por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 20 de abril de 2011

Nina Simone


Eunice Kathleen Waymon mais conhecida pelo seu nome artístico, Nina Simone (Tryon, 21 de fevereiro de 1933 — Carry-le-Rouet, 21 de abril de 2003) foi uma grande pianista, cantora e compositora americana. O nome artístico foi adotado aos 20 anos, para que pudesse cantar Blues, a "música do diabo", nos cabarés de Nova Iorque, Filadélfia e Atlantic City, escondida de seus pais, que eram pastores metodistas. "Nina" veio de pequena ("little one") e "Simone" foi uma homenagem à grande atriz do cinema francês Simone Signoret, sua preferida.

Hilda Hilst



Hilda de Almeida Prado Hilst (Jaú, 21 de abril, 1930 — Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poetisa, escritora e dramaturga brasileira.


Dez chamamentos ao amigo


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

DA GENTE QUE EU - por Mário Benedetti*- Colaboração de Altina Siebra





Eu gosto de gente que vibra, que não tem de ser empurrada, que não tem de dizer que faça as coisas, mas que sabe o que tem que fazer e que faz. A gente que cultiva seus sonhos até que esses sonhos se apoderam de sua própria realidade.
Eu gosto de gente com capacidade para assumir as conseqüências de suas ações, de gente que arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, que se permite, abandona os conselhos sensatos deixando as soluções nas mãos de Deus.
Eu gosto de gente que é justa com sua gente e consigo mesma, da gente que agradece o novo dia, as coisas boas que existem em sua vida, que vive cada hora com bom animo dando o melhor de si, agradecido de estar vivo, de poder distribuir sorrisos, de oferecer suas mãos e ajudar generosamente sem esperar nada em troca.
Eu gosto da gente capaz de me criticar construtivamente e de frente, mas sem me lastimar ou me ferir. Da gente que tem tato. Gosto da gente que possui sentido de justiça. A estes chamo de meus amigos.
Eu gosto da gente que sabe a importância da alegria e a pratica. Da gente que por meio de piadas nos ensina a conceber a vida com humor. Da gente que nunca deixa de ser animada.
Eu gosto de gente sincera e franca, capaz de se opor com argumentos razoáveis a qualquer decisão. Gosto de gente fiel e persistente, que no descansa quando se trata de alcançar objetivos e idéias.
Eu gosto da gente de critério, a que não se envergonha em reconhecer que se equivocou ou que não sabe algo. De gente que, ao aceitar seus erros, se esforça genuinamente por não voltar a cometê-los. De gente que luta contra adversidades. Gosto de gente que busca soluções.
Eu gosto da gente que pensa e medita internamente. De gente que valoriza seus semelhantes, não por um estereotipo social, nem como se apresentam. De gente que não julga, nem deixa que outros julguem. Gosta de gente que tem personalidade.
Eu gosto da gente que é capaz de entender que o maior erro do ser humano é tentar arrancar da cabeça aquilo que não sai do coração.
A sensibilidade, a coragem, a solidariedade, a bondade, o respeito, a tranqüilidade, os valores, a alegria, a humildade, a fé, a felicidade, o tato, a confiança, a esperança, o agradecimento, a sabedoria, os sonhos, o arrependimento, e o amor para com os demais e consigo próprio são coisas fundamentais para se chamar GENTE.
Com gente como essa, me comprometo, para o que seja, pelo resto de minha vida... já que, por tê-los junto de mim, me dou por bem retribuído.
Impossível ganhar sem saber perder.
Impossível andar sem saber cair.
Impossível acertar sem saber errar.
Impossível viver sem saber reviver.
A glória não consiste em não cair nunca, mas em levantar-se todas as vezes que seja necessário.
E isso é algo que muito pouca gente tem o privilegio de poder experimentar.
Bem aventurados aqueles que já conseguiram receber com a mesma naturalidade o ganhar e o perder, o acerto e o erro, o triunfo e a derrota...

(*) Mario Benedetti (1920 —2009) foi um poeta, escritor e ensaísta uruguaio.

SIDERAL - por Stela Siebra

ASCENDENTE CAPRICÓRNIO:
Escale sua montanha


Para acender a estrela do seu Ascendente Capricórnio, você só precisa estar por inteiro em tudo que realizar. Isso requer praticidade, obstinação e determinação para alcançar as metas traçadas.

Por isso, quando se sentir distante do seu horizonte oriental, do que lhe faz firme e orientado, acione a tônica do Ascendente Capricórnio, sedimentando seus trabalhos, ou seja, dando-lhes consistência e realidade. Nada de brincar com massa de modelagem, que é tão facilmente maleável. Ponha as mãos em massa concreta e crie! Dê forma objetiva e definitiva aos seus projetos. Torne concreto tudo aquilo que já enxergava com possibilidades de realização.

Observe se realmente está disciplinando seus horários e se está realizando, dentro dos prazos estipulados cada etapa dos projetos definidos para seus trabalhos e sua vida pessoal.

Agora, cuidado quando for exigir isso dos outros, porque para você é natural o cumprimento da rotina de horários e prazos, mas lembre-se que nem sempre os outros corresponderão à sua expectativa de responsabilidade e eficiência. Bem, nem tudo é perfeito...

Outra coisa: não se preocupe muito se os processos se desenrolam tão lentamente para você. Não tenha pressa, pois o tempo é seu melhor amigo e lhe ensinará como ter paciência para esperar a hora de colher os frutos da realização.

Escale sua montanha, não tema tanto as alturas, pois chegando no cume você se sentirá pleno.


No mapa astrológico o Ascendente é considerado o impulso de orientação, porque é o signo que está subindo no horizonte oriental no momento do nascimento. Por isso é ele quem inicia o percurso do Mapa astrológico pelas 12 Casas. É a ponta da Casa I, a casa da nossa identidade, aquela que mostra nossa fachada, nosso temperamento e comportamento. Daí a importância do Ascendente, porque o princípio desse signo é quem vai dar o horizonte de nossa vida, simbolizando nossa forma de expressão imediata e espontânea. O Ascendente é como nos mostramos como somos vistos, como inauguramos a vida.

Judas


MALHAÇÃO ASSUSTA ?


Pois é, amigos, contra fatos não há argumentação que se sustente. Este ano o Judas de Crato vai ser o SUS—o Sistema Único de Saúde. A eleição foi aberta e envolveu mais de treze mil eleitores, segundo notícia divulgada amplamente na imprensa regional. O SUS terminou eleito com mais de um terço dos votos apurados, vencendo os Políticos Corruptos, Muammar Kadafi, o Tsunami do Japão e os Candidatos Paraquedistas. Pela concorrência abatida nas urnas, dá para se ter uma idéia da antipatia da população para com o nosso Sistema de Saúde , já com a maioridade dos 21 anos e que simplesmente a vem decepcionando dia após dia. O descontentamento pode ser aferido a todo instante pelos noticiários: filas intermináveis, pacientes internos em macas e corredores, falta de leitos nas UTI´s, emergências superlotadas, gestantes dando à luz nas calçadas e ambulâncias. Os mais otimistas haverão de argumentar que a amostragem da pesquisa foi pequena, mas tenho a plena certeza de que o resultado não seria diferente se ampliássemos o universo a ser pesquisado. O SUS iria para o cadafalso da mesma maneira e teria seus miolos esfacelados em praça pública.

Apropriemo-nos da aura de santidade desses dias e reflitamos um pouco sobre a eleição. O resultado , claro, é indiscutível, mas merecerá, o nosso Sistema Único a pena de morte imposta pelo tribunal popular? Bem, como profissional de saúde há mais de 30 anos, sinto-me no dever de não lavar as mãos. Sei que, historicamente, o povo tem uma certa predisposição para privilegiar os Barrabás dessa vida. Não serei um Pilatos, embora corra o risco de deixarem também alguma cruzinha de sobra também para mim.

Criado com a Constituição de 1989, o SUS foi arrancado a fórceps do ventre do capitalismo. Para que se alcançasse esse benefício foi necessário que muitos fossem torturados, presos, assassinados. Nada nos foi dado, mas conquistado com sangue, suor e lágrimas. De repente, se viu o estado na obrigação legal de prover a saúde da população de forma universal e integral e, mais, tendo, necessariamente, que ouvir os ditames do povo através dos Conselhos de Saúde. O sonho, sabíamos desde então, era vultoso, imenso, quase que inatingível. Mas pela primeira vez, na história, o Brasil se via na imposição legal de assumir a saúde dos brasileiros, como nunca o fizera em quase quinhentos anos. Os avanços não são tão fáceis de se perceber, mas foram enormes e insofismáveis. Acabamos praticamente com todas as doenças de controle vacinal: pólio, sarampo, coqueluche, difteria e tantas outras patologias, sumiram da face do nosso país. As novas gerações não percebem isso porque simplesmente não conviveram com essas doenças que são do passado, hoje, por conta do SUS. A Mortalidade Infantil – uma tragédia nordestina histórica—foi reduzida de maneira drástica: cadê os enterros de anjos? Acabaram-se os indigentes, todos , agora têm acesso ( limitado, eu sei) aos exames dos mais simples aos mais sofisticados e aos tratamentos mais avançados: transplantes, cirurgia cardíaca, Neurocirurgia, hemodiálise, todos hoje existentes já no Cariri. Os medicamentos são distribuídos através das Farmácias Básica e Popular. O Programa de Agentes de Saúde e de Médico da Família aproximaram os profissionais dos seus pacientes e levaram médicos/enfermeiros/dentistas aos mais distantes rincões desse país. E, mais, criamos um imenso banco de dados epidemiológicos que facilitam imensamente as ações estratégicas de saúde. Em Crato, no ano passado, a maior causa de Morte foram as doenças cardiovasculares, em segundo as causas externas ( acidentes, homicídios, suicídios) e, em terceiro os cânceres. Estes dados não são diferentes dos países desenvolvidos.Apesar das seguidas epidemias de Dengue, não tivemos nos últimos anos um óbito sequer pela forma Hemorrágica( só este ano já tivemos três casos). Tudo isso seria impossível sem o rapazinho que vai ser malhado no próximo domingo.

Por que, então, a má fama do SUS? É preciso entender que o sonho de dar saúde integral e universal para duzentos milhões de habitantes bate num empecilho: financiamento. Cadê dinheiro para cobrir essa utopia? Verba limitada, os investimentos são alocados prioritariamente para a prevenção, o que é mais que perfeito. A área de alta complexidade como diálise, transplantes, cirurgias complexas, é cara e não pode ser limitada sob pena de se condenar um mundão de pacientes crônicos. O corte, então, foi feito justamente no setor secundário: o atendimento nos hospitais secundários. Essa limitação redundou no colapso da rede de urgência/emergência, com muitos hospitais fechando as portas e os doentes sendo penalizados todos os dias com desassistência, filas , espera, sofrimento e morte. São justamente esses sofredores e desassistidos que votaram pela malhação do grande vilão que vêem pela frente: o SUS.

Em solidariedade ao sofrimento do povo, até concordo com a malhação. Acredito que a politicagem rasteira ( pai de todos os males) é que mereceria ser enforcada, mas : vá lá ! Temo apenas pelo simbolismo. Pode passar a idéia que o melhor é matar, estraçalhar o SUS. É imprescindível não esquecer os seus avanços e a melhoria na qualidade de saúde da população. Para que tenhamos um SUS realmente eficaz , o caminho já foi descoberto. É luta! Um embate político para fazer com que o tema saia dos palanques e entre na vida real. A continuação da luta de tantos presos, mortos, torturados. E que pode ser encetado como na malhação : pelo voto livre e consciente. Colocar o pé na porta para que ela não se feche novamente para a o povo e empurrar forte para que tenhamos financiamento adequado e gestão eficiente. Precisamos do aperfeiçoamento e financiamento adequado do SUS e não da sua dissolução. Quando a bomba explodir dentro das entranhas do Sistema Único de Saúde, serão os brasileiros mais pobres que serão atingidos por suas farpas e serão ele mais uma vez que serão malhados, como, aliás, já o vem sendo há mais de quinhentos anos.

J. Flávio Vieira




Quem sabe, sabe
Que é burro por conta própria
É cópia da própria cópia
Do limite sem receio

O Poema - por José Carlos Brandão


                          
O poema

     

O poeta levou a concha ao ouvido
e ouviu o mar, um mundo submarino
familiar e longínquo como o fim do mundo.

As gaivotas vieram das brumas do horizonte
e pousaram nos ombros do poeta.

Navios resfolegavam como cães cansados,
subiam e desciam entre os vagalhões.

O poeta está sentado à mesa da cozinha
ouvindo o apito do trem como se fosse um navio
se aproximando.

                               Olha pela janela as estrelas
caindo.
                        Aperta as estrelas no punho fechado.
O relógio está parado.
                                         O poema explode,
o poema mede o tempo com a sua bússola
de sal, um tempo diferente do tempo dos homens,
semelhante ao tempo de Deus.
                                                   Depois, o silêncio.

(O poema se alimenta de silêncio e solidão
como os homens.)


Por João Nicodemos




A poesia de Lupeu Lacerda



A insanidade do concreto
é quase nada
Para o beija flor
O vodu do silicone
é mais que banal
Para o beija flor
O equilíbrio do copo
em cima da prateleira
É falsa notícia
Para o beija flor
O gás mostarda tem menos importância
Que o grão de mostarda
Para o beija flor

 lupeu lacerda

AURORA MIRANDA - por Norma Hauer


A OUTRA PEQUENA NOTÁVEL, como a cognominou César Ladeira.

Ela foi grande, tão grande quanto sua irmã famosa (Carmen Miranda) mas esta, mais exuberante, mais ousada, quase a ofuscou.

E quem foi ela?
Seu nome: Aurora Miranda da Cunha, que se tornou conhecida como AURORA MIRANDA.
Ela nasceu no dia 20 de abril de 1915, aqui mesmo no Rio de Janeiro.

Depois de Carmen ter gravado "Taí", Assis Valente que também a "descobrira", deu-lhe a marchinha para as festas de São João, de nome "Cai, Cai, Balão", que Aurora gravou com Francisco Alves.

Foi ela quem primeiro gravou "Cidade Maravilhosa", em dupla com o autor (André Filho).
André Filho, que já lhe dera para gravar um bonito "Bibelô", ao compor sua
“Cidade Maravilhosa", deu-a para que ela tivesse a primazia de gravar aquele que, anos mais tarde, se tornaria o Hino de nossa Cidade, ainda maravilhosa.

Foram, ela e sua irmã Carmem, as primeiras "Cantoras do rádio".

“Nós somos as cantoras do rádio
Levamos
a vida a cantar
De noote, embalamos teus sonhos,
De manhã nós vamos te acordar..."

Antes de o rádio abrir-lhes as portas para a fama, os cantores populares apresentavam-se em teatros, circos, feiras e qualquer lugar onde houvesse público para aplaudí-los.

O rádio levou-os para as casas desse público e ali, Aurora Miranda desabrochou com sua voz afinada, bonita, parecida com a de sua irmã, mas com personalidade própria.

Ela também esteve em Hollywood. Com as figuras de Walter Disney (Zé Carioca à
frente) foi a atriz principal de "Você Já Foi à Bahia?", "dançando" com Pato Donald e companhia.

Em plenas festas natalinas, ela despediu-se, sem mesmo esperar Papai Noel. Quem sabe ele a levaria para encantar as crianças de outras paisagens? Ou mesmo se transformasse naquela Aurora Boreal tão amada em terras gélidas?

Ela viveu 90 anos, nascida que foi em 1915, no mês de abril (dia 20), sob o signo de Áries, que abre o ano zodiacal. Faleceu no mês de dezembro , mês que fecha o calendário oficial.
Era o dia 23, do ano de 2005.

Norma

Dois lados que se completam - Emerson Monteiro


Essa mania de confrontar, em tudo, por tudo, sujeita encher de tormentas o mar das embarcações, nos movimentos de tornar cinzentas as manhãs até doer nos ossos, a ponto de reverter em drama aquilo que deverá ocorrer de modo sadio, auspicioso. Insistir na tecla de viver em paz consigo e com os colegas chega a parecer teimosia, quando, na verdade, ser alegre e sonhar querendo calma muda o instinto da miséria humana, já que quase esqueceram isso jogado fora, nas ribanceiras do caminho.
Conquanto o mundo às vezes ofereça cantos de carroceria aos circunstantes, a história fala diferente e confirma sequências de acontecimentos suficientes para acreditar nos aspectos positivos, todo tempo. Quanto de heroísmo oculto nos lugares improváveis. Quanta esperança na juventude, nas escolas. Luzes acesas em noites escuras, clareando prosperidades nos céus.
Ver isto, o que a natureza equilibra em forma de organizar condições, nos momentos desencontrados. Olhar aspectos que definam o seguimento das variações, permitindo sorrir e continuar, independente das opiniões contrárias e dos desistentes empedernidos, endurecidos.
Somar pontos favoráveis; significar transposição dos obstáculos, desde que firmes os pensamentos no sucesso dessa longa estrada. Contar, sempre, com as estações felizes, que alternam viagens, no jeito dos alimentos gostosos, repousos e sonos tranqüilos nas madrugadas silenciosas, prazeres familiares e conquistas obtidas. Deixar de fixar os fracassos apenas quais dolorosas perdas, enquanto podem representar lições de esquecer e aprender os efeitos neles contidos. Ninguém, que se preze, repetirá erros dolorosos, no mínimo por instinto de conservação e amor próprio.
A religião de viver elabora, destarte, frutos na casa das consciências, livros abertos da condição das criaturas. Trazer para si dias dourados em jeito de sabedoria. Crescer sobre raízes que estabelecem passos em sentido da formação de novos seres dentro do mesmo ser. Plataformas de progresso. Visões brilhantes, portas abertas ao gosto de conhecer pessoas e descobrir amigos, nas muitas diversas oportunidades. Mundo feliz de existências. Cura de males antigos. Visualizar possibilidades a todo instante, no trabalho, nas ruas, nos pensamentos e sentimentos; estabelecer formulações de imagens mentais qual revelar o mistério da fé nos planos maiores das maiores circunstâncias.
Isto, sim, fomentar mudanças no universo dos objetos de aparentes contradições, no meio das quais circulam pessoas e instintos de satisfação, pois a perfeição dos elementos pulsa na mão tal matéria prima do desejo harmonioso de paz. Gestos e falas que elevam e jamais escondem a eterna força da criação aos protagonistas desta cena, diante do palco infinito das oportunidades, boas e semelhantes às maravilhas.

"Fetiche" - José Nilton Mariano Saraiva

Grosso modo e sem maiores delongas, sob a ótica da Ciência Econômica “fetichismo” seria o artifício de se “dourar a pílula”, valorizando um determinado produto ou mercadoria (aplicando-lhe um caprichado “banho de loja”), agregando-lhe, consequentemente, um valor simbólico ou irreal, calcado na mais pura fantasia, e estimulando, assim, pessoas dos mais diferentes extratos sociais (mesmo aqueles que não têm onde cair morto) a o adquirirem avidamente (pra consumo ou pra presentear alguém), em conformidade com a bem elaborada ditadura do marketing.
O exemplo acabado e perfeito de tal definição se nos apresenta exatamente nesta época de Semana Santa, quando as grandes redes de supermercado literalmente bombardeam os consumidores, via telinha, apresentando-lhes desde o “suculento” processo de produção até a exibição de gôndolas apinhadas de “ovos-de-pascoa” dos mais diferentes e variados matizes, privilegiando: embalagens chamativas e atraentes, tamanhos variados, ovos com com recheio ou não (normalmente um vagabundo “sonho de valsa” de R$ 0,50), e por aí vai. E haja exploração em cima do pobre e indefeso coitado.
E, no entanto, se nos déssemos ao trabalho de friamente analisar a relação “custo-benefício” embutida em transações da espécie, constataríamos a mais absoluta e pura “enrolação”, a desonestidade em essência, bastando para tanto nos darmos conta que uma simplória barra de chocolate, também embalada com esmêro, com o mesmo peso do tal “ôvo-de-pascoa” e de valor nutrivo semelhante, poderá custar a metade do dito-cujo.
Isto posto, não há como deixar de reconhecer que sábio foi o Marx, que lá atrás já profetizara, definitivo: “...o fetiche relaciona-se à fantasia (simbolismo) que paira sobre o objeto, projetando nele uma relação social definida, estabelecida entre os homens”.
E aí, vai um ôvo-de-pascoa, no capricho (de 100 gramas e custando os olhos da cara) ??? Com ou sem recheio especial ??? Quer embalado pra presente ou vai deglutí-lo aqui mesmo ???

Augusto dos Anjos



Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Cruz do Espírito Santo, 20 de abril de 1884 — Leopoldina, 12 de novembro de 1914) foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Todavia, muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, preferem identificá-lo como pré-modernista, pois encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas.

É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários.

A árvore da serra

— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!


Ataulfo Alves



Ataulfo Alves de Souza (Miraí, 2 de maio de 1909 — Rio de Janeiro, 20 de abril de 1969 foi um compositor e cantor de samba brasileiro, um dos sete filhos de um violeiro, acordeonista e repentista da Zona da Mata chamado "Capitão" Severino.


Por Dentro - José do Vale Feitosa





Que dor é esta? É dor doída e nunca fica roncha.

Ocupa toda pessoa e não está em lugar nenhum.

É dor que vara dum lado a outro do peito e não aparece buraco algum.

Num tem meizinha, reza de rezadeira, colher de açucareiro, é dor que queima feito mel fervente no tacho.

Dor de esquina, é como inteiro apartado, é um pedaço que falta onde nunca se deu conta.

É dor cheia, ocupa todos os limites do continente.Mas, também é dor de vazio, as águas de um riacho seco.

Dor de espírito buliçoso, nenhum canto é suficiente para lá se encontrar.

Parece mesmo é raspa de juá, faz espuma, clareia os dentes, para depois mascar fumo.

Dor de arribaçã, voando para pousar bem em frente da espera do caçador.

Dor de trânsito engarrafado: pára onde era para andar, anda onde era para dobrar.

E com tudo isso dito, continua esta dor sem explicação.

Quando a vi pela primeira vez, senti uma dor cá dentro de mim.

Apalpei-me e a dor não estava no corpo. Fixei meus olhos em busca daqueles e a dor era ela.

Uma dor de urgência.

Que o fluxo do tempo não se desse sem que me ouvisse sobre a agonia que a sua existência em mim causava.

Era linda? Mais ainda. Era luz? Cegava sem a perda da visão dela.

E o chão parecia uma onda gigante, na Praça da Sé, girando com todos os sanfoneiros e zambumbeiros dos sertões, num samba zombeteiro da emergência sem socorro.

E uma palavra poderia aplacar aquela dor sem solução, mas tudo em volta se movia como roubando toda a energia do ambiente.

Especialmente daquele estado acelerado, quando a dor é uma sentença da plenitude do aqui e agora.

E das minhas cordas vocais grunhidos saíram, grunhidos roucos, abafados, fugidios, em cascata, fazendo um turbilhonamento nas palavras.

Ela franziu o cenho em primeira mão.

Minha agonia acelerou ainda mais as sílabas, que saltavam em torno dela como a metralha de projéteis de plumas de algodão, com caroço e tudo.

Tenho a impressão que terminaria aquele ato transformado num saco vazio se não percebesse a tempo uma leve vírgula de botão de rosa pelo canto direito de sua boca.

Acho que a breve história daquele átimo de tempo me salvou quando já estava a ponto de me levar por aquela dor.

Depois o outro canto da boca se fez um roseiral. Os olhos me receberam com uma aceitação que jamais imaginei merecer.

Nunca imaginei que fosse possível ver as abas do nariz se afastarem e abrir um riso franco de satisfação.

Estava como ganhador da loteria numa chance em milhões. E daquela riqueza toda o mundo me fez milionário.

Deu-me muito mais que jamais ousei lutar. E sigo assim....com esta dor que não sei o quê é.

Uma dor de urgência. Que nunca se acaba.Ainda mais se a causa não está.



Roupa no varal - por socorro moreira



A chuva voltou

Trouxe sementes do frescor

Umedeceu minha samambaia

Deixou molhada a roupa do varal 


Minha poesia é fungada

Preciso tratá-la...

Interna e ternamente ! 


As lembranças deixaram de me inquietar

O presente me chacoalha,

me faz tirar leite de pedra,

e com esses pingos, sobrevivo !


Expiro fumo

Aspiro vida sem conflitos

Tudo claro, e nisso me abstraio.


Apago o cigarro,

e com o isqueiro ativo a minha história


Manhã clara de abril

Coração sonolento

Corpo querendo viço, sem petisco !



UM DIA PARA O ÍNDIO


"Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade".
Oswald de Andrade 
 

Canoa, Canoa

Composição : Nelson Angelo e Fernando Brant

Canoa canoa desce
No meio do rio Araguaia desce
No meio da noite alta da floresta
Levando a solidão e a coragem
Dos homens que são
Ava avacanoê
Ava avacanoê
Avacanoeiro prefere as águas
Avacanoeiro prefere o rio
Avacanoeiro prefere os peixes
Avacanoeiro prefere remar
Ava prefere pescar
Ava prefere pescar

 ***************
Rondon... primeira tentativa


UM ÍNDIO
(Caetano Veloso)

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio

******

"Deixa o índio vivo no sertão
Deixa o índio vivo nu

Deixa o índio vivo
Deixa o índio
Deixa, deixa"

Música: 
Borzeguim de Tom Jobim

********* 


Cariús... Crateús...
Comuns aos inhamuns
Cariris não usavam fuzis
 Desterrados de seus potes
Serão revisitados
E revelados
Guerreiros 
DA
MORINGA
PARA
COIMBRA
........................



"Tupi, or not tupi that is the question"
Oswald de Andrade

Hoje é dia de Índio 
Que importância tem?
"Tupi, or not tupi that is the question".
Eles não fizeram revolução!
Apenas ensinaram o branco imundo
A tomar banho, a dormir de rede
A respeitar as crianças... 
Restaram alguns outros 
muitos tantos assassinados...

Darcy Ribeiro... o começo
 
...VÁRIAS FORAM AS ALDEIAS
JÁ EXTINTAS NO BRASIL
ALGUMAS JÁ TINHAM
EM SUAS LENDAS A HISTÓRIA
DE SUA PRÓPRIA EXTINÇÃO...
...A V Á - C A N O E I R O S ...  

A grande maioria de nossos foram enterrados 
na curva de um rio... 
Tio Sam que o diga!


 

Ulisses Germano