Plataforma escura , silenciosa angústia
Meu coração já se apinhou de gente chegando, e partindo
Já chorou, se descabelou ...
Já dormiu em pé , já sonhou dormindo
"Café com pão
bolacha não
café com pão ... "
- Olha a tapioca , olha a mariola ...
(Tudo tão depressa , tudo já sumindo ... )
-Corre menina, senão você perde o trem !
-Desce menino , o trem não tem paciência com ninguém !
Naquele sacolejar ...
Vi a roça , vi a rosa , puxei prosa
Vi a lua crescer , e a madrugada passar .
Queimei o braço no sol
Queimei o olhar , noutro olhar !
Viagens curtas e amorosas.
Outras desencarrilhadas ,
impacientes , nauseantes ...
E o apito , ainda soa em meu ouvido ?!
Encontros marcados
Trem atrasado ,
que um dia deixou de chegar
Pessoas também ,
quebram-se nos trilhos da vida
Fragmentam-se,
viram pó de estrelas ...
Perdem o trem !
Maçã sem papel
Comi a maça , perdi o paraíso,
e teimo em não gozar o prêmio de liberdade ....
Por falta de presente, e medo do futuro ,
deixo as sandálias , no batente do passado .
Ando devagar, a pressa é desnecessária ...
A memória tem visão ora turva , ora clarificada ...
Nem que chova , nem que turve ,
as imagens são vivas , e ensolaradas!
Embora seja histórico , parece conto de fadas ...
Mudei a cara da vida ,
mudaram a cara do Crato ...
As pessoas se esconderam no destino ...
debaixo de terra , dentro de casa , dormindo
em serenatas , desapaixonadas !
Uns poucos, sobrevivem ...
Relatam passagens , ilustram com figuras que merecem estátuas .
Se eu fosse escultora , faria o busto de " Pedro Cabeção " ... seu riso de troça ,
seu ofício , lustrando um cromo alemão.
Se eu fosse pintora , reproduziria em cartolina :
"O Gordo e o Magro ", "A Vingança do Zorro " , " As Aventuras de Tarzan" ...
Compraria papel de seda , de todas as cores , na bodega de Seu Abidoral ; passa-raivas , lá em Seu Sá , uns briquedos de menina , na lojinha do Zé Vilar ...
Compraria guloseimas em Bantim , Joaquim Patrício , João Gualberto ,Cícero Beija-Flor ... , e umas fitas de seda , em Moacir , pra enfeitar os cabelos ... Uns metros de fustão , nas casas Abraão , um par de sapatos em Anísio , um bibelô na Babilônia , uma meada de lã na Cearense .... e o CONTO DE REIS , acabou !
Saudades do carro de Pedro Maia , De Moreirinha( o mágico do nanquim) , dos Educandários que fecharam , e dos sermões de Pe. Frederico .
Falei em poucos , quando são tantos !
E ainda pergunto : Que fim levou Gilberto Milfont ?
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