( inspirada num texto de Emerson Monteiro)
Antigamente eu começava o mês de dezembro preparando o enxoval do menino Jesus. Minha mãe dizia: cada oração que você fizer é uma peça. E eu começava a rezar uma ave-maria por uma camisinha, bordando com jaculatórias; tricotava sapatinhos, toucas e luvas com um pai-nosso; coeiros com salve-rainha; fraldas com o Credo... Lembro que eu queria tudo bordado e dourado como as roupas dos anjinhos. E perguntava pra minha mãe: tem certeza que está aparecendo essas peças, no baú de Nossa Senhora? Ela olhava para mim, confirmava, eu ia acreditando, e na compulsão de fazer um rico e lindo enxoval , eu passava o mês de dezembro, rezando. Não tínhamos Papai Noel como um provedor de sonhos. Sabíamos que ele era um mito, e não vivíamos a sua fantasia.
Esse ano resolvi fazer as pazes com Papai Noel , e escrever-lhe a minha primeira cartinha :
Papai Noel,
Nunca te aperreei , em todos esses anos... Mais de meio século, sem ser exata. Pois agora chegou a minha vez de abrir o verbo pedir.
Não quero chocolates, nem bonecas , nem joias ...
Chocolate eu ganho dos meus amigos; tenho duas bonecas incríveis que se chamam Bianca e Sofia; tenho uma boneca velhinha, mas perfumada e amantíssima; tenho uns moleques que cresceram, e já não me pedem sorvete... Tenho os meus amigos, jóias especiais, que eu ganhei, e não perdi.
Quero que essa carta se transforme na luz de um desejo imenso, que percorra o firmamento e altere a alma humana tornando-a simples e pura, como era pura a feitura do enxoval do Menino Deus, nos meus tempos de criança.
Torne doce o nosso coração , como as balas e os chocolates, que você distribui no trenó da esperança.
E a Maria, querida mãe? Prometo um reforço, em oração, pra vestir a nossa alma de todas as calmas!
Por favor , não engavete a minha carta !
Espero a graça, no espalhar das graças , nesse Natal de 2009 .
Faça o depósito , na conta da família Cariricaturas , e no seio de todas as famílias terrenas.
Um abraço tímido,
Socorro Moreira
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