Eleições concentram ideias. Aquilo que individualmente se
pensa, de repente se junta e se organiza em grandes ilhas que tendem a se aglutinar
de modo continental. É preciso imaginar que forças de atração e repulsão agem
nesse processo de fusões e organização.
A principal força é a que sustenta a vida do ser humano e
seus modus operandi político, cultural e econômico no mundo. Sustentação da
vida traduz-se como sabedoria e a causa maior de toda inteligência humana.
Mesmo quando a destruição e a violência se alastram como
guerras ou conflitos civis, há por trás uma busca extrema pela sustentação da
vida. Assemelha-se a uma contradição ontológica, mas na verdade a contradição é
externa ao ser da sustentação vital.
São as classes sociais com seus modelos específicos e
hegemônicos de definir a sua sustentação como a prioridade sobre a sustentação
das outras classes sociais. Até por uma resposta imediata, que se imagine até
primária, a superação das classes sociais é uma questão central e histórica. E pode
ocorrer justamente porque externa à sustentação de se estar no mundo.
Eliminar as contradições sobre a essência do ser no mundo é
livre arbítrio humano. É libertar-se das regras de pensamento totalitárias que
cristalizam dominâncias e sufocam o exercício do ser no mundo. É ir além de
toda as dependências escravas de uma visão que naturaliza as regras das classes
dominantes como a explicação mais ampla para justificar o quão são irremovíveis
as contradições.
Não é incomum nos espaços de debate, como estes
privilegiados em blogs e nas redes sociais, uma argumentação caleidoscópica de
clichês das sucessivas e apressadas leituras monolíticas e pouco afeta à
pluralidade. Por isso se provoca tanto. Às ideias as substituem por chavões, à
leitura do divergente vem xingamentos, fora isso, fora aquilo. E assim se
naturaliza o linguajar psicopático quando alguma racionalidade se encontra
sempre ao lado e ao alcance.
Agora estamos em mais um processo eleitoral. Mesmo as ideias
que nos aborrecem precisam ser consideradas. Mesmo que alguém imagine que sua agressividade
vai ajudar seu candidato é sempre possível que este compreenda que
agressividade é uma energia que pode ser usada ontologicamente no sentido de
estar no mundo.
Logo em seguida tenha por regra que a agressividade que apenas
se põe como correia de transmissão para sustentar posições de classes sociais é
motor real da luta histórica. Não se pode esquecer que os senhores de escravos
sabiam do ódio eterno que a escravidão despertava mesmo gerações após as
outras.
Continuavam porque possuíam os meios econômicos para
afrontar o estar no mundo do outro. Até que as fontes destes meios se tornavam
insuficientes para conter os efeitos da afronta. E assim vai continuar até que
se encontrem sistemas que superem as classes sociais e suas contradições.
Isso é socialismo como se pensou nos últimos trezentos anos.
Não é religião. Não é um catecismo e nem um mero código de comportamento. É uma
consciência de como se estar no mundo e que este estar é um processo histórico decorrente
das relações humanas no contexto do planeta. É um mero arranjo externo ao ser.