por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 2 de junho de 2024

 

A “MÃO DE DEUS” ??? – José Nílton Mariano Saraiva

 

Na horripilante e pavorosa tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul, com destaque para o estrago fenomenal da sua capital, a belíssima Porto Alegre, um detalhe, pela recorrência, chamou a atenção de todos nós: quando algum sobrevivente ou membro da família envolvida tinha a oportunidade de manifestar-se ante as câmeras televisivas, não perdia a chance de louvar a Deus, de garantir ter sido a “mão de Deus” responsável por retirá-lo do meio do dilúvio, de reafirmar contundentemente que somente a “intervenção divina” explicaria sua sobrevivência.

Enfim, o “homem lá de cima” (como citou um deles) era merecedor de todos os créditos, honrarias e méritos, em razão da sua benevolência e magnanimidade.

Mas, se nos adstringirmos à prevalência de tal ponderação, como é que eles mesmo (os que se salvaram) explicariam minimamente e de forma consistente às famílias enlutadas o destino fatídico e cruel de quase duzentas pessoas (por enquanto), dentre as quais crianças inocentes e idosos ainda saudáveis, vítimas de deslizamentos ou levadas de roldão, ribanceira abaixo, pela descomunal força das águas ???

Como justificariam que a “mão de Deus” (que os salvou, segundo eles) não haja guiado essas centenas de pessoas, em meio ao turbilhão, a um porto seguro, salvador e de águas plácidas ou, ao menos, menos agressivas ??? Como explicar que a benevolência e magnanimidade do “homem lá de cima” hajam contemplado somente alguns (eles), enquanto, desafortunadamente, famílias inteiras (avós, pais, mães, filhos e netos) desciam na enxurrada, evidentemente que aterrorizados e sem vislumbrar qualquer perspectiva de salvação ??? Será que rezavam e desesperadamente apelavam a Deus, naquele fatídico momento ???

Alfim, o questionamento intrigante: existirá um Deus “elitista” que, ao tempo em que concede a “graça e salvação” a alguns, despreza ou esquece de tantos outros fervorosos beatos ??? Ou a “graça e salvação” estariam também no desaparecer prematuramente, no ir-se mais cedo desse mundo conturbado, mesmo sem entender por qual razão foram “escolhidos” ??? Quais os critérios determinantes de quem deve ou não deve ser salvo pela “intervenção divina”, numa tragédia de tamanhas proporções ???

Bem que psicólogos, religiosos de um modo geral e experts (sobre), poderiam tentar explicar o seguinte: existirá um “Deus” magnânimo e benevolente, um Deus indiferente a tudo isso, ou ainda um outro Deus, cruel e maldoso, para permitir o acontecido ???

Como aceitar passivamente a superlativa tragédia ocorrida no Rio Grande do Sul ???

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Post Scriptum:

No mais, e independentemente do questionamento posto, não há como deixar de ressaltar a oceânica e avassaladora solidariedade da população brasileira, em geral, para com nossos irmãos gaúchos; afinal, foram milhões e milhões de reais, em dinheiro vivo (muito mais de cento e cinquenta milhões), além de toda espécie de doações (roupas, calçados, eletrodomésticos, água, mantimentos em geral e por aí vai), oriundos de todos os estados brasileiros; isso é o que podemos denominar de irmandade ou, mais especificamente, brasilidade. Parabéns ao povo brasileiro.