CIRCULANDO NO PRESENTE DO INDICATIVO
Pisamos as calçadas das ruas do Rio de Janeiro no presente
do indicativo. E tropeçamos como se pisássemos os becos do século XIX.
Correndo como as memórias de Um Sargento de Milícia. A
memória arquitetônica com retalhos de anúncios de oficinas mecânicas e
estreitas calçadas esburacadas, interrompidas por anchos postes de
eletricidade, canos para dificultar o assédio de automóveis, jardineiras de
plantas murchas e cacarecos espalhados como o lixo espacial.
As ruas foram tomadas, com de surpresa, por uma correnteza
caudalosa de veículos motorizados, barulhentos e fumegantes. Aquele bucólico
passar de carruagens, cavalos e bondes, mais do que denunciam, revelam nas
páginas amareladas um presente condicionado.
Efetivamente as ruas do Rio de Janeiro têm um enorme problema
de conteúdo e continente. As calçadas do século XIX são as mesmas apenas houve
uma mudança na posição do X e do I na contagem do século.
E aí um drama humano, entre tantos desta urbanidade
desvairada, abre a narrativa todos os dias entre as calçadas impróprias e as
ruas apropriadas. Os novos proprietários deste espaço vital continuam atropelando
pessoas tangenciado obstáculos no seu livre ir e vir.
No início dos anos 80 as grandes vítimas eram as crianças
com mais de sete anos indo e vindo da escola. Agora são pessoas idosas,
perdendo anos vida, ocupando leitos hospitalares e a solidão nas camas que
formam escaras.
E a polícia expulsa dos ônibus jovens da zona norte com
desejo do espaço aberto da praia. E o trânsito atropela, invalida e mata. Na
avenida Atlântica gritaram toda a insatisfação e retornaram pelas ruas do Rio, pisando
no presente do indicativo.
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