Conheci Normando ,em campanha política estudantil. Naquele tempo, eles visitavam as salas de todos os Colégios, para exposição de idéias, e apresentação dos candidatos , que formariam a chapa.Sua figura se destacava, pelo jeito "cavernoso" , irônico e irreverente.Era um idealista! E, embora não estivesse disputando o cargo de Presidente da UEC, sobressaia-se, na sua postura de líder.Não sei por que cargas d'água ou, culpa do seu carisma, conquistou o nosso voto, fácil, fácil...Isso foi em meados dos anos 60.* Pesquisem essa gestão!Tenho a impressão que o cargo que ele ocupou foi de primeiro secretário.Mas não tenho certeza...Só sei que fui eleitora de Normando, naquele tempo, depois de muito tempo,agora e sempre!
Depois, ainda nos anos 60, reencontrei Normando, nas escadas do Colégio Estadual, namorando com uma garota chamada "Vera", nos intervalos das aulas. Olhava os dois , pelo canto dos olhos...Formavam um belo par! Ainda escuto a risada em uníssono, denunciando leveza e alegria!Ele não era exatamente o meu tipo...(risos).Mas incomodava-me bastante, ao ponto de achá-lo, cá com meus botões, o rapaz mais charmoso dos meus tempos! Não tive chance.Existia Vera, existia Lúcia...E eu estava noutras órbitas...Nunca um olhar sequer, nós trocamos!Era o fim dos anos 60.Todo mundo daquela geração se dispersou: pra casar, estudar fora...E o mundo girou!
15 anos depois, 1984, depois de muitas andanças, trabalhava no Banco do Brasil de Mauriti, quando ouvi sobre Normando! Uma pergunta geral, da moçada que frequentava o Parque Municipal.-Você já conhece Normando, Socorro? Pô, precisa conhecê-lo!Ele trabalha no Cesec Juazeiro do Norte, e está ilustrando o jornal informativo do Cesec.O cara desenha bem pra caramba, além de ser, super boa gente!E as notícias sobre a genialidade de Normando, corria nos ventos!"Normanto separou-se da mulher"; "Normando parece "Pardal", vive inventando coisas"; "Normando vive testando e descobrindo novas técnicas de pintura";" Normando é politizado, anárquico, e de um profundo senso de liberdade, justiça, e humanismo"."Normando é o máximo!"
Uma noite, no Parque , avistei Normando brincando com duas crianças( um casal de filhos).Imediatamente associei sua imagem ao moço que eu conhecera um dia... Mantive distância , e fiquei a observá-lo.Nem se deu conta de mim.Estava absorto em cuidados, e inventava folguedos para distrair as suas crias.Fiquei encantada com a "performance" daquele pai.Putz,que cara!Todas as vezes que voltei ao Parque, naquelas épocas ( 84 a 87),encontrava Normando com a galera de sempre: Rafael, Geraldo,Pachelly, Terto, etc,etc.Como prima de Geraldo , eu me introjetei naquele mundo eucaliptizado...Mas nunca Normando me foi acessivo.Era monossilábico,nas respostas, quando eu o interpelava...Enfim,não alimentava papo, embora fosse elegante e gentil!Mais uma vez, a despeito do tempo, pensava cá com meus botões:Meu Deus, que homem é esse? Confesso que, uma esfriadinha na barriga, eu sempre sentia, quando a gente se topava.Não conseguia interessá-lo...ele tinha o poder de me embobecer.Com um leve sorriso de zombaria, parecia adivinhar, o quanto me ameaçava!
Em 1986, o destino me pregou uma peça. Trabalhávamos em Agências diferentes, mas fomos convocados pra fazer o mesmo curso, em Recife.Ficamos no hotel, em que todos ficavam:Hotel São Domingos, pertinho da Av.Guararapes, aonde ficava o Centro de treinamento(DESED).Primeiro dia, nos esbarramos, no café da manhã.O cara, nem "thum" pra mim! Um bom dia desligado...e ponto!Final do dia, quase noitinha, vi que se distanciava com mais dois colegas...Apressei o passo, e emparelhei com o a turma.Iam todos para o Pátio de São Pedro, dançar ciranda, tomar caipirinha de pitanga! Literalmente, convidei-me...e fui!
Nos acomodamos, num dos botecos da área.Era uma mesa enorme com uns vinte colegas, e eu! Chegou um violão, no ombro de alguém.Foi convidado, e tirou as primeiras notas: "Notícia"( uma música antiga de Nelson Cavaquinho).O povo silenciou, conversou...Mas, só eu e o Normando, conhecíamos a canção, e todas as sequentes. Ficamos os dois a cantar, initerruptamente, até as altas da madrugada.Não perdíamos uma dica do "bom cantador".Repertório impecável,boêmio, poético...e aí,as afinidades explodiram, fatalmente!.Bebi todas, e não me embriaguei...nem me embobeci!Ele não era "Judas" pra negar-me! Tornamo-nos camaradas! Já voltamos pro hotel, amigos de infância!
Protegeu-me, como se protege uma irmã.Já no Hotel, cada qual pro seu canto! Sem um beijo...Apenas um sorriso de quem já não negaria ,uma bola de sorvete!Obedecemos os horários de treinamento, e fizemos programas noturnos, diários:cinema, barzinhos, jogos, etc,etc. Estranhava o cara não me paquerar...Eu estava "gata", na plenitude dos meus 35 anos.Acho que depois de quase duas semanas, resolveu contar sua história.Estava divorciado, mas comprometido com o seu amor de adolêscência.Depois de vinte anos, Ulisses voltara para Penélope.Que podia fazer, a não ser me ternurizar com aquela história?Transcendi, instantaneamente ,todo meu tesão!E me coloquei, na linha de amiga,porque já era tarde pra não amar aquela figura..."Tarde demais para esquecer"!
Convivemos na sequência, amorosamente, por (6) meses...Um dia, fui embora pro Mato Grosso do Sul;noutro dia, ele zarpou para Brasília.Mas antes dessas despedidas, permiti que herdasse a minha amizade pelo João Nicodemos.Grandes amigos ficaram.Amigos de emocionar, até Deus!Não consigo falar dessa trilogia: Socorro, Normando e Nicodemos, sem chorar...sem me engasgar de saudades!Por breves 11 anos, nos víamos, nas (4) festas do ano.Sempre, sempre,o amor do mesmo jeito.Idependente das nossas realidades solitárias, fomos fiéis a tudo que no amor, se aumenta!Respeitei a escolha amorosa de Normando, e ele conviveu com todas as minhas escolhas ( erradas ou não)!O sentimento que nos uniu, nunca se quebrou;nunca discutimos, nunca nos aborrecemos, nunca nos entediamos, nunca nos desligamos...Até que a morte nos separou!Tudo foi ficando mais forte, com o passar dos tempos... Mas perto vai ficando, de um amor eterno!
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