por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Estação do silêncio

Plataforma escura , silenciosa angústia

Meu coração já se apinhou de gente chegando, e partindo

Já chorou, se descabelou ...

Já dormiu em pé , já sonhou dormindo


"Café com pão

bolacha não

café com pão ... "


- Olha a tapioca , olha a mariola ...

(Tudo tão depressa , tudo já sumindo ... )


-Corre menina, senão você perde o trem !

-Desce menino , o trem não tem paciência com ninguém !


Naquele sacolejar ...

Vi a roça , vi a rosa , puxei prosa

Vi a lua crescer , e a madrugada passar .


Queimei o braço no sol

Queimei o olhar , noutro olhar !



Viagens curtas e amorosas.

Outras desencarrilhadas ,

impacientes , nauseantes ...


E o apito , ainda soa em meu ouvido ?!

Encontros marcados

Trem atrasado ,

que um dia deixou de chegar


Pessoas também ,

quebram-se nos trilhos da vida

Fragmentam-se,

viram pó de estrelas ...

Perdem o trem !



Maçã sem papel

Comi a maça , perdi o paraíso,


e teimo em não gozar o prêmio de liberdade ....


Por falta de presente, e medo do futuro ,


deixo as sandálias , no batente do passado .


Ando devagar, a pressa é desnecessária ...


A memória tem visão ora turva , ora clarificada ...


Nem que chova , nem que turve ,


as imagens são vivas , e ensolaradas!


Embora seja histórico , parece conto de fadas ...


Mudei a cara da vida ,


mudaram a cara do Crato ...


As pessoas se esconderam no destino ...


debaixo de terra , dentro de casa , dormindo


em serenatas , desapaixonadas !


Uns poucos, sobrevivem ...


Relatam passagens , ilustram com figuras que merecem estátuas .


Se eu fosse escultora , faria o busto de " Pedro Cabeção " ... seu riso de troça ,


seu ofício , lustrando um cromo alemão.


Se eu fosse pintora , reproduziria em cartolina :


"O Gordo e o Magro ", "A Vingança do Zorro " , " As Aventuras de Tarzan" ...


Compraria papel de seda , de todas as cores , na bodega de Seu Abidoral ; passa-raivas , lá em Seu Sá , uns briquedos de menina , na lojinha do Zé Vilar ...


Compraria guloseimas em Bantim , Joaquim Patrício , João Gualberto ,Cícero Beija-Flor ... , e umas fitas de seda , em Moacir , pra enfeitar os cabelos ... Uns metros de fustão , nas casas Abraão , um par de sapatos em Anísio , um bibelô na Babilônia , uma meada de lã na Cearense .... e o CONTO DE REIS , acabou !


Saudades do carro de Pedro Maia , De Moreirinha( o mágico do nanquim) , dos Educandários que fecharam , e dos sermões de Pe. Frederico .


Falei em poucos , quando são tantos !


E ainda pergunto : Que fim levou Gilberto Milfont ?

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