Senhor Raimundo Bezerra Filho,
Iria, por hábito, começar com o tradicional “caro Raimundo etc.”, mas ponderei que não o conheço e nem você a mim. Além do mais tinha acabado de me despedir do blog por 15 dias. Mas não pude me eximir de escrever-lhe por três razões principais: um grande cratense que me orgulha, o cidadão Raimundo Bezerra; esta eterna permanência de “filhinhos de papai” na politica da cidade e a necessária rebelião em face do que está ocorrendo nas municipalidades brasileiras receptoras de enormes verbas federais. Neste último caso, já adianto, a sanha de alguns privilegiados por estas verbas em busca de proveitos próprios e de sua classe social.
E quem me ler neste momento pode pensar que o quero atacar por ter o mesmo nome do grande político local, Raimundo Bezerra ao apontar a eterna permanência de “filhinhos de papai”. Se não leram dessa forma, devem imaginar que estou louco como alguém que fala em corda na casa de enforcado.
Mas o sentido que quero dar é o oposto, sem, no entanto, me eximir do que acho que seja um perfil problemático da política em nossa terra. E este sentido está preliminarmente sendo dado por você mesmo. Negar os arranjos das famílias que se acertam para manter um quadro insustentável no município.
E o que chamo da política de “filhinhos de papai” não se refere aos filhos e a algum pai, mas e esta eterna irresponsabilidade de não sentir o pulso de uma sociedade que se torna complexa, violenta e ávida por soluções igualmente complexas. Ao “modus operandi” do velho fisiologismo, o empreguismo, a troca de favores, uma obra para um e outra para aquele, tudo aos amigos e aos inimigos a lei. Esta ampla sessão de desvario “infanto-juvenil” de uma política que põe roupas de “shopping center” sobre espectros de velhas oligarquias em que as pontas sempre se interconectam para tudo mudar sem que nada mude.
E esta política tem um “animus genérico” que são as verbas públicas repassadas das outras instâncias de poder para obras, merenda e transporte escolar, para o SUS, segurança, esporte e lazer, cultura, as grandes festas públicas que terminam por alimentar “garotões” que gostam de exibir seus “carrões” e montar “negócios”, sem risco algum, nas capitais. Isso atendendo rigorosamente aos compromissos frente aos sócios menores e com a rede de bons cidadãos a serviço de quem lhes distribui humilhantes migalhas.
Pois é, este é o dedo fatal sobre a ferida da municipalidade nacional. Quem hoje no Brasil resolve mostrar um espírito de luta política, deve pensar no grande problema que se encontra no município. Especialmente o município onde você mora, com uma crescente migração, um número de estudantes universitários em busca de superação, ao lado de grandes e contínuas dificuldades de desenvolvimento industrial e de inovação.
Acho que Raimundo Bezerra, que viveu sob o tacão de uma ditadura feroz, soube enfrentar o seu tempo. E agora é a sua vez, sem a sujeição à sombra e à água fresca, sem a acomodação de espirito e, sobretudo, estando preparado para o seu tempo e as circunstâncias que lhes desafiam e a qualquer um que queira agir seriamente sobre esta realidade.
Atenciosamente,
José do Vale Pinheiro Feitosa
Rio de Janeiro, 9 de abril de 2012