por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 1 de outubro de 2014

A RAZÃO DO VOTO - José do Vale Pinheiro Feitosa

Enquanto falo de Boulangerie em plena semana que antecede o próximo pleito eleitoral, o leitor tem todo o direito de pensar em certo “escapismo”. Não tanto ao céu e nem tanto a terra. Viver é abraçar a temática que se aproxima de nós em todos os sentidos. De dentro para fora e de fora para dentro.

No Ceará se aí votasse juro por Sant´Ana que para governador já sei em quem votaria. Na senatoria, teria muitas dúvidas se me resta alguma alternativa além de praticar o que nunca faço que é não me expressar. Para deputado nos dois níveis aí não teria dificuldades de bater a tecla.

E para presidente? Votaria pensando num discurso pronunciado por Getúlio Vargas no primeiro de maio de 1954 quando mais acirrada estava a luta política. A essência deste discurso era o anúncio de um aumento substancial do Salário Mínimo. A questão do Salário Mínimo é um dos maiores avanços do Direito Social do Trabalhadores, pois associa a remuneração do seu trabalho com aS condições básicas de sua sobrevivência com dignidade. Quando muitos se queixam hoje de seus valores não podem jamais esquecer que o problema não é a existência dele, mas sim a atribuição do seu valor e, claro, as fundamentações econômicas para lhe valorizar.

No discurso, Getúlio Vargas, ao defender o valor do salário mínimo contra a UDN, militares de direita e empresários, firma princípios dos quais um cidadão consciente não pode se eximir. Seleciono alguns trechos:

“Não me perdoam os que me queriam ver insensível diante dos fracos e injusto com os humildes. Continuo, entretanto, ao vosso lado. E continua Getúlio: “Tendes de prosseguir na vossa luta para que não seja malbaratado o nosso esforço comum de mais de 20 anos no sentido da reforma social, mas, ao contrário, para que esta seja consolidada e aperfeiçoada.”

E Getúlio radicaliza ainda mais ao transferir a luta pelos direitos sociais para os verdadeiros atores: “Para isso não cabe nenhuma hesitação na escolha do caminho que se abre à vossa frente. Não tendes armas, nem tesouros, nem contais com as influências ocultas que movem os grandes interesses. Para vencer os obstáculos e reduzir as resistências, é preciso unir-vos e organizar-vos. União e Organização devem ser o vosso lema.”  

E termina com o instrumento para tal localizando onde o poder deve se localizar: “Há um direito de que ninguém vos pode privar, o direito do voto. E pelo voto podeis não só defender os vossos interesses como influir nos próprios destinos da nação. Como cidadãos, a vossa vontade pesará nas urnas. Como classe, podeis imprimir ao vosso sufrágio a força decisória do número. Constituís a maioria. Hoje estais como o governo. Amanhã sereis o governo.

E Getúlio arremata dizendo com quem se pode e com quem não se pode contar: “Não deveis esperar que os mais afortunados se compadeçam de vós, que sois os mais necessitados. Deveis apertar a mão da solidariedade, e não estender a mão à caridade. Trabalhadores, meus amigos, com a consciência da vossa força, com a união das vossas vontades e com a justiça da vossa causa, nada vos poderá deter.”


A fala do "precursor" do mensalão - José Nilton Mariano Saraiva

No Congresso Nacional, o “baixo clero” representa aquela parcela significativa de parlamentares que, sem poder de influência e/ou brilho próprio, se dispõem a “negociar” o voto a fim de aprovar medidas de interesse dos parlamentares “graduados”.

O exemplo emblemático de tal situação deu-se na gestão Fernando Henrique Cardoso (FHC), quando os parlamentares corruptos integrantes do “baixo clero” foram acionados para aprovar uma emenda à Constituição Federal instituindo a reeleição para a Presidência da República (espécie de precursor do “mensalão”, só que pluripartidário). O preço pago foi de R$ 200 mil per capita, conforme depoimento dos deputados acreanos Ronivon Santiago e João Maia, dois dos felizardos agraciados.

Ainda à época de FHC, comprovado restou terem as empreiteiras e os grandes bancos exercido papel decisivo no apoio financeiro ao seu projeto de manter-se mais quatro anos no poder, através de doações vultosas àquele projeto.

A reflexão acima tem a ver com a recente passagem de FHC por nossa capital, a fim de participar de um evento político, quando, fiando-se na famosa “memória curta” do povo brasileiro, afirmou sem qualquer constrangimento: a) que eleição no país hoje é “compra de voto”; b) que no financiamento da campanha “quem dá para um, não pode dar para outro”; c) que “a democracia hoje é financiada por empreiteiras, pelos bancos e por quatro ou cinco empresas”. Ou seja, exatamente o que houvera praticado lá atrás (pena que a nossa mídia não o tenha inquirido sobre o ocorrido em seu governo);  d) de sobra, afirmou que a presidenta Dilma Rousseff "merece um Nobel por arrebentar o setor de petróleo, do etanol e da energia" (esqueceu de que no seu (des)governo a "Petrobras" quase vira "Petrobrax", a fim de tornar-se palatável aos ouvidos gringos) 

Agora, o mais incrível nisso tudo é que ainda exista alguém que se disponha a “pagar” caro para ouvir uma figura reconhecidamente corrupta, já que além da compra de votos para a reeleição, entregou a “preço de banana em fim de feira” a determinados grupos, boa parte do patrimônio nacional (Daniel Dantas está aí mesmo pra comprovar isso), sem que se saiba até hoje onde foi parar a grana arrecadada.


Lamentável ainda é tomar conhecimento de que “a fala de FHC contra Dilma foi bastante aplaudida pela platéia” (conforme depoimento de quem esteve presente ao citado evento).