Dezembro de 1975
Enquanto alugo um cantinho, e trago os meninos, Teresa Patrício me acolhe, na república de estudantes do Crato, situada na Rua Conde da Boa Vista. A proposta era ficar o mínimo de tempo possível.
Encontrei uma turma que estudava, e nos finais de semana frequentava os barzinhos do Espinheiro. Encantei-me com a música ao vivo, da melhor qualidade, coisa que no Crato, ainda não existia..
Manhã de segunda-feira, eu conheci a Ag. aonde eu trabalharia. Alonso Regis trabalhava no Funci e deu-me o primeiro atendimento. Depois correu a agência por todos os setores, apresentando-me ao pessoal. Fui lotada no setor de cobrança, e minha vizinha de mesa era Rejane Gonçalves. Os anjos divinos estavam do meu lado. Conhecer Rejane foi a melhor coisa que me aconteceu em Recife. Um pouco tímida, mas de olhar arguto e sábio, ela me observava... Estranhava, sobretudo as minhas meias finas. “Vixe Maria, essa mulher é dondoca demais!”. Por generosidade começou a me emprestar seus livros, passar dicas de filmes e discos...E, num momento preciso, até cedeu-me um lugar no Ap. que dividia com mais duas colegas e amigas: Lúcia e Graça. Pois não é que foi Rejane que me apresentou a Salatiel Alencar?
O tempo na Dantas Barreto foi restrito. A informatização convidou-nos a aprender a digitar, e eu comecei a trabalhar na Ag.Centro, nos serviços da congênere.
Lá vivi momentos especiais. passei no concurso interno para nível superior, fiz grandes amizades.
A hora do almoço enchia de idéias e bons papos, o nosso prato. Alonso falava em Ufologia, Rogério em MPB, Severino contava com bom humor, causos da vida.
Fui me sociabilizando, entrando na vida, me liberando!
Claro que recebi ajuda. Fiz terapia em grupo com Grace, que me valeu por todo o futuro “que vivi., e vivo”! .
Mas é difícil não ter coração bobo, antes dos 25 anos. Apaixonei-me, e voltei a sonhar com um amor para sempre.
Quem teria coragem de assumir uma mulher com três filhos pequenos? Difícil!
E, quando descobri que a chance de um amor perfeito inexistia, fiquei tão triste em Recife que, impetuosamente, pedi transferência para Fortaleza. Pensava: sou cearense do Crato...Lá fico mais próxima das minhas raízes. Ledo engano. O cratense é antes de tudo um pernambucano! Bebemos nas águas do Beberibe as nossas poesias, músicas, cultura.
A mudança para Fortaleza, que julguei necessária, rasgou meu coração. Deixava amigos com Seu Amaro e Dona Iranete, Zilda, Mary, Giovane, Rejane, Graça, Lúcia, Alonso, Juarez, Bosco Cardoso.E agora?
Meu desligamento estava marcado, e assim foi feito.
Naquele dia em que peguei o avião, almocei no “Buraco de Otília”, em companhia de um colega, que surpreendido com a minha decisão, me dizia: “louquinha, desista!”
Mas eu segui em frente. Acreditei que o destino traça o nosso rumo, e a gente pensa que decide, o que se quer no mundo...
55 minutos de voo, e aterrissei no Aeroporto Pinto Martins. Deixava as minhas pontes, o meu sorvete no Zecas, as rodas de samba no Cancela, o sonho de fazer uma nova faculdade, os amigos do coração, com a responsabilidade de ser feliz e criar três meninos.
Mas Fortaleza fica para um próximo capítulo!
A saudade de Recife, resiste !
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