por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dolorosamente Português- Por Antonio Tavares Barbosa


Sabereis que um emigrante não deverá bendizer o destino. Em seu genético canteiro deserdado, orfão da pátria, viúvo da sorte, vai um homem mundo fora na aventura de côdea menos dorida. A outra, não menor e invisível oculta dor da saudade, cravou-se-lhe na alma e será sua indefectível companheira, até ao dia em que haverá (?) de regressar ao canteiro da aldeia ou vilória onde vagueiam as capitais memórias do imorredouro tempo de infância.

Ao certo, ninguém sabe porque pactua um homem tão irmamente com a terra de onde brotou para o mundo. Dizem alguns, ser da língua, outros do modo de ser de um povo, outros ainda, do sol, das romarias, dos cafés, dos adros das igrejas, do rosto dos velhos, das tabernas, do cheiro a tomilho, da rama de pinheiro, do alecrim, da maresia, finalmente, e porventura, a mais certeira: porque os olhos se afeiçoaram ao mundo primeiro na alma esculpido.

Sei, no cerne do espírito, que Portugal me faz uma falta danada, costumo até dizer entre gracejo e dor--mais dor que gracejo--que tenho na alma uma brecha do tamanho de Portugal. Também ouvi dizer a senhor muitíssimo letrado, peregrinante pelo mundo, que isto de emigrar é como perder um membro: cicatriza a chaga, mas a ausência, estará para sempre presente.

Um expatriado nunca imaginaria que, trocar promessas de farto pé de meia, pelo espinho da saudade, seria dilacerante negócio. Alma inominada--não se diz ter sido a terra e os personagens de infância que filiaram o ser? De si apartado, vai um emigrante em busca de aventura tornada pão, e a vida consuma-se num silente gemicar de saudade, nesta apátrida exclusão tecida.

Um país, são fragâncias de mar, rosmaninho, alecrim, foguetes, fontes, vermelhos-telha, vielas, sonância de uma língua que dedilha as cordas da alma, solenes cantigas de um povo, rostos--sobretudo rostos--que povoaram a infância e nela permanecem especados e são os inamovíveis marcos do tempo em que, sem o sabermos, sabêmo-lo agora, eramos felizes na inocência.

A maior condenação de um emigrante é viver de si próprio ausente, porque, tatuada de recordações, a alma anseia retornar aos locais onde repousa o arquivo das memórias-chave num tempo em que os olhos de tudo se enamoravam.

Um homem, desemparado do seu passado, é um ser irremediavelmente solitário, navegante sem história, nem referências viventes, a braços com um mundo estranho diluindo fonemas mal arremedados, porque a história de uma vida construiu-se na própria história de um país, acompanhada das ruelas, dos peculiares olfactos, da ressonância da língua, que é tão melódica como a alegria refulgida na alma, com que aprendi os primeiros ditongos e, embevecidos, desenhava com aparo e tinta as primeiras letras.

Ora, sabemos de fonte pura, que os angustiados não se quotizam em clubes, para minguar seus padecimentos pátrios, porque a angústia quer-se só, e os magoados, detestam convívio.

E de um ser dorido, sem a glória do triunfo no seu país, emudecido no silêncio apátrida, semeado pelas arestas do mundo emigrado que vos falo.

Li algures, não sei onde, sei que por verídica se me alojou na alma esta sentença: " quem da pátria se aparta de si se aparta".

Um homem não faz o mundo, mas conserva intacta e fiel no bojo da alma, a terra onde nele foi talhado para a vida.

Firmadas as cruciais memórias do outro lado do mar, de si ausente, finam-se os dias e o destino incumprido de português lá vai coabitando com fonemas arremedados. A vida cumpre-se em sobrevivência. E assim: sabemos que estamos vivos mas não vivemos.

Poucos actos se assemelham em tristeza à solidão do emigrante. Um homem leva um país no cerne da alma, mil memórias à terra grudada no canteirinho genesíaco. Para contrapor à penúria espiritual da sua exclusão pátria: mesa recheada e duas patacas para a incerteza da inglória velhice.

Tempos houve, em que os dias emigrados não detinham resquícios de memória, de forma que me afligia com o consumir das horas sem outras reminescências, para além de testemunhar apavorado a roda do tempo.

Arquivei da vida a fisiologia dos dias. Se alguma vezes me lamúrio deste pão de exílio, digerido com avantajadas fatias de saudade, logo me retruquem que não blasfeme, tenho o pãozinho sobre a mesa, que mais pretendo eu?

Fiquei a saber um dia, que ao emigrante não lhe é consentido edificar sonhos, prolongados além dos alicerces do pão. Que a fartura de côdea com miolo nunca emigraram meu caro. Um país nunca exporta a sua burgesia. Por mais engulhos que te cause vai digerindo de mansinho. Com os ouvidos limpidos e desempoeirados, escuta: emigrar é fatal e dolorosamente uma aventura em trapos tecida.

Dizia-me um dos raros sábios, por este portugalinho emigrandado, que por aqui outra espiritualidade se não conhece que não seja a materializacão do espírito que consiste em acumular para justificar esta ausência de nós, ou seja suprir o espírito do enlevo da matéria. Vive-se por aqui, hipotecado ao futuro, porque o presente circunscreve-se em torno do sonho do regresso.

Regozijaria ao ver redimida esta materialização absoluta. Alguns curas que por aqui demandaram em busca da alma do cifrão, possessos da valia centuplicante do dólar, iniciaram o processo de santificação da vil pataca. De uma madre Teresa, de um filantrópo ou mecenas por aqui arribado, para minorar os padecimentos desta gente a esbracejar, perdida numa lingua crivada de arestas e hábitos libertinos que anatematizam os sacrossantos valores da aldeola ou vilória onde se talhou a mente, não há sequer indícios.

Toda a poesia por aqui existente, bebe a sua despudorada lirica dos tentáculos do cifrão. Ou muito me engano, ou grande parte dos destronados da pátria perdeu a nobre virtude da compaixão e não se vislubram os mínimos vestígios de solidariedade.

Sobreviva sem padecer, aconselhava-me um dos desventurados pátrios, e será um herói. Esqueça-se de si, pense simplesmente no futuro dos seus filhos, que o futuro deles seja canadiano ou francês pouco inporta, importa que sejam homens que não tenham de ficar eternamente divididos como eu e o meu amigo.

Rendi-me, mas logo a alma me ficou anuviada, quando pensei que o meu elo de portugalidade era ali mesmo truncado. É assim uma morte dupla, esta de sabermos que as nossas raízes não se perpetuam na fidelidade da terra que as talhou.

Quando procurava no tempo uma explicação para trinta anos de vida esvaída no calvário emigratório, os dias eram de aflição, onde colocara eu esta grossa fatia da vida?

Sabia que existira, mas não conservava memória do tempos, para além da familia, portugueses e canadianos, que vão tentando reconcilar, nem sempre pacificamente, os valores lusitanos com as algumas incongruências canadianas. Duplamente negado no silêncio amargo dum viver arremedado, sou este ser desventrado do espírito das coisas e pessoas que moldaram o meu olhar para o mundo.

Estrangeirado lá, no meu querido portugalório, estrangeiro aqui, assim vou interpetrando a (sobre)vivência destes dias sem história, nesta heróica exclusão em que marginalmente vivo.

Por um naco de pão menos torturado (será?) a amargura de ser infiel ao próprio viver, ao desígnio da minha portugalidade.

Emigrar. Tempo parado no exacto dia em que demandei o promissor reino da pataca.Fonemas mal arremedados, gente que não compreende o alecrim, nem o cheiro a jarro, nem os foguetes, nem as colchas, debroadas a esmero, pendentes das janelas que vibram de santificação em dia de festa.

Quando a ressureição consistia no regresso, ainda havia uns fios de crença, agora que o pão me condenou perpetuamente a alimentar-me de estranhas espigas, por dívida para com os meus filhos, reconheço que nunca tive o beneplácito dos deuses.

Sou este ser deambulante pelo mundo, recheado de sonhos de pão farto e regresso, sem outra esperança que não sejam os próprios braços, mais a solidão emigratória de nunca pertencer. Nao me venham pois falar de sorte que vos esconjuro. Ai, António, que é feito da tua fé?

Oh, ruelas tortuosas e empedradas na minha história. Oh, rostos que povoaram o mundo da infância, como vos sinto a sufocante lonjura. Emigrar. Consciência dorida de não ser parte. Exclusão dolorosa do próprio viver. Uma língua, uma cultura, mil jeitos de ser, permanecerão tatuados na alma emigrada. Para sempre.

Por uma côdea, um exílio dourado que nenhum sonho, por mais aurífera, redimirá.Na alma um passado cerceado. O presente é um acto de mera sobrevivência. Com mais farturinha, é certo. Ora uma codêa a nortear toda uma vida... Oh, tamanha desventura subjugada a um destino no pão alheio traçado.

Sou homem de vida enleada nas teias da saudade. Nunca o malfadado pão deste exilado viver, deveria ter o inefável custo desta vivência.

Emigrante, vivente, de mim estranho, aguardando reencontro com o pé de meia a prometer velhice farta. Portugalidade incumprida. Ninguém mais carente de sonho, da ilusão, de esperança para sobreviver que eu senhor de duas pátrias, sem mundo.

Transpor fronteiras, galgar oceanos, pelo sonho que redunda em exclusão. Navego no bojo de alheia terra, tendo por bússola o sempre adiado regresso. Renunciei à autenticidade de um viver português que me fora destinado. Um destino pátrio não se finta, incólume, porque é condição humana ser-se fiel à língua a à terra que moldaram o ser para o mundo. No dia em que emigrei, deixei de celebrar a vida, e aprisionei-me nas malhas, pelos meus filhos tecidas, na prometida terra da abundância.

Agora, eles são canadianos puros. Enquanto eu viver, manter-lhes-ei, a memória gastronómica da pátria, com rojões, sopa de feijão, morcela e torresmos. Eu, com fidelidade absoluta, olho-me, sinto-me e penso-me, irremediável e dolorosamente português. Português amargo, para o resto de meus dias.

Luz, no azul ! - Pensamento de Corujinha Baiana pinçado nos bastidores.



Ética - atitude fundamental no relacionamento do ser humano, seja na profissão (não criticando os colegas, não falando de ex-Chefes ou ex-Empresas...), no consultório médico, (não criticando o colega do outro), e até nesse imenso e traiçoeiro mundo virtual que é a Internet.


Atrás do azul, tem luz estelar !




Por Stela Siebra, comentando um texto de Carlos Esmeraldo

"Confiar nas pessoas era uma virtude natural e espontânea."

Infelizmente os valores mudaram muito, ou pior, não existem. É muito duro constatar isso, parece sempre que estamos dizendo que o tempo presente não presta, tudo é supérfluo,imediato, sem ética, sem respeito. É, mas tem exceções.

Eu sempre acredito no lado bom das pessoas, quem quiser que me chame de "romântica, ingênua, fora do tempo". É que pra mim, pensar de forma positiva é o melhor caminho para construir um mundo melhor, onde reine um pouco de harmonia e de confiança no futuro.
A vida no planeta tá cheia de mazelas e desequilíbrios? Tá sim.
Mas um jeito de minorar a feiura, é pensar que existe beleza escondida por aí, e que existe bondade, e que podemos plantar confiança no coração das pessoas.

* Stela esta foto é maravilhosa. Quem é o autor?

DO BAÚ DE STELA

Presentes do Pai

Todo dia recebo presentes de Deus. Simples ou grandiosos, comuns ou inusitados me chegam como dádivas que Ele me manda.
Ontem eu recebi de presente um belo por de sol, que se despedia ao som do bolero de Ravel, banhando de dourado as águas do rio Paraíba, numa comunhão de harmonia sagrada entre céu e terra.
Hoje Ele me mandou mangas espada, através de Madalena.

Madalena tem quase 77 anos, sorriso de menina, olhos de ternura.
Caminha na beira-mar todas as manhãs, arrastando as chinelas enquanto assobia, sabe-se lá que canções, o olhar nadando em riso abençoa os que cruzam com ela. Fala mansa, suave. Carinhosa, deseja Bom dia. E segue com seu passinho miúdo.
Coração cheio de bondade, Madalena semeia ternura no seu caminhar.
O vento feliz faz um agrado nos seus cabelos. O mar joga uma onda para brincar nos seus pés.
E Madalena mergulha nas águas mornas. O mar lhe dá banho, o vento penteia seus cabelos e enxuga seu corpo. Iemanjá lhe traz conchinhas e algas marinhas. Cochicha-lhe segredos de novas canções. Madalena sorri agradecida. E volta pra casa, vai cuidar das plantas, vai cozinhar seu feijão.

Encontro Madalena voltando do seu banho de mar. Me oferece mangas, diz que vá pegar na sua casa quando eu voltar da minha caminhada.
E assim eu fiz.
Bato na porta da casa humilde. A cachorra anuncia minha chegada. E lá vem Madalena com a sacola de mangas do seu quintal.
Linda. Serena. Simples, Pura. Veste apenas um velho maiô, desbotado, folgado no seu corpinho já enrugado. Um maiô azul claro, com enfeite branco.
Homenagem a Nossa Senhora da Conceição? Pedido de proteção a Iemanjá?
É uma visão enternecedora: aquela velhinha de maiô azul e branco na porta de casa, numa manhã de 8 de dezembro, carregando uma sacola com mangas espada para dá-las a uma amiga.
Existe uma beleza tão puramente divina no seu gesto, no seu corpo, na sua alma!
Madalena é linda!
Basta olhá-la com os olhos do coração. E agradecer ao Senhor a beleza desse momento.
Uma anciã cheia de ternura, vestindo maiô surrado, me ofertando mangas na porta da sua casa.
Como a vida me tem dados presentes!

Olinda, 8 de dezembro de 2003

Stela Siebra Brito

" Rumba Azul "

Composição de Armando Oréfiche, e gravação de sucesso internacional de 1934, dos "Lecuona Cuban's Boys".





Poema sobre pipocas - Colaboração de Edmar Cordeiro

Por Francisco Azevedo


Ouço os grãos que rebentam

feito gente

sementes germinadas

no alumínio

fundo escuro

da panela.



Flores brancas

súbitas

de perfume quente

pelo fio sinuoso

da fumaça.



Flores doces

salgadas

servidas na hora

(não em buquês

mas em punhados).



Flores atômicas

nascidas do fogo

numa explosão

sem haste.



(New York, 1982)
Em: A casa dos arcos, Francisco Azevedo, Paz e Terra: 1984, Rio de Janeiro
Francisco Azevedo, (Rio de Janeiro, RJ , 23/2/1951) – formado em direito, diplomata, escritor, roteirista, cinematógrafo e poeta

Tromba d´água em Crato - Emerson Monteiro


Após manhã e tarde de sol intenso, a noite de 27 de janeiro de 2011 também se mostrou de tempo aberto e estrelas no céu. É tanto que, às 20h15, estávamos, Igor e eu, nas arquibancadas do Estádio Mirandão assistindo à partida de futebol entre o Crato e o Ceará, pelo Campeonato Cearense. Durante o jogo, no entanto, abriam alguns relâmpagos baixos para os lados do Nascente e do Norte. Ao final, o time cratense saia derrotado pelo placar mínimo.
Recolhera-me às 22h20, observando a preparação de chuva nos sinais do vento e nos relâmpagos por cima da serra, para as bandas de Pernambuco, donde, conforme minhas experiências pessoais de poucos anos, vêm ao vale chuvas de mais intensidade.
Assim, durante a madrugada desse dia 28 de janeiro, acordaria por cinco vezes, considerando relâmpagos e trovões em larga quantidade, mantidos na pancada constante de fortes precipitações, qual ainda não se deu na presente quadra invernosa.
Choveu a madrugada inteira, chuva grossa e persistente. Algumas vezes cortou a corrente elétrica, o que de comum acontece nas situações de muitos raios.
Pela manhã, ao sair para levar as meninas ao colégio, apenas neblinava pouco, no entanto o chão encharcado transparecia o quanto chovera além da conta na madrugada.
Pelos estragos que encontraríamos no percurso da descida, imaginamos as consequências logo em seguida presenciadas às margens do canal do Rio Grangeiro, dentro da cidade.
De máquina em punho, sai fotografando desde a ponte da Integração, próxima à igreja de Nossa Senhora da Conceição, até o término do Canal, imediações do Presídio, num rastro de destruição que jamais verificara nesses 50 anos.
Postes arrancados pelo tronco, carros arrastados na correnteza e jogados contra muros e calçadas, casas invadidas, asfalto eliminado ou levantado, portões de ferro arrombados, prédios em ruínas, móveis encharcados, pontes de ferro destroçadas, pontes de cimento e ferro abaladas nas estruturas, ou com varandas zeradas e substituídas de entulhos, árvores inteiras trazidas na força das águas, e, à medida que desci com lama nos tornozelos, num exercício de equilíbrio e paciência, após a Prefeitura, entrei na Rua Monsenhor Esmeraldo, onde funcionam armazéns de estivas e cereais e outras casas de comércio, testemunhando sempre os danos provocados pela violenta enchente. Houve comércios que registraram por volta de um metro e meio d´água dentro dos estabelecimentos a dezenas de metros do rio. Devido aos riscos da cheia no interior do Presídio, os detentos foram deslocados para Juazeiro do Norte.
A intensidade das chuvas da madrugada chegou a 163mm no centro de Crato, porém escoaram pelo Rio Grangeiro inclusive as chuvas das encostas da Serra, onde estimam-se maiores as precipitações, acima de 200mm, isto para um curto tempo de quatro horas, na ação do fenômeno atípico.

Sonho - Por Rosa Guerrera



SONHO

UMA CHUVA FININHA MOLHA A MADRUGADA.
MEUS SONHOS TAMBÉM MOLHADOS
VAGUEIAM NO SILÊNCIO DO VAZIO ...

ATRAVESSO AS RUAS DOS TEMPOS VIVIDOS
E ESCUTO VOZES JÁ ESQUECIDAS NA MINHA MENTE .

E A INFÂNCIA HOJE DISTANTE
SENTA AO MEU LADO
ME FAZENDO ACREDITAR MAIS UMA VEZ
QUE EXISTE UM SÃO JORGE A CAVALGAR NA LUA .


ROS@
* poema inédito de Rosa Maria Guerrera Pimentel, autorizada a publicação por e-mail.






Juazeiro do Norte- As chuvas que ocasionaram o transbordamento do canal do Rio Granjeiro em Crato começaram a chegar no rio Salgadinho por volta das 8 horas em Juazeiro do Norte, causando destruições em várias localidades. No bairro do Socorro o rio saiu do leito e invadiu algumas casas.
Fonte: Site Miséria

O céu do Crato- por Tânia Peixoto

A pedra da memória

Rio Tietê, com olarias ao fundo, visto da Ponte Campos Salles, a "Ponte Velha"
ou "Ponte de Ferro", entre Barra Bonita e Igaraçu do Tietê, SP.




                               
A PEDRA DA MEMÓRIA


Plantei a pedra da memória na montanha.
Passei por aqui, neste lugar morreram
os meus pais, meus irmãos, meus avós.
Este é o tempo do infortúnio.
Jejuei na gruta do abandono
com os morcegos e as traças.

Os meus pés amassavam a argila de Deus.
Os meus dedos iriam, um dia, moldar a argila
em forma de cântaros preciosos.
Os meus lábios lhe iriam dar vida
com o sopro do verbo.
O verbo de Deus sopraria dos meus lábios
e os cântaros cantariam a música do eterno.

As cidades miseráveis do homem.
Os labirintos de cifras das cidades do homem
edificadas sobre o farelo dos desejos.
As palavras são intermináveis e não dizem nada.
Os lábios não beijam,
as línguas estão secas da saliva do espírito.
Os corações não têm sangue, mas números.
Os livros contêm resultados, são a tumba do olvido.

Eu sou o filho pródigo, retorno à casa do Pai.
Os jornais recolhem os excrementos das moscas,
eu retorno à casa do Pai.
O povo delira sob a fuligem do céu,
sob os tetos de vidro e aço,
exposto ao sol negro, que queima a alma.
Eu volto derrotado à casa do Pai,
mas ainda tenho o verbo de Deus nos lábios.

Os espinhos perfuram os meus pés.
A urtiga dilacera a minha face.
Somente o verbo fala comigo.
Ouço, no vento que passa, a voz de Deus.
Não entendo o mistério, mas sei que ouço a voz de Deus.

Um pássaro voou da árvore de fogo,
pousou no meu ombro com as garras vermelhas,
cantou as sílabas do verbo, impronunciáveis.
Amei a beleza desse canto, decifrei seu enigma:
é a rosa, a essência da rosa, a face de Deus.

Prostrei-me diante do altar.
Voltei as costas aos ratos insaciáveis.
Sigo a estrela. A porta está aberta.
Carrego nos ombros os cântaros do verbo,
com a água límpida do espírito.



Notícias do Crato







Fotos da destruição causada pelas chuvas no município do Crato
Agência bancária, lojas e casas alagadas. Depois das águas, comerciantes tentaram recuperar os produtos.

Por: Márcio Dornelles

As chuvas, que alcançaram o volume de 162 milímetros no Crato, segundo a Fundação Cearense de Meteorologia (Funceme), causaram muita destruição no município. Para os moradores, é praticamente impossível transitar pelo Centro, onde comércios e ruas estão cobertos de lama.

Confira imagens da situação da cidade. Fotos da correspondente Jaqueline Freitas.

Ética e Postura (Reflexão) Liduina Belchior.

Estive pensando e penso sempre, como é infinita a beleza da pessoa ética. Aproveito para pedir desculpas a humanidade pelas vezes que por ventura faltei com essa virtude. Conceituando a palavra segundo pesquisa em dicionário, ética vem do grego "ethos" que significa analógicamente modo de ser ou caráter enquanto forma de valores que orientam pessoas e sociedades. Uma pessoa é ética quando se orienta por princípios e convicções levando-a a possuir bom caráter, boa índole.

Na minha opinião, o ser humano ético é aquele que é tolerante com o outro, fiscal de si mesmo, não perde o eixo nem as "rédeas" do seu comportamento, não é arrogante, não está sempre a se auto elogiar, reconhece a potencialidade dos outros, não cultiva a prática da bajulação e percebe no próximo a sua superioridade. Ser ético é ainda possuir a função das raízes "que embora escondidas, sustentam a vida, a beleza e os frutos da árvore". Ser ético é transcender, não querer ultrapassar as pessoas, superar as falhas... Enfim ser ético é exercitar virtudes; elas nos "libertam da ansiedade e do medo, por conseguinte nos livra da perplexidade", segundo autor desconhecido.
E para atingir esse estágio de plenitude, é necessário passar por um processo gradual mas incisivo de construção e ou reforma na performance da personalidade.

VIVA O RESPEITO HUMANO!

Nota, recebida por e-mail

Projeto obriga os eleitos a matricularem seus filhos em escolas públicas.
Uma ideia muito boa do Senador Cristovam Buarque.
Ele apresentou um projeto de lei propondo que todo político eleito (vereador,prefeito, Deputado, etc.) seja obrigado a colocar os filhos na escola pública.
As conseqüências seriam as melhores possíveis.Quando os políticos se virem obrigados a colocar seus filhos na escola pública,a qualidade do ensino no país irá melhorar. E todos sabem das implicações decorrentes do ensino público que temos no Brasil.
Ela pode, realmente, mudar a realidade do nosso país.
O projeto PASSARÁ, SE HOUVER A PRESSÃO DA OPINIÃO PÚBLICA.

http://www.senado.gov.br/atividade/materia/detalhes.asp?p_cod_mate=82166

PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 480, DE 2007
Determina a obrigatoriedade de os agentes públicos eleitos matricularem seus
filhos e demais dependentes em escolas públicas até 2014.

PARABÉNS PARA O SENADOR CRISTOVAM BUARQUE.
BOA SORTE JUNTO A SEUS PARES.

IDEIA SENSACIONAL!


Pedro de Alcântara Pitombeira Maia
Coordenador do Núcleo Dirigente
Território da Cidadania de Sobral

Lúcio Alves. Quem gosta, quem lembra ?




Lúcio Ciribelli Alves (Cataguases, 28 de janeiro de 1927 — Rio de Janeiro, 3 de agosto de 1993) foi um cantor e compositor brasileiro.

Cheiro De Saudade

é aquele cheiro de saudade
que me tras voce a cada instante
folhas de saudade marcas pelo chao
é uma dor enfim no coraçao

é talvez que é tempo de saudade
trago o peito tao carregadinho
sofro de verdade fruto da saudade
sem o teu carinho

quem semeia vento
colhe tempestade
quem planta amor
colhe saudade

Gosto também desta música interpretada por Maysa ou Miltinho.
A melodia é linda, linda !!

Fotos de Emerson Monteiro

Emerson é como aquele barco... Espera, numa margem de rio, transportar alguém para a outra margem. Promove oportunidade de mudança, de movimento,para o encontro de uma nova realidade.
A imagem de Emerson, autor da foto, está imersa na luz.











Morte ou Vida ?

As chuvas caíram descontroladas, na madrugada de hoje.
As casas amanheceram com infiltrações e encharcadas de lama.Papeis molhados, calçados que gostam de morar debaixo das camas já eram!
Os jovens ainda dormem, enquanto as vassouras e rodos trabalham.
Fico apreensiva. As enchentes são avassaladoras.
Meu Deus, cadê o equilíbrio que vivemos a perder e a recuperar?
Anjos em guarda...Só nos resta rezar!
E tudo ainda é mínimo diante de outros acontecimentos. Estas amostras da natureza nos fazem lembrar que somos impotentes, diante de quase tudo, mas podemos acordar para o superar-nos!
Quando morremos viemos para a Terra ( campo de provação) para novas aprendizagens, no caminho da evolução.Voltar para casa é morrer na Terra. Voltar bem é cumprir todos os propósitos aos quais viemos.
São muitos os mundos paralelos...Nem quero pensar no assunto.
Limitação é pensar que somos terráqueos tão somente. Somos passageiros na Terra, com uma roupa temporária : a carne. Responsáveis por ela, cuidemos-la, enquanto pudermos. Depois é descartada, vira cinza , que aduba o que refloresce.Temos outros corpos, outras peles, certamente de um material irreversível: luz !
O caminho de volta é feito no dia a dia, todos os dias...Morte ou Vida ?

socorro moreira
A dimensão dos estragos vão além do imaginável.Vou encontrar notícias precisas.

A confiança

Confiar em estranhos? Quem haveria de assim proceder nos tempos atuais? Seria de pronto classificado como uma pessoa ingênua. Temos a impressão de que esse mundo está completamente perdido. Será mesmo? Eu, pelo menos, acredito nas pessoas. Às vezes, todos acreditam. Quem de nós não aceita como certa a informação de um estranho ao indagarmos um endereço em alguma cidade ou bairro desconhecido?

No último fim de semana que eu passei no Crato, esqueci de colocar gasolina no carro e a caminho do aeroporto, onde fora esperar uma sobrinha da minha nora, como era previsível acontecer, o veículo parou. Isto é: eu fiquei “no prego” de motorista. Como não havia nenhum posto de gasolina nas imediações, não tive dúvidas: ao primeiro moto-taxista que passou, resolvi lhe entregar uma cédula de cinqüenta reais, para que ele me trouxesse gasolina suficiente para me tirar daquela situação desagradável. Na aflição em que eu me achava, esqueci de perguntar pelo nome daquele salvador e de anotar o número da placa da sua motocicleta. Um risco: concordarão todos. Mas menos de dez minutos depois, o motociclista chegou com a gasolina, tendo prestado conta bem direitinho do dinheiro que eu lhe havia confiado. E ainda me ajudou a repor o carro em funcionamento, desobstruindo a alimentação do carburador, que como era natural, ficara entupido.

Já vai longe o tempo em que confiar nas pessoas era uma virtude natural e espontânea. Homens e mulheres carregavam dentro de si uma áurea de honestidade e de confiança mútua.

O historiador cearense Raimundo Girão, em seu livro de memórias “Palestina, uma agulha e as saudades”, nos revela que seu tio Luis Eduardo Girão, mais conhecido por Lulu, era um homem que confiava cegamente na honestidade dos outros. E sempre era correspondido.

Lulu era um misto de delegado, comerciante, fazendeiro e entendido em medicina na Morada Nova do final do século XIX e início do século XX. Espirituoso, excelente papo, possuía um coração que mal cabia dentro dele. Por mais de trinta anos, Lulu foi Delegado de Polícia de Morada Nova e graças ao seu bom humor e confiança no ser humano possuía um elevado grau de persuasão, obtendo assim os acordos mais improváveis possíveis. Sua casa era cheia de amigos e de pessoas necessitadas que enchiam a sua mesa na hora do almoço ou jantar.

Certa vez, no inicio de uma tarde quente de outubro, debaixo de um sol escaldante, Lulu viu passar pela estrada defronte da sua casa um homem solitário, com uma pequena maca às costas. Perguntou: “Amigo, de onde você vem e para onde vai debaixo desse sol de rachar?” “Venho de Canindé e vou para o Rio Grande do Norte.” Respondeu o andarilho. “Venha descansar um pouco e almoçar conosco. Vou lhe emprestar um cavalo para o senhor não seguir essa viagem tão longa, a pé.” Insistiu Lulu. E assim procedeu. Alguns amigos duvidaram se ele algum dia viria novamente aquele cavalo. Porém, dias depois, uma caravana de romeiros do Rio Grande do Norte, devotos de São Francisco, trazia de volta o cavalo de Lulu e os arreios.

Ah, que bons tempos aqueles!... E como o mundo seria bem melhor se a gente pudesse restabelecer esse grau de confiança no ser humano! Se tentarmos, será possível.

Por Carlos Eduardo Esmeraldo