por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
segunda-feira, 23 de abril de 2012
Amizade não escolhe nem hora nem dia
Amizade é leal, é legal e faz bem
Faz o bem sem dizer a quem fez
Fez e faz tudo que pode, tudo que é capaz
Amizade é amiga, não alimenta intriga
Amizade é de graça, é semeada na praça
Amizade é surda para a crítica barata
Amizade nos ampara diante da fera
Amizade não tem medo de ser sincera
e avisa do perigo que rodeia seu amigo
Amizade é pão, amizade é trigo
Amizade é cimento que garante a construção
Amizade é fermento que faz bem ao coração
Amizade é a primeira forma de amor
Amizade é o barro do santo no andor
Amizade é o copo d'água na hora da sede
Amizade é o retrato no branco da parede
Amizade não tem preço e faz a prece
pra o amigo receber sempre tudo que merece
Amizade é o unguento que alivia
Amizade fortalece com o tempo
Amizade compartilha sua sorte
Amizade multiplica pães e peixes
e não se acaba com a morte
Os Pavôs e seus Filhetos

Zé Ramalho, em uma música famosa, criou uma denominação no mínimo curiosa: “Avohai”. Segundo ele um misto de pai e avô. A canção brotou de uma “viagem” do artista, numa das ruas de Olinda, aí pelos anos 70. Há certamente um quê de visionário neste delírio psicodélico do Zé. A partir daí , como por encanto, multiplicaram-se os Avohai´s. É que a revolução sexual, desencadeada mundialmente nos libertários e fulgurantes anos 60 , só aportou em terras brasileiras nas décadas subseqüentes. Aí começaram a se multiplicar os filhos desta liberdade, nascidos de pais adolescentes, em meio aos dourados sonhos juvenis e que acabaram por ser criados e educados pelos avós. Claro que , de alguma maneira , o aparecimento imprevisto destes bebês sobrecarregou toda uma geração que já imaginava ter cumprido o seu dever com os próprios rebentos, mas por outro lado encantaram e deram vida estes guris a pessoas que muitas vezes se consideravam inúteis e incapazes . De repente viram suas vidas florescerem com a chegada buliçosa dos netos.
Nos dias atuais, esta geração, que poderíamos chamar de “filhetos” ( uma mistura de filhos e netos), já cresceu o suficiente para ter a certeza absoluta de que o mundo lhe pertence, no que não está em absoluto errada.. O problema talvez diga respeito à porqueira de mundo que herdaram. A violência campeia por todo o país; as drogas anteriormente utilizadas com uma certa aura ritualística hoje se banalizaram e atapetam os noticiários de tragédias; o suicídio entre adolescentes aumentou para proporções inimagináveis; o aproveitamento escolar parece uma lástima. Talvez hoje se devesse mudar a denominação de “Avohai” para “Pavô” , tamanho o medo que vem assolando os pais e avós com o destino de seus descendentes. Os meninos nos parecem hoje totalmente perdidos : estudam pouco; suas festinhas começam depois da meia noite; quase não lêem um livro qualquer que seja; têm iniciação sexual geralmente com os primeiros namorados; parecem-nos extremamente irresponsáveis e inseguros; quase na sua maioria fazem-se muito pouco espiritualizados e a droga lhes é uma palavra bastante corriqueira e pouco tenebrosa. Além de tudo muitas vezes mostram poucas perspectivas de crescimento intelectual e profissional. Até mesmo o sonho de independência das gerações anteriores, eles não mais os têm: se pudessem jamais sairiam de casa. No casamento já não juram até que a morte os separe, mas até que a primeira briga os aparte. Separados retornam para “casa paterna , seu primeiro e virginal abrigo” , geralmente com os filhos a tiracolo.
O primeiro ímpeto dos “Pavôs” leva à conclusão mais óbvia: as velhas gerações foram mais bem educadas e seus guris aparentavam bem mais resolução e desenvoltura e bem menos vícios acachapantes. Diz-se, também, à boca miúda : estudávamos mais e tínhamos mais gana de mudar o planeta. Esta postura, no final das contas, não traz embutida nenhuma novidade, ela se repete em moto-contínuo de geração a geração. Os novos hábitos vêem-se com reserva, os novos costumes interpretam-se de forma bastante crítica. Com a mesma intensidade que os adolescentes confrontam as antigas verdades, os mais velhos torcem o nariz para as novas formas de pensar e ver o mundo. Mas afinal as deformidades tão facilmente apontadas nos “filhetos” têm ou não fundamento ?
Vamos por partes. Em primeiro lugar eles herdaram um mundo construído pelas gerações que lhes antecederam e tiveram que rapidamente se adaptar à triste herança que lhes legamos. A violência generalizada os tornou inseguros bem além da insegurança normal da idade e os prende mais fortemente ao ninho dos pais. Lêem e estudam menos na visão tradicional destes dois verbos, pois hoje têm uma infinidade de meios de obterem o conhecimento fora das páginas dos livros : a TV, o computador, a Internet, o telefone, o vide-cassete. Com o bombardeio incessante dos meios de comunicação ligam-se mais à imagem do que à palavra. O mundo que lhes legamos, por outro lado, lhes tolhe as perspectivas de um crescimento interior : a todo momento a geração dos “Avohai´s” lhes prega a verdade material : a felicidade está no consumo, é mais importante calçar um tênis Nike do que degustar Sêneca. A religiosidade dos novos foi em muito tolhida pelos “Pavôs”, cientes de que uma das formas de liberdade era a da escolha de credo e de que ninguém tinha o direito de impingir isto às crianças. A liberdade sexual também herdaram do grito libertário dos hippies dos anos 60 , o “Fica” faz-se apenas uma remasterização do antigo “sarro” ou “Casquinha”. O embevecimento no uso de drogas alucinógenas veio, certamente, da mesma fonte dos hippies e beats. Foram, também os “Avohai´s” que lhes deram aulas sobre a dissolubilidade do casamento que acaba sendo uma busca de felicidade comum( mesmo que efêmera) e não uma condenação às galés perpétuas. Talvez muitos deles não lutem por um crescimento profissional por vias mais retas porque a todo instante têm exemplo de que para chegar no éden do consumo existem veredas mais curtas: os pistolões, as maracutaias , a corrupção, a sonegação, o baba-ovismo. Estas aulas todas lhes ministraram as gerações anteriores, através da concreta arma do exemplo.
Antes de criticá-los e tecer previsões sombrias sobre seu destino é imprescindível lembrar que eles apenas estão inseridos num outro mundo cheio de avanços fenomenais e deformidades terríveis e esta ordem de coisas eles a herdaram . Talvez, apenas, se encontrem atônitos e embasbacados sem saber bem o que farão com tamanha batata quente nas mãos. Tomara que , com a força transformadora da juventude, consigam corrigir os rumos da humanidade e fazer deste planeta um lugar mais justo, mais solidário e mais respirável. Se não conseguirem este intento, ao menos terão o direito de pôr a culpa na próxima geração, exatamente como têm feito os seus “Pavôs” .
J. Flávio Vieira
Peluso: destempero na despedida (transcrição)
GASTÃO LAMOUNIER- Norma Hauer
Ele nasceu no dia 22 de abril de 1893, em São Paulo, recebendo o nome de Gastão Marques Lamounier ou apenas GASTÃO LAMOUNIER, como ficou conhecido.
Muito jovem veio para o Rio , aqui se encontrando com Mário Rossi (que viera de Petrópolis) com quem compôs “...E O Destino Desfolhou”, gravação original de Carlos Galhardo.
Mas quem lançou essa valsa, em estúdio, foi Albenzio Perrone, que ficou aborrecido por Gastão dá-la a Carlos Galhardo para gravar..
Compôs várias outras valsas que se tornaram famosas e continuam a ser lembradas em muitas serestas, entre as quais, "Arrependimento", com Olegário Mariano; "Suave poema de amor", com Mário Rossi e "Há um segredo em teus cabelos", com Osvaldo Santiago.
Em 1929, convidado pelo cantor Albenzio Perrone, ingressou na Rádio Educadora onde permaneceu por mais de dez anos, chegando a ser diretor artístico, além de criar o "Programa Lamounier", no qual atuaram inúmeros nomes da música popular brasileira.
O mesmo Albenzio Perrone gravou em 1939 as valsas "A vigília da Lâmpada” e "Lição de amor".
“A VIGÍLIA DA LAMPADA”
Meu amor eu confesso que não posso
Reviver o romance que viveu
O alegre apartamento que foi nosso
E agora, vazio, é apenas meu.
Sinto esmagar-me uma saudade estranha
Nesta noite de insônia e de tristeza,
Em que, fielmente, apenas me acompanha
O abajour que deixaste sobre a mesa.
Há uma penumbra, mística de prece,
A luz do abajour pouco ilumina
Meu abajour, de seda, ele parece
A saia de uma louca bailarina
E à sombra do abajour, macia e doce
Recordo, tristemente, o nosso amor
Vendo a lâmpada a arder, como se fosse,
Meu coração ardendo em teu louvor.
. Em 1945, o "Programa Lamounier" passou a ser apresentado na Rádio Nacional e posteriormente na Rádio Clube do Brasil.
Sua valsa “Há um Segredo em Teus Cabelos” recebeu letra de Oswaldo Santiago e se transformou em um “jingle” para um produto de nome “Juventude Alexandre”.
Sílvio Caldas gostou da música e gravou-a, tendo na outra face do disco a valsa, também de Gastão Lamounier “Só Nós Dois”.
HÁ UM SEGREDO EM TEU CABELOS
“Em teus cabelos de seda,
Que perfume, que aroma sutil.
Dos sonhos pela alameda,
Bailam flores, num baile gentil
Há um segredo cantando,
Trescalando uma essência de flor.
Onde vibram ardejos, desejos.
Misteriosos eflúvios de amor.”
O “jingle” terminava e o “Speaker” (como os locutores eram conhecidos na época) anunciava a Juventude Alexandre.afirmando que o produto deixava o cabelo “trescalando uma essência de flor”.
Gastão Lamounier faleceu em 28 de janeiro de 1984, aos 91 anos.
Norma