por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
terça-feira, 25 de junho de 2013
O "histórico" da Globo - José Nilton Mariano Saraiva
Para os
que não conhecem ou simplesmente teimam em ignorar o “histórico” da Rede Globo,
aí está o Editorial do jornal “O Globo”, do dia 02 de abril de 1964 (há 49
anos, portanto), apoiando a Ditadura Militar. Depois disso, o Roberto Marinho (dono)
foi agraciado pelos generais com canais de TVs, que até hoje são usados (agora pelos
herdeiros) de forma a atender as conveniências de quem chegava ao poder. Mas, de
repente, surgiu um tal de Lula no caminho e contrariou interesses poderosos,
daí a campanha difamatória contra ele e, agora, Dilma.
Reflitam
e tentem entender a “razão” da TV Globo ter estuprado sua própria grade (programação)
a fim de passar cerca de cinco horas ininterruptas incitando a população contra
a presidenta Dilma Rousseff. Se isso não foi tentativa de “golpe”, procurem outra
denominação mais apropriada.
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EDITORIAL
“Ressurge
a Democracia”
Vive a
Nação dias gloriosos. Porque souberam unir-se todos os patriotas,
independentemente de vinculações políticas, simpatias ou opinião sobre
problemas isolados, para salvar o que é essencial: a democracia, a lei e a
ordem. Graças à decisão e ao heroísmo das Forças Armadas, que obedientes a seus
chefes demonstraram a falta de visão dos que tentavam destruir a hierarquia e a
disciplina, o Brasil livrou-se do Governo irresponsável, que insistia em
arrastá-lo para rumos contrários à sua vocação e tradições.
Como
dizíamos, no editorial de anteontem, a legalidade não poderia ser a garantia da
subversão, a escora dos agitadores, o anteparo da desordem. Em nome da
legalidade, não seria legítimo admitir o assassínio das instituições, como se
vinha fazendo, diante da Nação horrorizada.
Agora, o Congresso dará o remédio
constitucional à situação existente, para que o País continue sua marcha em
direção a seu grande destino, sem que os direitos individuais sejam afetados,
sem que as liberdades públicas desapareçam, sem que o poder do Estado volte a
ser usado em favor da desordem, da indisciplina e de tudo aquilo que nos estava
a levar à anarquia e ao comunismo.
Poderemos,
desde hoje, encarar o futuro confiantemente, certos, enfim, de que todos os
nossos problemas terão soluções, pois os negócios públicos não mais serão
geridos com má-fé, demagogia e insensatez.
Salvos da
comunização que celeremente se preparava, os brasileiros devem agradecer aos
bravos militares, que os protegeram de seus inimigos. Devemos felicitar-nos
porque as Forças Armadas, fiéis ao dispositivo constitucional que as obriga a
defender a Pátria e a garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem, não
confundiram a sua relevante missão com a servil obediência ao Chefe de apenas
um daqueles poderes, o Executivo.
As Forças
Armadas, diz o Art. 176 da Carta Magna, “são instituições permanentes,
organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade do
Presidente da República E DENTRO DOS LIMITES DA LEI.”
No
momento em que o Sr. João Goulart ignorou a hierarquia e desprezou a disciplina
de um dos ramos das Forças Armadas, a Marinha de Guerra, saiu dos limites da
lei, perdendo, conseqüentemente, o direito a ser considerado como um símbolo da
legalidade, assim como as condições indispensáveis à Chefia da Nação e ao
Comando das corporações militares. Sua presença e suas palavras na reunião
realizada no Automóvel Clube, vincularam-no, definitivamente, aos adversários
da democracia e da lei.
Atendendo
aos anseios nacionais, de paz, tranqüilidade e progresso, impossibilitados, nos
últimos tempos, pela ação subversiva orientada pelo Palácio do Planalto, as
Forças Armadas chamaram a si a tarefa de restaurar a Nação na integridade de
seus direitos, livrando-os do amargo fim que lhe estava reservado pelos
vermelhos que haviam envolvido o Executivo Federal.
Este não
foi um movimento partidário. Dele participaram todos os setores conscientes da
vida política brasileira, pois a ninguém escapava o significado das manobras
presidenciais. Aliaram-se os mais ilustres líderes políticos, os mais
respeitados Governadores, com o mesmo intuito redentor que animou as Forças
Armadas. Era a sorte da democracia no Brasil que estava em jogo.
A esses
líderes civis devemos, igualmente, externar a gratidão de nosso povo. Mas, por
isto que nacional, na mais ampla acepção da palavra, o movimento vitorioso não
pertence a ninguém. É da Pátria, do Povo e do Regime. Não foi contra qualquer
reivindicação popular, contra qualquer idéia que, enquadrada dentro dos
princípios constitucionais, objetive o bem do povo e o progresso do País.
Se os
banidos, para intrigarem os brasileiros com seus líderes e com os chefes
militares, afirmarem o contrário, estarão mentindo, estarão, como sempre,
procurando engodar as massas trabalhadoras, que não lhes devem dar ouvidos.
Confiamos em que o Congresso votará, rapidamente, as medidas reclamadas para
que se inicie no Brasil uma época de justiça e harmonia social. Mais uma vez, o
povo brasileiro foi socorrido pela Providência Divina, que lhe permitiu superar
a grave crise, sem maiores sofrimentos e luto. Sejamos dignos de tão grande
favor.”
Beirando ao "anarquismo" - José Nilton Mariano Saraiva
Como até um índio de
uma dessas tribos fincadas na mais recôndita área do “Alto Xingu” deve saber, o
poder de influência de uma televisão é, indiscutivelmente, algo sério e
determinante, porquanto tanto pode alavancar como destruir reputações, eleger
um desconhecido ou acabar com o político tradicional que se julgue inatingível,
catapultar do anonimato um desconhecido qualquer elevando-o aos píncaros da
glória e por aí vai.
Pois bem, depois de
tudo o que assistimos nos últimos dias, não há como não desconfiar que, quando uma
emissora de televisão do porte da Rede Globo (uma concessão governamental,
lembremo-nos), que cobre todo o território nacional, detém a liderança da
audiência e onde 30 segundos de inserção comercial custam os “olhos da cara” optou
por renunciar a tal receita (suprimindo a veiculação de qualquer propaganda por
cerca de quatro/cinco horas ininterruptamente, contemplando inclusive o seu
horário nobre) e, valendo-se de todo o seu exército de correspondentes dedicou-se
a um único tema (as manifestações, em todo o país), provavelmente buscava
atingir a mais sórdida das intenções: um levante popular de peso objetivando estimular
um “golpe” contra um governo democraticamente eleito. Ou não foi isso que
acompanhamos durante os últimos dias quando da eclosão do movimento paredista
que, iniciado em São Paulo e após a entrada em campo “full time” da Rede Globo
espraiou-se como um rastilho de pólvora por todo o Brasil, de norte a sul,
leste e oeste ???
E aqui cabe uma
ressalva: claro que o objetivo primeiro do movimento paredista (barrar o
aumento abusivo no transporte coletivo) foi e é perfeitamente justificável,
assim como ficou evidente que faltou jogo de cintura às “autoridades competentes”
(de São Paulo) que pisaram feio na bola e, conseqüentemente, devem ser
responsabilizadas pelo acirramento dos ânimos, ao procrastinarem uma decisão
que, ao fim, acabaram por ter de tomar: o recuo do aumento nos preços das
passagens de ônibus, trem e metrô.
Pois, foi justamente no
vácuo propiciado pela irresponsável demora em decidir, que o movimento paredista
engrossou, houve a entrada de oportunistas e irresponsáveis novos atores em
cena, pautas outras foram agendadas às pressas e, enfim, se deflagrou o caos, a
balbúrdia e por muito pouco beiramos o anarquismo.
É oportuno ressaltar
que, apesar dos notáveis avanços, principalmente na área social, obtidos desde
o primeiro governo Lula até os dias atuais (reconhecidos aqui e lá fora), em sã
consciência ninguém pode concordar com determinadas coisas e situações que aí
estão postas, e que figuras abjetas e desprezíveis da estirpe de um Sarney,
Renan, Agripino e outros se achem na posição que ocupam; só que não podemos
esquecer terem sido ungidos pela vontade soberana do povo e, portanto, temos de
suportá-los até que uma ampla reforma política seja providenciada.
E aqui (mesmo que “por tabela”),
chegamos ao mérito maior de tal movimento paredista: forçar a que se desfralde
a bandeira de uma mudança radical no nosso sistema político, com a inclusão de
dispositivos que permitiam ao próprio povo “destronar” aqueles que, postos no
trono por ele (povo), não correspondam à expectativa depositada; assim, através
de uma espécie de “recall” político, tal medida seria imediatamente efetivada e
os “reprovados” dispensados, de pronto. Só que aí teríamos que contar com a boa
vontade dos próprios congressistas (votariam contra seus próprios interesses
???), a fim de emendarem a Constituição Federal e/ou convocarem uma Assembléia
Constituinte para tratar a respeito.
Não é de estranhar,
pois, que a presidenta Dilma Rousseff, que vivenciou tal quadro em sua
juventude e conhecedora de onde poderia desaguar tal movimento, não se tenha
deixado levar pela “corda” que lhe foi dada pelos próprios manifestantes (reagir
de forma impulsiva e violenta) se antecipou e, pacientemente, além de elogiar e
reconhecer a legitimidade das manifestações, de par com medidas pontuais (considerar
a corrupção um crime hediondo, por exemplo) tomou a iniciativa de sugerir a
adoção de um plebiscito popular visando aprovar tal dispositivo (Constituinte
exclusiva). Deixou claro, ainda, Sua Excelência, que os excessos a partir de
então terão que ser coibidos, porquanto soa injustificável a depredação do
patrimônio público, bem como o impedimento do ir e vir das pessoas.
A Primavera no Inverno Brasileiro - José do Vale Pinheiro Feitosa
Tomando por base a
chamada Primavera Árabe (revoltas na Tunísia e Egito) como o manifesto mais
evidente e iniciador desta época temos o seguinte: há uma revolta popular,
manifesta nas ruas especialmente na Europa e nas Américas, além do Oriente
Médio e do norte da África. A revolta tem por base mudanças políticas, sociais
e econômicas. Uma parte central dela é a constituição do poder popular
(manifesto nas ruas), da centralidade da história na pessoa humana e contra o
poder de manipulação de corporações econômicas, governos e pessoas muito ricas.
Além, é claro, o desemprego, os serviços públicos e a falta de proteção social.
Parte do conteúdo
manifesto nas ruas é uma mistura de agendas de grupos e pessoas insatisfeitas,
desde problemas locais até a visão de mundo que têm. Esta multiplicidade
confunde por vez os analistas das manifestações, mas a observação geral revela
aquela agenda identificada no primeiro parágrafo.
O centro político é a
mobilização de pessoas nas ruas e tomadas de praças. Diga-se de passagem
historicamente tal não é uma novidade pelo menos desde o povo nas ruas de Paris
durante a Revolução Francesa. Mas a tônica central do momento é a mobilização
de pessoas gritando e protestando nas ruas.
Estamos vivendo uma
transição histórica no que se refere à participação popular na política. Um
questão central nesta transição é o fim da hierarquia do modelo produtivo
industrial para a horizontalidade da nova economia que tende a funcionar na
modalidade de redes e nós de distribuição. A transição significa que uma parte
central da agenda ainda é construída de acordo como os meios tradicionais como
jornais, rádio e televisão. Neste sentido estes meios ainda possuem um enorme
poder de selecionar, construir e conduzir a agenda das ruas.
Na transição as
instituições políticas clássicas estão sofrendo transformações e esgotamento
acentuado dos seus papéis. Pelo menos em razão das formas clássicas como se
organizavam. As principais instituições a sofrerem esgotamento foram os
sindicatos e os partidos políticos. Os partidos políticos foram desidratados em
representação por se tornarem estruturas burocráticas, prisioneiras do sistema
financeiro e econômico além das amarrações do formato da política conduzida
pelo Estado que foi capturado pelo poder econômico.
Desde o fim dos regimes
comunistas junto com a primazia do neoliberalismo e da globalização financeira
que a política foi aprisionada aos negócios das empresas e o rentismo do
sistema financeiro. Juntando tal primazia com o esgotamento político dos
partidos tradicionais, vimos uma onda superficial de despolitização a atingir
uma juventude especialmente preparada para o consumismo de mercado. A visão era
de jovens alienados, vivendo em shoppings, consumindo geringonças eletrônicas e
lutando em vídeo games.
Aí veio a grande crise
econômica no centro do Ocidente e de sua grande área de influência. Esta é a
verdadeira causa de toda a revolta. É a base que conduz as pessoas às ruas para
lutarem por uma situação melhor. E lutam pelo que sentem na pele: desemprego,
pouca perspectiva de futuro, violência, transportes coletivos precários,
cidades entupidas de automóveis, sofrimento para se deslocar, renda caindo e
assim vai toda a matriz das revoltas.
A juventude em todo o
mundo despertou de seu “sono alienado”. Por isso os partidos não lhe convêm. As
instituições clássicas não respondem por seus anseios. Especialmente o
parlamento e seu modo covarde de decidir contra os anseios de superação da
crise presente em todos. Uma pesquisa
feita durante as manifestações em Belo Horizonte revelou o seguinte: a maioria
é de jovens, apenas 26,5% tinha mais de 40 anos e 54,5% tinha menos de 25 anos.
Além de terem escolaridade alta (65% cursa ou terminou o ensino superior) e
estarem trabalhando (70,7%) e terem renda acima da população em geral (50%
tinha renda familiar acima de cinco salários mínimos – obs: isso não significa
alta renda, apenas que é maior que do povo brasileiro em média).
Enfim esta é a
representação da passeata em Belo Horizonte (embora tenha-se por sentimento que
seja o mesmo em todo o país esta amostra só é válida para cidade) diferindo-a,
por exemplo, do perfil na Espanha (desemprego da juventude) e na Grécia (corte
de salários), pois as lutas são comuns pela crise econômica, mas variadas segundo
a incidência da crise em cada povo. Por exemplo, no Egito e na Tunísia foi
contra o regime ditatorial, na Espanha e na Grécia foram dentro do sistema
democrático eleitoral, inclusive com mudança de governo via eleições livres no
meio do processo.
No Chile, por exemplo,
a principal revolta é da juventude em busca de ensino superior público e contra
a privatização deste ensino. Já no Brasil essa agenda não surgiu. Esta é a
especificidade de cada povo, mas a luta é uma só: a mudança em curso e a crise
econômica mundial.
O movimento desta
juventude brasileira é algo que efetivamente brota em otimismo. Parcela
significativa dos manifestantes não havia nascido quando das grandes
manifestações como aquelas pelo Impedimento de Collor. Por isso não reconhecem
líderes históricos, não sabem das lutas anteriores, mas descobriram a
importância de lutarem por uma agenda política que melhore a vida de todos. A
juventude brasileira tomou parte da política para si e, portanto, começamos a
ter herdeiros se preparando para influir sobre o presente e herdar o futuro.
O jovem brasileiro
descobriu a política e majoritariamente descobriu a bandeira do bem comum e de
uma sociedade para todos. É claro que fascistas, anarquistas, ultra
esquerdistas e até mesmo setores vinculados aos interesses econômicos clássicos
(financeiro, grandes proprietários, mídia corporativa etc.) querem ocupar as
ruas, mas o grosso do que vemos é o progresso coletivo e democrático.
O momento vivido pelos brasileiros
é apontar para o avanço social (saúde, educação, transporte, segurança, mais
democracia, etc.) e criar uma agenda popular para tal, mesmo que isso esteja
nas ruas confinado às classes médias. Uma coisa podemos aventar: o governo de
coalização conduzido pelo PT em nível federal vai passar por fraturas e por
mudanças. As próximas eleições serão muito mais disputadas e as bandeiras da
esquerda fixada pelo avanço social e da direita aparentemente fixada na luta
particular contra a corrupção. Mas isso é especulação pois a mudança ocorrida
nestas duas semanas pode revelar novas bandeiras à direita e à esquerda que
ainda estão sendo fixadas.
Retornando aos meios
que unem as pessoas como a era da mídia clássica e agora das redes sociais. É
preciso pensar que a democracia se multiplique nos serviços públicos de
comunicação (como rádio e televisão) e que todos tomem consciência clara da
redes sociais pois o jogo de construção da agenda, da mobilização e da urgência
é feito nestas redes e isso tem ocorrido em todo mundo. Na questão da mídia
clássica e desta nova mídia ainda existem big Brothers a tomar informações para
a sua exclusiva finalidade e em detrimento da democracia.
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