por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Carta à filha de Moreirinha - por Zilberto Cardoso



Fortaleza, 12 de dezembro de 2008

Embora nunca tenha me interessado muito por este negócio de navegar na Internet, acho que estou entrando nas estatísticas dos que estão se viciando nisso; e a “culpa é do Blog do Crato! Explico: é que, em primeiro lugar, o blog é do Crato e não de qualquer outro lugar onde moramos ou trabalhamos. O blog fala de nossa terra, da terra em que nasci e da qual não deixo um dia sequer de pensar. Em segundo lugar, por que, cada vez mais, os blogueiros têm rememorado a história da nossa cidade e, quanto mais o tempo passa, mais nostálgicos ficamos e mais importância damos ao que vivemos, na terra em que nascemos.

Há alguns dias atrás, fiquei maravilhado com a descrição feita por uma das colaboradoras do blog de duas das ruas do Crato da minha infância e adolescência. O artigo “Infância na Pedra Lavrada”, de Socorro Moreira me deixou emocionado e feliz por ter nascido e vivido naquele lugar e naquela época. Mas quem era Socorro Moreira, que tão bem descrevia o período de sua infância e que coincidia com minha adolescência? Pelo sobrenome tinha uma desconfiança e somente uma pessoa podia ajudar-me. Telefonei para minha irmã Zenira Cardoso e lhe fiz a seguinte pergunta: irmã me diga, a Socorro Moreira, que escreve no Blog do Crato é filha de “Moreirinha”? Diante da confirmação vieram-me à memória alguns fatos do passado que um cratense, como eu, que moro distante de minha terra querida e inesquecível, tenho, cada vez mais, lembrado.

Veio-me à mente a figura insubstituível daquele que, carinhosamente era chamado, por todos de Moreirinha, tanto quanto da sua esposa dona Valdenora. Na Rua da Pedra Lavrada (a Pedro II de hoje) e Rua das Laranjeiras( José Carvalho), tão bem descritas e rememoradas pela blogueira Socorro, o seu pai foi uma figura muito querida e, no meu caso particular, marcante em minha adolescência.

Eu, garoto brincalhão, filho do padeiro Antônio Cirilo, na salutar falta dos videogames de hoje, tinha como uma das principais diversões jogar pião e carrapeta com amigos da mesma idade, como Zé Muniz, Sanderson, Airton e Geraldo pirão e tantos outros. É aí que entrava a figura amável e perfeccionista de Moreirinha. Demonstrando o perfil característico que, depois, veio a se manifestar em sua famosa e concorrida oficina mecânica, Moreirinha fazia piões e carrapetas que davam gosto de usar! Ao seu cuidado em manufaturar brinquedos para aquele bando de moleques, com perfeição, associava-se a calma, o espírito leve e, sobretudo, o desprendimento com que tratava a todos de forma paternal e carinhosa. Lembro-me, muito bem, de mais de uma vez receber o desejado brinquedo, lhe perguntar quanto custava e ouvir a firme e risonha resposta, que ficou marcada em minha memória, passados mais de cinqüenta anos: “filho de Antônio Cirilo, aqui, não paga nada!”.

Não querendo ser pessimista e esperando estar enganado, posso afirmar que há muito tempo não encontro seres humanos tão especiais como Moreirinha.

Abraço a todos,

Zilberto Cardoso de Oliveira
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