por José do Vale Pinheiro Feitosa
Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.
José do Vale P Feitosa
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Ernesto Nazareth
Hilda Hilst
Hilda de Almeida Prado Hilst (Jaú, 21 de abril, 1930 — Campinas, 4 de fevereiro de 2004) foi uma poetisa, escritora e dramaturga brasileira.
Poemas aos Homens do nosso tempo
Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
***********
Ao teu encontro, Homem do meu tempo,
E à espera de que tu prevaleças
À rosácea de fogo, ao ódio, às guerras,
Te cantarei infinitamente à espera de que um dia te conheças
E convides o poeta e a todos esses amantes da palavra, e os outros,
Alquimistas, a se sentarem contigo à tua mesa.
As coisas serão simples e redondas, justas. Te cantarei
Minha própria rudeza e o difícil de antes,
Aparências, o amor dilacerado dos homens
Meu próprio amor que é o teu
O mistério dos rios, da terra, da semente.
Te cantarei Aquele que me fez poeta e que me prometeu
Compaixão e ternura e paz na Terra
Se ainda encontrasse em ti, o que te deu.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão(1974) - Poemas aos Homens do nosso Tempo - IX) [in Poesia: 1959-1979/ Hilda hilst. - São Paulo: Quíron; (Brasília): INL, 1980.]
Um assunto puxa outro ... - Por Socorro Moreira
A Marcha da Apuração.
E o rádio, urna por urna, nos passava os números.
Pequena ainda, já anotava e examinava as possibilidades. Meu pai comentava: não fique triste... Quando chegar no Lameiro, S.José e Ponta da Serra, a gente dispara, e vence as eleições.Minha mãe não saia do pé do rádio, mas seu voto era secreto. Não declarava, nem a pau, em quem votava. Era comadre de Dr. Ossian, de Dr. Derval, e muito amiga de Seu Pedro Felício. Vivia no fogo cruzado, e apaziguava os ânimos do sangue político dos Moreira.
Comício era uma festa. Banda de música e carnaval nas passeatas, antes e depois das eleições. Na Escola, naquelas épocas (anos 50 e 60), a turma se dividia, se intrigava... Lembro que eu tinha receio de entrar em conflito com os meus amigos, mas vestia a camisa da UDN.
Torcia, como torço pelo Vasco até hoje. Era seguidora do homem que eu admirava por todos os seus talentos, principalmente artísticos: meu pai!
* A UDN foi derrotada, quando perdeu o apoio do S.José, e teve a Ponta da Serra dividida, acho!
Tudo isso é passado !
A nível nacional , anos depois, entendi melhor as propostas destes extintos partidos. Fui atrás de entender a filosofia de Marx...!
Graças A Deus ( não sou materialista) vi com bons olhos todas as doutrinas socialistas, e busquei o espírito democrático, sempre !
Gostaria que Carlos, Zé Flávio, Everardo, Zé do Vale,Joaquim , Mariano... Abordassem este tema.Eles teem a propriedade que me falta.
E o rádio, urna por urna, nos passava os números.
Pequena ainda, já anotava e examinava as possibilidades. Meu pai comentava: não fique triste... Quando chegar no Lameiro, S.José e Ponta da Serra, a gente dispara, e vence as eleições.Minha mãe não saia do pé do rádio, mas seu voto era secreto. Não declarava, nem a pau, em quem votava. Era comadre de Dr. Ossian, de Dr. Derval, e muito amiga de Seu Pedro Felício. Vivia no fogo cruzado, e apaziguava os ânimos do sangue político dos Moreira.
Comício era uma festa. Banda de música e carnaval nas passeatas, antes e depois das eleições. Na Escola, naquelas épocas (anos 50 e 60), a turma se dividia, se intrigava... Lembro que eu tinha receio de entrar em conflito com os meus amigos, mas vestia a camisa da UDN.
Torcia, como torço pelo Vasco até hoje. Era seguidora do homem que eu admirava por todos os seus talentos, principalmente artísticos: meu pai!
* A UDN foi derrotada, quando perdeu o apoio do S.José, e teve a Ponta da Serra dividida, acho!
Tudo isso é passado !
A nível nacional , anos depois, entendi melhor as propostas destes extintos partidos. Fui atrás de entender a filosofia de Marx...!
Graças A Deus ( não sou materialista) vi com bons olhos todas as doutrinas socialistas, e busquei o espírito democrático, sempre !
Gostaria que Carlos, Zé Flávio, Everardo, Zé do Vale,Joaquim , Mariano... Abordassem este tema.Eles teem a propriedade que me falta.
Uma lição de civilidade – Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Vivíamos no Crato, em outubro de 1958, eleições disputadíssimas. Concorriam ao cargo de prefeito o senhor Pedro Felício Cavalcante pelo PSD e José Horácio Pequeno pela UDN. Os comícios eram concorridíssimos de cada lado. Os udenistas chamavam os pessedistas de “gogó”, e eu nunca soube o porquê, e estes replicavam que os udenistas eram os “carrapatos”, talvez numa referência a esse partido ter vencido várias e sucessivas eleições. O meu pai concorria ao cargo de vice-prefeito na chapa da UDN. Era a primeira vez que esse cargo, desnecessário ainda hoje, era disputado.
Gerson Moreira, um dos meninos mais udenistas que conheci, desde criança um líder natural, organizou um comício dos meninos que a cada dia ganhava mais adeptos. À medida que as eleições se aproximavam mais gente acorria ao comício dos futuros políticos da nossa cidade. Surgiram palanques, sistema de som, todo requinte que os comícios dos políticos de verdade tinham.
Pedro Felício concorria pela quarta vez e compuseram uma paródia musical cujo refrão eu guardo na memória: (“hei Pedro Felício, hei seu teimosão, hei esta será a quarta decepção...”).
Certa noite, houve um desses comícios dos meninos defronte a casa do senhor José Honor de Brito, na Rua José Carvalho, bem perto de onde eu morava. Gerson, quando me viu, me convidou para o palanque e após alguns oradores falarem muito bem, me surpreendeu dizendo: “Agora vamos ouvir o filho do futuro vice-prefeito do Crato!” E de súbito, eu me vi engasgado, com o microfone nas mãos, todo trêmulo e sem saber o que falar. Então cochichei para o Gerson: “O que é que eu digo?” E alguém não identificado respondeu: “Diga que Pedro Felício é um ladrão!” Repeti como uma marionete esse recado, sem ao certo imaginar o que estava dizendo e fui muito aplaudido pela platéia que enchia a rua defronte do palanque.
Ao final daquele comício mirim que se encerrava cedo, provavelmente às oito horas da noite, voltei para casa satisfeito, crente que havia colaborado para eleição do meu partido. Mas por cerca das dez horas daquela mesma noite, eu fui bruscamente acordado pelo meu pai. Após a aplicação do corretivo usual para a educação daquele tempo, uma expressão que meu pai usou ficou para sempre no meu íntimo: “Pedro Felício é um homem de bem, é muito honesto e meu amigo. Eu não admito que você volte a falar o que falou dele! E está proibido de ir a esses comícios.” Realmente observava que papai se dava bem com todos os políticos do PSD e com seus eleitores também. Certa vez ele viajou com Pedro Felício, Jósio Araripe e outros amigos a Minas Gerais para comprarem gado da raça gir e nelore, ainda não existentes na nossa região. Muitos dos primos e primas do meu pai, da família Pinheiro eram do PSD e jamais houve inimizade entre eles.
Terminada a apuração da cidade, naquela época apuravam-se em primeiro lugar os votos das urnas da cidade e depois a votação dos distritos, Pedro Felício vencia o pleito com uma boa maioria, algo em torno de mil votos, se não me falha a memória. Para vice-prefeito, votava-se em separado, meu pai tinha quase a mesma votação que seu Pedro. Os “pessedistas” já comemoravam a eleição como certa. Diziam que aquela diferença não daria para os currais udenistas desfazerem.
Assistíamos ansiosos os resultados dos distritos e zona rural. Estávamos nas últimas urnas e a diferença cada vez mais sendo desfeita. Encerrada a apuração registrou-se a vitória do prefeito José Horácio Pequeno por uma pequena maioria, creio que 58 ou 63 votos, não lembro ao certo, só que foi por um valor muito pequeno. Eu estava presente ao encerramento daquela apuração, observando de longe a reação dos derrotados. Pedro Felício colocou o chapéu na cabeça, desceu humildemente as escadas da antiga prefeitura, onde hoje fica o museu do Crato, e se dirigiu à Rua Nelson Alencar, residência de José Horácio Pequeno.
A molecada acompanhava cantando o hino do “teimosão”. Vi quando ele entrou na casa do prefeito eleito, cumprimentou-o efusivamente, desejou os maiores êxitos para sua administração, bebeu o que lhe foi oferecido pelo anfitrião, participou da alegria dos vitoriosos por alguns minutos e, em seguida rumou para nossa casa para cumprimentar meu pai. Aquela atitude foi uma das maiores demonstração de urbanidade que eu já presenciei num homem público.
Quatro anos mais tarde, a UDN foi derrotada, e o Senhor Pedro Felício elegeu-se prefeito do Crato, na quinta tentativa.
Em 1972, candidatou-se uma segunda vez e mais foi reconduzido à prefeitura.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Gerson Moreira, um dos meninos mais udenistas que conheci, desde criança um líder natural, organizou um comício dos meninos que a cada dia ganhava mais adeptos. À medida que as eleições se aproximavam mais gente acorria ao comício dos futuros políticos da nossa cidade. Surgiram palanques, sistema de som, todo requinte que os comícios dos políticos de verdade tinham.
Pedro Felício concorria pela quarta vez e compuseram uma paródia musical cujo refrão eu guardo na memória: (“hei Pedro Felício, hei seu teimosão, hei esta será a quarta decepção...”).
Certa noite, houve um desses comícios dos meninos defronte a casa do senhor José Honor de Brito, na Rua José Carvalho, bem perto de onde eu morava. Gerson, quando me viu, me convidou para o palanque e após alguns oradores falarem muito bem, me surpreendeu dizendo: “Agora vamos ouvir o filho do futuro vice-prefeito do Crato!” E de súbito, eu me vi engasgado, com o microfone nas mãos, todo trêmulo e sem saber o que falar. Então cochichei para o Gerson: “O que é que eu digo?” E alguém não identificado respondeu: “Diga que Pedro Felício é um ladrão!” Repeti como uma marionete esse recado, sem ao certo imaginar o que estava dizendo e fui muito aplaudido pela platéia que enchia a rua defronte do palanque.
Ao final daquele comício mirim que se encerrava cedo, provavelmente às oito horas da noite, voltei para casa satisfeito, crente que havia colaborado para eleição do meu partido. Mas por cerca das dez horas daquela mesma noite, eu fui bruscamente acordado pelo meu pai. Após a aplicação do corretivo usual para a educação daquele tempo, uma expressão que meu pai usou ficou para sempre no meu íntimo: “Pedro Felício é um homem de bem, é muito honesto e meu amigo. Eu não admito que você volte a falar o que falou dele! E está proibido de ir a esses comícios.” Realmente observava que papai se dava bem com todos os políticos do PSD e com seus eleitores também. Certa vez ele viajou com Pedro Felício, Jósio Araripe e outros amigos a Minas Gerais para comprarem gado da raça gir e nelore, ainda não existentes na nossa região. Muitos dos primos e primas do meu pai, da família Pinheiro eram do PSD e jamais houve inimizade entre eles.
Terminada a apuração da cidade, naquela época apuravam-se em primeiro lugar os votos das urnas da cidade e depois a votação dos distritos, Pedro Felício vencia o pleito com uma boa maioria, algo em torno de mil votos, se não me falha a memória. Para vice-prefeito, votava-se em separado, meu pai tinha quase a mesma votação que seu Pedro. Os “pessedistas” já comemoravam a eleição como certa. Diziam que aquela diferença não daria para os currais udenistas desfazerem.
Assistíamos ansiosos os resultados dos distritos e zona rural. Estávamos nas últimas urnas e a diferença cada vez mais sendo desfeita. Encerrada a apuração registrou-se a vitória do prefeito José Horácio Pequeno por uma pequena maioria, creio que 58 ou 63 votos, não lembro ao certo, só que foi por um valor muito pequeno. Eu estava presente ao encerramento daquela apuração, observando de longe a reação dos derrotados. Pedro Felício colocou o chapéu na cabeça, desceu humildemente as escadas da antiga prefeitura, onde hoje fica o museu do Crato, e se dirigiu à Rua Nelson Alencar, residência de José Horácio Pequeno.
A molecada acompanhava cantando o hino do “teimosão”. Vi quando ele entrou na casa do prefeito eleito, cumprimentou-o efusivamente, desejou os maiores êxitos para sua administração, bebeu o que lhe foi oferecido pelo anfitrião, participou da alegria dos vitoriosos por alguns minutos e, em seguida rumou para nossa casa para cumprimentar meu pai. Aquela atitude foi uma das maiores demonstração de urbanidade que eu já presenciei num homem público.
Quatro anos mais tarde, a UDN foi derrotada, e o Senhor Pedro Felício elegeu-se prefeito do Crato, na quinta tentativa.
Em 1972, candidatou-se uma segunda vez e mais foi reconduzido à prefeitura.
Por Carlos Eduardo Esmeraldo
Pelas fibras da alma - Emerson Monteiro
Essas tardes cinzentas que emolduram o tempo chuvoso mexem com a gente. Mexem por dentro da gente feitas brocas revirando as entranhas onde transitam escondidos pensamentos de querer ver coisas diferentes acontecerem invés de algumas outras que sacudiram os derradeiros dias, na semana anterior. Entortar os acontecimentos, eis o tal desejo principal desses bichos vivos mexendo por dentro, a querer dominar a natureza, uma espécie de coisa animada impacientando as outras coisas vivas que moram nas entranhas da pessoa. Ondas de coisas vivas invisíveis, imateriais até, digamos assim, sem ter medo de errar, são o que, por que quiséssemos dominar os momentos fugitivos, a gente, parece perseguir, como quem corre atrás de sombras, e não consegue agarrar, que vai embora na correnteza barrenta; e o velho costume de procurar fantasmas apressados nas lamas escorregadias do passado; ou mesmo estirar o pescoço, pretendendo enxergar lá adiante, depois da linha do horizonte; longe; muito longe para obter o menor sucesso. Isto é, esquecer o momento especial do presente, único ser acontecimento que, na verdade, tem valor, nos interessaria com certeza, perante todas as demais frioleiras deste mundo de passados mortos e futuros ainda de vez, na semente.
Caso haja boa vontade para concentrar esforços no presente, acham-se todos os demais fatores que empurram a manada para o curral, nas jornadas individuais ou coletivas dos rebanhos. Ninguém permanece no passado, nem pisará o futuro por conta própria antes da hora. O minuto seguinte já ficou atrás quando virou presente. Essas intenções desesperadas dos ledores da sorte habitam só as casas de jogos, nas travessas da ilusão. Quem, não fossem os filmes, garantirá, um instante depois, o placar final do jogo, deixando de lado o polvo alemão da Copa do Mundo. Quem garantirá com a absoluta segurança isso de depois?
Apertar o cinto do agora, no entanto, qualquer cidadão pode, fora de cair da cama ou botar burros na água. Reger a valsa do instante torna-se, pois, a profissão universal do senso do realismo, nas empresas produtivas.
Diga-se bem isso tudo, quando perguntarem pelo pai da criança em face das tragédias da história. Alguém houvesse de sair na dianteira e as coisas mostrariam outra cara. Pisar maneiro, ordenhar as vacas na hora certa; fechar as portas e janelas antes do pior acontecer; saber escolher as opções ideais; bater na bola da vez; substituir peças e cuidar da revisão no prazo; essas ações inevitáveis aos bons resultados servem de aviso, nos casos posteriores.
Aprender, por isso, as lições, às vezes de preços elevados, porém ainda com os pés no caminho e no tempo do presente, oferece os braços aos estudantes atenciosos. Dias melhores virão, no suor da reconstrução. E a casa pertencerá sempre aos que souberem dela utilizar as oportunidades da milenar sabedoria.
Caso haja boa vontade para concentrar esforços no presente, acham-se todos os demais fatores que empurram a manada para o curral, nas jornadas individuais ou coletivas dos rebanhos. Ninguém permanece no passado, nem pisará o futuro por conta própria antes da hora. O minuto seguinte já ficou atrás quando virou presente. Essas intenções desesperadas dos ledores da sorte habitam só as casas de jogos, nas travessas da ilusão. Quem, não fossem os filmes, garantirá, um instante depois, o placar final do jogo, deixando de lado o polvo alemão da Copa do Mundo. Quem garantirá com a absoluta segurança isso de depois?
Apertar o cinto do agora, no entanto, qualquer cidadão pode, fora de cair da cama ou botar burros na água. Reger a valsa do instante torna-se, pois, a profissão universal do senso do realismo, nas empresas produtivas.
Diga-se bem isso tudo, quando perguntarem pelo pai da criança em face das tragédias da história. Alguém houvesse de sair na dianteira e as coisas mostrariam outra cara. Pisar maneiro, ordenhar as vacas na hora certa; fechar as portas e janelas antes do pior acontecer; saber escolher as opções ideais; bater na bola da vez; substituir peças e cuidar da revisão no prazo; essas ações inevitáveis aos bons resultados servem de aviso, nos casos posteriores.
Aprender, por isso, as lições, às vezes de preços elevados, porém ainda com os pés no caminho e no tempo do presente, oferece os braços aos estudantes atenciosos. Dias melhores virão, no suor da reconstrução. E a casa pertencerá sempre aos que souberem dela utilizar as oportunidades da milenar sabedoria.
Por Norma Hauer
SÃO BRÁS
Hoje é dia de São Brás e um autor praticamente desconhecido (de nome Melo Soriano), compôs uma marcha de nome "São Brás", em 1944 e foi gravada por Carlos Galhardo,
SÃO BRÁS
São Brás,
Meu valoroso padroeiro
Terás a tua festa em fevereiro.
Verás, na devoção deste teu filho,
A mesma fé com que partilho
A maravilha do estribillho.
Oh, meu São Brás
A minha voz protejei
Com muita fé
Sempre, sempre te amei.
Misturou os pronomes "Tu" e "Vós". Mas valeu a rima.
Diz a lenda que São Brás é considerado protetor da garganta e da voz porque curou uma criança de uma doença séria na garganta.
Hoje é dia de São Brás e um autor praticamente desconhecido (de nome Melo Soriano), compôs uma marcha de nome "São Brás", em 1944 e foi gravada por Carlos Galhardo,
SÃO BRÁS
São Brás,
Meu valoroso padroeiro
Terás a tua festa em fevereiro.
Verás, na devoção deste teu filho,
A mesma fé com que partilho
A maravilha do estribillho.
Oh, meu São Brás
A minha voz protejei
Com muita fé
Sempre, sempre te amei.
Misturou os pronomes "Tu" e "Vós". Mas valeu a rima.
Diz a lenda que São Brás é considerado protetor da garganta e da voz porque curou uma criança de uma doença séria na garganta.
Hervê Cordovil- Por Norma Hauer
O dia era 3 de fevereiro; o ano era 1914.
Foi nessa data que nasceu, em São Paulo, HERVÊ CORDOVIL, que viria a ser um pianista, regente e compositor que marcou sua carreira com vários sucessos.
Também musicou peças para o teatro.
Estreou no rádio, como pianista, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, depois atuou na Rádio Philips.
O que importa aqui é sua carreira de compositor.
Apesar de ter composto antes com Eduardo Souto, seu primeiro sucesso tinha Bonfiglio de Oliveira como co- autor e Carlos Galhardo como intérprete: “Carolina”, gravada para o carnaval de 1934. Foi o prineiro sucesso carnavalesco de Carlos Galhardo.
"Carolina, Carolina,,,
Vai dizendo por favor
Carolina, Carolona,
Se você me tem amor..."
Nesse mesmo ano, fez uma sátira à Madame Bouvary com o amba “Madame do Barril, em co-autoria com Lamartine Babo; só podia ser. Lamartine sempre foi um “gozador”.
Durante sua vida como compositor, gravou:
Com Isaurinha Garcia ,“Pé de Manacá”:
"Lá detrás daquele morro
Tem um pé de manacá,,,
Nós vamos casar e vamos p'ra lá
"Cê qué" ??...
Com Carmélia Alves, “Sabiá lá na Gaiola” ou “Cabeça Inchada”; com Sílvio Caldas, “Seu Gaspar”; e para o filme “Alô, Alô Carnaval” compôs o samba “Não Resta a Menor Dúvida”.
Em 1977 apresentou em São Paulo um “show” com Carmélia Alves, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, onde, com grande sucesso ,foram apresentadas músicas dos três compositores.
Hervê Cordovil encontrava-se afastado de seu meio, quando, no dia 16 de julho de 1979, faleceu aqui no Rio de Janeiro, aos 65 anos.
Norma
Foi nessa data que nasceu, em São Paulo, HERVÊ CORDOVIL, que viria a ser um pianista, regente e compositor que marcou sua carreira com vários sucessos.
Também musicou peças para o teatro.
Estreou no rádio, como pianista, na Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, depois atuou na Rádio Philips.
O que importa aqui é sua carreira de compositor.
Apesar de ter composto antes com Eduardo Souto, seu primeiro sucesso tinha Bonfiglio de Oliveira como co- autor e Carlos Galhardo como intérprete: “Carolina”, gravada para o carnaval de 1934. Foi o prineiro sucesso carnavalesco de Carlos Galhardo.
"Carolina, Carolina,,,
Vai dizendo por favor
Carolina, Carolona,
Se você me tem amor..."
Nesse mesmo ano, fez uma sátira à Madame Bouvary com o amba “Madame do Barril, em co-autoria com Lamartine Babo; só podia ser. Lamartine sempre foi um “gozador”.
Durante sua vida como compositor, gravou:
Com Isaurinha Garcia ,“Pé de Manacá”:
"Lá detrás daquele morro
Tem um pé de manacá,,,
Nós vamos casar e vamos p'ra lá
"Cê qué" ??...
Com Carmélia Alves, “Sabiá lá na Gaiola” ou “Cabeça Inchada”; com Sílvio Caldas, “Seu Gaspar”; e para o filme “Alô, Alô Carnaval” compôs o samba “Não Resta a Menor Dúvida”.
Em 1977 apresentou em São Paulo um “show” com Carmélia Alves, Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, onde, com grande sucesso ,foram apresentadas músicas dos três compositores.
Hervê Cordovil encontrava-se afastado de seu meio, quando, no dia 16 de julho de 1979, faleceu aqui no Rio de Janeiro, aos 65 anos.
Norma
Galeria Virtual - Fotos de João Nicodemos
Foi o fim do mundo no Crato- Por José do Vale Pinheiro Feitosa
Assis Valente, compositor, nascido em Senhor do Bomfim, na Bahia, um dos preferidos de Carmem Miranda, participou do tema com um samba de primeira: "Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar. Por causa disso a minha gente lá de cada começou a rezar. E até disseram que o sol ia nascer antes da madrugada."
Como sabemos, Senhor do Bomfim tem tudo a ver com o Crato. Eqüidistante de qualquer capital nordestina, é o Crato o epicentro da região. Especialmente no miolo da praça, pois lá fica o centro do Universo. Nada escapa, qualquer acontecimento é onisciente. Desde uma fagulha que acende o falso sinistro da mercadoria para roubar do seguro até um sobrenome mundialmente famoso que tem parentes na cidade. Por isso mesmo que é natural se dizer: "só no Crato" ou mais ainda "nem no Crato". Mas um dia aconteceu.
Foi um dia qualquer. Clima ameno, sol claro, capaz de iluminar até pensamento escondido; estudantes na escola, trabalhadores no trabalho; os do escritório e os outros do balcão; a limpeza urbana e os da saúde curando doença. Tudo normal. A vida de sempre, entre uma calçada e outra, no labirinto das ruas; respirando nas praças; o "pelo sinal" na frente das igrejas; susto dos juros alto na porta dos bancos; as sementes para o plantio, tudo andando como sempre andava.
Se tudo andava, era o mesmo de sempre, quem haveria de suspeitar que o fim estaria próximo. Ninguém, menos ainda o adolescente com tanta paixão que é capaz de morrer por ela; o velho que lamenta a vida para espantar a morte; o perdedor que denuncia a quebra das regras ou o penitente que espia com olhos nos pecados futuros.
O professor Edmilson da geografia da Universidade Regional do Cariri acabava de chegar em sala de aula, era a 14ª hora daquele dia. Em tais horas, ao sair-se de dentro do ar condicionado dos automóveis no ambiente quente, os óculos se umedecem e por isso o professor os retirou para limpar-lhes os vidros. Os alunos na modorra pós prandial, de olhos cansados, esperavam o professor concluir a tarefa. Bosquinho atendia os últimos fregueses do almoço, por trás do balcão de seu box no mercado. Muita gente estava no embalo que costuma realizar os sonhos das sestas medianas. Os cratenses, como Sodoma, viviam na paz dos seus espíritos.
Os passarinhos estavam silenciosos devido ao clima daquela hora. Nenhum urubu enfeitava a vasta toalha do céu azul. Raros carros voltavam do almoço para o trabalho e alguns alunos atrasados suavam até chegar ao templo do saber. Todo o clero realizava a sesta, os comerciantes se recostavam nos balcões com a preguiça da baixa contagem de freguesia. Os bancários fechavam os balanços das operações, os motoristas de praça até esqueceram as histórias vantajosas e sob a copa das árvores, entre cochilos e pensamentos enevoados, aguardavam uma corrida ao menos "para fazer um chá".
Quer dizer a cidade estava despreocupada. Nada poderia tirar-lhe o sossego. Apenas era um morno silêncio dorminhoco. Quem trabalhava ou realizava alguma tarefa ou eram os restos que sobraram da manhã ou o começo lento do que viria pela tarde. Era tudo tão igual que nada poderia ser acrescentado, nem a última notícia da televisão ou mesmo a abertura do Vídeo Show tinha algo que não fosse o mesmo de sempre. Apenas esta narrativa monotemática.
E aí?
Nem suspeitem. Num segundo, antes que o professor Edmilson desse o último toque no enxugar das lentes dos seus óculos, que Bosquinho ensaboasse o último prato, o padre pigarreasse o seu ronco, aconteceu.
Nossos olhos piscaram e ao final os óculos do professor Edmilson já se espatifavam na lajota da sala de aulas. Bosquinho, de olhos arregalados, se agarrando às bordas do prato feito a última materialidade da vida. O padre mais ofegante pelo chamamento de Deus que pela apnéia do sono. Gente se abrigando do perigo por toda cidade. A cachorrada vadia, feito um gás se expandia em todas as direções, em seus latidos loucos e desesperados. Jumentos murchavam as orelhas em amplo sinal do inevitável. As verdureiras do mercado viraram seus balaios, esparramando mercadoria ao redor. Reações divergentes: quem dormitava encostado nos balcões tanto se soltara dos braços que apoiavam seus queixos, tendendo a arriar a cabeça, quanto se empertigaram de tal forma em sinal de alerta, com tanto vigor, que o fruto só poderia ser um torcicolo.
A lista do mundo se acabando, ao contrário deste, continuaria por muito mais. Ninguém ficou indiferente no Crato. As rolinhas voaram do ninho, os gatos faiscaram seus olhos desde os monturos em que se escondiam. Os ratos cruzaram a praça da Sé, as pessoas que estavam na praça ou correram para qualquer rumo ou ficaram congeladas de pavor. Vicelmo que descansava na rede após o noticiário do meio dia, levantou a cabeça acima da varanda, se lamentando por não ter mais tempo para alardear aquele fim de mundo. Perdia a reportagem, mas não o vício de querer sua manchete. Literalmente o Crato se acabou. Como alguém de lá certamente diria: só outro Crato. A mais dolorosa conclusão de que nada mais tinha jeito mesmo.
Mas sobre ruínas, embaixo do sufoco dos destroços, das lágrimas das perdas, dos gritos do fim, certamente que a curiosidade da cidade jamais se apagaria. Terminada aquela cena dos dois últimos parágrafos o que se ouvia:
- Qui diacho foi isto?
- É a guerra mundial. O estouro da bomba atômica.
- Não, foi o terremoto que destruiu tudo. Estamos todos mortos, naquela fase em que os espíritos ainda não concluíram que passaram para o outro mundo.
- Qui nada isso é a Pedra da Batateira que veio abaixo. Agora vem a água inundar tudo.
- Isso é maldade dos Americanos, são eles atacando o Brasil para os russos não pegarem nós para eles.
- São os pecadores. Estes meninos fumando maconha, os pais de família indo ao cabaré, as mulheres andando com a bunda prá fora. Isso é castigo do céu.
Mais um tempo e começaram a se preocupar com os parentes e amigos. O quê acontecera com eles? Do quê teriam sido vítimas? Onde estariam?
Daí concluíram que estavam ainda vivos e que o estrondo que viera do céu não provocara nenhum estrago material. A não ser os óculos do professor Edmilson. Tudo mais estava o mesmo. Quer dizer, a exceção do cérebro fervilhando de pavor e o coração galopando de ladeira abaixo, nada com seus corpos acontecera. O epicentro do fim do mundo teria sido bem aqui, bem junto ao peito e no centro do medo em suas cabeças. Sobras do fim do mundo foram em busca dos amigos e dos pontos de encontro para entenderem o que lhes havia acontecido.
Ali pelas quatro horas, após passar na ótica e por lá se demorar entre a encomenda e a troca de experiência com os comerciantes, o professor Edmilson foi para o box do Bosquinho, pois, certamente, lá se condensariam os vapores daquele incerto acontecimento.
As teorias foram tantas que somente pela vontade de um novo Diderot, quem sabe fosse este o médico José Flávio Pinheiro Vieira, em uma nova Enciclopédia, poderia catalogar o volume imenso do conhecimento recolhido. Bosquinho vendeu muito caldo, mas quase atrapalhava o próprio negócio pois sempre esteve no centro das inúmeras rodas que se formaram. Teve explicação para cada momento, cada ato, cada um com sua sentença. Ali pelas cinco e meia da tarde, chegou a notícia que uma senhora do sítio Currais morrera do coração perante os céus em explosão.
Naquela noite os sonhos foram revolutos. As infiltrações dos pesadelos foram muitas e variadas. Crianças tiveram que ser acalentadas pelos pais. Casais dormiram agarradinhos pelo sinal do renascimento. O Crato se acabara, mas, em um segundo, renascera novamente. Todos satisfeitos por serem redivivos.
Alguns dias após, através de colchas de retalho da mídia, afinal tudo se explicara.
Quem provocara o desastre no Crato fora o Presidente Miterrand da França.
O quê?
Você tem toda a razão de estranhar.
O Concorde dele, entre Brasília e a Venezuela, rompeu a barreira do som sobre o Crato e a cidade se acabou.
Foi o fim do mundo no Crato.
José do Vale Pinheiro Feitosa
foto: Nívia Uchôa
Como sabemos, Senhor do Bomfim tem tudo a ver com o Crato. Eqüidistante de qualquer capital nordestina, é o Crato o epicentro da região. Especialmente no miolo da praça, pois lá fica o centro do Universo. Nada escapa, qualquer acontecimento é onisciente. Desde uma fagulha que acende o falso sinistro da mercadoria para roubar do seguro até um sobrenome mundialmente famoso que tem parentes na cidade. Por isso mesmo que é natural se dizer: "só no Crato" ou mais ainda "nem no Crato". Mas um dia aconteceu.
Foi um dia qualquer. Clima ameno, sol claro, capaz de iluminar até pensamento escondido; estudantes na escola, trabalhadores no trabalho; os do escritório e os outros do balcão; a limpeza urbana e os da saúde curando doença. Tudo normal. A vida de sempre, entre uma calçada e outra, no labirinto das ruas; respirando nas praças; o "pelo sinal" na frente das igrejas; susto dos juros alto na porta dos bancos; as sementes para o plantio, tudo andando como sempre andava.
Se tudo andava, era o mesmo de sempre, quem haveria de suspeitar que o fim estaria próximo. Ninguém, menos ainda o adolescente com tanta paixão que é capaz de morrer por ela; o velho que lamenta a vida para espantar a morte; o perdedor que denuncia a quebra das regras ou o penitente que espia com olhos nos pecados futuros.
O professor Edmilson da geografia da Universidade Regional do Cariri acabava de chegar em sala de aula, era a 14ª hora daquele dia. Em tais horas, ao sair-se de dentro do ar condicionado dos automóveis no ambiente quente, os óculos se umedecem e por isso o professor os retirou para limpar-lhes os vidros. Os alunos na modorra pós prandial, de olhos cansados, esperavam o professor concluir a tarefa. Bosquinho atendia os últimos fregueses do almoço, por trás do balcão de seu box no mercado. Muita gente estava no embalo que costuma realizar os sonhos das sestas medianas. Os cratenses, como Sodoma, viviam na paz dos seus espíritos.
Os passarinhos estavam silenciosos devido ao clima daquela hora. Nenhum urubu enfeitava a vasta toalha do céu azul. Raros carros voltavam do almoço para o trabalho e alguns alunos atrasados suavam até chegar ao templo do saber. Todo o clero realizava a sesta, os comerciantes se recostavam nos balcões com a preguiça da baixa contagem de freguesia. Os bancários fechavam os balanços das operações, os motoristas de praça até esqueceram as histórias vantajosas e sob a copa das árvores, entre cochilos e pensamentos enevoados, aguardavam uma corrida ao menos "para fazer um chá".
Quer dizer a cidade estava despreocupada. Nada poderia tirar-lhe o sossego. Apenas era um morno silêncio dorminhoco. Quem trabalhava ou realizava alguma tarefa ou eram os restos que sobraram da manhã ou o começo lento do que viria pela tarde. Era tudo tão igual que nada poderia ser acrescentado, nem a última notícia da televisão ou mesmo a abertura do Vídeo Show tinha algo que não fosse o mesmo de sempre. Apenas esta narrativa monotemática.
E aí?
Nem suspeitem. Num segundo, antes que o professor Edmilson desse o último toque no enxugar das lentes dos seus óculos, que Bosquinho ensaboasse o último prato, o padre pigarreasse o seu ronco, aconteceu.
Nossos olhos piscaram e ao final os óculos do professor Edmilson já se espatifavam na lajota da sala de aulas. Bosquinho, de olhos arregalados, se agarrando às bordas do prato feito a última materialidade da vida. O padre mais ofegante pelo chamamento de Deus que pela apnéia do sono. Gente se abrigando do perigo por toda cidade. A cachorrada vadia, feito um gás se expandia em todas as direções, em seus latidos loucos e desesperados. Jumentos murchavam as orelhas em amplo sinal do inevitável. As verdureiras do mercado viraram seus balaios, esparramando mercadoria ao redor. Reações divergentes: quem dormitava encostado nos balcões tanto se soltara dos braços que apoiavam seus queixos, tendendo a arriar a cabeça, quanto se empertigaram de tal forma em sinal de alerta, com tanto vigor, que o fruto só poderia ser um torcicolo.
A lista do mundo se acabando, ao contrário deste, continuaria por muito mais. Ninguém ficou indiferente no Crato. As rolinhas voaram do ninho, os gatos faiscaram seus olhos desde os monturos em que se escondiam. Os ratos cruzaram a praça da Sé, as pessoas que estavam na praça ou correram para qualquer rumo ou ficaram congeladas de pavor. Vicelmo que descansava na rede após o noticiário do meio dia, levantou a cabeça acima da varanda, se lamentando por não ter mais tempo para alardear aquele fim de mundo. Perdia a reportagem, mas não o vício de querer sua manchete. Literalmente o Crato se acabou. Como alguém de lá certamente diria: só outro Crato. A mais dolorosa conclusão de que nada mais tinha jeito mesmo.
Mas sobre ruínas, embaixo do sufoco dos destroços, das lágrimas das perdas, dos gritos do fim, certamente que a curiosidade da cidade jamais se apagaria. Terminada aquela cena dos dois últimos parágrafos o que se ouvia:
- Qui diacho foi isto?
- É a guerra mundial. O estouro da bomba atômica.
- Não, foi o terremoto que destruiu tudo. Estamos todos mortos, naquela fase em que os espíritos ainda não concluíram que passaram para o outro mundo.
- Qui nada isso é a Pedra da Batateira que veio abaixo. Agora vem a água inundar tudo.
- Isso é maldade dos Americanos, são eles atacando o Brasil para os russos não pegarem nós para eles.
- São os pecadores. Estes meninos fumando maconha, os pais de família indo ao cabaré, as mulheres andando com a bunda prá fora. Isso é castigo do céu.
Mais um tempo e começaram a se preocupar com os parentes e amigos. O quê acontecera com eles? Do quê teriam sido vítimas? Onde estariam?
Daí concluíram que estavam ainda vivos e que o estrondo que viera do céu não provocara nenhum estrago material. A não ser os óculos do professor Edmilson. Tudo mais estava o mesmo. Quer dizer, a exceção do cérebro fervilhando de pavor e o coração galopando de ladeira abaixo, nada com seus corpos acontecera. O epicentro do fim do mundo teria sido bem aqui, bem junto ao peito e no centro do medo em suas cabeças. Sobras do fim do mundo foram em busca dos amigos e dos pontos de encontro para entenderem o que lhes havia acontecido.
Ali pelas quatro horas, após passar na ótica e por lá se demorar entre a encomenda e a troca de experiência com os comerciantes, o professor Edmilson foi para o box do Bosquinho, pois, certamente, lá se condensariam os vapores daquele incerto acontecimento.
As teorias foram tantas que somente pela vontade de um novo Diderot, quem sabe fosse este o médico José Flávio Pinheiro Vieira, em uma nova Enciclopédia, poderia catalogar o volume imenso do conhecimento recolhido. Bosquinho vendeu muito caldo, mas quase atrapalhava o próprio negócio pois sempre esteve no centro das inúmeras rodas que se formaram. Teve explicação para cada momento, cada ato, cada um com sua sentença. Ali pelas cinco e meia da tarde, chegou a notícia que uma senhora do sítio Currais morrera do coração perante os céus em explosão.
Naquela noite os sonhos foram revolutos. As infiltrações dos pesadelos foram muitas e variadas. Crianças tiveram que ser acalentadas pelos pais. Casais dormiram agarradinhos pelo sinal do renascimento. O Crato se acabara, mas, em um segundo, renascera novamente. Todos satisfeitos por serem redivivos.
Alguns dias após, através de colchas de retalho da mídia, afinal tudo se explicara.
Quem provocara o desastre no Crato fora o Presidente Miterrand da França.
O quê?
Você tem toda a razão de estranhar.
O Concorde dele, entre Brasília e a Venezuela, rompeu a barreira do som sobre o Crato e a cidade se acabou.
Foi o fim do mundo no Crato.
José do Vale Pinheiro Feitosa
foto: Nívia Uchôa
Pensamento do dia
...Sempre senti e sentirei o amor como aquela sensação sublime que nos impulsiona a pisar nas estrelas , mesmo que os nossos pés estejam fincados na terra .
( Rosa Guerrera)
( Rosa Guerrera)
Na Batucada Da Vida
Composição: Ary Barroso / Luiz Peixoto
No dia em que eu apareci no mundo
Juntou uma porção de vagabundo da orgia
De noite teve samba e batucada
Que acabou de madrugada em grossa pancadaria
Depois do meu batismo de fumaça
Mamei um litro e meio de cachaça - bem puxados
E fui adormecer como um despacho
Deitadinha no capacho na porta dos enjeitados
Cresci olhando a vida sem malícia
Quando um cabo de polícia despertou meu coração
E como eu fui pra ele muito boa
Me soltou na rua à toa, desprezada como um cão
E hoje que eu sou mesmo da virada
E que eu não tenho nada, nada
Que por Deus fui esquecida
Irei cada vez mais me esmolambado
Seguirei sempre cantando
Na Batucada da vida
Luiz Peixoto- Por Norma Hauer
Ele nasceu no dia 2 de fevereiro de 1889 em Niterói, recebendo o nome de Luiz Carlos Peixoto de Castro. Ficou conhecido como LUIZ PEIXOTO.
Dentro da arte de seu tempo, Luiz Peixoto foi completo: caricaturista, teatrólogo, diretor de teatro, poeta, pintor, escultor, letrista de nossa música ´popular...
Como caricaturista trabalhou nos órgãos mais importantes de sua época, como “O Malho”; “Revista da Semana”, “Fon-Fon”...e mais tarde no Jornal do Brasil.
Também montou cenários no Theatro Municipal e eram suas as alegorias da avenida feitas para os desfiles carnavalescos.
Era uma personalidade eclética.
Nem todos sabem, mas todos conhecemos a valsa “Lua Branca” de Chiquinha Gonzaga, Foi exatamente Luiz Peixoto quem colocou a letra permitindo a cantores e não apenas instrumentistas executarem tão famosa composição.
Quem disse que “numa casa de caboclo, um é pouco, dois é bom, três é demais?.Foi exatamente Luiz Peixoto, pela voz de Gastão Formenti., assim como descreveu uma casa na colina e a sempre lembrada “Ai, Ioiô, eu nasci p’ra sofrer ou Linda Flor... Essa música de Henrique Vogler recebeu duas letras diferentes. Uma foi de Luiz Peixoto. A primeira gravação foi na voz de Aracy Cortes.
Com o compositor Ary Barroso, Luiz Peixoto compôs “Na Batucada da Vida”,”Por Causa desta Cabocla” e a sempre recordada “Maria, o teu nome principia nas palmas da minha mão...
Quando Carmen Miranda,depois de uma temporada nos Estados Unidos, aqui esteve em 1940, não foi bem recebida no rádio nem no Cassino da Urca porque diziam que voltara “americanizada”...
Foi então que, com Vicente Paiva, Luiz Peixoto compôs
“Disseram que eu voltei americanizada,
Com o burro do dinheiro
Que estou muito rica”...
Parece que, de fato, ela voltou “americanizada, tanto que retornou aos Estados Unidos, onde morreu em 1955.
Luiz Peixoto também fez parte do “cast” do Cassino da Urca, nos anos 30 e 40, até 1946, quando os cassinos foram fechados.
Luiz Peixoto faleceu em 14 de novembro de 1973, aos 84 anos.
Norma
Aldo Cabral - Por Norma Hauer
ELE NASCEU EM 3 DE FEVEREIRO
Foi aqui no Rio de Janeiro que veio ao mundo, no dia 3 de fevereiro de 1912, Antônio Guimarães Cabral.
E quem foi ele?
Nada mais que ALDO CABRAL, jornalista, produtor de rádio, de teatro e, principalmente, compositor
Fez dupla com Benedito Lacerda e compõs uma série de sambas, valsas, canções...
Conheceu seu primeiro sucesso com a valsa "Boneca", gravação de Sílvio Caldas.
Esta valsa teve uma história, contada por Carlos Galhardo: Aldo Cabral prometeu a Galhardo que ele a gravaria, mas Benedito a entregou a Sílvio Caldas.
Que fez Aldo Cabral ? Propôs a Ataúlfo Alves que ambos fariam uma valsa para Galhardo gravar.
Eu?, uma valsa? perguntou Ataúlfo.
- E porque não?...
Assim, ambos compuseram a valsa belíssima gravada por Carlos Galhardo na Odeon: " A Você". E fizeram sucesso.
Anos mais tarde, em um LP Galhardo gravou a valsa "Boneca".
A dupla Aldo Cabral e Benedito Lacerda conheceu vários sucessos, como "Amigo Leal" e sua resposta "Amigo Infiel"; "Espelho do Destino"; "Voz do Dever" (todos gravados por Orlando Silva); Chico Alves gravou da dupla "Carnaval de Minha Vida, a música para a quarta feira de cinzas:
.
"Quarta feira de cinzas amanhece,
Na cidade há um silêncio que parece,
Que o próprio mundo se desmoronou
É a máscara que a vida jogou fora,
mostrando que a alegria foi-se embora
No som do carnaval que já passou..."
O maior sucesso de Isaurinha Garcia foi da autoria de Aldo Cabral e Cícero Nunes:
"Mensagem"
"Quando o carteiro chegou
E meu nome chamou,
Com uma carta na mão"...
Muito mais Aldo Cabral compôs e quase tudo foi sucesso.
Como todos os compositores de sua época, Aldo Cabral afastou-se depois que surgiu a bossa nova. Era um ritmo diferente e não adiantava mais lutar.
Aldo Cabral faleceu em 5 de junho de 1994, aos 82 anos.
Foi aqui no Rio de Janeiro que veio ao mundo, no dia 3 de fevereiro de 1912, Antônio Guimarães Cabral.
E quem foi ele?
Nada mais que ALDO CABRAL, jornalista, produtor de rádio, de teatro e, principalmente, compositor
Fez dupla com Benedito Lacerda e compõs uma série de sambas, valsas, canções...
Conheceu seu primeiro sucesso com a valsa "Boneca", gravação de Sílvio Caldas.
Esta valsa teve uma história, contada por Carlos Galhardo: Aldo Cabral prometeu a Galhardo que ele a gravaria, mas Benedito a entregou a Sílvio Caldas.
Que fez Aldo Cabral ? Propôs a Ataúlfo Alves que ambos fariam uma valsa para Galhardo gravar.
Eu?, uma valsa? perguntou Ataúlfo.
- E porque não?...
Assim, ambos compuseram a valsa belíssima gravada por Carlos Galhardo na Odeon: " A Você". E fizeram sucesso.
Anos mais tarde, em um LP Galhardo gravou a valsa "Boneca".
A dupla Aldo Cabral e Benedito Lacerda conheceu vários sucessos, como "Amigo Leal" e sua resposta "Amigo Infiel"; "Espelho do Destino"; "Voz do Dever" (todos gravados por Orlando Silva); Chico Alves gravou da dupla "Carnaval de Minha Vida, a música para a quarta feira de cinzas:
.
"Quarta feira de cinzas amanhece,
Na cidade há um silêncio que parece,
Que o próprio mundo se desmoronou
É a máscara que a vida jogou fora,
mostrando que a alegria foi-se embora
No som do carnaval que já passou..."
O maior sucesso de Isaurinha Garcia foi da autoria de Aldo Cabral e Cícero Nunes:
"Mensagem"
"Quando o carteiro chegou
E meu nome chamou,
Com uma carta na mão"...
Muito mais Aldo Cabral compôs e quase tudo foi sucesso.
Como todos os compositores de sua época, Aldo Cabral afastou-se depois que surgiu a bossa nova. Era um ritmo diferente e não adiantava mais lutar.
Aldo Cabral faleceu em 5 de junho de 1994, aos 82 anos.
Norma
Notícias do nosso livro !
Ainda em fase de revisão, (os textos em poder de Stela) vive a continuidade do processo de edição.
Seremos quase 50 escritores.
Cada autor contribuindo com dois dos seus trabalhos autorais.
Espero bastante deste resultado. Quero compartilhar esta alegria com vocês, num futuro próximo. Aqui, no Azul Sonhado!
Seremos quase 50 escritores.
Cada autor contribuindo com dois dos seus trabalhos autorais.
Espero bastante deste resultado. Quero compartilhar esta alegria com vocês, num futuro próximo. Aqui, no Azul Sonhado!
O Jogo - Por Rejane Gonçalves
Procura-nos a Morte quando já somos tão pouco.
Quando o que nos dá a condição, senão a possibilidade de seguir ao lado dessa gente, é apenas um corpo semelhante aos que do nosso lado passeiam. Todavia mover os pés nesse ritmo próprio do caminhar, trotar com essas criaturas de uma calçada à outra, não nos confere a imponência de um puro sangue, nem tampouco oferece à Morte a garantia de que apertará nos braços um indivíduo, ainda, senhor absoluto dos seus restos de sonhos, ânsias e quereres
A Vida matreira e ladina com suas mortes cotidianas, sutis, mas atrozes, a nos infligir, dificilmente entrega um corpo cujo espírito ainda esteja envolto na integridade de suas emoções. Ela que dispõe e impõe, olha da janela envidraçada a ridícula figura da Morte que ao se abaixar para pegar o fardo o faz sempre com a convicção de que o peso a ser suportado vai ser imenso, e ao levantar-se com um urro como que para se ajudar, acaba desequilibrando-se com a leveza da carga. Nesse momento, Vida e Morte, como duas velhas comadres que estivessem em abstinência da companhia mútua, cruzam os olhares ávidos de uma para outra calçada; e gesticulam e gritam e gemem e movem-se como se existisse uma fluidez ao abraço ou à trincheira. As duas comadres enfrentam-se.
E nós somos um leve embrulho arremessado no ar num jogo frenético, destituído do calor das torcidas e da sonoridade das multidões. Bola disforme jogada cada vez com menos precisão de Uma para a Outra, até que a Morte, a mais sensata dentre elas, lembre-se de sua tarefa milenar, bote-nos debaixo do braço e saia praguejando.
Rejane Gonçalves
A poesia de Assis Lima
Água
Beleza mesmo é o Cariri no inverno,
época das chuvas.
Há quem prefira o seco e tórrido sertão,
e nele vislumbre uma beleza austera,
simples e luminosa como a antiga paisagem da terra santa.
O deserto esteve fincado dentro de mim,
áspera miragem.
Que me cubra o nevoeiro!
Relâmpagos e trovões:
estrondem na barra do meu horizonte
dias,
noites,
néctar.
Foto: (Assis Lima, Stela Siebra, Nicodemos e Ismênia Maia)- by Rosineide Esmeraldo
Beleza mesmo é o Cariri no inverno,
época das chuvas.
Há quem prefira o seco e tórrido sertão,
e nele vislumbre uma beleza austera,
simples e luminosa como a antiga paisagem da terra santa.
O deserto esteve fincado dentro de mim,
áspera miragem.
Que me cubra o nevoeiro!
Relâmpagos e trovões:
estrondem na barra do meu horizonte
dias,
noites,
néctar.
Cumplicidade - Por Socorro Moreira
Desconfio que nunca virás
E se algum dia chegastes
Eu dormia...
Quem sabe na meninice angelical
quando a saudade de outra vida
em mim vivia ?
Adoro o próximo ,
como desconfio do longínquo
Mesmo assim atiro-me,
coração e alma ,
na pira do amor benvindo.
Nos pingos de uma vela
eu sorvo
o meu Eros descortinado
Imploro a compaixão de Afrodite
Pago todo o meu pecado
de amar assim ,
o inusitado !
foto: Nívia Uchôa
Corpo - Por Everardo Norões
Teu corpo
se enxuga em minha água:
calafeta,
enxágua.
Completa
o que não vem de mim.
E por ser água e calma,
sonâmbula
como a
distraída voz do lume,
lembra um vago perfume
de jasmim.
se enxuga em minha água:
calafeta,
enxágua.
Completa
o que não vem de mim.
E por ser água e calma,
sonâmbula
como a
distraída voz do lume,
lembra um vago perfume
de jasmim.
Caros,
Natural de Crato, Ceará, o economista, poeta e crítico literário Everardo Norões (1944-) é um homem do mundo: viveu na França, Argélia e Moçambique e hoje está radicado em Recife. Estreou com o volume Poemas Argelinos, de 1981. Depois, publicou Poemas (2000); Nas Entrelinhas do Mundo (2002); A Rua do Padre Inglês (2006); e Retábulo de Jerônimo Bosch (2009). Norões escreve artigos e crônicas para jornais e também se exercita na criação teatral. É co-autor das peças Auto das Portas do Céu e Nascimento da Bandeira, de Ronaldo Correia de Brito.
Everardo Norões tem também seu nome ligado ao do poeta e engenheiro pernambucano Joaquim Cardozo (1897-1978). Ele organizou a obra completa de Cardozo, que acaba de sair pela editora Nova Aguilar.
Tive o primeiro contato com a poesia de Norões no ano passado, quando a poeta baiana Ana Cecília de Sousa Bastos me recomendou a leitura de alguns textos dele disponíveis na internet. Li e fiquei vivamente impressionado. Depois, a poeta nos aproximou virtualmente e tive a oportunidade de ler, de capa a capa, os dois livros mais recentes de Norões: A Rua do Padre Inglês e Retábulo de Jerônimo Bosch. A miniantologia deste boletim reúne poemas extraídos dessas duas coletâneas.
Norões é um poeta de dicção marcante. Não é possível passar impune pelos seus livros. Ora, ele nos captura atenção e emoção com o agreste de versos desabridamente nordestinos: "E na garupa / do cavalo, a sentença das esporas. / Pendentes dos estribos, estão as horas, / relampejos de facas. E o sono da jurema" ("Tristão"). Esses versos têm a mesma pisada seca que se ouve em "Os Encourados": A tarde chega, / a luz se dispersa. / É uma luz de sede / do sol dos Inhamuns: / branca e calada".
Mas, afinado em outro diapasão, o lirismo de Everardo Norões também nos aparece cantante e melodioso, como no breve poema "Corpo" ou em "Tua Fala": "Tua fala parecia / a rede, toda bordada, /
onde a noite amanhecia". Obviamente, o ritmo aí é ainda bem nordestino, porém marcado por um recorte íntimo, que passa longe da secura dos agrestes.
Há ainda uma terceira face do poeta cratense, que é aquela bafejada pelos ventos do mundo. Entre os poemas mostrados aqui, ela se manifesta especificamente em "Café". Ali se percebe o cruzamento das experiências pessoais e leituras do poeta com a sua sensibilidade lírica. Como um Proust, ele extrai de uma xícara de café (menos do aroma que da cor) um conjunto de sensações e divagações nostálgicas. "De onde vem o grão / dessa saudade?"
Carlos Machado
Mendelssohn
Jakob Ludwig Felix Mendelssohn Bartholdy conhecido como Felix Mendelssohn (Hamburgo, 3 de fevereiro de 1809 — Lípsia, 4 de novembro de 1847) foi um compositor, pianista e maestro alemão do início do período romântico. Algumas das suas mais conhecidas obras são a suíte Sonho de uma Noite de Verão (que inclui a famosa marcha nupcial), dois concertos para piano, o concerto para violino, cerca de 100 lieder, e os oratórios São Paulo e Elijah entre outros.
* Essa música deve ter marcado o começo de muitas vidas.
Não vivi esse momento mágico, mas vivi a mágica do estar amando, e desejar que fosse pra sempre.
Acredito no amor eterno, na responsabilidade de alguns , que deixam o amor crescer, enquanto envelhecem. E nesse processo, acredito que haja o rejuvenescimento.
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