por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 25 de junho de 2012

Grande oportunidade - José Nilton Mariano Saraiva

Na tentativa de mostrar que é valentão, brabo, não teme cara feira ou foge à luta, quando cercado por sua cambada de áulicos ele costuma disparar a metralhadora verborrágica em todas as direções, normalmente faltando com o respeito a quem esteja no entorno.
Assim se deu, por exemplo, quando fez uma analogia entre os “MÉDICOS” e o “SAL” nosso de cada dia, já que ambos, no seu entendimento, seriam baratos, brancos, e disponível em qualquer lugar; como não houve qualquer reação por parte da categoria, mais sua fama de valentão se solidificou.
Dias atrás, quando os policiais militares e civis cearenses encetaram uma greve objetivando salários mais dignos, lá vem ele de novo detonando toda a categoria, sem dó nem piedade, ao afirmar que não passavam de “MARGINAIS FARDADOS” e “BANDIDOS” QUE NÃO HONRAVAM A FARDA.
Mas foi aí que quebrou a cara, a “coisa” pegou e o “bicho” despertou: sentindo-se, com toda a razão, moralmente ofendidos, os policiais militares resolveram impetrar uma ação na Justiça objetivando fosse o valentão intimado a prestar esclarecimentos.
Aceita a justa reivindicação da classe ofendida, no princípio do mês de agosto ele terá a oportunidade de ratificar em juízo sua fama de valentão, de macho e de que não teme cara feira ou foge à luta. É só NÃO AFINAR e confirmar/reafirmar com todas as letras, pontos, acentos e vírgulas tudo que disse publicamente e que se acha registrado em áudio e vídeo: que os policiais militares do Ceará não passam de “MARGINAIS FARDADOS” e “BANDIDOS” QUE NÃO HONRAVAM A FARDA.
Só se espera que ele não venha com papo furado, com conversa mole, com a afirmação que a sua fala foi “descontextualizada” e por aí vai. Sim, porque aí está a grande oportunidade que o senhor CIRO GOMES terá pra não decepcionar seus adeptos e ganhar uma ruma de outros simpatizantes.
Particularmente, por conhecer os métodos e reações do referido senhor, não temos a menor sombra de dúvida: ele AFINARÁ.
Alguém duvida ???

domingo, 24 de junho de 2012

Lilian Carvalho é a nova presidenta do Coletivo Camaradas


Num clima de unidade, interação e convicção foi eleita  no último sábado, dia 23,  em assembleia geral realizada na Universidade Regional do Cariri – URCA, a  nova coordenação do Coletivo Camaradas.  

A assembleia elegeu para presidir a organização, a atriz Lilian Carvalho que além de atuar no teatro, é produtora cultural e psicóloga. Ela substitui o artista/educador Alexandre Lucas, um dos fundadores do Coletivo.   Lilian é uma veterana Camarada  que participa do grupo há quatro anos e se sente orgulhosa ao afirmar que participar de um coletivo que consegue discutir arte com posicionamento político.

Lilian acredita que é preciso manter a mesma linha de atuação  e acrescenta que o grupo deverá ampliar as suas ações para outras linguagens artísticas como a música e o teatro. Ela destaca será dado continuidade aos trabalhos de ações conjuntas com os coletivos locais e nacionais e destaca que será feito um esforço para intercâmbios internacionais. A atriz frisa que é necessário criar as condições para que o Coletivo tenha uma sede que possa servir como centro de formação artística e política  tanto para o Coletivo Camaradas como para outros grupos.

Inovação

A assembleia dos Camaradas inovou ao acrescentar na sua direção os cargos de Coordenação  sobre questões de gênero, afrodescendência, cultura e memória.

Outra inovação foi a aprovação do Conselho Consultivo que reúne nomes de personalidades do meio artístico e intelectual brasileiro, dentre eles, o do ex-secretário de Cidadania Cultural do Ministério da Cultura, Célio Turino responsável por conceber o Programa Cultura Viva, o qual possibilitou a criação de quase três mil Pontos de Cultura espalhados em todo o Brasil. Considerado o maior programa de descentralização de recursos públicas para cultura e de empoderamento dos segmentos ligados a cultura e a arte no país.

Projeto em andamento

O Coletivo Camaradas desenvolve os seguintes projetos:
Laboratório de Estudos, Vivências e Experimentos em Arte Contemporânea – Leve Arte Contemporânea que é destinado aos alunos do Ensino Médio da Rede Publica do Crato;
Cordel Engajado  que consiste na distribuição gratuita de cordéis;
Projeto No Terreiro dos Brincantes em parceria com a URCA e a Secretária de Cultura do Crato que produz vídeos sobre grupos da cultura popular da região do Cariri;
E prepara a segunda edição da Mostra Nacional de Vídeos Brincantes que deverá ser realizada em agosto deste ano.    

Nova Coordenação Eleita

Coordenadora Geral - presidenta: Lilian  Carvalho de Araújo
Currículo resumido: Atriz, produtora cultural e psicóloga.
Secretaria geral: Ana Luisa Sombra Vicente
Currículo resumido: Academica do Curso de Pedagogia
Coordenador de Finanças – Tesoureiro  - Ricardo Alves    
Currículo resumido: Ativista do Hip – Hop e acadêmico de Geografia da URCA
Coordenador de Cultura e Memória – Jean Alex
Currículo resumido: Acadêmico de Pedagogia da URCA, músico e educador musical, líder da banda Sol na Macambira
Coordenadora de Comunicação: Leyliane Alves 
Currículo resumido:  Acadêmica de Comunicação Social da UFC
Coordenador de Projetos: Alexandre Lucas  
Currículo resumido:  Pedagogo e artista/educador
Coordenadora sobre questões de gênero – Dayze Carla Vidal da Silva
Currículo resumido:    Acadêmica de Ciências Sociais da URCA
Coordenação sobre questões de Afrodescendência  - Alice Maria Freitas Cortez da Silva 
Currículo resumido: Acadêmica de Ciências Sociais  da URCA  e integrante da UNEGRO
Conselho Fiscal
Jucimar   Rodrigues Lima
Currículo resumido: Estudante secundarista e integrante da banda Cratons
Diego Felipe do Nascimento 
Currículo resumido: Acadêmico de Geografia da URCA
Ivanilson da Silva Felix 
Currículo resumido:  Estudante secundarista

Conselho Consultivo

Jefferson Bob Gonçalves de Lima – Integrante da Nação Hip-Hop Brasil, integrante da Banda Ferreros e Produtor Cultural  - Potengi/CE
José André de Andrade – Ator, poeta e Produtor Cultural   - Juazeiro do Norte/CE  
Nívia Uchôa – Fotografa  e geógrafa – Juazeiro do Norte/CE  
José Cícero da Silva – Pesquisador, poeta  e Produtor Cultural  - Aurora/CE
Luis Parras – Fundador do Programa Nacional de Interferência Ambiental – PIA e do Centro Universitário de Cultura e Arte da UNE – CUCA, integrante do Grupo de Interferência Ambiental – GIA – Salvador/ BA
Mileide Flores -  Presidente da Sociedade Amigos da Biblioteca; Membro do Coletivo de Cultura do PCdoB/Ce; do Colegiado do Sistema Nacional de Cultura; do Fórum de Literatura do Estado do Ceará; da Rede Nordeste do Livro e da Leitura; Diretora da Livraria Feira do Livro – Fortaleza/CE;
Rosemberg  Cariry – Filosofo, pesquisador e cineasta – Fortaleza/CE    
Tales Bedeshi – Artista/educador, integrante do PIA – Belo Horizonte -MG
Célio Turino – Historiador, escritor e ex-secretário da Secretaria de Cidadania Cultural do Ministério da Cultural – São Paulo – SP;
Gabriela Monteiro – Artista visual e integrante do PIA – Rio Janeiro – RJ
Luciana C M Costa – Mestranda em Artes Visuais, integrante do Coletivo Política do Impossível  e o PIA – São Paulo;
Lula Gonzaga – um dos pioneiros em cinema de animação do Brasil – Cineastra – Olinda/PE;
Salete Maria – Professora Universitária, advogada,  pesquisadora sobre gênero e cordelista – Juazeiro do Norte/CE;
Allan Bastos – professor e fotografo – Crato/CE
Cacá Araújo – Dramaturgo, poeta, ator e folclorista – Crato/CE  
Armando Teixeira Leão – Coordenador Executivo da UNEGRO e Mestre de Capoeira Angola
Ulisses Germano Leite Rolim – Professor, poeta e músico;   
Alexandre Santini  - ex-coordenador do Cuca da UNE e integrante do Companhia de Teatro Político  “Tá na Rua” – Rio de Janeiro – RJ
Maria Pinho Gemaque – Mapige – integrante do Coletivo Psicodélico, artista/educadora – Macapá – AP;
Alysson Amancio – Professor, pesquisador e coreografo – Juazeiro do Norte-CE    
Edival Dias – Professor, artista/educador e ator – Juazeiro do Norte/CE    


  


sábado, 23 de junho de 2012


Tudo que vicia começa com C (Luiz Fernando Veríssimo)

Por alguma razão que ainda desconheço, minha mente foi tomada por uma ideia um tanto sinistra: vícios.
Refleti sobre todos os vícios que corrompem a humanidade. Pensei, pensei e,de repente, um insight: tudo que vicia começa com a letra C!
De drogas leves a pesadas, bebidas, comidas ou diversões, percebi que todo vício curiosamente iniciava com cê.
Inicialmente, lembrei do cigarro que causa mais dependência que muita droga pesada. Cigarro vicia e começa com a letra c. Depois, lembrei das drogas pesadas: cocaína, crack e maconha. Vale lembrar que maconha é apenas o apelido da cannabis sativa que também começa com cê.
Entre as bebidas super populares há a cachaça, a cerveja e o café. Os gaúchos até abrem mão do vício matinal do café mas não deixam de tomar seu chimarrão que também - adivinha - começa com a letra c.
Refletindo sobre este padrão, cheguei à resposta da questão que por anos atormentou minha vida: por que a Coca-Cola vicia e a Pepsi não? Tendo fórmulas e sabores praticamente idênticos, deveria haver alguma explicação para este fenômeno. Naquele dia, meu insight finalmente revelara a resposta. É que a Coca tem dois cês no nome enquanto a Pepsi não tem nenhum.
Impressionante, hein?
E o computador e o chocolate? Estes dispensam comentários. Os vícios alimentares conhecemos aos montes, principalmente daqueles alimentos carregados com sal e açúcar. Sal é cloreto de sódio. E o açúcar que vicia é aquele extraído da cana.
Algumas músicas também causam dependência. Recentemente, testemunhei a popularização de uma droga musical chamada "créeeeeeu". Ficou todo o mundo viciadinho, principalmente quando o ritmo atingia a velocidade. cinco.
Nesta altura, você pode estar pensando: sexo vicia e não começa com a letra C. Pois você está redondamente enganado. Sexo não tem esta qualidade porque denota simplesmente a conformação orgânica que permite distinguir o homem da mulher. O que vicia é o "ato sexual", e este é denominado coito.
Pois é. Coincidências ou não, tudo que vicia começa com cê. Mas atenção: nem tudo que começa com cê vicia. Se fosse assim, estaríamos salvos pois a humanidade seria viciada em Cultura.

CENTENÁRIO DE GONZAGÃO

SÃO JOÃO NA ROÇA - (Zé Dantas e Luiz Gonzaga) - 1952

a fogueira tá queimando
em homenagem a São João
o forró já começô ô
vamos gente
rapá pé neste salão
dança Joaquim com Zabé
Luiz com yaiá
dança Janjão com Raqué
e eu com Sinhá
traz a cachaça Mané
que eu quero vê
quero vê páia avuá


FELIZ SÃO JOÃO


2012 - CENTENÁRIO DE LUIZ GONZAGA

                                          Luiz Gonzaga ao lado do poeta e parceiro Zé Dantas


     Observamos hoje, com tristeza, que a descaracterização do "São João" não está apenas na música, mas também na maneira como vem sendo comemorado. O que se vê hoje nas grandes cidades não passa de uma grosseira imitação.
É necessário que haja uma conscientização ainda maior no sentido de preservar esta que é uma das nossas mais tradicionais festas populares. Por tudo isto é que procuro refúgio no interior, seguindo o conselho de Zé Dantas e Luiz Gonzaga em "SÃO JOÃO ANTIGO", para ter a certeza de que não mudei, nem tão pouco o "São João". Quem mudou foi a cidade.

Marcos Barreto de Melo


SÃO JOÃO ANTIGO - (Zé Dantas e Luiz Gonzaga) - 1957

era festa da alegria
São João
tinha tanta poesia
São João

tinha mais animação
mais amor, mais emoção
eu não seu se eu mudei
ou mudou o São João
vou passar o mês de junho
nas ribeiras do sertão
onde dizem que a fogueira
ainda aquece o coração
pra dizer com alegria
mas, morrendo de saudade
não mudei, nem São João
quem mudou foi a cidade

sexta-feira, 22 de junho de 2012

A rua silenciou
A noite proibiu a estrela de piscar
Você dorme
Sem a vela do meu olhar

quinta-feira, 21 de junho de 2012




Quando o amor se desliga de uma construção, quando o barraco fica  sem portas, paredes,  teto... Pra que comprar a tinta , os lustres, a pia da cozinha?
O investimento está na  busca de outro amor. Melhor do que chorar a perda é pensar  que da próxima vez, vida ou hora, o relógio vai parar, no instante de felicidade que não foge !

socorro moreira



Meus escuros se enchem de mistérios
Ficam loucos , ficam cegos
e as respostam se distanciam de mim.
Quando nasce a lua ...
Não sei o lado que me aclara
quero colher toda luz
num só olhar
Mostro o céu
pra minha alma
Toco no imaginário
distante de mim.

(socorro moreira)



 Escureceu o céu, nublou o pensamento , pediu pão com café e um bom papo. Fico sentindo o friozinho que saiu da barriga , e se espalhou pelos braços.Gosto da rua  solitária . É como o recreio da alma, que passeia livre , e se embriaga
Acabei de fazer uma lista dos meus  mestres. Foi como se estivesse me matriculando no passado, mas podendo escolher a aula. Quero reprise das aulas de Dr. Zé Newton; as histórias das viagens de Dona Lurdinha Esmeraldo;o conhecimento científico de Dona Ivone;as aulas expressivas de Alderico, e aquele desenho leve, perfeito de Dr.Zé Nilo.
Na vitrola do meu pai , umas valsas, em tom baixinho. Um bilhete amoroso , guardado nas caixinhas das saudades, e aquela pétala de flor, que eu  quis  dentro de mim.
Vou calçar meu par de meias furadas , me enrolar no lençol de algodãozinho estampado, e ler , pelo menos uma página, de um livro de Jorge Amado.

socorro moreira

Espera ...- por Socorro Moreira

estou catando o feijão
e fugindo do fogão.
o amor devoto pelas panelas...
me dizem elas :
preferimos você na janela

de olhos perdidos
querendo um caminho.
respondo:
aqui é porto de poesia
os navios atracam e descarregam
rimas sentidas
às vezes leio e bebo
outras vezes olho de soslaio
assustada com o meu interior declarado

nos versos
amarro a fita do verbo
e deixo o coração solto
no encontro de olhares
- espelhos fatais !

Rio com um barulho desses

  Com a morte do velho Venceslau  Kandanga, após as lágrimas pouco sentidas, os filhos se reuniram para fazer o balanço do que interessava: o espólio. Estavam todos contendo uma indisfarçada felicidade. Venceslau vinha de uma ascendência abastada: fazendas, terras, imóveis e dinheiro em espécie eram perceptíveis nos velhos retratos espalhados na parede. O patriarca da família --- Kandic Kandanga --- teria vindo da Armênia, aí pelo início do Século XIX e, de mero vendedor de confecções, terminara por montar um imenso império fabril. Com as gerações e os inventários  que se sucederam,no entanto, os novos ricos foram pouco a pouco dissipando o patrimônio. Riqueza adquirida sem  suor, evapora como ele. Entre uma e outra amante, entre uma e outra excentricidade, entre uma e outra separação judicial, os cobres duramente conquistados por Kandic, esvaíram-se como por encanto.
                                   Aberto o testamento do tetraneto de Kandic, o velho Venceslau, não deu outra. Ficara apenas a casa do patriarca e   um prédio de cinco andares – o Edifício  Rio-- , sito num bairro não muito privilegiado, para ser rateado entre os dez filhos, três viúvas e seis netos de Venceslau.  Iniciou-se, imediatamente, a terceira guerra mundial. Familiares endividados, mantendo, porém,  a importância dos tempos áureos, cada um desejava levar o maior pedaço do último quinhão. Arrastando-se a pendenga, para o gáudio dos advogados, terminaram por ter que vender a casa para cobrir as custas judiciais e, sob risco de ficar a herança para os causídicos e não para os descendentes, entraram por fim num acordo. Resolveram, salomonicamente, dar um apartamento do edifício para cada  herdeiro e, depois de mais de dois anos, por fim, fecharam o inventário do velho Venceslau.
                                   Como estavam todos na maior pindaíba, morando de aluguel, mudaram-se todos para seus apartamentos recém herdados.  No primeiro momento, as coisas andaram bem. Todos se sentiram de alguma maneira felizes com o alívio financeiro. Mas era bem previsível : a bomba estava armada e com estopim faiscante e curto. As desavenças não demoraram. Conflitos relativos às pretensas melhores condições de um ou outro apartamento se tornaram frequentes.  Começaram os atrasos reiterados da taxa de condomínio, por incrível que possa parecer executados pelos mais remediados e não pelos mais pobres. Exatamente atrasavam aqueles que mais consumiam a água e a luz. A conservação do velho prédio estava péssima e já apareciam algumas rachaduras progressivas em algumas paredes.  Eram marcadas reuniões com os moradores,  geralmente inúteis, pois os inadimplentes faltavam. Um belo dia,  o esperado ocorreu: desligaram a luz e cortaram a água do imóvel. Aí a gritaria foi geral. Os pobres reclamavam com razão, pois estavam pagando pela irresponsabilidade dos outros. Os menos lascados empavonavam-se, mantendo aquele ar de importância que herdaram dos seus ascendentes e dizendo enfaticamente : --  é nisso que dá, querer ser simples e vir morar num muquifo desses!
                                   Marcaram uma reunião de emergência, mas ninguém compareceu: simplesmente porque nenhum queria arcar com a vaquinha necessária para sanar o problema. Uns dois meses depois, no escuro e seco como outubro em Picos, no meio da noite, ouviram-se um grande estralo e um pequeno tremor. Todos acordaram apavorados e desceram as escadas num átimo. Em pouco, toda a descendência do velho Venceslau estava de camisola e pijama no meio da rua. Chamada a Defesa Civil, após vistoria, o Edifício  Rio foi condenado: Está prestes a cair, não tem qualquer condição de habitabilidade, disse o Coronel responsável. Providenciadas , de urgência, algumas tendas, à noite,  o Síndico chamou, por fim, mais  uma Reunião de condôminos. Pressionados, por fim, os moradores , já sem teto, resolveram comparecer. As discussões foram longas e demoradas. Depois de umas cinco horas, finalmente, houve consenso. A Ata foi devidamente lavrada : O problema será resolvido pelas futuras gerações dos Kandic, marcaram , então, uma próxima reunião para daqui a vinte anos quando os futuros herdeiros do Edifício Rio, já taludos e em condições de deliberar,  deverão tomar as devidas providências. O convite já foi até redigido e o conclave já tem um nome : Rio + 20.

J. Flávio Vieira

versos sem papel - por Socorro Moreira



Você corta o filme
amarga o recado
deixa o mel
na porta do enxame
deixa a flor
na madrugada aberta
morrer na manhã


Sono que se vai
O lado vazio e silencioso da cama
Arrumo o lençol que fala...


Presente com tinta
Futuro sem papel
Passado amarrado
Pipas voam alto do além para cá...
Conquistam espaço
Na janela do quarto
vejo um pedaço do céu!

Colaboração de Edmar Cordeiro


Capuccino caseiro


Ingredientes
1 lata de leite ninho
1 lata ( pequena) de café soluvél
1 colher de café de bicarbonato
1 lata de Nescal ( pequena) ou Toddy
1 colher de café de canela em pó


Coloque no liquidificador todos os ingredientes e misture bem
Depois de misturado, coloque em potinhos para guardar
Quando quiser tomar misture o tanto desejado no leite bem quente e curta um capuccino gostoso e barato


A poesia de Lupeu lacerda !

O coração é um móvel estranho que
não cabe na sala
Que se esconde
no peito
Que não posso pegar
na minha mão
Nem polir com uma
flanela amarela
Mas é ele quem dita meu
poema
E que manda minha mão
escrever
Minha derradeira carta
De amor

O Laço de Fita – Castro Alves

O Laço de Fita – Castro Alves

Não sabes crianças? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
                              Num laço de fita.

Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu'enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
                                  O laço de fita.

Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
                        Num laço de fita.

E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh'alma se embate, se irrita...
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
                               Ó laço de fita!

Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes...
Mas tu... tens por asas
                                Um laço de fita.

Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios...
Beijava-te apenas...
                           Teu laço de fita.

Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N'alcova onde a vela ciosa... crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu... fico preso
                            No laço de fita.

Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova... formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c'roa...
                              Teu laço de fita.


Fonte:
ALVES, Castro. Espumas flutuantes. in Poesias Completas. São Paulo : Ediouro, s.d. (Prestígio)

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Uma breve ausência - José do Vale Pinheiro Feitosa


Não procure algo por aqui, tudo se encontra no vídeo acima, mesmo que a música e o texto der no saco suporte-os até o fim. Quando setembro vier estaremos aqui novamente. 

Lupeu Lacerda - O corpo é um equipamento absolutamente artístico


 Poeta e artista visual, atrevido e bem humorado, Lupeu Lacerda é um dos remanescentes da arte no Cariri da década de 80 do século passado, que antes era  fanzineiro e hoje blogueiro.  O escritor que fala de sexo nos seus trabalhos  diz que “exploro a sexualidade em meu trabalho por saber que isso sempre causará estranhamento. As pessoas, por incrível que pareça, ainda tem pudores em ler um texto que vem recheado de palavras como: boceta, pica, cú”.

Alexandre Lucas -  Quem é Lupeu Lacerda?

Lupeu Lacerda - De todas as perguntas que me fazem, essa é sempre a mais escrota de responder... vamos lá: Lupeu é meu apelido. Antigo. Dos tempos de menino. Odiava o apelido, mas ele foi se tornando tão forte que dominou o meu nome: Paulo Luiz Matos de Lacerda. Incorporei-o. Por não haver mais o que fazer. Daí comecei a assinar as coisas que escrevia e desenhava com esse nome Lupeu, o sobrenome é da minha família cariri. Lacerda. E Lupeu Lacerda é um homem do sexo masculino, nascido no ano da graça de 1965 em São Paulo, com 46 anos no costado, criado quando menino em Santana do Cariri, depois em Juazeiro do Norte, que adotou o Crato como cidade do coração, e que depois de morar em um monte de lugares aportou em Juazeiro da Bahia, nos beiços do Rio São Francisco. Aprendiz de escritor, aprendiz de artesão, apaixonado por todas as formas e manifestações artísticas. Pai de duas filhas, escritor de dois livros publicados (Entre o Alho e o Sal / Caos Technicolor), participação em algumas coletâneas, um blog meio desativado chamado “Séquiço Sacro” (mesmo nome do fanzine que inaugurou a era de fanzines no cariri nos anos 80), uma página meia boca na internet www.lupeulacerda.com.br , ainda cheio de sonhos, ainda apaixonado, ainda achando que sempre dará tempo de fazer e mudar alguma coisa.

Alexandre Lucas -  Como se deu seu contato com a arte?

Lupeu Lacerda - Meu contato com a arte se deu através de gigantes! Conheci ainda adolescente algumas pessoas que mudaram o prumo da minha visão de arte: começo com Stênio Diniz, que já barbarizava com uma arte absolutamente “nova” na “velha” mídia da xilogravura. Na casa dele conheci Luis Karimai (um mestre do desenho) e Gilberto Morimitsu (um mestre da fotografia), os japas liam coisas diferentes, olhavam coisas diferentes, gostavam de musicas diferentes. Depois enveredei nos caminhos de Craterdã, e aprendi muito com Luis Carlos Salatiel, Normando, Nicodemos, Carlos Rafael... enfim, tive um aprendizado absolutamente eclético. Lia Dostoievski no sebo de Manel, conversava sobre Carlos Castaneda com Rafael, via os desenhos de Normando, a poesia cristal de Nicodemos, bebia cerveja e sonhos com Stenio e fui assim, aprendendo e as vezes acho que até ensinando (pelo menos uma outra forma de olhar). Ainda hoje é assim. Meu contato com a arte sempre foi e sempre será o contato com as pessoas que me cercam.

Alexandre Lucas -   Fale da sua trajetória:

Lupeu Lacerda - Bom, eu escrevo desde que eu me entendo por coisa, bicho e gente. Mas a coisa de publicar e ser lido vem de meados dos anos 80, com a criação do Séquiço Sacro. Naquela época era foda escrever e ser lido. Bem foda... o único jornal alternativo já era extinto, o “Folha de Pequi”, e partimos pra guerrilha, eu, Uberdan e Gledson. Depois foram incorporados Hamurabi, Sidney e o grande Junior R., rei das colagens perfeitas. Passou-se o tempo, participei de uma coletânea de poesia organizada pelo Stênio Diniz, uma coisa bem bacana, um livro em cartões postais. Não lembro o nome. Participei como vocalista da banda Fator RH/Lerfa Mu (tempo melhor da minha vida).  Em 2006 Sidney Rocha pegou um material meu e transformou em livro, lançado em 2007 pela Kabalah Editora. Em 2009 participei de uma coletânea de contos chamada “tempo bom”, que saiu pela Iluminuras. Este ano estou lançando o “Caos Technicolor”, o que talvez seja meu último esparro poético. Nunca fui um poeta de verdade, essa é a verdade. Sou mais um fotógrafo de palavras. Influencia Beat talvez.

Alexandre Lucas - Como você caracteriza a sua produção literária?

Lupeu Lacerda - Minha produção? Estudo. Muito estudo. Ler pra caralho. Escrever pra caralho. Apagar pra caralho. Sei que tenho coisas a dizer. Mas ainda estou no processo de aprender “como dizer”. Se tiver tempo, ainda quero escrever um puta livro de contos. Ou um romance desses de guardar na estante com respeito e carinho.

Alexandre Lucas – Como ocorre o seu processo criativo?

Lupeu Lacerda - Gosto de escrever à mão. Em cadernos pautados. Usando barras em vez de pontuação, pra não perder a velocidade do pensamento saca? Gosto de escrever de noite, tomando café, depois que a casa se acalma. As vezes começo a escrever com raiva de alguma coisa, as vezes é uma notícia que li, as vezes forço. E me obrigo a escrever pelo menos duas páginas de rabiscos por dia. Passo uns dias e volto pra ler a parada. Daí começo a aproveitar o que é de aproveitar e jogar fora o que não serve. Acredito que cada pessoa que lida com arte tem um processo, eu acho que em todos eles uma coisa é comum: trabalho duro. E inspiração, pra ajudar a engolir o comprimido.

Alexandre Lucas -  A sexualidade é algo notório na sua produção visual e literária. Qual a relação entra arte e sexualidade?

Lupeu Lacerda - O corpo é um equipamento absolutamente artístico. Exploro a sexualidade em meu trabalho por saber que isso sempre causará estranhamento. As pessoas, por incrível que pareça, ainda tem pudores em ler um texto que vem recheado de palavras como: boceta, pica, cú. Mesmo alguns que se dizem “mezzo” modernos acham bonito ver um casal de lésbicas trepando, mas acham nojento um casal de gays. Lembro da Dercy Gonçalves falando que na época dela, toda “artista” era puta. Acredito sempre que arte é liberdade, que sexualidade é liberdade. E tanto uma como outra, são mecanismos lúdicos pra trazer alegria. E a alegria meu amigo, ainda é a prova dos nove. Tem também a influencia do que li, lógico: Miller, Anais Nin, Ginsberg, Sade, Gide, entre tantos outros gigantes que exploraram essa seara. Sexo é criação. Arte é recriação. No fim das contas tudo vai desaguar no mar da arte.

Alexandre Lucas O que é um poeta marginal na contemporaneidade?

Lupeu Lacerda - À margem como antigamente? Nada. Até porque hoje a internet bombardeia com um zilhão de blogs de poesia, contos, micro contos, romances, receitas de bolo, como ser um terrorista em 10 lições, enfim... não acredito que haverá a qualidade dos “anos de ouro” 1970. Existia ali uma “coisa” fazendo a poesia fervilhar. Uma ditadura dos milicos. Dezenas de bons escritores desesperados e desesperançados. Dificuldade de publicar. Acho que a dureza serviu de peneira. Difícil imaginar nessa “contemporaneidade” o surgimento de Ana Cristina Cesar, Chacal, Cacaso, Chico Alvim... existem caras bons? Lógico que sim! Mas são mais difíceis de encontrar, porque hoje, todo mundo anda de jeans. Rsrsrsrsrs.

Alexandre Lucas -  Como você caracteriza seu trabalho?

Lupeu Lacerda - Meu trabalho é o de um aprendiz. Será sempre assim, porque quero que seja assim. Quando escrevo eu entro todo ali. Sou onisciente ali dentro. Onipresente. Talvez seja esse viés que faz com que alguns dos meus amigos achem que existe algo ainda não dito, ou não feito, por mim. Gosto de escrever pra caralho! Me faz bem, me desentala. Então, mesmo sabendo que em literatura provavelmente “tudo” já tenha sido dito, enquanto tiver tesão de fazer isso, vou continuar escrevendo. Persistência? Pode ser. Caracterizaria meu trabalho sim. Catarse também. E dor. Porque escrever dói.

 Alexandre Lucas -  Qual a contribuição social do seus trabalho?

Lupeu Lacerda - Não acredito que a arte, seja ela qual for, tenha esse papel de “salvadora”. As pessoas mudam, “ou não”, de vida a partir de uma leitura de um livro. Como haverá alguns que mudem depois de ter perdido um avião, ou comido uma comida estragada, ou escutado uma música. Artistas são apêndices de uma sociedade que sempre os aturou a uma certa distancia, mas que nunca os engoliu bem de perto. Aqui em Juazeiro da Bahia e Petrolina nós soltamos livros pelas ruas em um projeto intitulado “Livros Andarilhos”, eu espero sinceramente que as pessoas que encontrem esses livros façam bom proveito deles, e que depois de lidos eles sejam de novo largados ad infinitum. As pessoas que lêem podem continuar tristes, amarguradas e infelizes, mas nunca estarão sozinhas em companhia da porra de um livro. Ensinar arte, compartilhar arte, levar a arte pra todos é a vontade maior. Eu nunca faço nada pensando em atingir público A, B, ou C. eu só quero ser lido. O resto vem por inércia. Quem lê, cobra, exige, grita, pede, vota nulo. A contribuição social que quero não só do meu trabalho, mas do de cada pessoa que escreve, é que os livros (todos, de qualquer gênero) deveriam fazer parte do cotidiano das pessoas assim como o sexo, as novelas, as drogas, a música, enfim...

Alexandre Lucas -    Quais os próximos trabalhos?  

Lupeu Lacerda - Estou em ritmo de finalização de meu primeiro livro de contos, que se chamará “o trigésimo segundo dia”. Tem sido uma experiência muito prazerosa, cheia de dúvidas e certezas, de comemorações e desesperos, de delírios de grandeza e certeza de inutilidade. Enfim, uma gestação. Como pai e mãe espero ansioso pelo nascimento, que deve se dar ainda este ano, caso a porra do mundo não acabe. Se o mundo acabar, bom, vou procurar um kardecista. Sai psicografado em algum outro planeta, que essa porra me deu muito trabalho.