por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 1 de julho de 2013

A Doutora do Cansei e suas palavras de protesto - José do Vale Pinheiro Feitosa

Eu nem devia estar aqui novamente com vocês. Pelo menos por hoje. Já havia postado um texto. Mas eis que tomei conhecimento da carta de uma colega médica desancando a Presidenta Dilma por seu pronunciamento indicando que chamaria médicos estrangeiros para trabalharem no SUS em regiões em que os médicos brasileiros não quiseram trabalhar.

Per si isso é um problema inerente ao modelo híbrido da saúde brasileira: público universal misto com privado (planos de saúde). Os médicos vivem num sistema de remuneração privado e público e o privado remunera mais que o público. Portanto ele é determinante para a distribuição de médicos: concentrados nos estados mais ricos e nas cidades grandes e médias. Incluindo, é claro, o fenômeno da alocação de tecnologia segundo o maior peso onde se somam recursos públicos e privados.

Mas a questão mesma da doutora é seu componente ideológico e pouco científico para quem deveria raciocinar. Como sabemos o médico é o profissional da interpretação das histórias pessoais, claro que utilizando uma gama imensa de tecnologia para comprovar suas hipóteses. 

Foi aí que ela veio com aquela baboseira de ser contra a Presidenta Dilma querer chamar-se Presidenta e não Presidente. Este besteirol é tamanho que recebi e-mail de "sábios da empulhação" mostrando por a mais b que o termo não existia e nem poderia existir. 

Mas eu tenho aqui um dicionário eletrônico do Houaiss que registra o vocábulo Presidenta: mulher que se elege para a presidência de um país. Etimologia: feminino de presidente. Agora aquele besteirol todo era uma arenga imbecil de cunho machista que a doutora médica cirurgiã nunca ouviu falar e ainda repete de modo inferior até que as falas de um papagaio.

Aliás esta semana li um artigo primoroso do Dráuzio Varela desancando a cura gay um projeto de lei, de autoria de um deputado do PSDB e encampado pelo Feliciano. Ele começou o artigo dizendo mais ou menos o que reproduzo de cabeça.

Deus teria dado limites à inteligência da humanidade para que ela não revelasse os segredos da criação. E aí o doutor Dráuzio se queixa: mas errou ao não dar limites à burrice. 

Deus sabe o que faz! - José do Vale Pinheiro Feitosa

Deus sabe o que faz!

Pronunciado em tom alto, no passo rápido sobre a calçada dos números ímpares da rua Nossa Senhora de Copacabana. Uma senhora de cabelos lisos, curtos e presos e com uma oleosidade de brilhar mesmo no ameno iluminar da manhã nublada por entrada de uma frente fria.

Deus sabe o que faz! Deus sabe o que faz!

Repetiu várias vezes enquanto seguia na direção da rua Barão de Ipanema. Assim mesmo: Deus sabe o que faz!

E foi-se semeando dúvidas sobre a calçada. Talvez Deus lhe dera algum sofrimento e ali mesmo ela reconhecia-lhe a sabedoria apesar de tudo. Mas pelo tom exaltado talvez algum desafeto sofrera algo por suposto merecido e Deus lhe fizera justiça. Quem sabe Deus escrevera algo por linhas tortas.

Dúvidas na calçada. E quem por ela passar é capaz de encontrar muitas mais além das três possibilidades citadas. Deus sabe o que faz!

Numa esquina qualquer mais adiante, no entanto, numa jardineira sobre a calçada da Nossa Senhora de Copacabana cresce a árvore privatista do mais completo conceito de universalidade. O Deus único, indivisível, onipotente, onisciente, onipresente. Mas a criatura deste o toma por seu. O Meu Deus sabe o que faz.

O Meu Deus me protege dos meus inimigos, dos meus desafetos, dos meus concorrentes, dos que me são diferentes. Esta propriedade se estica tanto sobre seus valores que termina por ser escriturada em cartório. No cartório que valida, que reconhece a firma da sabedoria de Deus.

E atesta: Deus sabe o que faz! E o sabe posto que atestado, que é apalavrado por um testemunho essencial de sua sabedoria. Um testemunho que nesta ocasião se encontra na condição de oficializar a Deus este simples demandante de um atestado de sua sabedoria.  


A luta incessante entre o universal e a propriedade privada.