por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 24 de abril de 2016

O CONCEITO DO BRASIL LÁ FORA

Colunista português: o Brasil disse ao mundo para não ser levado a sério

POR FERNANDO BRITO · 23/04/2016
Quem ainda não fez ideia do desastre que foi para o Brasil no mundo o espetáculo golpista de domingo passado deve ler o artigo do colunista do jornal  Expresso, de Lisboa, Miguel Souza Tavares:
Não sei se os brasileiros terão a noção do que as oito horas de votação na Câmara de Deputados para destituir Dilma Rousseff tiveram de demolidor para a imagem do Brasil no mundo. Entre os povos livres e civilizados, a ideia que passou é que o Brasil é mesmo um país do Terceiro Mundo, onde a democracia é uma farsa e a classe política um grupo de malfeitores de onde está ausente qualquer vestígio de serviço público. Entre os países do verdadeiro Terceiro Mundo, alguns dos quais bastante mais bem governados do que o Brasil, a ideia do país como potencial líder do grupo dos emergentes caiu por terra com estrondo: perante aquele indecoroso espectáculo transmitido em directo para o país e para o mundo, as hipóteses de o Brasil alcançar o ambicionado lugar de membro permanente do Conselho de Segurança das Nações Unidas só podem ter sido seriamente comprometidas.

Não está em causa saber se Dilma governa mal ou bem: governa mal e devia sair pelo seu pé. Não está em causa se o PT esgotou o seu tempo e devia dar hipótese de nascença a um novo ciclo político: sim, devia, e Lula — a quem o Brasil tanto ficou a dever — faria bem melhor em remeter-se às palestras e nada mais. Já não está em causa sequer saber se há fundamento jurídico e constitucional para a demissão da Presidente: não há, o processo é puramente político e, nesse sentido, o impeachment é, de facto, um golpe, levado a cabo pelos derrotados das presidenciais. Mas em democracia os governos são julgados em eleições e ninguém tem culpa de que na absurda Constituição Brasileira, que tenta a fusão impossível entre o presidencialismo à americana e o governo à europeia, não existam as figuras da moção de censura ou de eleições antecipadas (uma lacuna que deriva directamente do igualmente absurdo sistema político que faz com que o Presidente e chefe de Governo nunca tenha maioria num Congresso onde convivem 26 partidos, mais uma série de fidelidades regionais e sectoriais). Com o pretexto arregimentado para destituir Dilma — as tais “pedaladas fiscais” — qualquer governo de qualquer democracia poderia ser substituído a qualquer momento, sem grande esforço. Mas exigia-se, pelo menos, que o processo de destituição da Presidente do Brasil tivesse um mínimo de dignidade e de seriedade que o gesto impunha. Mas não foi isso o que sucedeu e o que está a suceder: os chefes do “golpe”, todos a contas com a Justiça, são gente que de todo se recomenda; os seus apaniguados são tipos que não se convidam para jantar em casa; o partido que comanda o golpe e mais espera dele vir a beneficiar, o PMDB, é o exemplo acabado de tudo aquilo que a política não deveria ser; e o espectáculo protagonizado pelos deputados ultrapassou tudo o que a simples decência devia permitir. A mensagem que o Brasil passou ao mundo é esta: “Não nos levem a sério”.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

CASAMENTO DE GREGO - Demóstenes Ribeiro (*)

Hermógenes tinha dezoito anos quando cansou de tanger bode nos Inhamuns e se mudou pra Fortaleza. Morou uns tempos na Casa do Estudante e mal concluiu o ensino médio. Porém, em pouco tempo, num armazém da Governador Sampaio, descobriu o caminho das pedras e passou de empregado a patrão.
Ganhou dinheiro, deixou o subúrbio e muitos doutores o invejam. Logo, apartamento na aldeota era pouco. Vendo que poderia ter edifícios, contratou engenheiro e começou a construir. Um dos seus prédios tem elevador panorâmico. Ali, ele se mostra à cidade e gosta de vê-la aos seus pés.
Mas, Deus nunca dá tudo. Não fosse a mulher, a vida seria bem melhor. Helena, metida à sabida e chegada à leitura, batizou sua única filha, de Jocasta. Hermógenes adora a filha, mas ela não herdou nada do pai. Gordinha, vesga e fanhosa, tem algum problema de cabeça: já passou dos trinta, esteve em tudo que é colégio e não aprendeu nada. Não desgruda do smartphone. Só quer saber de facebook, de what´s up e de namoros virtuais.
A filha há dias não falava com ele, mas ontem lhe surpreendeu. Disse que o namorado está em São Paulo e virá conhecer o Ceará. Ela o encontrou numa rede de relacionamentos. Com a crise da Grécia, Xerxes imigrou para o Brasil. No celular, Hermógenes viu que ele é baixinho, cabeçudo e careca; tem o queixo enorme, mas Jocasta nunca esteve tão feliz.
Xerxes fez imersão em português e os pombinhos já noivaram pela internet. O casamento não deve demorar. Hermógenes está ansioso e não vai deixar faltar nada. Imagina uma festa grega, com garçons de luvas brancas e bandas tocando mesmo depois do sol raiar.
O cerimonialista lhe orientou a assistir “Zorba, o grego.” Ele viu a fita cem vezes, está se achando um Anthony King, mas, vai se divertir mesmo, é com a quebra de pratos. Encomendou mais de mil e não vai sobrar nenhum. Helena está satisfeita. Desde a época do namoro, ela gosta de quebrar coisas. Na última briga, com ciúmes, destruiu a cristaleira, o espelho da sala e a televisão.
E, com essa ostentação, Hermógenes aposta que Xerxes o confundirá com Onassis ao provar da cachaça com buchada de carneiro que virá especialmente de Tauá: bom demais!
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(*) Demóstenes Ribeiro – Médico-Cardiologista, atua em Fortaleza e é natural de Missão Velha-CE

quinta-feira, 21 de abril de 2016

PRESIDENTA DILMA NA ONU - José Nilton Mariano Saraiva


Após a imprensa internacional repercutir a tentativa em andamento de um golpe parlamentar no Brasil (via Congresso Nacional), objetivando castrar o mandato de uma Presidenta da República democraticamente eleita por quase 55 milhões de votos, causou profundo mal estar entre alguns membros do Supremo Tribunal Federal a corajosa decisão de Dilma Rousseff de denunciar, viva voz, no plenário da ONU - Organização das Nações Unidas (onde têm assento cerca de 200 países), a conspiração que tenta destituí-la ilegalmente da Presidência da República (falta o Senado “bater o martelo”).

Tal indignação seletiva das “excelências” do STF decorre do fato de que a fala da Presidenta da República naquela seleta corte explicitará e mostrará ao mundo, de maneira honesta, madura e pensada, que a porção podre do Poder Judiciário brasileiro, via Supremo Tribunal Federal, funcionou e funciona como copartícipe da conspiração golpista em andamento. Tanto “sentiram o golpe” que, sem nenhum escrúpulo ou parcimônia, desde já se valem da TV para um “aviso” de futuras retaliações.

No entanto, a verdade é que dentre as inúmeras arbitrariedades praticadas em desrespeito à Constituição Federal por parte de agentes do Judiciário (desde a época do tal “mensalão”), agora, numa situação extremamente grave, pelo menos em duas ocasiões distintas e decisivas aquela corte literalmente chancelou (sub-repticiamente) os atos praticados pelos patrocinadores do tal movimento golpista, a saber: primeiro, ao ignorar que a mandatária maior do nosso país não cometeu nenhum crime de responsabilidade no exercício da sua gestão e, portanto, não pode ser substituída por quem não foi eleito, via voto popular (se acontecer a assunção do “vice-sem-voto” e citado em diversas delações, será a inconstitucionalidade vicejando perigosamente); depois, quando, por conveniência, conivência ou covardia, aquela corte não se manifestou em nenhum momento sobre a absurda situação de termos tido um réu da justiça e desafeto de Dilma Rousseff (o mafioso presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha) presidindo uma plenária com o objetivo único de julgar a Presidenta da República, apesar das comprometedoras e comprovadas denúncias envolvendo-o, ofertadas pela Procuradoria Geral da República desde o ano passado (e como já decorreram 160 dias sem que suas “excelências” do STF se pronunciem, só falta mesmo o distinto ser absolvido pelos “relevantes serviços prestados”; isso se algum dia for julgado por aquela corte).

Merece, pois, todo o apoio, solidariedade e respeito, a decisão histórica da Presidenta da República em romper fronteiras para anunciar, além mares, que a criminosa tentativa de golpe gestada no Brasil dos dias atuais tem como um dos seus pilares de sustentação aquele que deveria ser o “guardião” da Constituição Federal, o Supremo Tribunal Federal (hoje um poder inquestionavelmente corrompido).

Se, ainda assim, vingar o golpe, a história não terá como deixar de registrar para a posteridade e de maneira fúnebre: que, Em 2016, num país chamado Brasil (que tinha tudo pra transformar-se numa potência mundial), tanques e bazucas (os militares) foram substituídos pela junção de uma mídia desonesta + parlamentares corruptos + togados do Supremo Tribunal Federal, no prematuro assassinato da Democracia, conquistada com tanto esforço e luta.

Lamentavelmente, vivenciamos, sim, uma “poderosa” conspiração jurídico-político e midiática. Cuidemo-nos, o caos se aproxima.




terça-feira, 19 de abril de 2016

"EFEITO MANADA" E "CORRUPTOCRACIA" - José Nilton Mariano Saraiva

Em qualquer processo de votação, o “efeito manada” tem por característica o uso do “voto prostituto”; ou seja, aquele voto que é dado ao sabor de conveniências momentâneas, da inexistência de um mínimo de pudor, da falta de respeito para com o eleitor, da covardia dos que se deixam vender pela perspectiva de obtenção de nacos do poder.

No decorrer da votação do processo da admissibilidade do impeachment da presidenta “ficha limpa” Dilma Rousseff, ontem, tal voto se fez presente quando integrantes de partidos aliados do governo até o dia anterior se bandearam para a trincheira adversária na hora da decisão, em razão dos provisórios números negativos ao governo, mostrados no painel (as bancadas do PDT e do PR, dentre outras, embarcaram nessa onda de insubordinação e covardia).

E tal ocorreu em razão da manobra do representante maior da “corruptocracia” (e que preside a Câmara Federal) Eduardo Cunha que, contrariando a praxe da votação em ordem alfabética, como já houvera ocorrido quando do impeachment de Collor de Mello (e fora sugerida agora pelo ministro Marco Aurélio Mello), optou por estabelecer o chamamento dos votantes via bancadas estaduais, permissiva ao surgimento do “efeito manada”, espécie de escancaramento da porteira (exemplo emblemático: depois da votação da bancada do Estado do Paraná, que em peso foi contra o governo, a debandada foi quase que automática).

Há que se registrar que, antes, a imprensa internacional já houvera retratado de forma pejorativa o Brasil para o mundo, com destaque para o New York Times, que em sua edição de 15 de abril destacou em primeira página, de forma cristalina e contundente, sobre a presidenta Dilma Rousseff: “ELA NÃO ROUBOU, MAS ESTÁ SENDO JULGADA POR UMA QUADRILHA DE LADRÕES”.

No mais, uma sessão que poderia ser considerada séria e histórica, mesmo que objetivando uma ruptura democrática via cassação (ilegal) do mandato de uma presidenta eleita democraticamente por quase 55 milhões de eleitores, findou por assemelhar-se a um espetáculo circense periférico de quinta categoria (com todo respeito ao circo e à periferia).

É que, tirante as exceções de praxe, as “excelências” e “nobres” deputados (tratamento hipócrita por eles usados entre si), à falta de uma única justificativa consistente para cassar a presidenta, usaram e abusaram de palhaçadas, canalhices e falta de seriedade, ao vivo e a cores, via estapafúrdias mensagens ao pai, mãe, esposa, tia, filho, neto que está por vir, cachorro, papagaio e por aí vai.

Autentico festival de baboseiras e desrespeito, que poderia ser sintetizada em três instantes distintos: 01) quando o deputado goiano Heuler Cruvinel, na tentativa de agradar o chefe e corrupto-mor Eduardo Cunha, inadvertidamente tascou: “pelo fim da corrupção e dos fichas sujas, voto sim”; 02) quando a deputada Raquel Muniz, esposa do atual prefeito da cidade de Montes Claros, Rui Muniz, bradou eufórica: “pelo Brasil e pelo fim da corrupção, voto sim, sim, sim (ironicamente, hoje, 18.04.16, um dia após, a Polícia Federal prendeu o “prefeito-esposo” por… corrupção); e 03) quando o próprio deputado Eduardo Cunha, anunciou seu enigmático voto evangélico: “Que Deus tenha misericórdia desta nação. Voto sim”. Pergunta-se: misericórdia do Brasil, em razão da possibilidade iminente de ser por ele governado ???

Assim, e na triste perspectiva de que o Senado Federal não mudará o que foi decidido pela Câmara Federal, resta lamentar que um governo ilegítimo (já que sem voto e fruto de um golpe de estado) e tendo à frente figuras comprovadamente desonestas e mafiosas, finde por exterminar as conquistas sociais até aqui registradas (já foi sugerido antecipadamente que as verbas para a saúde e educação serão podadas e que o salário-mínimo não mais terá os generosos aumentos reais até aqui vigentes).

Isto posto, muito cedo vamos descobrir, principalmente os mais carentes e necessitados, que as momentâneas dificuldades vivenciadas hoje serão consideradas “café pequeno” ante as medidas “arrasa quarteirão” que estão por vir (até porque o “tucano” Armínio Fraga, dono de um saco de maldades sem fundo, é o cotado para assumir o Ministério da Fazenda).

Alfim, não custa repetir, repetir e repetir, a fim que fique bem claro, que todo esse dantesco e apavorante quadro é resultante e produto da criminosa negligência e covardia do antigo “guardião da sociedade”, o hoje desacreditado Supremo Tribunal Federal, por ter-se omitido em tomar providências ante as arbitrariedades e abusos perpetrados pelo deputado-ladrão Eduardo Cunha.

Triste e lamentável.

domingo, 17 de abril de 2016

"FICHA LIMPA" x "FICHA SUJA" - José Nilton Mariano Saraiva

Independentemente do resultado da sessão da Câmara Federal a ser realizada no dia de hoje, para tratar do encaminhamento do “ilegal” processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, já existe um derrotado antecipado: o Supremo Tribunal Federal.

Sim, porque ao criminosamente procrastinar o julgamento ad eternum de um comprovado marginal com assento na presidência da Câmara Federal (Eduardo Cunha), mesmo diante do caminhão de provas dos crimes por ele perpetrados (que lhe valeram a condição de “réu” da Justiça), os integrantes daquele colegiado implicitamente ignoraram o seu modus operandi mafioso e, assim, chancelaram todas as irregularidades por ele levadas avante, em proveito próprio e em desfavor do erário e da sociedade.

O resultado todos nós conhecemos: livre, leve e solto, o bandido Eduardo Cunha não só manteve sua postura arrogante, sectária e prepotente, como exacerbou-a, ao desafiar o ministro Marcos Aurélio Mello, não cumprindo (até hoje) uma determinação judicial por ele proferida.

Fato é que, mesmo não tendo nada contra si, a “FICHA LIMPA” e Presidenta da República Dilma Rousseff será “julgada” dentro de poucas horas pelo “FICHA SUJA” Eduardo Cunha e sua “quadrilha parlamentar” (séquito de deputados por ele financiados, e também já citados em ações de improbidade e lavagem de dinheiro).

O resultado é imprevisível e, embora os jornalões, revistões e televisões já há um certo tempo deem como vitoriosa a tese do impeachment, paira no ar a sensação de que os verdadeiros defensores da Democracia (os parlamentares constitucionalistas) não permitirão que haja a ruptura do processo de legalidade que vivenciamos há apenas pouco mais de vinte anos.

Afinal, o que poderíamos esperar de um governo nascido de um golpe de estado (que não seja produto do escrutínio público) e, pois, sem qualquer credibilidade, além de ter no seu comando uma figura comprovadamente corrupta, bandida, que passou toda a vida metida em falcatruas mil (mas que, ironicamente, poderá inclusive assumir a Presidência da República, na perspectiva de que não lhe obstem a trajetória criminosa).
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E se estamos a passar tudo isso, existe uma razão simplória: a falta de sensibilidade, a preguiça, a covardia e a omissão dos integrantes da nossa corte maior, o Supremo Tribunal Federal que, tal qual Pôncio Pilatos, preferiram lavar as mãos numa decisão crucial como essa, com reflexo para milhões e milhões de pessoas. Lamentável e vergonhosamente.

Assim, resta-nos torcer para que a “DEMOCRACIA” sobreviva ao golpe e que após o desfecho favorável, mesmo que num átimo de responsabilidade e respeitabilidade (ainda que tardios) a Justiça brasileira se recomponha, julgando e enjaulando de vez tão abjeta figura, o bandido mor de todo esse esquema (Eduardo Cunha).



sábado, 16 de abril de 2016

A MENSAGEM DA PRESIDENTA

Democracia: o lado certo da história

Vivemos dias decisivos para a jovem democracia brasileira. Vivemos tempos que colocam em risco o direito do povo escolher, por eleição direta, quem deve governar o nosso país. São tempos em que a capacidade de diálogo, tolerância e respeito às diferenças políticas está sendo testada ao limite. 
Vivemos sob a ameaça de um GOLPE de estado. Um GOLPE sem armas, mas que usa de artifícios ainda mais destrutivos como a fraude e a mentira, na tentativa de destituir um governo legitimamente eleito, substituindo-o por um governo sem voto e sem legitimidade.
Sou de uma geração que lutou muito pela democracia e, apesar de todas as dores e sacrifícios, inclusive a dor extrema da tortura e o sacrifício maior da vida, venceu.
Acredito no Brasil democrático e no povo brasileiro e tenho trabalhado muito para honrar os votos dos mais de 54 milhões de eleitores que me elegeram para governar o Brasil por quatro anos, até 31 de dezembro de 2018.
Neste momento, há um pedido de impeachment contra mim em julgamento no Congresso Nacional. Um pedido de impeachment aberto sem que eu tenha cometido crime de responsabilidade. Aliás, não cometi crime algum, de nenhum tipo.
Os que se pretendem meus algozes é que têm encontro marcado com a Justiça, mais cedo ou mais tarde. Para fugir dela, tentam derrubar um governo que criou leis contra a corrupção, deu transparência à administração pública e sempre apoiou a ação independente da Polícia Federal e do Ministério Público.
Tudo isso faz deste julgamento uma grande fraude. Na verdade, a maior fraude jurídica e política da história de nosso país. Destituir uma presidenta pelo impeachment, sem que ela tenha cometido crime de responsabilidade, é rasgar a Constituição brasileira. Trata-se de um GOLPE contra a República, contra a democracia e, sobretudo, contra os votos de todos os brasileiros que participaram do processo eleitoral.
Fazer oposição e criticar meu governo é parte da democracia. Mas derrubar uma presidenta legitimamente eleita, sem que tenha cometido qualquer crime, sem que seja sequer investigada em um processo, não faz parte da democracia.

É GOLPE !!!

Não temo investigação de qualquer natureza sobre minha conduta. Jamais me opus ou criei obstáculos a qualquer investigação, sobre quem quer que seja. 
Não sou suspeita, não sou investigada, não sou ré, mas querem me derrubar por meio de um impeachment ilegal. Querem me submeter a uma das maiores injustiças que se pode cometer contra alguém: condenar um inocente. Querem condenar uma inocente e salvam corruptos.
Peço a todas as brasileiras e a todos os brasileiros que não se iludam, nem se deixem enganar. Vejam quem está liderando este processo. Perguntem-se porque querem tanto me derrubar da Presidência e desrespeitar o voto do povo.
Será que estes que lideram o golpe permitirão que o combate à corrupção continue? Qual a sua legitimidade? O que querem dizer quando anunciam a necessidade de impor sacrifícios à população? O governo de salvação que prometem será para salvar o Brasil ou a eles mesmos?
Respeito os que se opõem a meu governo e gostariam de ver outra pessoa na Presidência. Sei que muitos pensam assim de boa-fé, porque ainda não perceberam quem são os conspiradores.
As pessoas que pensam e agem de boa fé, ao contrário dos líderes da fraude golpista, devem entender que não precisam gostar de mim para se opor ao GOLPE. Basta gostar da democracia. Basta respeitar o eleitor.
Nossa democracia não pode ser violentada. O voto de cada brasileiro e cada brasileira deve ser respeitado. O golpe deve ser impedido, para que o Brasil não retroceda na política, nos direitos, na inclusão.
Derrubar uma presidenta legitimamente eleita não é solução para enfrentar os momentos difíceis que vivemos na economia brasileira. Muito ao contrário: sem a legitimidade concedida pelo voto direto, nenhum governo é capaz de construir saídas democráticas para a crise. Com o GOLPE, a crise se aprofundaria e se prolongaria.
Faço questão de lembrar que, apesar de toda a crise, as nossas políticas sociais continuam em curso. Os jovens seguem tendo acesso ao ProUni, ao Fies e ao Pronatec. O Bolsa Família, o Mais Médicos, o Minha Casa, Minha Vida continuam íntegros e mudando a vida do povo brasileiro. Jamais rompemos ou romperemos com os compromissos por um Brasil justo e inclusivo, de todos os brasileiros e brasileiras. Sabemos que estabilizar a economia e o nível de emprego é tarefa urgente e fundamental, que enfrentaremos com ainda mais vigor, assim que superarmos a crise política.
A inflação felizmente já começou a diminuir. Os consumidores já perceberam isso em seu dia a dia, na conta de luz e no preço dos alimentos. Esta é uma boa notícia porque interrompe a perda de poder de compra das famílias e abre espaço para a redução da taxa de juros.
Estamos vendendo mais produtos para o resto do mundo e, com isso, o superávit em nossa balança comercial é crescente. Nossas reservas internacionais são elevadas e, ao contrário do que tentam mostrar na imprensa, o investimento estrangeiro direto continua vindo para o Brasil.
Os fundamentos da economia são hoje muito melhores do que no tempo em que mandavam no Brasil os líderes do GOLPE e o FMI. Muitas de nossas dificuldades hoje são obra do golpismo e da aposta política no “quanto pior melhor”, que instabiliza o país desde a eleição.
Acabamos de firmar um acordo com os governadores para alongar o prazo das dívidas estaduais, garantindo um alívio às contas dos Estados neste momento de dificuldades. Isto é muito importante, pois diminuirá os riscos de atrasos de pagamentos do funcionalismo, permitirá a continuidade de serviços fundamentais para a população e até mesmo a retomada ou aceleração de obras.
Enviei ao Congresso uma proposta para ampliar os recursos disponíveis para gastos fundamentais, em especial na área de saúde e educação, e para dar sequência a obras que estão em andamento e a investimentos na área de defesa, fundamentais para nosso futuro. Esta proposta e a renegociação da dívida dos governos estaduais terão, juntas, impacto suficiente para gerar 1 ponto percentual de crescimento no PIB do país.
Tudo isso já está em curso. Sei que precisamos fazer muito mais e, vencida esta batalha contra o GOLPE, proponho a construção de um pacto nacional.
Proponho um pacto que envolva todos os segmentos da sociedade –todos, sem exceção– para construirmos novas propostas para a retomada do desenvolvimento do Brasil. Propostas que devem ter como premissas a continuidade dos programas sociais e o respeito aos direitos de todos os cidadãos.
O futuro do Brasil está na inclusão social que dinamiza a economia e aprofunda a democracia. Entre as propostas de futuro, faço questão de destacar a necessária e inadiável reforma política, para aumentar a representatividade de nosso sistema, cortar a raiz da corrupção política e democratizar e tornar mais transparente a atividade política.
Faço um apelo aos brasileiros que estarão nas ruas, mobilizados, nos próximos dias, até que o GOLPE DE ESTADO seja derrotado. Acompanhem os acontecimentos com atenção e, sobretudo, com calma e em paz. Peço calma e paz a todos –aos que são contra mim e aos que estão comigo e contra o golpe.
Peço aos deputados federais de todos os Estados e de todas as agremiações políticas, sem distinção ideológica que, no domingo, tomem posição clara em defesa da democracia e da legalidade.
Desejo que suas consciências os aconselhem a votar contra o GOLPE, contra a interrupção de um mandato conferido pelo povo e contra os enormes riscos que a derrubada de um governo legítimo pode causar. Presto homenagem aos parlamentares de todos os partidos que estão contra o GOLPE. Chamo à reflexão aqueles que ainda relutam em cerrar fileiras contra o impeachment.
A história, que fará nosso julgamento definitivo, vai honrar a biografia de vocês, tanto quanto vocês estarão honrando seu país ao votar contra um impeachment ilegal. Quem defende a democracia nunca se arrepende.
A democracia é sempre o lado certo da história.

DILMA ROUSSEFF, 68, é presidenta da República Federativa do Brasil


sexta-feira, 15 de abril de 2016

É NA AUSÊNCIA QUE A SAUDADE VIVE (Rubem Alves)

                                                                          
EU NÃO TENHO RELIGIÃO. Não vou a igrejas, não participo de rituais, não acredito nos seus dogmas. Preciso não ter religião para amar a Deus sem medo, com alegria e, principalmente, sem nada pedir. NÃO TENHO RELIGIÃO PORQUE NÃO CONCORDO COM AS COISAS QUE ELAS DIZEM DE DEUS.

Deus é um Grande Mistério. Está além das palavras. Diante do Grande Mistério a gente emudece. Fica em silêncio. Discordo a partir do pronome “ele”. DEUS “ELE”, MASCULINO ? ONDE FOI QUE APRENDERAM SOBRE O SEXO DE DEUS ? DEUS TEM SEXO ? SE TEM SEXO, POR QUE NÃO “ELA”, DEUS MULHER ? Como a mulher do Cântico dos Cânticos? A IGREJA CATÓLICA NÃO CONHECE A MULHER. CONHECE APENAS A “MÃE” QUE FOI MÃE SEM TER SIDO MULHER. Deus: por que não uma flor, a mais perfumada? Por que não um mar sem fim onde a vida navega? Místicos houve que disseram que Deus é uma criança que nos convida a brincar... Mas pode ser também que Deus seja música, como pensaram os místicos pitagóricos.

Ter uma religião é falar as palavras sagradas daquela religião e acreditar nelas. As religiões se distinguem e se separam: pelas diferenças das palavras que usam para se referir ao sagrado. Se elas nada falassem, se houvesse apenas o silêncio diante do Grande Mistério, a Babel das religiões não existiria. Diante do Grande Mistério apenas uma palavra é permitida, a palavra poética, porque a poesia não o diz, mas apenas aponta para ele. O Grande Mistério está além das palavras.

Se tenho uma religião ela se chama poesia. Por isso, amo a Cecília Meireles, sacerdotisa profana, que quando queria se referir a Deus falava sobre um mar sem fim, misterioso e selvagem. Quem em silêncio contempla o mar sem fim ouve vozes em meio ao barulho das ondas. Também Fernando Pessoa sabia disso. Mas, prestando bem atenção, é possível ver, a voar sobre o mar sem fim, um pequeno pássaro que canta: “Leve é o pássaro: e a sua sombra voante, mais leve. E a cascata aérea de sua garganta: mais leve. E o que lembra, ouvindo-se deslizar seu canto, mais leve...”

Os poetas escrevem em transe: não sabem sobre que estão escrevendo. Faz muitos anos, escrevi um livro para minha filha. Ela tinha 4 anos. Eu iria fazer uma demorada viagem pelo exterior e ela ficou com medo de que eu morresse e não voltasse. Apareceu-me, então, uma estória, A menina e o pássaro encantado.

Resumida, era assim: era uma vez uma menina que amava um pássaro encantado que sempre a visitava e lhe contava estórias; o pássaro a fazia imensamente feliz. Mas sempre chegava um momento quando o pássaro dizia: “tenho de ir”, a menina chorava porque amava o pássaro e não queria que ele partisse. Menina, disse-lhe o pássaro, aprenda o que vou lhe ensinar:

EU SÓ SOU ENCANTADO POR CAUSA DA AUSÊNCIA. É NA AUSÊNCIA QUE A SAUDADE VIVE. E A SAUDADE É UM PERFUME QUE TORNA ENCANTADOS A TODOS OS QUE O SENTEM. QUEM TEM SAUDADES ESTÁ AMANDO. TENHO DE PARTIR PARA QUE A SAUDADE EXISTA E PARA QUE EU CONTINUE A AMÁ-LA, E VOCÊ CONTINUE A ME AMAR...”.

E partia. A menina, sofrendo a dor da saudade, maquinou um plano: quando o pássaro voltou e lhe contou estórias e foi dormir, ela o prendeu numa gaiola de prata dizendo: “Agora ele será meu para sempre”. Mas não foi isso que aconteceu. O pássaro, sem poder voar, perdeu as cores, perdeu o brilho, perdeu a alegria, não mais tinha estórias para contar. E o amor acabou. Levou tempo para que a menina percebesse que ela não amava aquele pássaro engaiolado. O pássaro que ela amava era o pássaro que voava livre e voltava quando queria. E ela soltou o pássaro que voou para longe. A ESTÓRIA TERMINA NA AUSÊNCIA DO PÁSSARO E A MENINA SE ENFEITANDO PARA A SUA VOLTA.

Minha intenção, ao escrever esta estória, era simples: consolar a minha filha. Mas quando foi publicada ganhou um sentido que não estava nas minhas intenções: começou a ser usada em terapia, com casais possuídos pela ilusão de que, engaiolado, o amor seria posse eterna.... Desde então passei a presentear noivos com uma gaiola da qual eu arrancava a porta. Mas, passado algum tempo, uma pessoa me disse: “Que linda estória você escreveu sobre Deus!” “Sobre Deus?”, eu perguntei sem entender. “Sim”, ela me respondeu. “O PÁSSARO ENCANTADO NÃO É DEUS ? E AS GAIOLAS NÃO SÃO AS RELIGIÕES, NAS QUAIS OS HOMENS TENTAM APRISIONÁ- LO ?

Aprendi, então, da minha própria estória, algo que não sabia: Deus como um Pássaro Encantado que me conta estórias. Amo o Pássaro. Odeio as gaiolas. O Pássaro Encantado: não pousa em galhos para cantar. Não é possível fotografá-lo. Canta enquanto voa. Dele, o que temos é apenas a sua leve sombra voante e a cascata aérea de sua garganta... Quando ouço o seu canto, ele já passou. Só é possível vê-lo em seu voo, por trás. Vai-se o Pássaro. Fica a memória do seu canto.

Um pássaro voando é um pássaro livre. Não serve para nada. Impossível manipulá-lo, usá-lo, controlá-lo. Pássaro inútil. E esse é, precisamente, o seu segredo: a sua inutilidade: ele está além das maquinações dos homens. Sua única dádiva é o seu canto. Só faz um milagre, um único milagre: quando, chorando, lhe peço “Passa de mim esse cálice”, ele canta e o seu canto transforma a minha tristeza em beleza. Por isso eu nada lhe peço. Sei que ele não atende a pedidos. O seu canto me basta: ao ouvi-lo transformo-me em pássaro. E voo com ele...


MAS AÍ VÊM OS HOMENS COM AS SUAS ARAPUCAS E GAIOLAS CHAMADAS RELIGIÕES. E cada uma delas diz haver conseguido prender o Pássaro Encantado em gaiolas de palavras, de pedra, de ritos e magia. E cada uma delas afirma que o seu pássaro engaiolado é o único Pássaro Encantado verdadeiro…
Por que prenderam o Pássaro? Porque o seu canto não lhes bastava. Não lhes bastava a beleza. Na verdade, não o amavam. O QUE OS HOMENS DESEJAM NÃO É A BELEZA DE DEUS. O QUE ELES DESEJAM É MANIPULAR O SEU PODER. O que eles querem é o milagre. O canto do pássaro poderia lhes dar asas para voar. Mas não é isso que querem. O que desejam é o poder do pássaro para continuar a rastejar: Deus, transformado em ferramenta. Ferramenta é um objeto que se usa para se atingir um fim desejado. Assim são os martelos, as tesouras, as panelas... O QUE AS RELIGIÕES DESEJAM É TRANSFORMAR DEUS EM UMA FERRAMENTA A MAIS. A MAIS PODEROSA DE TODAS.

A ferramenta que realiza os desejos. Como o gênio da garrafa. Pois não é isso que é o milagre, a realização de um desejo por meio da manipulação do sagrado? Só é canonizada santa uma pessoa que realizou milagres: o milagre é o atestado do seu poder para manipular o divino.

E é assim que as religiões se multiplicam, porque os desejos dos homens não têm fim, e os seus santuários se enchem de santos de todos os tipos, os santos milagreiros são nossos despachantes espirituais, todos eles a serviço dos nossos desejos, atenderão nossos desejos a preço módico, se rezarmos a reza certa e prometermos publicar o milagre em jornal, e pela televisão se anunciam fórmulas, sessões de descarrego, águas bentas milagrosas, exorcismo de demônios, os DJs de cada religião têm uma música na fala que lhes é própria…
Assim, a poesia do canto do Pássaro Encantado se transforma em manipulação do pássaro engaiolado. E não percebem que aquele pássaro que têm dentro de suas gaiolas não é o Pássaro Encantado, que não se deixa engaiolar, porque é como o vento, e voa como quer, e tem uma única dádiva a oferecer aos homens: a beleza do seu canto.


À TRANSFORMAÇÃO DA POESIA EM MANIPULAÇÃO MILAGREIRA – OS PROFETAS DERAM O NOME DE IDOLATRIA.