A luz de Paulo Afonso chegou ao Crato nos anos 60. Até então a geladeira doméstica era a querosene. Tínhamos três pontos principais de degustação do sorvete: bar social, Bantim e Joaquim Patrício, depois a sorveteria cariri. Em casa, as nossas mães não nos deixavam faltar o sorvete. Não usavam creme de leite, nem leite condensado. Faziam um mingau ralo do leite com a maisena e a ele agregavam a fruta ou a essência (baunilha, chocolate). Aos últimos elas incorporavam gema de ovo e uma colherzinha de manteiga. A regra era não pingar uma gota sequer de água (a água tirava a cremosidade). O sorvete de goiaba, por exemplo, era feito da massa da goiaba. Eram fervidas numa calda de açúcar, e passadas na peneira, acrescentava-se o mingau de leite e maisena, e pronto. Tinha um gosto especial, jamais encontrado em sorvete algum.
O primeiro sorvete de baunilha que provei na minha vida (desses caseiros) foi na casa de Francíria Alencar; o primeiro sorvete de chocolate foi na casa de Magali Figueiredo. Pedi logo as receitas, mas não consegui fazer igual. A especialidade da minha mãe era o sorvete de goiaba e ameixa, coco, manga e abacate. Todo mundo pegava um copo de alumínio, uma colher, e traçava aqueles cubinhos preciosos. Quando começamos a viajar trouxemos outras novidades para incrementar: farofa de castanha, banana, Waters, caldas de ameixa, caramelo e a calda de chocolate, e passamos a usar belas taças. O sorvete tricolor foi o ponto auge, inaugurando o uso generalizado do leite condensado e do creme de leite.
- uma camada de creme de baunilha; (leite condensado; três gemas; a mesma medida de leite de gado; uma colher de maisena; baunilha em gotas ou em pau)
-Uma camada de creme de chocolate; (a mesma receita acima, substituindo a baunilha pelo chocolate em pó)
-Uma camada de chantilly (as claras batidas. Para cada clara uma colher de açúcar; gotas de limão e creme de leite sem soro).
Mas, o bom do sorvete é o passeio; a companhia; a prosa depois do sorvete... Lugar de tomar sorvete é na sorveteria!
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