por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

DO BAÚ DE STELA

Presentes do Pai

Todo dia recebo presentes de Deus. Simples ou grandiosos, comuns ou inusitados me chegam como dádivas que Ele me manda.
Ontem eu recebi de presente um belo por de sol, que se despedia ao som do bolero de Ravel, banhando de dourado as águas do rio Paraíba, numa comunhão de harmonia sagrada entre céu e terra.
Hoje Ele me mandou mangas espada, através de Madalena.

Madalena tem quase 77 anos, sorriso de menina, olhos de ternura.
Caminha na beira-mar todas as manhãs, arrastando as chinelas enquanto assobia, sabe-se lá que canções, o olhar nadando em riso abençoa os que cruzam com ela. Fala mansa, suave. Carinhosa, deseja Bom dia. E segue com seu passinho miúdo.
Coração cheio de bondade, Madalena semeia ternura no seu caminhar.
O vento feliz faz um agrado nos seus cabelos. O mar joga uma onda para brincar nos seus pés.
E Madalena mergulha nas águas mornas. O mar lhe dá banho, o vento penteia seus cabelos e enxuga seu corpo. Iemanjá lhe traz conchinhas e algas marinhas. Cochicha-lhe segredos de novas canções. Madalena sorri agradecida. E volta pra casa, vai cuidar das plantas, vai cozinhar seu feijão.

Encontro Madalena voltando do seu banho de mar. Me oferece mangas, diz que vá pegar na sua casa quando eu voltar da minha caminhada.
E assim eu fiz.
Bato na porta da casa humilde. A cachorra anuncia minha chegada. E lá vem Madalena com a sacola de mangas do seu quintal.
Linda. Serena. Simples, Pura. Veste apenas um velho maiô, desbotado, folgado no seu corpinho já enrugado. Um maiô azul claro, com enfeite branco.
Homenagem a Nossa Senhora da Conceição? Pedido de proteção a Iemanjá?
É uma visão enternecedora: aquela velhinha de maiô azul e branco na porta de casa, numa manhã de 8 de dezembro, carregando uma sacola com mangas espada para dá-las a uma amiga.
Existe uma beleza tão puramente divina no seu gesto, no seu corpo, na sua alma!
Madalena é linda!
Basta olhá-la com os olhos do coração. E agradecer ao Senhor a beleza desse momento.
Uma anciã cheia de ternura, vestindo maiô surrado, me ofertando mangas na porta da sua casa.
Como a vida me tem dados presentes!

Olinda, 8 de dezembro de 2003

Stela Siebra Brito

2 comentários:

Liduina Belchior disse...

Stela,

Que texto tão parecido com você!!!!
E como podemos ser felizes com as grandes e pequenas coisas...
Adoei ler um pouco do seu interior.
Saudades... Carinho, mangas, pequi e beijos: Liduina.

socorro moreira disse...

Você merece a generosidade. Sabe reconhecê-la como expressão de amor.
Para Stela, muita luz !

Abraços, amiga. Adoro quando vc chega.