por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 24 de maio de 2012

Acalanto


No último dia 17 de Maio,  a Academia Cearense de Medicina  resolveu homenagear um dos luminares da Medicina no Ceará : o Dr. Napoleão Tavares Neves. A justíssima homenagem  o fez adentrar nas hostes daquela instituição como Membro Honorário e deixou todo o Cariri de dentes à mostra. As  Academias têm uma enorme importância em elevar ao pedestal figuras de  grande merecimento e que tantas vezes passam quase que desapercebidas na Sociedade. Como organizações humanas , no entanto, têm política própria e tantas e tantas vezes deixam-se influenciar por pressões de grupos e terminam por cometer injustiças e desvios impensáveis. No caso do Dr. Napoleão, possivelmente, houve apenas um pequeno erro de timing: ele já merecia o Título há muitos e muitos anos. Talvez o fato de ter se estabelecido no interior do Estado tenha contribuído para o esquecimento. Todos os que clinicam longe do litoral fazem parte daquilo que se pode chamar Face Oculta da Medicina Brasileira.  Perdura um certo preconceito embutido : aquele mesmo que alimenta o primeiro mundo contra o terceiro, o Sul contra o Nordeste, a Capital contra o Interior. A simples lembrança da Academia para com o nosso Dr. Napoleão já quantifica a importância dele, capaz de dirimir fronteiras  até então intransponíveis.
                                               São 81  anos de vida e mais de 50 dedicados à Medicina. Nascido no Jardim, criado em Porteiras, radicado em Barbalha, Dr. Napoleão nunca se imiscuiu em briguinhas bairristas: como um Confederado sempre compreendeu a unicidade do Estado do Cariri. Percebe claramente que nossas  diferenças são mínimas e necessárias e que existem imensas similiaridades a nos unir. Sempre teve uma visão bastante sociológica  nas questões que envolvem o Juazeiro do Padre Cícero e também a saga do Cangaço.  Todas estas matérias podem parecer distantes da Medicina, mas não para o Dr. Napoleão que faz parte da última geração de esculápios  para quem a profissão médica estava umbilicalmente ligada ao Humanismo. A Sociologia , a História, a Filosofia,  a Geografia para ele são tão importantes para sua atividade como um livro de Anatomia de Testut. Hoje, diante de tanto aparato tecnológico, os novos profissionais esquecem a complexidade da vida que lhe é posta às mãos. Receitam, prescrevem como se estivessem consertando um Rádio ou uma TV. Não conseguem perceber  que além do enfarte, para lá da úlcera,  existe um espírito atormentado suplicando ajuda. Dr. Napoleão, ainda em plena atividade, seguiu sempre o grande preceito Jungiano:  “ Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.”
                                               Nosso médico segue uma genealogia profundamente humanística : Dr. Leão Sampaio, Dr. Pio Sampaio, Dr. Lírio Callou, Dr. Joaquim Fernandes Teles, Dr. Joaquim Pinheiro Filho.  Para todos eles, o atendimento era pronto , rápido, independentemente das condições econômicas do paciente.  E são muitas as histórias que envolvem sua vida profissional. Há alguns anos Dr. Napoleão assumiu uma equipe de PSF em Barbalha. Um sobrinho seu, médico, exercia a função de Secretário de Saúde na cidade e foi ele quem me relatou o acontecido. A relação do Dr. Napoleão com ele era de Tio para sobrinho :  uma cobrança pertinaz pelos direitos da população. Falta de medicamentos, exigüidade de exames complementares era uma coisa inconcebível. Um dia , me contou o sobrinho, ele lhe ligou exigindo que mandasse urgente uma Cesta Básica para uma família da sua área que estava sofrendo de uma doença terrível chamada fome.A Cesta era um remédio imprescindível para curar a grave doença. De outra feita, passando pelos corredores da emergência do Hospital São Vicente, ouviu um jovem médico receitando um pobre matuto. A queixa principal era que tinha sido mordido pro uma lagartixa. O jovem esculápio, sorrindo, liberou o paciente: podia ir para casa, não tinha problema nenhum: lagartixa não é venenosa. Dr. Napoleão voltou, chamou o colega e alertou-o. Podia proceder  a aplicação do Soro Anti-Ofídico. Para Lagartixa, Dr. Napoleão ? -- Perguntou o colega confuso. Dr. Napoleão, então, explicou o que a Ressonância Magnética e a Tomografia Computadorizada não diagnosticam : -- Meu filho, o matuto tem a crença de que se disser que foi mordido por cobra, não escapa da mordedura, por isso nunca revela que  foi por jararaca ou cascavel, diz geralmente o nome de outro bicho. O rapazinho voltou e , através de gestos, descobriu a verdade revelada e o Soro salvador foi administrado.
                                               A Academia Cearense de Medicina , no mesmo dia, homenageou muitos Napoleões : o médico, o historiador, o escritor,  o humanista, o orador inspirado,  o pai de família exemplar, o defensor intransigente do Cariri, o humorista fino, a ética de jaleco branco e, mais que tudo : o Homem . É quase impossível conciliar tantas qualidades numa só pessoa. Em meio a tantas, no entanto, acredito que se sobressaia a pessoa do Dr. Napoleão, um exemplo de humildade e generosidade.  Ele  tem uma raríssima doença oftalmológica:  só consegue ver o lado bom das pessoas. Todos a sua volta só têm qualidades: são inteligentes, bons, sóbrios, estudiosos, direitos e alegres. Nunca o vi tecer críticas a quem quer que fosse.Nas conversas com os amigos é aberto, bem humorado e não tem falsos moralismos. Memória privilegiada, carrega consigo uma enciclopédia invejável  de histórias  do nosso doce quotidiano regional. 
                                               Dr. Napoleão já me confidenciou que fica meio cabreiro com as homenagens, segundo ele, elas são sempre um pouco póstumas. Acredito que todos os nossos atos nesta terra sempre o são. A cada noite, nunca sabemos se a música que nos embala é um acalanto ou uma incelença.  Mas diante de uma figura com tanta vitalidade como ele, certamente é a vida que pulsa em cada título que lhe é conferido. Chesterton dizia que há grandes homens que fazem os outros se sentirem pequenos, mas o grande homem mesmo é aquele que faz com que todos se sintam grandes diante dele. Pois bem, meu caro Dr. Napoleão, todo o Cariri se sente enorme, gigantesco  diante da homenagem merecida que a Academia Cearense de Medicina acaba de lhe outorgar. 

J. Flávio Vieira

Poder + Magnanimidade = "Fundação" - José Nilton Mariano Saraiva

Tornou-se recorrente a exposição sistemática, na mídia, de relatos sobre a história de vida de empresários famosos, jogadores de futebol, artistas de cinema, cantores, apresentadores de TV e por aí vai, que, originários de famílias paupérrimas (preferencialmente ex-moradores de favelas), conseguiram construir fortunas jamais imaginadas ou amealharam um capital que nem em sonhos se fez presente.
E por presumivelmente terem vindo “de baixo”, por teoricamente deterem conhecimento do “outro lado” da vida, hoje, “coração repleto de amor ao próximo”, fazem questão de “ajudar os necessitados”, (re)distribuindo o patrimônio com eles, e coisa e tal. Aqui, uma particularidade-questionamento: oriundos de mundos diametralmente opostos e atuantes em atividades que normalmente não guardam quaisquer similaridades, que estranha força é essa que empurraria tais figuras a descobrirem algo em comum, um elo inquebrantável a os unir, uma força a lhes guiarem numa mesma estrada, a magnanimidade ???
E aí é que surge o outro lado da moeda, a “face oculta” da história de todos eles: é que, pra viabilizar tão “desinteressada e generosa” ajuda aos carentes, estranhamente o caminho escolhido é um só (e de mão única): a criação de uma “FUNDAÇÃO” (logo providencialmente batizada com o nome do pai, da mãe ou de algum parente próximo, porque... “sempre se dedicou aos pobres”); algo tocante, comovedor, capaz de derreter corações, levar às lágrimas, enfim, balançar com a estrutura de qualquer mortal-comum. E tome propaganda, exposição na mídia, xaropadas, homenagens póstumas, blá-blá-blá e coisa e tal, a fim de difundir a atitude tomada e fixar a imagem da benquerença da família.
Só que, nas entrelinhas dessa história toda um precioso detalhe sempre é cuidadosa e estranhamente omitido, convenientemente resguardado e nunca, jamais, lembrado: o que realmente se esconde por trás da criação de uma “FUNDAÇÃO” ???  Por que, unanimemente, existe uma espécie de “preferência nacional” por tal caminho, por parte dos ricaços da vida ???
Pois saiba você, aí do outro lado da telinha, que uma “FUNDAÇÃO PRIVADA” (não aquelas que visam resguardar para a posteridade a história de personalidades ilustres) é uma pessoa jurídica NORMALMENTE USADA PARA MANTER A POSSE DE PROPRIEDADES, CONTAS BANCÁRIAS E OUTROS BENS, “SEM QUE A IDENTIDADE DO (PSEUDO) “BENFEITOR” SEJA REVELADA” (em português bem cristalino e objetivo: trata-se de um “enoooorme” saco sem fundo, onde você poderá armazenar não só o patrimônio pessoal, assim como possíveis doações de terceiros, sem que tenha de prestar contas a seu ninguém, e tudo dentro da lei).
Além do que, muito mais que manter a confidencialidade da identidade do “DISTINTO”, uma FUNDAÇÃO PRIVADA tem ainda  (olha só que beleza)  as seguintes vantagens: 01) PROTEÇÃO DE BENS:  bens colocados (ou doados) em uma fundação privada geralmente ficam “FORA DO ALCANCE” DE EVENTUAIS CREDORES que possam surgir, como resultado de dificuldades financeiras, divórcio, litígio, etc;  (legal, não ???); 02) RETENÇÃO DE CONTROLE: a fundação privada permite que você “retenha o controle” (é mole ou quer mais ???) e possa decidir para quem o controle sobre seus bens será entregue quando você não possa mais exercê-lo; 03) ECONOMIA VITALÍCIA DE IMPOSTOS (aqui, o autentico e verdadeiro “pulo do gato”, o objeto de desejo de todos eles): durante toda a sua vida o “benemérito” realizará economias substanciais (estará isento do pagamento) de “IMPOSTOS SOBRE RENDA E GANHOS DE CAPITAL” (que coisa maravilhosa, não ???), como resultado da utilização de uma fundação privada; 04) ECONOMIA EM IMPOSTOS SOBRE HERANÇA: em caso de morte, o imposto sobre herança, que normalmente incidiria sobre o valor de seus bens, “seria erradicado”;  05) CONTINUIDADE: a fundação privada oferece meios pelos quais seus bens podem continuar sendo administrados de acordo com o desejo do fundador, mesmo após seu falecimento, de modo que os membros mais fracos de sua família possam ser protegidos dos demais, do mesmo modo que o membro perdulário de sua família possa ser protegido de si mesmo (já pensou, até depois de você “bater-as-botas” os benefícios permanecem); e 06) EVASÃO DE LEGITIMAÇÃO: uma fundação privada oferece meios pelos quais os seus bens possam ser passados sem percalços para sua “PRÓXIMA GERAÇÃO” sem interrupções, atrasos, custos substanciais, perda de confidencialidade, associada com o procedimento de legitimação necessariamente subseqüente, caso você não utilize uma fundação privada.
Sacaram ??? Entenderam agora o “porque” de tanta caridade ??? A razão de tanto ”desprendimento” ??? A incrível, recorrente e desmesurada avidez à busca de se criar uma “FUNDAÇÃO” ??? Observaram que, no fundo no fundo, quem tem muito não está realmente nem um pouco preocupado com o pobre ou o carente, mas tão somente USANDO-OS como uma espécie de “MOEDA-DE-TROCA” ??? É decepcionante e constrangedor, pois, constatar que a “magnanimidade” incursa no ato de criação de uma FUNDAÇÃO tem “pés de barro”, já que mero papo furado, conversa pra boi dormir.
Portanto, trate de “se ligar”, mantenha as antenas bem direcionadas: da próxima vez que ouvir relatos piegas e lacrimejantes sobre o “enorme coração” de fulano ou beltrano (Xuxa, Raí, Cafu e outros), pense no que está por trás da equação “PODER+MAGNANIMIDADE=FUNDAÇÃO”: muita hipocrisia e segundas-intenções. E tudo isso cuidadosamente acondicionado em embalagens reluzentes e enganadoras. Na literatura da “ciência econômica”, definiríamos tal artifício de “fetichismo”.
Ou será que agora você vai preferir criar sua própria “FUNDAÇÃO”  ???


AS TRÊS PALAVRAS MAIS ESTRANHAS                       Wislaya Szymborska 

Quando pronuncio a palavra Futuro
a primeira sílaba já pertence ao passado.

Quando pronuncio a palavra Silêncio,
destruo-o.

Quando pronuncio a palavra Nada,
crio algo que não cabe em nenhum não-ser.
Tradução de Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves

A POESIA DE WISLAWA SZYMBORSKA

Wisława Szymborska (Kórnik, 2 de Julho de 1923Cracóvia, 1 de fevereiro de 2012) foi uma escritora polonesa.

Destacou-se como poetisa com uma obra que tem como tema as vicissitudes da Polônia moderna. Emprega uma linguagem simples e coloquial, herança do realismo social que dominou a Europa oriental, mas sua modernidade se revela no tom irônico e na complexidade formal de muitas de suas poesias.

Recebeu o Nobel de Literatura de 1996.   (Fonte: Wikipédia)


FOTOGRAFIA DO 11 DE SETEMBRO  
   
Pularam dos andares em chamas-
um, dois, alguns outros,
acima, abaixo.
A fotografia os manteve em vida,
e agora os preserva
acima da terra rumo à terra.
Ainda estão completos,
cada um com seu próprio rosto
... e sangue bem guardado.
Há tempo suficiente
para cabelos voarem,
para chaves e moedas
caírem dos bolsos.
Permanecem nos domínios do ar,
na esfera de lugares
que acabam de se abrir.
Só posso fazer duas coisas por eles-
descrever este voo
e não acrescentar o último verso.



Os filhos da época


Somos os filhos da época,
e a época é política.
Todas as coisas - minhas, tuas, nossas,
coisas de cada dia, de cada noite
são coisas políticas.
Queiras ou não queiras,
teus genes têm um passado político,
tua pele, um matiz político,
teus olhos, um brilho político.
O que dizes tem ressonância,
o que calas tem peso
de uma forma ou outra - político.
Mesmo caminhando contra o vento
dos passos políticos
sobre solo político.
Poemas apolíticos também são políticos,
e lá em cima a lua já nao dá luar.
Ser ou não ser: eis a questão.
Oh, querida que questão mal parida.
A questão política.
Não precisas nem ser gente
para teres importância política.
Basta ser petróleo, ração,
qualquer derivado, ou até
uma mesa de conferência cuja forma
vem sendo discutida meses a fio.
Enquanto isso, os homens se matam,
os animais são massacrados,
as casas queimadas,
os campos se tornam agrestes
como nas épocas passadas
e menos políticas.

CRIANÇA TEM CADA UMA...


Miguel, meu neto de 2 anos e 6 meses, “brincava”  com o cachorrinho da foto, ganho naquele dia, na frente da TV,  atrapalhando a visão do jogo Chelsea X Bayer no  último sábado.  O pai mandou que ele levasse o animal para o quintal e o deixasse em paz.  Logo depois, o cãozinho volta a latir na sala ao lado. O genro perguntou “Miguel , levou o animal para a casinha?”.  Ele respondeu “sim”.
Minutos depois novos latidos desesperados e o  pai perguntou: “Miguel, por que o cachorro está latindo? “
Resposta de Miguel:  “ Porque eu menti...”

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Ana Rosa Dias Borges – A perseguidora de memórias



Vasculhar,compreender e socializar as histórias de narrativas orais populares do Cariri cearense é um dos prazeres da historiadora e pesquisadora cultural Ana Rosa Dias Borges. A Professora reconhece que  “ao preservarmos nosso patrimônio cultural imaterial estamos contribuindo para o aprendizado da cidadania, tão necessário em nossos dias”. Autora do livro “Narrativas Orais no Barro Vermelho” que é um exemplo da importância do resgate da história a partir das relações de pertencimento e identidade 


Alexandre Lucas - Quem é Ana Rosa Dias Borges?   

Ana Rosa Dias Borges - Cratense, contadora de historias para crianças, avó, historiadora, professora, pesquisadora cultural, amante da arte literária, uma misturança só.

Alexandre Lucas – Você já vem desenvolvendo há muitos anos um trabalho de incentivo a leitura. Fale sobre esse trabalho.

Ana Rosa Dias Borges  - Quando trabalhava com editoras comecei a contar histórias para crianças na Rede de Ensino do Recife. Encantei-me com o que vi e senti ao contar histórias. A necessidade de aprofundamento no tema levou-me a cursar uma especialização em Literatura Infanto- Juvenil, que versou sobre os contos orais, das comunidades narrativas orais da Chapada do Araripe. E assim, de posse desse conhecimento teórico , que empiricamente já me seduzia, intensifiquei as ações de incentivo a leitura, publicando artigos em revistas especializadas em Literatura Infanto- Juvenil e Educação, contando as histórias compiladas da Serra do Araripe em bibliotecas e escolas em geral, oferecendo oficinas de formação para educadores em parceria com secretarias municipais de educação e na rede privada de ensino, prestando assessorias pedagógicas, ministrando palestras, sempre disseminando o encantamento que os contos fantásticos provocam naqueles que estão em processos construtivos literários.

Alexandre Lucas – Você é uma pessoa que busca a partir das suas pesquisas sobre narrativas orais criar relações de identidade e pertencimento com o povo.  Qual o significado disso?

Ana Rosa Dias Borges - O sentimento de pertença e identitário inerente ao ser humano são compartilhados por um mesmo grupo social, ou seja, o mesmo imaginário social. De forma que as idéias, os costumes, as tradições e os mitos fundam uma realidade social e deveriam estar presentes nos processos construtivos educacionais escolares, pois ao preservarmos nosso patrimônio cultural imaterial estamos contribuindo para o aprendizado da cidadania, tão necessário em nossos dias. E as narrativas populares orais, tem esse poder. Elas carregam consigo toda essa gama de simbolismo, valorizam no ser sua identidade cultural o que desencadeia os questionamentos necessários relacionados àquilo que somos e o porque do que somos.

Alexandre Lucas – Você lançou o livro “Narrativas Orais no Barro Vermelho”. Como foi esse trabalho? 

Ana Rosa Dias Borges - A artesania do livro Narrativas Orais no Barro Vermelho teve início quando o projeto que enviei ao MINC foi aprovado. Um programa denominado, Micro Projetos Mais Cultura, que contempla iniciativas culturais de cunho popular e abrangência comunitária.

Assim como eu já tinha desenvolvido a pesquisa dos contos populares na Chapada do Araripe e encontrava-me completamente envolvida com o tema narrativas orais populares, decidi dar continuidade ao trabalho, agora na cidade do Crato. A escolha do Alto da Penha, antes Barro Vermelho, se deu em função de ser essa uma comunidade emblemática, estigmatizada, uma das primeiras áreas periféricas da cidade, com um imaginário coletivo repleto de mitos, lendas, assombrações e também a formação de um tecido social interligada a formação histórica do Crato. Ademais, na minha infância, morei muito próximo e desenvolvi laços afetivos e identitários com o bairro.  

Alexandre Lucas – Você desenvolveu um trabalho de resgate da história dos  Dramas na cidade do Crato. Conte essa história.  

Ana Rosa Dias Borges - Quando criança, no Sitio Guaribas, localizado no Sopé da Capada do Araripe, tive a alegria e o imenso prazer de viver toda a magia dos Dramas. As moças do lugar, antes das festas natalinas, apresentavam os Dramas, que eram duetos cantados, em um palco improvisado, ora em cima de um caminhão, ora em cima de uma grande mesa, ora em uma calçada alta

Alexandre Lucas – Você acredita que a história da nossa ancestralidade vem sendo perdida?

Ana Rosa Dias Borges - Embora ocorram movimentos educativos e culturais com vistas a deter esse processo, percebe-se que são iniciativas tímidas e de abrangência diminuta. Muito da nossa ancestralidade histórica se perdeu. Entretanto, os aprofundamentos e as discussões acadêmicas, as ações dos organismos não governamentais nesse sentido e a implantação dessa temática no Sistema de Ensino Regular, vislumbram a contra mão dessa constatação.

Alexandre Lucas – Quais os seus próximos trabalhos?  

Ana Rosa Dias Borges - De certo estarei sempre envolvida em pesquisas que versam sobre as temáticas populares em memória. No momento estou amadurecendo a idéia de outra publicação. Faltam apenas os recursos. Mas estamos na busca e a concretização dessa ideia muito me fascina.





Surto de "pudor" - José Nilton Mariano Saraiva

A moda agora (e haja saco pra agüentar) é abrir espaço nos diversos segmentos da mídia (jornais, revistas, rádio, televisão e internet), para veicular o repentino surto de “pudor-constrangimento-ultrasensibilidade” que se apossou das “rodadas e decadentes” globais Carolina Dieckmann e Maria das Graças Meneghel (também conhecida por Xuxa).
Fato é que a “cambota”, ex-morena e agora loura, Dieckmann (hoje só pele e ossos, a fim de se enquadrar no vigente e discutível “padrão de beleza” midiático), quando ainda era rechonchuda e tinha algo a (ou precisava) mostrar, teria se deixado fotografar em situações mais ousadas e hoje tais fotos estariam sendo usadas pra presumíveis chantagens, porquanto, se divulgadas, constrangeriam o filho adolescente (porque não pensou nisso antes ??). E haja xaropada diária sobre.
Já a Maria das Graças (Xuxa) Meneghel, mais arisca e esperta, pegou um “atalho” que se mostrou de uma eficiência a toda prova: ainda saindo da adolescência, “se mandou” de casa, lá no Rio Grande do Sul, sem lenço e sem documento, e foi conhecer “as Europa” e o resto do mundo, na companhia do jogador Pelé (e é difícil acreditar que o “negão” fazia isso só pelo rostinho bonito da acompanhante). Entre uma viagem e outra, uma pausa para, na esteira do prestígio do “rei do futebol”, aparecer nua em diversas páginas da revista Playboy, então a coqueluche do momento; fez, ainda, um filme erótico-sensual, onde também se valeu da nudez ao contracenar com um “menor” de idade (mais tarde, conseguiu que o filme fosse proibido de ser exibido). Mais à frente, e sempre por indicação do companheiro famoso, finalmente atingiu o apogeu: foi admitida no seletíssimo “cast” global, onde foi brindada com um programa na TV, só seu; e, por incrível que pareça, viu-se transformada, da noite pro dia, numa tal “rainha dos baixinhos” (ô baixinhos azarados). Então, resolveu “juntar as escovas” e partir pra uma tal de “produção-independente” (palavras suas) com um antigo namorado (Luciano Zafir), de quem engravidou e, passo seguinte, conseguiu uma inacreditável e incrível proeza: que a Rede Globo transmitisse o parto “ao vivo e a cores”, para todo o Brasil. Depois disso, achou por bem despachar o “reprodutor” (que se aproveitou para também tornar-se famoso, já que “pai da filha da Xuxa”). É dose, ou não ???
Como não cuidou de se reciclar, eis que, hoje, ao transpor o “cabo da boa esperança” (49 anos, muita farra e também só pele sobre ossos), com o espaço na televisão ameaçado em razão da pouca audiência e do surgimento de uma concorrente peso-pesado para o horário (Fátima Bernardes), bolou (certamente que orientada por alguém de dentro da própria emissora) mais uma jogada de marketing: numa entrevista (gravada, editada e antecipadamente anunciada à exaustão) ao programa dominical Fantástico, “lembrou-se”, repentinamente, sem mais nem menos, que fora “abusada sexualmente” na meninice/adolescência (aí pelos 13/14 anos, segundo suas próprias palavras) daí sua suposta identificação com as pobres crianças carentes (pois é, o “negão” não teria sido o primeiro).
O que a “coitadinha” da Xuxa Meneghel esqueceu (nem o fará, mesmo que pendurada num “pau-de-arara” e torturada por um desses talibãs da vida), foi de declinar o nome do seu suposto agressor sexual. E aí nos vem à lembrança (e os que vivenciaram aqueles tempos sabem disso) um “pequeno detalhe” que, agora, sim, reveste-se de suma importância: durante boa parte da vida, Xuxa Meneghel foi “intrigada” a ferro e fogo do pai (não se falaram durante anos e anos e só recentemente reataram a amizade). Comentou-se, em oportunidades várias, que tal desavença teria se dado em razão do “racismo” do velho, que não admitia de maneira alguma que a filha houvesse se envolvido com um “negro”.
Mas... e agora, que surgiu essa história do abuso-sexual (um crime hediondo), sem identificação do pedófilo-meliante-estuprador ???
Será que...
Será ???

por Socorro Moreira


Nós , madrugada e música

Uma voz que arrepia
um toque de violão
delicadeza no som
poesia no coração

Ébria de sua intenção
Nossa história vive enfim,
mais um capítulo de prosa ,
nos confins da emoção

Eu queria ser tocada
Como toca o violão
Eu queria ser beijada
Como canta uma canção

E a lua , copulada
em mim, também se espalha ...
Eu sinto que as tuas águas
inudam a minha alma

A brisa que tudo afaga ,
carrega no seu carinho,
O desejo consumido,
quando o dia vem mansinho

Ruídos do amor se calam
Agora somente escuto ...
O canto dos passarinhos !

) Baile- Socorro Moreira






A primeira música do baile
inquietava os nossos passos
Uma vozinha interior nos dizia:
Não posso olhar ,nem estimular ...
Menina direita não se mexe na cadeira
A indocilidade nos levava à toilete
Pra retocar o batom , disciplinar o coração
E o moço tímido , o par nunca desejado
é quem pagava o pato:
Estou cansada , não sei dançar ...
Na pior das hipóteses
um bolero lhe concedíamos
De nuca tencionada ...
Face a a face , nem pensar !

O outro - o desejado
distante era acompanhado.. .
sempre embevecido ,
no brilho de outro olhar.
A última canção
era o sufixo da esperança
Outro dia , outra dança ...


Em casa , leite de rosas na cara
E o sono da própria ilusão.
Canções em tons baixinhos
serenatas pras vizinhas
alguém se punha a cantar


Nunca mais vivi tamanha magia
O farfalhar das sedas
a sensualidade , no meu vestido vermelho
Minha morenice , meu jeito intimidado
de negar o que eu sentia


Por todos os sonhos ...
Cadê aquele baile , aquela valsa ,
aquele sonho ?

Naquele tempo - por Socorro Moreira




Todas as manhãs
vestíamos a mesma roupa
ouvíamos as mesmas aulas
Assuntos repassados ,
alguns até ficaram ...
Olhar puro ,
mesmo aquele
de cabeça baixa
vírgulas ponteando a amizade
Vivi todas as reticências
Acordei sonolenta
madrugando um problema
que era apenas matemático
Quebrei tantos óculos
usei candieiros
Insistia no ponto
que a vida exigia
A intenção era única
O sentimento comum
Estudar, terminar....
Casar de branco
Como lírios do campo
e lua de mel
copiada do céu
Rostos registrados
Sons e letras
na pureza de um sonho ,
Hoje conquistado !

terça-feira, 22 de maio de 2012



Nos tempos do verbo


Por Socorro Moreira



Sensível
a qualquer tipo de carinho
sorriso , mimo ...
Rostos distantes
parecem contas
de colares partidos
olhares , bocas ...
pérolas escapadas de mim
Sem adereços
esqueço endereços
acendo velas
ilumino lembranças
fragmentos visíveis
O vento traz
o vento leva
a onda traga
espuma de amor
...saturada !
Entreguei os pontos
sem checar os trunfos
meus ases, meus ais ...
num jogo comum
E se todos chegassem ,
num apelo coletivo ?
- Eu ficaria contigo !
Se o tempo voltasse
eu dançaria a valsa dos meus 15 anos
Pediria uma bicicleta no Natal
Nadaria nos rios poluídos
Do Crato até Ingazeiras ...
E naquele trem , naquele dia
Teria te visto primeiro
E naquela festa , naquela dança
Me apertaria em teu peito
E naquela noite , naquela praça
te entregaria os meus olhos.
Donzelas de saltos finos e meias desfiadas
se avermelhavam
quando a brisa do amor passava
Guardavam cadeiras no cinema
pro moço que não chegava
Choravam em convulsão
por Francisco e Santa Clara.
Tremores nas mãos , em dias de prova
Disparos no coração , quando recebiam nota
A chatice
de provar o vestido novo
que ficara torto
A vergonha de vestir
o traje antigo
com mancha de caju
na altura do colo
A barra da saia desmanchada
O sapato de sola desgastada
as meias de algodão afolozadas
E o coração na boca
todo atrapalhado
As cartas de amor nunca postadas
promessas tímidas
desejos contidos
orelhas pegando fogo
retrato em 3 x 4
na bolsa ou no livro
um trevo de 4 folhas
pra garantir o destino
Queríamos correr no tempo
e o tempo nos pegou
Deixou-nos
aonde estou !
Senhora - vó
Querendo comer maça
Pecar contra o que não fez
Ser feliz sendo o que quis !

Fim de Noite- poor Socorro Moreira





Fim de noite
é o dia amanhecendo
Olhos sonolentos
querendo mais vida ao relento
Quando o músico guarda o instrumento ,
quero a saideira em doses , em notas ,
e no guardanapo molhado ,
mais um tonto poema .


Fim de noite
é droga que se evapora
voz rouca , coração cansado
transformado em saudade


"Olha , fecha os olhos meu amor ...
é noite ainda ..."


Céu escuro que vai clareando
Murmúrios no silêncio
de uma noite que cala .

Havia tantas estrelas ,
e tão pouco céu ...
Agora existe um sol cor-de-rosa
e o infinito imenso pedindo uma rede ,
e a benção da aurora !

Por José do Vale Pinheiro Feitosa


Em 9 de maio de 1895 nascia Ascenso Carneiro Gonçalves Ferreira - muito dele e um taquinho meu.
Dos engenhos da minha terra
só os nomes fazem sonhar:

- Esperança!
- Estrela-d´Alva!
- Flor do Bosque!
- Bom Mirar!

Ascenso Ferreira era poeta da declamação. Como nossos cantadores, os versejadores dos poemas de cordel. Assim como Patativa do Assaré. Como temos falta da declamação, quem sabe um violão ou um piano. Numa noite de espíritos, como uma vez, para minha total e acho que merecido atendimento das necessidades. Em Luanda, Angola, a embaixatriz nos levou para um recital num antigo casarão português, no segundo andar com piso de madeira e bar por cenário. Janelões naquele clima bem nordestino, aberto para o mesmo oceano Atlântico.

Mestre Carlos, rei dos mestres,
Aprendeu sem se ensinar...
- Ele reina no fogo!
- Ele reina na água!
- Ele reina no ar!

Quando o verso se presta para a voz, lembre de Ascenso Ferreira, não feito uma técnica de Jogral, mas como um canto de tudo que completava aquele poeta.

Sertão! – Jatobá!
Sertão – Cabrobó!
- Cabrobó!
- Ouricuri!
- Exu!
- Exu!

Poesia não é um modo escrever, é a vida como ela se escreve. O poeta nordestino que sabia dizer:

Ai! Que saudade dos bêbados de fim de feira
dos interessantes bêbados de fim de feira
que o imposto de consumo afugentou!
......
- Patrão; eu sô é home!
não arrespeito outoridade....

- Bote uma bicada mode esquentá o frio!
- Bote uma bicada mode esquentá o calo!

O poeta da irreverência a quebrar os cristais dos salões:

Eu vi o Gênio da Raça!!!

(Aposto como vocês estão pensando que eu vou falar de Rui Barbosa)

Qual!
O Gênio da Raça que eu vi
foi aquela mulatinha chocolate,
fazendo o passo do siricongado
na terça-feira de carnaval!

E qual coisa é mais preciso para nós nesta terra?

“Branquinha”,
“Branquinha”,
É suco de cana
Pouquinho – é rainha,
Muitão – é tirana.

Vejam este poema o qual Ascenso nomeou Nordeste:

O ferreiro malhando no topo das baraúnas.
Nas lombadas da serra o sol é de lascar...
Nem uma folha só fazendo movimento!...

- Nana! Ô Nana!
- Inhor!
- Chega me abana...

Pouco a pouco porém, vem vindo um frio lento
trazido pelas mãos de moça do luar...

Que gozo nos coqueiros acarinhados pelo vento!...

- Nana! Ô Nana!
- Inhor!
- Chega me esquentar....

E conheces o TREM DE ALAGOAS: Vou danado pra Catende,/ vou danado pra Catende,/ vou danado pra Catende,/ com vontade de chegar....Cana-caiana,/ can-roxa,/ cana-fita,/ cada qual a mais bonita,/ todas boas de chupar...E esta que tanta gente repete até como de outros autores, intitulada GAUCHO: Riscando os cavalos!/ Tinindo as esporas!/ Través das cochilas!/ Saí de meus pagos em louca arrancada!/ - Para quê?/ - Pra nada!/ E este ÊXTASE? Emana do teu ser tão grande calma, / um langor tão suave, expressivo, profundo,/ que tenho a sensação virgem de que minh´alma,/ desgarrada de mim, anda solta no mundo./ Vejam como o poeta é crônica, como esta A COPA DO MUNDO: No meio daquela confusão toda/ De rádios berrando,/ Fogos pipocando,/ Bêbados Cantando!/ Maria embocou pela porta de Chico Tenório adentro,/ Do qual se encontrava lha muito tempo of-side,/ E exclamou alucinada: - Chiquinho, meu bem,/ O Brasil ganhou a Copa do Mundo,/ Vamos também fazer nosso goal, meu amor!

A importância da biodiversidade - Por José de Arimatéa dos Santos


José de Arimatéa dos Santos

Biodiversidade significa o conjunto de seres vivos que habitam determinado ecossistema. Dependendo do lugar pode-se ter grande ou menor diversidade de espécies. Em lavouras que utilizam herbicidas e pesticidas o número de seres vivos diminui drasticamente. Já em florestas, convivem um sem número de animais e plantas.
Há modificação no número de indivíduos de um ecossistema de forma natural como no caso de uma erupção vulcânica. Fato que diminui naturalmente o número de seres vivos, mas a quantidade de indivíduos com o tempo se recompõe. A outra forma de diminuição é provocada pelo homem numa derrubada de uma floresta para transformá-la em lavoura. Nesse aspecto ocorre uma brutal diminuição de animais e plantas e o pior de todo esse processo é o desequilíbrio no meio ambiente.
Não sou contra o desevolvimento agrícola e muito menos sou um conservacionista. Acredito que a humanidade deve explorar os recursos naturais, contudo de forma responsável em que todos os aspectos biológicos, químicos e físicos possam ser estudados à exaustão.
O respeito as leis da natureza deve ser o pressuposto principal para que o índio, ribeirinho ou o homem e a mulher do campo e da cidade possam ter comida, água e um clima de melhor qualidade.

O MENINO NA PONTE




O MENINO NA PONTE


O menino atravessava a ponte correndo, correndo.
No meio da ponte o menino gritou: O meu pai morreu
e continuou a correr desabalado para o outro lado da ponte
tão longe
era como se não chegasse nunca.
A ponte era um horizonte sem fim para o menino sem
horizonte.