Para ler em 2050
Tentativa de resumo de um texto do pensador português
Boaventura de Sousa Santos. Texto que explica nosso tempo e como o avaliaremos
daqui a 35 anos. Usarei outras ordens e resumirei as sentenças. Vamos lá.
Esta é uma época que imaginou excessivamente o futuro e
terminou por se refugiar apenas no passado. E nesta época operam
simultaneamente três poderes não democrático: capitalismo (trocas desiguais
entre seres humanos supostamente iguais), colonialismo (naturalização da
discriminação invertendo a equação tornando provocadores às vítimas) e
patriarcado (estigmatização das mulheres e das orientações não heterossexuais)
servindo-se de três outros sub-poderes, religiosos, mediáticos, geracionais,
étnico-culturais, regionais. Nenhum sendo democrático se tornaram a base da
democracia possível (democracia-realmente-existente).
Nesta esteira, no estilo invertido daqueles paradigmas de
linguagem do livro 1984 acontece o seguinte: substituição da causalidade pela
simultaneidade, da história pela notícia, da memória pelo silêncio, o futuro
pelo passado, o problema pela solução. Isso levou a: atrocidades sendo
atribuídas às vítimas, agressores vangloriados na coragem da luta contra
agressões, ladrões são juízes, as nefastas consequências das decisões de quem
decide os reduziu a uma moral minúscula.
Vivemos numa época onde excessos são vividos como carência: a
velocidade nunca chega a ser suficiente; destrói-se com justificativa na
urgência do construir; o ouro é o coração da vida, mas com a forma de uma nuvem;
todos são empreendedores e as provas em contrário são proibidas pelas provas a
favor; a adaptação é tão fluida que não se distinguem adaptados de inadaptados;
criaram-se campos de concentrações da heterodoxia (pela cidade, bares,
discotecas, drogas, Facebook).
A realidade transformada em embalagem de venda. Paisagens
são pacotes turísticos; fontes e nascentes são engarrafadas; desigualdade é
mérito; miséria é austeridade; hipocrisia, direitos humanos; guerra civil
descontrolada, intervenção humanitária; guerra civil mitigada, democracia; a
guerra é a paz infinita; Guernika é apenas um quadro e catástrofes são apenas
entretenimentos.
Assim as virtudes são cultivadas como vícios e vícios como
virtudes; não se enaltece qualidade morais e éticas, apenas se degrada, avilta
e nega a qualidade e virtudes do outro; acredita-se que a escuridão ilumina a
luz; a opinião pública é igual à privada de quem tem poder para publicar e “o
insulto tornou-se o meio mais eficaz de um ignorante ser intelectualmente igual
a um sábio”.
Uma civilização assim tende a ver gente demais e em nome de
que nada contribuem para o bem-estar e, assim, começarem a descarta-las: velhos,
imigrantes, jovens das periferias, dependentes químicos etc. E mais ainda o
radicalismo que surge é de natureza estagnada e imobilista, movidos pelo tempo
e falta de tempo, tornou a esperança exigente e cansativa; optando pela
resignação.
Conquistou-se a simultaneidade dos deuses com os humanos,
comercializando-os nos três mercados celestiais existentes, o do futuro para
além da morte, o da caridade e o da guerra. Muitas religiões surgiram, cada
qual parecida aos defeitos atribuídos às rivais, mas todas sendo o que dizem
não ser: mercado de emoções.
E conclui: a época criou um campo de plantas ruins como a
última realidade da história, tentando esquecer o mais poderoso herbicida que
existe para tal: a utopia.