangabeira [codinome do escrivão de polícia de nome Gaeta], um torturador de lá. A impressão que eu tinha é de que estava sendo estuprada. Aí começaram novas torturas. Me amarraram na cadeira do dragão, nua, e me deram choque no ânus, na vagina, no umbigo, no seio, na boca, no ouvido. Fiquei nessa cadeira, nua, e os caras se esfregavam em mim, se masturbavam em cima de mim. A gente sentia muita sede e, quando eles davam água, estava com sal. Eles punham sal para você sentir mais sede ainda. Depois fui para o pau de arara. Eles jogavam coca-cola no nariz. Você ficava nua como frango no açougue, e eles espetando seu pé, suas nádegas, falando que era o soro da verdade. Mas com certeza a pior tortura foi ver meus filhos entrando na sala quando eu estava na cadeira do dragão. Eu estava nua, toda urinada por conta dos choques. Quando me viu, a Janaína perguntou: ‘Mãe, por que você está azul e o pai verde?’. O Edson disse: ‘Ah, mãe, aqui a gente fica azul, né?’. Eles também me diziam que iam matar as crianças. Chegaram a falar que a Janaína já estava morta dentro de um caixão."


MARIA AMÉLIA DE ALMEIDA TELES, ex-militante do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), era professora de educação artística quando foi presa em 28 de dezembro de 1972, em São Paulo (SP) pela ditadura militar no Brasil.

sábado, 23 de setembro de 2017

CRÉDITOS ÀS “EXCELÊNCIAS” TOGADAS - José Nílton Mariano Saraiva

Desde tempos imemoriais, enfática e peremptoriamente temos manifestado neste espaço que a barafunda jurídica vigente no país nos dias vigentes deve ser creditada única e exclusivamente às preguiçosas, prolixas e medrosas “excelências” togadas com assento no Supremo Tribunal Federal.

Não tivessem de forma vergonhosa se omitido naquele momento extremamente grave e delicado no qual se armou o golpe parlamentar capitaneado por um marginal visando o impeachment da presidenta Dilma Rousseff, hoje não estaríamos a experimentar tamanha desventura (há, inclusive, a suspeita que sabiam de tudo antecipadamente e que se aliaram aos executores, conforme se depreende do diálogo Romero Jucá/Sérgio Machado).

Tanto é verdade que, lá adiante, as “excelências” de novo cruzaram os braços e puseram venda nos olhos ao permitir que, impunemente, um juiz de primeira instância atropelasse a própria Constituição Federal ao divulgar conversas da mandatária maior do país, afora outros abusos flagrantemente ao arrepio da lei.

Fato é que, adepto dos holofotes, incensado pela mídia desonesta, picado pela mosca azul e vislumbrando que os covardes integrantes do STF não se manifestariam com medo da reação popular (já que teoricamente tratando de um tema de tremendo apoio popular, qual seja a corrupção), referido juiz é hoje quem manda e desmanda no país e, inclusive, determina a própria agenda daquele tribunal.

Assim, há que se prosseguir o golpe, com uma “ruma” de ladrões de alta periculosidade instalado no Planalto Central a “liquidar” com o Brasil, a preço de banana em fim de feira (o retrato emblemático é o pré-sal”, nosso outrora passaporte para o futuro, que está sendo literalmente “doado” às grandes petrolíferas internacionais), enquanto que, sob o comando de um juiz de primeira instância, a “República de Curitiba” trata de impedir, por cima de pau e pedra e mesmo que inexistam provas contra, que o candidato francamente favorito às próximas eleições, Lula da Silva, se viabilize como presidenciável. Apenas e tão somente pela “convicção” de um juiz pop-star deslumbrado.

Portanto (e rememorando), às “excelências” togadas, (prolixas, medrosas e covardes) com assento no tal Supremo Tribunal Federal (que de “supremo” não tem nada) devem ser dirigidos, sim, todos os créditos pelo iminente “extermínio” de um país que tinha tudo pra dar certo.

Definitivamente, o “complexo” de vira-lata voltou. Que pena.

sexta-feira, 22 de setembro de 2017

SUGESTAO AOS DEPUTADOS - José Nilton Mariano Saraiva

Prezado Deputado Chico Lopes (dep.chicolopes@camara.gov.br)

Tomamos a liberdade de fazer-lhe uma simplória sugestão: que você advogue aí na Câmara Federal (sòzinho ou junto à turma da esquerda), que a sessão plenária que irá votar o sonhado impeachment do Temer, seja realizado num dia de domingo, de sorte que toda a população brasileira possa acompanhar via TV (lembremos que a primeira denúncia contra Temer foi realizada providencialmente em um dia útil e, portanto, muitos deixaram de acompanhar e, em consequência, a "pressão" sobre os mafiosos deputados não foi a que se esperava).


Afinal, não custa lembrar, esse foi um dos trunfos do marginal Eduardo Cunha para literalmente fulminar a nossa presidenta Dilma Rousseff (no domingo todos estarão em casa e poderão acompanhar o voto do seu deputado, que assim pensará duas vezes antes de proferir  um possível voto no Temer).

Acreditamos que se viabilizada tal pretensão certamente o resultado da votação será surpreendente.


Receba o nosso abraço

José Nilton MARIANO Saraiva
(Aposentado do BNB)
Fortaleza-CE


Post Scriptum
Se alguém tem interesse, autorizo usar tal mensagem pra ser enviada a outros Deputados que conheçam. 

quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Para que serve a Matemática?


Por Carlos Eduardo Esmeraldo


Esta é a pergunta mais difícil que os alunos do ensino fundamental e médio fazem a qualquer Professor de Matemática. E a resposta a ser dada é praticamente impossível. Há enormes dificuldades para satisfazer a curiosidade das pessoas sobre as finalidades da matemática. Uma resposta que não satisfaz é a de que, mais tarde, quando o estudante estiver cursando uma faculdade ou na pós-graduação vai utilizar todo aquele conhecimento obtido, este ou aquele teorema. Muitos alunos poderão argumentar que pretendem estudar medicina, letras ou direito e, que, portanto, não irão precisar aplicar aquele monte de equações e fórmulas que lhes são apresentadas como importantes. Do mesmo modo, dizer que a matemática é necessária para medir as  grandezas existentes à nossa volta, não será a resposta esperada pelos alunos. Nem todos estão preocupados com isso. 
   
Afirmar que a matemática desenvolve habilidades de cálculo e ajuda a abrir a mente, torna-se aparentemente irrelevante num mundo em que nossos jovens estão familiarizados com os microcomputadores, tablet e outros aparelhos eletrônicos. 

Conforme nos ensina o Professor Geraldo Ávila, membro da Sociedade Brasileira de Matemática - SBM: "existe consistência na afirmação de que a matemática ajuda a expandir o raciocínio, pois ela muito tem contribuído para o desenvolvimento de outras ciências e o progresso da humanidade." E ele nos acrescenta ainda: "O pensamento matemático vai muito além do raciocínio lógico. A intuição é a faculdade mental que nos permite obter o conhecimento de maneira direta, sem intervenção do raciocínio." Todo o conhecimento matemático teve início com o uso da intuição, essa extraordinária capacidade que tem o cérebro humano de desvendar possibilidades e, graças a ela, se chegou às grandes descobertas científicas. A matemática está por trás dos avanços tecnológicos recentemente postos à nossa disposição, tais como a eletricidade, os telefones celulares, calculadoras eletrônicas, microcomputadores, televisão digital e os modernos aparelhos para diagnosticar doenças à disposição da medicina, que têm possibilitado tantas curas e ajudado a prolongar a duração da nossa vida. 
 A Matemática está presente em todas as áreas do conhecimento humano: na pintura, na arquitetura, na música, como suporte da Física, Química e Astronomia. Na Administração de Empresas ela ajuda a controlar a gestão de estoque com redução de custos, otimizando receitas e conseqüentemente o lucro. A Matemática e principalmente a Geometria Euclidiana desenvolve importante papel na expansão do raciocínio lógico, fornecendo-nos deste modo, o desenvolvimento da nossa percepção visual e a possibilidade de melhor entendermos a realidade que nos cerca. 
Ainda segundo o professor Geraldo Ávila, "a maior dificuldade em se perceber os reais objetivos do ensino da matemática, encontra-se no fato de que qualquer pessoa poderá se tornar um artista, escritor, advogado, ou médico, prescindindo dos conhecimentos matemáticos." Mas fica claro que nenhum deles poderá ser um profissional completo sem um conhecimento mínimo da Matemática, da Psicologia, da Sociologia, de Relações Humanas, assim como um bom engenheiro ou matemático não poderá prescindir dos conhecimentos mínimos de História, Administração, Psicologia, Sociologia, Direito, Biologia, Relações Humanas, e tantos outros. 
Sempre que alguém se deparar com uma pergunta desse tipo, deverá satisfazer a curiosidade dos seus interlocutores com os argumentos acima expostos. Talvez seja uma tentativa para satisfazer às expectativas para a razão do estudo matemático.

sábado, 9 de setembro de 2017

"PARA O PÁSSARO CANTAR ÊLE TEM QUE SER ENJAULADO" - José Nílton Mariano Saraiva

Ainda com relação à “deduragem” do Palocci, permitimo-nos reeditar uma nossa postagem de mais de um ano atrás, que tem tudo a ver com o quadro atual.

Independentemente da canalhice praticada por Palocci, seria interessante se saber se o “modus operandi” usado com ele pelo juiz Sérgio Moro foi o mesmo posto em prática com outros bandidos, lá atrás.
Vejam, abaixo, a postagem antiga e tirem suas conclusões.

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A “RESSURREIÇÃO” - José Nilton Mariano Saraiva

Como o juiz Sérgio Moro e seus procuradores se tornaram uma espécie de “heróis nacionais”, e os “bandidos delatores” da Lava Jato uma espécie de “Maria Madalena”, já que passíveis de perdão e dignos de toda a credibilidade, urge atentar para a gravíssima declaração prestada pelo ex-Senador Delcídio do Amaral a repórter Malu Gaspar, da Revista Piauí, quando narrou o “método de convencimento” utilizado contra ele, a fim de estimulá-lo a iniciar, incontinente, o processo de “deduração”. 
 
Conta Delcídio, que na PF de Brasília teria ficado trancado em um quarto sem luz, que ficava vizinho ao gerador do prédio e que... “aquilo encheu o quarto de fumaça, e eu comecei a bater, mas ninguém abriu. Os caras não sei se não ouviram ou se fingiram que não ouviram. Era um gás de combustão, um calor filho da puta. Só três horas mais tarde abriram a porta. Foi dificílimo”. Desnecessário dizer que dali saiu direto para o colo do Sérgio Moro, onde entregou o Lula.

Isso parece verossímil, já que é do conhecimento público que o juiz Sérgio Moro, numa clara forçação de barra e a fim de forçar o preso a delatar, ignora a presunção de inocência, prende sem provas, rebola o sujeito no fundo de uma cela (deixando-o praticamente incomunicável) e literalmente baratina a mente do indigitado.
 
E foi um próprio procurador da Lava Jato, Manoel Pastana, que tratou de confirmar tudo isso, ao enaltecer o modus operandi morista: “PARA O PÁSSARO CANTAR ELE TEM QUE SER ENJAULADO”.
 
Ante o exposto, e face a credibilidade que boa parte da população empresta aos “respeitáveis bandidos delatores”, cabe indagar: temos aí, no método utilizado contra o Delcídio, em pleno século XXI, uma espécie de “RESSURREIÇÃO” das câmaras de gás dos campos de extermínio nazista (só que aqui individualmente), ou tudo não passa de mera coincidência ???

Afinal, a confirmar-se o que foi atribuído ao Delcídio do Amaral (mesmo sendo um bandido), em português cristalino e contundente, ele afirmou com todas as letras ter sido vítima de TORTURA.
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Terá acontecido o mesmo com o Palocci ???




quinta-feira, 7 de setembro de 2017

A "DEDURAGEM" DE PALOCCI - José Nílton Mariano Saraiva


Não deveria constituir-se surpresa para ninguém o contido na fala do ex-ministro Antônio Palocci ante o juiz Sérgio Moro, quando, literalmente, serviu na bandeja a cabeça do ex-presidente Lula da Silva.

Afinal, provado e comprovado restou, desde sempre e contemplando diversos infelizes “torturados” nas masmorras de Curitiba (sob o comando daquele juiz) que a “senha” para os que sonham em livrar-se da prisão e/ou ter sua pena diminuída, via “delação”, é uma só e fácil de pronunciar: Lula.

Como não o fez meses atrás, durante a primeira audiência que teve com o Moro, quando caiu na esparrela de magnanimamente oferecer-se para citar operações, valores, datas e nomes de empresários de alto coturno que de certa forma poderiam ser enquadrados como corruptos nas transações com o governo, Palocci não só foi “contemplado” com 12 anos de prisão, como foi humilhado publicamente por aquele juiz, que definiu aquela sua atitude como uma espécie de “vingança” do ex-ministro para com os ditos cujos (desnecessários os nomes dos “coitados” dos empresários e, quanto às suas traquinagens, “não vêm ao caso”).

Jogado de volta ao fundo de uma cela, pressionado por familiares e amigos, vendo o tempo passar e esvair-se qualquer alternativa de acordo, Palocci deixou-se corromper pelo “método moriano” (tortura psíquica), e então, esquecendo a amizade, princípios morais, éticos, religiosos e por aí vai, resolveu seguir o mesmo script adotado meses atrás pelo Marcelo Odebrecht e o Léo Pinheiro, vivenciadores do mesmo dissabor: servir ao juiz Moro o que este almejou desde sempre, a citação do nome Lula. E assim, durante uma audiência de duas horas, a “entrada, menu principal e sobremesa” foi só e unicamente “Lula” (foi Lula ao molho, Lula grelhado, Lula cozido, Lula empanado e por aí vai); o Moro a esta hora deve estar empanzinado de tantos “Lulas” que lhe foram servidos. Com um detalhe que deveria ser considerado e omitem: o “NÃO”, insistente e nauseante do Palocci, sobre se houvera participado pessoalmente das tais reuniões que citara. Ou seja, mais uma vez nenhuma “prova” objetiva e real contra o ex-presidente.

Como está prevista uma audiência do Lula com o Moro no próximo dia 13, teremos o contraponto: à versão de um desesperado em busca de redução da pena, o depoimento de um autêntico “estadista”, que o povo gostaria de ver novamente à frente da nação, conforme já indicam as pesquisas.

No entanto (sejamos realistas), independentemente do desempenho de Lula da Silva em tal audiência, Moro e seus procuradores raivosos dificilmente deixarão de condená-lo, inviabilizando-o de concorrer nas próximas eleições (e não duvidem que, mesmo sem provas, encontrem algum jeito de prendê-lo).

Fato é que, após um curto período de bem-estar e progresso (sob Lula e Dilma), tudo indica que voltamos à condição de “república bananeira”.

O "GRITO DO IPIRANGA" (por Mino Carta)


O “GRITO DO IPIRANGA” (por Mino Carta)

Mino Carta, Diretor de Redação da revista Carta Capital, é, sem favor nenhum, um dos maiores jornalistas do país, face a coerência e a maneira desassombrada como expõe suas posições políticas. Atentem, pois, para a sua antológica versão sobre o tal “Grito do Ipiranga”, inserta na edição nº 968, de 06.09.2017, página 14, daquela revista semanal.

Ipsis litteris:

Há tempos, meus botões, iconoclastas à beira do sacrilégio, sustentam que nem tudo nos cardápios da Marquesa de Santos ostentava perfeitas condições de consumo. Eventuais indagações a respeito parecem despidas de sentido. Ocorre, entretanto, que um mexilhão estragado, digamos, poderia ter exercido notável influência sobre o Grito.

Sabe-se que Dom Pedro vinha de Santos depois de almoçar com a amante e, ao subir a serra no caminho de São Paulo, deu para experimentar os dissabores da digestão penosa, com consequências abaixo do umbigo. Nas alturas do Ipiranga, próximas da cidade, um renque de bananeiras cuidou de lhe oferecer abrigo para o cumprimento da operação inevitável, embora nem sempre definitiva, em tais ocasiões. E das sombras o príncipe finalmente emergiu para proclamar a Independência.

Em paz com as entranhas – ou ainda a sofrer do aperto inconcluso ? - gritou, segundo as páginas amarelecidas, “Independência ou Morte”. A ser verdade factual a frase que a história coloca na boca do príncipe, ela ganha o som da irritação. Por que propor uma alternativa tão drástica ? A palavra morte ali não se justifica, mesmo se em jogo estava uma imponente briga familiar que o opunha ao pai Dom João VI. Sobra a hipótese de que a parada forçada debaixo das bananeiras tivesse sido insatisfatória.

Como se sabe, a retórica oficial no Brasil se esbalda. Claro está que o nosso herói não montava o cavalo de Napoleão, como pretende o pintor francês François-René Moreaux ao retratá-lo na chegada a São Paulo. Na opinião dos meus botões, tratava-se de um muar. Na tela, o povo festeja o gesto do seu príncipe, a mostrar consciência de um triunfo há tempo almejado. No meio da festa, enxergo, ok ! surpresa, um rosto talvez mulato.

No caso, a verdade factual obviamente é outra. Metade da população era de escravos, e quem não era só com o passar dos meses foi obrigado a dar-se conta da mudança, pela qual, teoricamente, o Brasil deixava de ser colônia. Não demoraria muito para tornar-se súdito do império britânico em lugar do português. Demoraria a Abolição, de fato ainda não extinta até hoje no país da casa-grande e da senzala.”


Post Scriptum: Será por essa razão que o nosso Brasil ficou conhecido internacionalmente pela pejorativa alcunha de “república bananeira” ???

quarta-feira, 6 de setembro de 2017

ACERTO DE CONTAS - Dr. Demóstenes Ribeiro



Só me faltava esse enfarte e os olhos dela. Eu já os vira antes, lembrei do que não devia e revivi minha maldição. Pois, até 68 tudo era sucesso. O mar e as mulheres, Simonal e as chacretes na TV, até o telefone tocar e ter que me apresentar no quartel. Acabou a boa vida e eu, que só navegava e me divertia mundo afora, recebi em silêncio outra missão:

“- Precisamos de você. A coisa é séria, o perigo ronda o país. Eles estão em toda a parte. Nos sindicatos, na Igreja, nas forças armadas... Se não agirmos, destruirão o Brasil e a liberdade. Nós já lhe matriculamos na medicina.

- Na medicina, e o vestibular?

- Não faça perguntas. É a segurança nacional. Estão recrutando universitários. Mude a aparência, identifique os cabeças e nos informe. Na hora H, saberemos que é um dos nossos.”

Simpático e discreto, eu gostava do curso e da moçada, tinha paixão por ginecologia e obstetrícia, e até ganhei o apelido de G.O. Um dia, fui chamado de novo:
“ – Você terá que sumir, estão desconfiando, temos informes. Esqueça a faculdade. Vamos apertar essa canalha no Nordeste.”

E foi assim que, na equipe de interrogatório, eu me tornei o Anatomista. Às vezes, me dava pena aqueles jovens, iludidos com a revolução cubana e usados no delírio de uns velhos porra-loucas, sem saber. Porém, eu aplicava direitinho o choque elétrico. Alguns, logo abriam o bico; outros iam pro afogamento, pro pau-de-arara ou pra cadeira-do-dragão.

Certo dia, em Recife, trouxeram uma mulher bonita, talvez ligada ao Lamarca. Já estava desfigurada, quase sem luz nos olhos. Anselmo estava presente. Já haviam assassinado o Marighela, e o Fleury veio de São Paulo colher mais informações. Com ele, a morte entrou na sala. Urina, sangue, fezes, o grito lancinante e agoniado... Ela morreu e não entregou o capitão.

Ninguém concorda comigo, mas a gente não se navega. Cumpri ordens, fiz o trabalho sujo e fiquei sem nada. Mas conheço quem se deu bem, gente que ficou milionária, virou nome de rua ou foi reitor. Esse é o mundo: roubo, delação e mau-caratismo geral.

Mudei de nome e hoje, pra ganhar a vida, dirijo caminhão. Passo a noite acordado, estrada afora. Só me faltava o enfarte e, de novo, aquele olhar. Pois a doutora não me é estranha e acho que me reconheceu. Ela disse que amanhã iria me examinar com mais cuidado.

Não sei por que tanto passado a me mandar lembranças. Sou mais um à deriva, entre os inúmeros sobreviventes do mal. Está chegando o centenário da Revolução Russa. Um dia vão alterar essa lei da anistia e o acerto de contas virá, cedo ou tarde.
Já é madrugada e, antes que me descubram, vou fugir desse hospital pra Porto Velho ou outro lugar bem longe. Mais uma vez, trocarei de nome. Talvez, transportar madeira. Quem sabe eu esqueça o Anatomista e essa estória de G.O.

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Dr. Demóstenes Ribeiro - Médico Cardiologista - Fortaleza-CE













sábado, 2 de setembro de 2017

SUCESSO NO FRACASSO



"É impossível viver sem fracassar em algo, a menos que viva com tanto cuidado que acabe não vivendo de verdade, e nesse caso você falha por omissão.
O fracasso me deu confiança que nunca tive passando em provas. Me ensinou coisas sobre mim mesma que jamais poderia ter aprendido de outra maneira. Descobri que tinha uma grande força de vontade e mais disciplina do que imaginava. Também descobri que tinha amigos, que valem mais do que rubis.
Saber que você se reergueu mais sábio e mais forte que antes significa que você tem no fim das contas, segurança em sua forma de sobreviver. Você nunca vai se conhecer de verdade, ou a força de seus relacionamentos, até que sejam testados pelas adversidades. Tal conhecimento é um presente, ainda que duramente ganho, vale mais que qualquer qualificação que já recebi.
Então, se eu tivesse um “vira-tempo” diria a minha eu de 21 anos (tenho hoje 42) que felicidade pessoal é saber que a vida não é uma lista de aquisições e conquistas. Suas qualificações e seu currículo não são a sua vida. Embora vão conhecer muitas pessoas, da minha idade ou mais velhas que confundem as duas coisas.
A vida é difícil, complicada e além do controle total de alguém, a humildade de saber disso vai permitir que vocês sobrevivam às suas inconstâncias…"


J.K.ROWLING (madrinha de “formandos” em Harvard, em 2008)

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

DITADURA DO JUDICIÁRIO - José Nílton Mariano Ssraiva


Pernósticos, arrogantes, sarcásticos e aureolados (por conta própria) de um certo grau de superioridade sobre os mortais comuns, os preguiçosos e prolixos ministros que integram o Supremo Tribunal Federal conseguiram o que seria impossível num país sério: que a sociedade em peso alcunhasse o Poder Judiciário (brasileiro) como o mais corrupto dos poderes (e, convenhamos, não é pouca coisa, se levarmos em conta que temos um Legislativo repleto de ladrões e um Executivo dominado por uma quadrilha de marginais, denunciados ao próprio STF).

E a figura emblemática e fiel de tal perversão é o truculento juiz mato-grossense Gilmar Mendes, hoje o homem mais poderoso da nação (a ponto de servir como conselheiro informal do gangster sem povo e sem voto, Michel Temer, que “está” Presidente da República, via golpe). Tivéssemos uma imprensa expedita, imparcial e atuante, a pergunta que meio mundo e a outra banda gostaria que fosse feita, desde lá atrás, seria: afinal, “QUANTO” ou “O QUÊ” o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, recebe por cada um dos habeas corpus, que concede, vapt-vupt, beneficiando bandidos de alto coturno ??? (lembremo-nos que aqui no Ceará, nos plantões de final de semana, os senhores Desembargadores recebiam R$ 150.000,00 por cada HC concedido).

Afinal, e é só examinar a lista de “clientes” de Sua Excelência pra se constatar que é composta só de marginais de alta periculosidade, mas de bolsos recheados de dólares, euros e outros “abre cofres” (Daniel Dantas, o “médico-tarado”, o chefe do jogo de bicho e por aí vai). E seria pouco inteligente imaginarmos que Sua Excelência se disponha a passar pelo corrosivo desgaste que há tempos enfrenta apenas e tão somente pra se afirmar como um juiz independente e corajoso. Aí tem propina e propina alta.

No mais, e até porque o temem (e “tremem” de medo de enfrentá-lo, por alguma razão), as demais “Excelências” que compõem o Supremo Tribunal Federal não diferem muito do Gilmar Mendes: todos se julgam acima dos mortais comuns. Todos são sarcásticos e pernósticos. Espécie de semideuses ou “deuses depravados”, aos quais são permitidos abusos de toda ordem.

Ainda agora, argui-se a suspeição de Gilmar Mendes para julgar determinados processos, porquanto seria como legislar em causa própria, tal o grau de intimidade que guarda para com os acusados. Para tanto, no entanto (sem trocadilho) constitucionalmente caberia as “Excelências” do STF tomarem tal iniciativa, pondo-lhe freios. Mas, se são iguais, como esperar que o façam ???

Estamos, pois, queiram ou não admitir alguns, sob o tacão da ditadura judicial. 

terça-feira, 15 de agosto de 2017

A hoje "VELHA SENHORA" - José Nílton Mariano Saraiva

Aliando discrição, simplicidade e até traços de uma certa nobreza (por mais paradoxal que possa parecer), ao vir ao mundo ela já conseguira o que parecia impensável: a unanimidade, sobre sua beleza e suas formas perfeitas, suas graciosas curvas e até sua postura um tanto quanto aristocrática (para os padrões então vigentes), responsáveis por sua caracterização como uma “gracinha”, detentora de um charme indescritível, verdadeiro presente dos deuses.

Embevecidos e orgulhosos, os cratenses sentíamos imensa satisfação em mostrá-la aos que aqui aportavam, em visitá-la periodicamente ou, simplesmente, em transitar à sua frente ou arredores, admirando-a e inflando o nosso ego com o que as pessoas dela comentavam; e, se distantes nos encontrávamos do torrão natal por algum motivo, não cansávamos de citá-la em conversas informais, ou mesmo recomendá-la aos que pretendiam visitar a cidade do Crato.
E assim sua fama cresceu, atravessou fronteira, espraiou-se rincões afora. O astral era tamanho e a curiosidade tanta, que todos nutriam o desejo interior de algum dia conhecê-la, mesmo que por um fugídio e único momento, para simplesmente comprovar tudo o que dela diziam. E vindo, e vendo-a, saiam satisfeitos, radiantes, solidários, a difundi-la mais a mais por outras plagas. Era, realmente, de uma beleza ímpar, diferente... avançada para os padrões da época.

Com o passar do tempo, entretanto, dada à inexorabilidade do ciclo normal da natureza, naturalmente a jovem cresceu, adolesceu, virou adulta, transmutou-se e viu processar-se o arrefecimento de ânimo, o rareamento das manifestações de simpatia; a chegada da rotina, enfim, acabou com o seu encanto e tornou-a “normal”.

Além do que, por falta de carinho, cuidados e incentivos, seu aspecto físico compreensivelmente decaiu a olhos vistos, enquanto outras beldades, turbinadas por energéticos e vitaminas, que a ela passaram a ser negadas, apareceram ao longo do caminho, tomando-lhe o lugar e adeptos, deixando-a no ostracismo e na saudade.

Os que dela deveriam zelar e cuidar, simplesmente a abandonaram criminosamente, deixando-a por muito tempo ao relento, exposta ao sol, chuvas e trovoadas, enquanto seu “habitat” foi indiscriminadamente invadido e ocupado por companhias nada recomendáveis, sufocando-a sem dó nem piedade.

Hoje, sua imagem é de dar pena e dó e dela até nos envergonhamos: superada, decadente, isolada, decrépita, acanhada, sitiada, evitada pelos antigos admiradores e também pelas novas gerações, abandonada pelo poder público que tinha obrigação de cuidá-la, ela é o retrato emblemático e pujante daquilo em que transformaram o Crato ao longo desses últimos 40 anos: uma cidade cidade-fantasma, cidade-dormitório, sem perspectivas, sem futuro, sem nada, a reboque de migalhas governamentais.

Quem te viu e quem te vê, RODOVIÁRIA DO CRATO !!!

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

A "ODISSÉIA" DOS "ESMERALDO" - José Nilton Mariano Saraiva

Imagine um jovem casal, que houvera contraído matrimônio três dias antes, de repente “se mandar” do Crato, a bordo de um “fuscão-branco” apinhado de pertences, rumo ao desconhecido, mas de encontro ao primeiro emprego do jovem engenheiro recém-formado.

Para tanto, tiveram que trafegar dias e dias (varando terras inóspitas do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará), na maior parte do tempo por estradas de barro ou piçarra, sujeitos a atoleiros ou derrapagens imprevisíveis, já que à época “asfalto” era um sonho distante.

E que, em chegando ao destino pretendido (nos rincões do Estado do Pará, estrada Tomé-Açu/Paragominas), instalaram-se à beira da “selva amazônica” (vilarejo Quatro Bocas do Breu), numa rústica “casinha branca” de madeira, longe de tudo e de todos, tendo como fiel companheiro apenas um rádio de pilha para se conectar com a civilização.

Para a jovem esposa, então, que nunca houvera saído do conforto da casa dos pais, uma verdadeira “provação” (mas que alicerçada na fé), porquanto ficava o dia sozinha, enquanto o marido labutava na construção da estrada, longe dali, com retorno apenas ao anoitecer (anoitecer, aliás, que era desvirginado apenas e tão somente pela luz do candeeiro, já que energia elétrica à noite, ali e à época, nem em sonhos).

Posteriormente, devido às fortes chuvas da região, que inviabilizariam o andamento da obra em execução por meses e meses, o jovem casal teve que embrenhar-se ainda mais Brasil adentro, e agora sim, cruzando a portentosa selva amazônica rumo ao planalto central do país (estado de Goiás). Loucura, coragem ou muita fé em Deus ???

Fato é que o “previsível” aconteceu: dividindo aquele “projeto de estrada” com possantes carretas, mas que mal rodavam devido às precárias condições da malha, eis que o “fuscão-branco” atolou de vez, obstruindo a passagem de todos. Como resultado e única alternativa viável, uma inusitada decisão: o tal “fuscão” foi suspenso, no braço, por dezenas de caminhoneiros (com o casal dentro), e colocado de volta à estrada mais à frente, onde prosseguiram viagem rumo à recém-inaugurada capital do Brasil, Brasília.

Estes, apenas dois “suculentos” detalhes da verdadeira “odisséia” vivida por aquele jovem casal cratense que, após penar muito em pleno início da vida matrimonial, mas com uma confiança inabalável no seu “Deus”, conseguiram ao final voltar ao amado torrão natal, o Crato.

No mais, nas 303 páginas do livro “A PRAÇA DOS NOSSOS SONHOS” (Memórias), o hoje maduro casal, conterrâneos Carlos Eduardo Esmeraldo e Magali Figueiredo Esmeraldo, firmam um pungente e inigualável tratado de amor incondicional ao Crato, em suas mais variadas facetas: à praça dos sonhos (da Sé); a praça Siqueira Campos (onde começaram a namorar); a praça de São Vicente; os colégios onde estudaram; a feira semanal do Crato; as casas onde moraram; os amigos; professores e por aí vai. Evidentemente, à família foi reservado destaque especial, com menções a irmãos, primos e, principalmente, aos respectivos pais/mães.

Uma confidência: de tão agradável o livro, o “deglutimos” (lemos) em “duas sentadas”. Resta, então, agradecer a Carlos Eduardo Esmeraldo e Magali Figueiredo Esmeraldo, cratenses dignos do orgulho de todos nós, pela brilhante obra produzida.

terça-feira, 8 de agosto de 2017

UM ABRAÇO NO GONZAGA - Dr, Demóstenes Ribeiro (*)


Seu Luiz, a coisa não foi boa no seu centenário. A acauã danou-se a cantar, em dezembro não fez barra, nem choveu no mês de São José. Teve seca, os animais morreram, muita gente se desesperou e foi embora. Marcolino vendeu os bois e abandonou Cacimba Nova, carregando a sua dor. Essa é uma história conhecida, mas que poderia ser pior. Hoje, bem ou mal, o povo escapa. O risco é viciar o cidadão.

O sertão mudou muito. O campo se esvaziou e as favelas cresceram. Quase não existe vaqueiro, é moto pra todo o lado e o jumento caminha pra extinção. O coitado foi esquecido e desprezado. Se não é atropelado nas estradas, é exportado e vira bife na China. Nem parece que é nosso irmão.

Xanduzinha e o cabra da peste estão cada vez mais raros. E tem um pessoal esquisito, no Ceará não tinha disso não e a gente até se atrapalha. Uma parte da mocidade, longe dos livros e da utopia, foi entorpecida pelas drogas. Perdeu o grito de guerra e a vontade de mudar o mundo. Muito assalto e violência, dinamite e metralhadora, é um retorno feroz do cangaço.

Mas, como você sabe, a vida aqui só é ruim, quando não chove no chão. Quando eu fecho os olhos e começo a sonhar que acordo com a passarada, o bom tempo está de volta. Pássaro carão cantou, anum chorou também, o pessoal preparando o roçado e plantando milho. Em junho, com ele maduro, vinte espigas em cada pé, dá pro São João e pro São Pedro, a festa do maior brilho. Uma fogueira queimando, olha pro céu meu amor e vê como ele está lindo!

Vem a safra, pisa o milho e peneira o xerém. Quem no tempo de menino nas fazendas do sertão não gostava de espiar as caboclas no pilão? O riacho de água fresca, a estrada e a lua branca, o orvalho beijando a flor... Vez por outra me recordo de Rosinha, a linda flor do meu sertão pernambucano. É um passado que não passa, faz doer e amarga que nem jiló.

Mas o algodão se acabou e o perigo é o dinheiro que a gente toma emprestado. A vaquinha chocalha que é do banco e o banco é das ratazanas e dos urubus de sempre. E ano que vem tem eleição: Sérgio Cabral, Angorá, Michel Temer, petrolão... Gabiru pra todo o lado, só Deus pra nos proteger, difícil a situação.

Gonzaga, véio macho, Sá Marica parteira vem tendo muito trabalho. É criança que não acaba mais. As meninas enjoaram da boneca e apareceu o azulzinho. É melhor do que ovo de codorna, só perde pra capim novo - balança, Sinhá!

Porém, foi grande a alegria no seu centenário. Muita festa no dia de Santa Luzia, pisada até quebrar a barra. Chambinho do Acordeon, xote, xaxado e baião. Foi danado de bom e aquele sanfoneiro é a sua cara. Ninguém sabe quando, mas qualquer dia eu chego aí. Cantarei com você, Zé Marcolino e Jackson do Pandeiro. Agora, vou pro Crato, matar minha saudade e, com a benção do Padre Cicero, tomar cerveja com o Dário.

Um abraço sertanejo e meu aboio lacrimado.


(*) Dr. Demóstenes Ribeiro, médico cardiologista.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A "ESCOLHA DE SOFIA" - José Nílton Mariano Saraiva

 
Desde tempos imemoriais, principalmente no seio de famílias menos favorecidas do interiorzão brabo desse Brasil varonil, o desejo acalentado e inconteste de pais e mães sempre foi o de... “formar um filho doutor” (aqui entendido como o graduar-se em Medicina). Para tanto, e evidentemente que sem entender da profundidade do tema, muitos pais, implicitamente, incorriam na famosa “escolha de Sofia” (aquele lance em que, literalmente, haveria de se “sacrificar” um dos rebentos em detrimento de outro; no caso, por absoluta carência de recursos necessários à contemplação de mais de um). E como à época vigia o conceito de que “onde come um, comem dez” e o tal “controle da natalidade” era uma miríade distante, o “fazer” filhos era a regra em uma família paupérrima, objetivando uma futura e decisiva “ajuda” na luta pela subsistência (excetuando-se, como explicitado antes e restou provado a posteriori, aquele a quem se destinaria o “olimpo”).

Mas aí, em muitas oportunidades, o próprio rebento “premiado”, depois de ralar muito e ser aprovado no mais concorrido dos vestibulares, depois de seis anos de dedicação “full time” visando tornar realidade o sonho dos pais, não mais que de repente “descobre” não ter “vocação para a coisa” e que havia, sim, um meio mais fácil de “se fazer na vida”: o ingresso na “corrupta” atividade política.

Assim, e lamentavelmente (devido à carência de profissionais numa área ainda tão prioritária) muitos dos que se formaram “doutor” à custa do esforço sobre-humano dos pais, nunca fizeram um simples curativo, sequer manipularam uma seringa, jamais prescreveram qualquer medicação a algum paciente e, enfim, se mudaram de mala e cuia para o “eldorado” mafioso da política carreirística. E, para tanto, aí sim, passaram a usar e abusar da “patente” de doutor a fim de “abrir portas”.

Adstringindo-se à nossa praia (o Ceará) dos dias atuais, além de na capital e interior termos “doutores” no exercício do cargo de prefeito, sem que nunca tenham exercitado a “atividade-fim” da formação acadêmica, pululam nos parlamentos estaduais e federais um outro tanto que adotaram o mesmo “script”.

E assim, o sonho dos pais, acalentado durante anos e anos, jaz esquecido e deixado pra trás, por obra e graça dos encantos e da facilidade que a atividade política oferece de “se fazer na vida” rapidamente, mesmo que por métodos heterodoxos. Definitivamente, os tempos são outros.

Alfim, há que se destacar, sob pena de não o fazendo injustiçá-los, que os “vocacionados” para o mister, aqueles que realmente “vestiram a camisa” desde o ingresso na faculdade e até a pós-formatura, são, sim, dignos e merecedores de encômios e de reconhecimento público pelo verdadeiro “sacerdócio” no dia-a-dia de uma atividade estressante e sofrida. Afinal, além de não os frustrarem, se mantiveram fiéis ao sonho dos pais de um dia… “formar um filho doutor”.

Poderão, mais à frente, após passados na “casca do alho” de uma larga experiência no “laboratório da vida” (o exercício diário da Medicina), ingressar na arena política objetivando melhorar a vida dos menos favorecidos, aos quais acompanharam “pari passu”, diuturnamente.




quinta-feira, 3 de agosto de 2017

"EXCELÊNCIAS BANDIDAS" - José Nílton Mariano Saraiva


Deputados Federais cearenses que votaram favoravelmente a que Michel Temer, Eduardo Cunha e Aécio Neves continuem a receber malas e malas de dinheiro público para uso pessoal:

Aníbal Gomes (PMDB) – SIM
Danilo Forte (PSB) - SIM
Domingos Neto (PSD) - SIM
Genecias Noronha (SD) - SIM
Gorete Pereira (PR) - SIM
Macedo (PP) - SIM
Moses Rodrigues (PMDB) - SIM
Paulo Henrique Lustosa (PP) - SIM
Vaidon Oliveira (DEM) – SIM

Eles vão querer seu voto no próximo ano. Fique de olho.

sábado, 29 de julho de 2017

"EMENDAS PARLAMENTARES" - José Nílton Mariano Saraiva

Anos atrás, aqui em Fortaleza, no decorrer de uma comemoração natalícia, tivemos a oportunidade de conhecer o (então) prefeito de uma paupérrima cidade do interior do Ceará, mais especificamente de uma urbe encravada na Região do Cariri. Na verdade, o dito-cujo já houvera chamado a atenção no momento em que estacionou e desembarcou de uma vistosa e potente Hilux, “tinindo de nova”.

Lá pras tantas, conversa vai conversa vem, as generosas doses de “scott” sorvidas conseguiram “destravar” a língua de Sua Excelência. E ele começou, exatamente, pelo “avião” (como ressaltou) em que desembarcara (a Hilux). Segundo narrou, acabara de receber de “presente” de um determinado Secretário de Estado em troca de um “favor” que lhe houvera prestado (vivenciávamos então o primeiro governo Tasso Jereissati). Adiante, numa outra fala, sem assombro discorreu que para ter acesso às tais “emendas parlamentares”, destinadas aos municípios pelos “nobres” (???) deputados federais, a condição sine qua non era que “pelo menos” 20% (vinte por cento) do valor ficasse retido com o próprio (evidentemente que não “detalhou” como se conseguia fechar a prestação de contas, a posteriori; no entanto, bem sabemos que nada que um banal sobrepreço não resolva).

A reflexão é só pra mostrar que de lá pra cá a coisa não mudou nada. Agora, por exemplo, em busca de manter-se no poder a qualquer custo, o golpista sem povo e sem voto (Michel Temer) avança tal qual um rolo compressor sobre os mafiosos deputados componentes da base do governo, e literalmente “compra” os seus votos a fim que consigam livrar-lhe da cassação do mandato, através da liberação generosa das tais “emendas parlamentares”. Que, repita-se, ao chegaram aos prefeitos interioranos (se chegarem), naturalmente terão passado por um processo de “poda” durante o percurso (de pelo menos 20%, lembremos). Isso tem um nome, Corrupção. “Ativa”, por parte do golpista sem povo e sem voto (Temer) e “Passiva”, por parte dos escroques parlamentares. Por onde anda o único juiz do Brasil que trata da corrupção, Sérgio Moro, que não intervém ??? 

A propósito, em mais de uma postagem, neste mesmo espaço, já há um certo tempo, afirmamos peremptoriamente que o exercício da atividade política no Brasil se houvera transformado num “rentável meio de vida” (e nada mais que isso), já que pelo menos 95% dos candidatos a atividade parlamentar, independentemente da agremiação a que estejam vinculados, adentram ao jogo político com o objetivo único e exclusivo de “se fazer”, “se arrumar na vida”, sem qualquer preocupação com a coletividade (assim, além do marombado salário, verbas de todo tipo lhes são destinadas, além da oportunidade de traficar influência em benefício próprio e por aí vai, desaguando no enriquecimento ilícito ora visto). 

O absurdo é que o próprio Presidente da República, para se manter e à quadrilha que o assessora, no poder, se dê ao desplante de ficar ligando pessoalmente para parlamentares oferecendo-lhes uma grana alta que poderia ser destinada a fins mais nobres.

No mais, somente uma “reforma política” profunda e visceral, que contemplasse o extermínio das tais “emendas parlamentares”, bem como o fim do tal “fundo partidário” (dentre outras medidas), teria o condão de mudar o rumo do Brasil. Mas, para tanto, os próprios ladrões com assento no Congresso Nacional é que teriam de tomar tal iniciativa.

Alguém acredita nisso ???


segunda-feira, 17 de julho de 2017

O ADEUS AO "JUIZ NATURAL" - José Nílton Mariano Saraiva

Antecipadamente, até a “velhinha de Taubaté” já sabia que Sérgio Moro condenaria Lula da Silva na pendenga em que se transformou o caso do triplex. E por uma razão simplória: desde o surgimento da tal Operação Lava Jato o “objeto de desejo” daquele assanhado juiz era acabar com o PT e impossibilitar que a sua estrela maior tivesse (ou tenha) condição de concorrer nas próximas eleições presidenciais de 2018, quando, certamente, terá oportunidade de voltar ao poder nos braços do povo (conforme as pesquisas indicam).


Só que o “ranço” se mostrou tão arraigado que, depois de chafurdar por mais de três anos a vida de Lula da Silva e familiares e não encontrar nenhuma prova cabal (nenhuma, é bom repetir), Sérgio Moro (auxiliado por dezenas de procuradores arrogantes) viu-se enroscado e vítima da armadilha que ele mesmo engendrou: assim, independentemente da existência de qualquer prova, teria que condenar o ex-presidente, porque, não o fazendo, se desmoralizaria perante a opinião pública.


Para tanto, ancorado nas “lunáticas convicções” do pastor-evangélico-procurador Deltan Dellagnol (aquele do Power Point) e no depoimento informal (onde não há a obrigação do denunciante de falar a verdade ou apresentar provas) de um condenado pela justiça, Léo Pinheiro (em busca de redução da pena), só restou ao juiz Sérgio Moro “encher linguiça” pra preencher mais de duzentas páginas, sem, no entanto, apresentar uma única prova contundente de algum ilícito do ex-presidente. Um fiasco. Quem quiser conferir é só se debruçar sobre o calhamaço, pra constatar.


Fato é que, dada a fragilidade e inconsistência da peça acusatória, Sérgio Moro sequer teve coragem (como o fez com muitos outros. impunemente) de decretar a prisão de Lula da Silva, transferindo a “batata quente” (responsabilidade) para os integrantes do Tribunal Regional Federal, 4ª turma, em Porto Alegre.


Nesse ínterim, obedecendo ao rito processual, em pouco mais de simplórias 60 páginas, a defesa do ex-presidente encaminhou ao próprio juiz curitibano a peça “embargos de declaração”, que é um instrumento jurídico-legal usado para solicitar ao juiz revisão de pontos da sentença; e ali (é só ter coragem de ler), literalmente é demolida”, ponto a ponto, a sentença proferida por Moro (só que ele, naturalmente, recusará a argumentação usada).


Assim, como também cabe recurso do ex-presidente ao Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, se não prevalecer o “corporativismo” exacerbado do Judiciário as chances de reversão ou mesmo anulação da pena são as mais promissoras possíveis, é o que atestam juristas de escol, face a fragilidade da peça acusatória apresentada pela “República de Curitiba”.


Alfim, uma lamentável constatação: a “esculhambação” jurídica vigente hoje no país (onde um juiz de primeira instância estupra impunemente a Constituição Federal, diuturnamente), deve ser creditada aos prolixos e preguiçosos membros do Supremo Tribunal Federal, que passivamente assistiram Sérgio Moro assumir o monopólio de tudo que se referisse a corrupção, independentemente de onde ocorra. Em suma, o princípio do “juiz natural” foi pro beleléu e Moro reina absoluto como o único juiz do Brasil (determinando, inclusive, a agenda do sonolento STF).


Que merda !!!







segunda-feira, 3 de julho de 2017

ADEUS, OÁSIS (Dr. Demóstenes Ribeiro)


Ninguém deveria errar duas vezes, eu jamais me perdoarei por isso, mas o mundo não é como a gente quer. No entanto, foram épocas encantadoras, inesquecíveis e de magia sem igual. Se você viveu algo parecido certamente me compreenderá.

A primeira vez, em São Paulo, saindo da adolescência, eu fazia um curso de História e ele, Direito Internacional. Quantas vezes fugindo do frio e tomando uísque barato, ouvimos jazz na “Opus 2004,” assistimos filme-cabeça no “Belas Artes” ou descemos a Rebouças num fusca azul, a caminho do Embu, para a privacidade de um motel.

Lá fora o mundo era sombrio. A ditadura militar amedrontava, mataram o Herzog e apareceu aquela militante carioca muito mais bonita do que eu. Quando ela se exilou em Portugal, Rodolfo foi atrás. Tanta légua, tanto mar, era abril, a Revolução dos Cravos e ele ficou por lá. Quase morri. Voltei pra Fortaleza e decidi não me envolver com outra pessoa nunca mais.

O tempo passava, eu vivia para o colégio e para os meus pais, para os sobrinhos e para o trabalho na pastoral. Feliz dessa maneira, se é possível ser assim. Chegou o aniversário da diretora e decidiram comemorar no “Oásis.” Eu não queria ir, pra mim aquele era um lugar de desespero, de homens tristes e de mulheres complicadas. Mas, os “Brasas” tocaram uma balada, os nossos olhares se cruzaram, o anjo do amor desceu sobre mim e Fortaleza ficou a nossos pés.

No Dragão do Mar ou na Praia do Futuro, no Iguatemi ou no Zé de Alencar, sob a lua de Iracema ou no sorvete da Beira Mar, foram beijos ardentes e abraços carinhosos, constrangendo a quem nos assistia, e toda a loucura de que a paixão é capaz.

Na minha família ninguém gostou: embora ele morasse sozinho, ainda era casado. Pouco me importava, eu era de novo a adolescente enfeitiçada e deslumbrada vivendo outra vez a primavera dourada. Às vezes, ele era estranho, aparentava distância e temia que nos observassem. Eu pensava que era discrição, receio, ou timidez... Aproximava-se o final do ano, haveria a reunião familiar, nós estaríamos juntos e eu o protegeria como uma fera – que ninguém se atrevesse a maltratá-lo.

Veio o Natal, o Ano Novo, ele não apareceu e eu fiquei sozinha. Preferiu a mulher e as filhas. Então, caiu a ficha e me desesperei. Entrei na igreja aos prantos, arrastada pelo vendaval e desabafei com o padre Renato: minha filha, ele é muito diferente de você. Deus sabe o que faz, quem somos nós pra compreender a vontade do Senhor?

Com o tempo, a paixão desvaneceu e nunca mais o vi. Jamais percebi que fosse mais um solitário e mulherengo, que só pensava em si e que não gostava de ninguém. Parece que eu escapei de uma boa. Voltei à catequese das crianças, às aulas no colégio e redobrei o cuidado com os meus pais. Reencontrei-me comigo mesma. Outro dia me surpreendi sorrindo e o tempo aliviou a minha dor.

Hoje, sem querer, passei em frente ao “Oásis.” Fazia um sol poente e a boate não funciona mais. Está sendo demolida, já quase toda no chão. Eu fechei os olhos, contive o choro e quando o sinal abriu, parti sem rumo, com um aperto no coração.

Acabou a festa, mas a vida continua. Aprendi a costurar, faço artesanato, ontem mesmo paguei o professor de dança e vou passar a noite inteira no Círculo Militar.


Dr.Demóstenes Ribeiro - Cardiologista/Fortaleza-CE)