Condição “sine qua non”
de todo administrador público que se preze, a probidade
administrativa encontra bons e imprescindíveis aliados na
transparência, bom senso, equilíbrio e/ou,
principalmente, ponderação na hora da tomada de decisões ou no
simples ato de expressar-se perante os munícipes.
Em sentido contrário, sob
pena de inviabilizar suas ações, obstando-lhe o acalentado caminho
em busca de voos políticos mais altos, a improbidade
administrativa, possessividade, pessimismo e afobação não devem
constar do dicionário de referida autoridade, por mais pressionada
que se encontre.
As reflexões acima têm a
ver com um determinado “encontro”, que vivenciamos
aqui em Fortaleza (2009), quando o então prefeito
do Crato (Samuel Araripe), atendendo convite da Associação dos
Filhos e Amigos do Crato (AFAC), compareceu ao auditório da Câmara
dos Dirigentes Lojistas (CDL), a fim de discorrer sobre
sua gestão à frente da municipalidade.
Depois de muita rasgação
de seda nas preliminares e da exibição de belos
slides da cidade, lá pras tantas e aí já visivelmente incomodado
com as interrupções da sua fala e os recorrentes questionamentos a
respeito do “marasmo” da sua administração ou do “porque”
do Crato não conseguir acompanhar o pool desenvolvimentista da
cidade vizinha, Sua Excelência literalmente perdeu as estribeiras e
foi incisivo e contundente (ipsis litteris): “PESSOAL,
VOCÊS TÊM DE ENTENDER QUE O CRATO É FINAL DE LINHA; SÓ VAI AO
CRATO QUEM TEM NEGÓCIOS LÁ”.
Ou seja, não mais que de
repente, a posição geográfica do Crato (em relação à capital ou
a Brasília ???) foi usada e responsabilizada como
justificativa primeira e única para a sua visível estagnação, seu
progressivo esvaziamento, sua parada no tempo, sua inexorável
caminhada rumo a tornar-se uma “cidade-dormitório” da urbe
vizinha.
Só
não nos foi explicitado como é que a cidade vizinha, que
dista apenas 12 quilômetros da nossa, tudo consegue, o tempo todo e
com relativa facilidade, daí o acirramento da rivalidade
(e aí, querendo ser engraçado num momento que exigia
seriedade, o prefeito referiu-se a um certo cratense
que teria plantado em seu quintal um coqueiro enorme, objetivando não
enxergar a estátua de Cícero Romão, lá na serra do
horto; desnecessário dizer que não deu Ibope algum).
Pelo contrário,
estupefatos, os componentes da plateia se
entreolharam abismados e pasmos, num misto de espanto e decepção, à
procura de entender aquele testemunho patético sublinhado
de capitulação, acomodação ou simples descaso para com o destino
da cidade.
Definitivamente, não
estávamos ali para ouvir aquilo, mas a verdade é que,
ao vivo, perante todos nós, aquele que deveria representar a
esperança e o porvir de novos tempos, se nos mostrava, sim,
a impotência em forma de gente, o pessimismo em estado latente, a
desesperança em sua mais completa acepção, a incapacidade de
alinhavar palavras minimamente confortadoras aos seus
munícipes.
E então, lembramo-nos
do “testemunho-narrativa” que pessoalmente ouvimos
de um dos integrantes da comitiva que esteve em Fortaleza
quando da reunião com o então reitor da UFC (Renê
Barreira), onde definitivamente se bateria o martelo na
definição da localização do “Campus Cariri” da UFC (embrião
da UFCA): segundo ele, o prefeito do Crato (Samuel Araripe)
estava, sim, naquele dia em Fortaleza (onde tem
residência fixa à beira mar), mas teria se negado terminantemente a
comparecer àquele importante e decisivo evento para o futuro
da cidade do Crato, sob a justificativa de que a decisão já
houvera sido tomada e, pois, a sua
presença, não alteraria em nada o desenrolar do processo. Que os
“bois de piranha” (Jurandir Temóteo, Nezim Patrício e
outros) representassem a cidade e galhardamente
enfrentassem a travessia do rio, sozinhos.
Fato é que, nessa
balada, por preguiça, inaptidão para a função pública da sua
autoridade maior e/ou reconhecido isolamento
político (apesar de apoiado pelo mesmo Tasso
Jereissati, de agora), o Crato perdeu o Sesi, o
Sebrae, a Universidade Federal do Cariri, a Delegacia
da Polícia Federal, o Hospital Regional do Cariri, o Aeroporto da
Região, a Procuradoria da República, o Centec, a Justiça do
Trabalho, o Centro Cultural do BNB e por aí vai (não
esquecer o criminoso fechamento de diversas escolas
municipais, mormente nos distritos e zona rural).
Por essa razão, hoje
nos invade um sentimento de enorme
desesperança, pesar e decepção, quando
tomamos conhecimento que o PSDB, coligado com partidos
“barriga-de-aluguel” de matizes
ideológico-progmático os mais díspares
possível, oficializou a candidatura da mesma
figura (Samuel Araripe) para concorrer à
prefeitura da cidade, e com um adendo pra lá de
desestimulante: terá como candidato a vice-prefeito um jovem
cratense que passou boa parte da vida
curtindo as praias cariocas (Thales Macedo), espécie de genérico
do “playboy do Leblon” (Aécio
Neves), que não mais que de repente descobriu que o
Crato existe.
A pergunta que se
impõe, então, é: se “o Crato é final de linha”
porquanto “só vai ao Crato quem tem negócios lá”
(como publicamente declarou em 2009 o senhor Samuel Araripe),
como pensar em reconduzi-lo ao trono, já
que o atraso e a inoperância político-administrativa
caracterizaram seus 8 anos à frente do
município ??? Acharam pouco ???
Será
que Sigmund Freud explica ???