por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Casa abandonada x Vida restaurada



Beira de estrada. Horta , pomar e jardim , consumidos pelo mato.Sumiu aquela mistura de verde e encarnado, salpicado de rosa. Ocre tom...verde-fechado e amarrotado !
Quero gritar pelos de casa , pedir-lhes um copo d'água ... Um silêncio fúnebre , quebrado pelo vento, num mato sem cachorros , responde.
Passo e enxergo o abandono , igualado com uma magia estranha. Tudo caindo aos pedaços : a casa, esperanças , .e um sol desnecessário ! Paro e adentro em pensamento , destarte o cansaço da estrada .
Na sala um banco de cimento; um chapéu de palha rasgado ;uma carta queimada , e uma placa descascada , onde se pode ler : "Lar , Doce Lar..."
O corredor é estreito , escuro e úmido ; telhas quebradas , espalham-se no chão de mosaicos; quartos amplos, móveis corroídos pelo cupim; colchão destruído pelas traças. No outro quarto , um brinquedo de borracha , mistura-se aos farrapos. Na cozinha um fogão de lenha, uma chaleira amassada, esquecida do último café que esquentou ! Uma caneca de Ágata , um pote de barro, uns caixotes de madeira, cobertos de mofo e poeira . No teto , um império de aranhas. Ministérios, templos , castelos, pontes e jardins suspensos por teias ... tênues linhas , que se invisibilizam . Tudo negro, sem vida e sem cor ! Banheiros primitivos ; uma cacimba , e a mata virgem , com não sei quantos hectares , sem caminhos.
Como construir nesse casebre um doce amanhã ?
No primeiro dia seriam recortados os caminhos. Limpa do terreno , transformado em avarandado com cestos de samambaias.; chão e paredes vassourados , sem sequer um pé de lixo , nem uma única folha , trazida pelo vento . Novas telhas , novo cal , água no piso ; janelas e portas, enfim desferradas ! De lá sairá um caminhão de poeira , e outro de fantasmas !
Dia seguinte , portas e janelas pintadas; fechaduras novas , , vitrais com motivos florais , jardineiras com sementes de gerânio e beijo americano . No quarto uma cama de ferro , uma cortina de renda , e uma colcha de retalhos; um baú de guardados , com saches de patchuli. No banheiro uma violeta , um armário com sais e sabão de alecrim ! Sala com sofás de cipó , almofadas de chita , uma cadeira de palhinha , uma mesinha de canto , aonde teu óculos , teu livro e teu licor , descansam !
Um velho piano , espera uma serenata , em noite de lua ...Uma lareira crepitante , espera uma noite de Julho !
Na cozinha , a alquimia de todas as ervas; potinhos de geleia e farinha , e um monte de lenha , pra não faltar fumaça , na chaminé . Copos de alumínio areiados , espelhando teu rosto. Cheirinho de feijão temperado com uma folha de louro, e um velho papagaio , a te remedar ... " não quero outra vida.Nessa paz eu morro "!
Flora revitalizada , cachoeira jorrando água pros banhos matutinos e vesperais . Amigos chegando , cerveja gelando , pipocas e castanhas estalando ... lua pairando , e iluminando a poesia !
Quem neste sonho pára , toma café com Dona Maria , e ainda ganha outro agrado : pedaço de sonho , pintado num arco-íris !

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