UM CESTO CHEIO DE “VEJA” E “CARAS”
No salão destes enormes centros de exames: análises clínicas
e imagens. A espera de alguém que faz exame de hora marcada, presente em ponto,
mas a ordem é de chegada. E tome paciência.
Algo a fazer?
Uma estante, qual “as nossas roupas velhas dependuras”,
expunha revistas amarfanhadas e gordurosas de tantos dedos virando páginas.
Títulos como Veja, Caras, Época e por aí vai.
É Copacabana e os leitores se adequam aos títulos. E pensei,
da menos datada passearei os olhos na vaidade de artistas, semi e celebridades
do eixo Rio-São Paulo.
Todo mundo interpretando algum bom estilo de ilhas e
continentes, taças e comidas, além de álbuns imensos de reuniões, casamentos,
batizados, aniversários e tanta desrazões mais para apenas um clic digital.
Em verdade se trata de roupa velha mesmo. O que os
esperançosos da próxima chamada do laboratório se distraem mesmo são com o “face”,
instagram, whatsap e outras telas luminosas mais que houver.
Mas aí minha atenção viajou mesmo nas caras do vai-e-vem nos
balcões, tomadas e saídas de elevadores e à espera nas cadeiras acolchoadas. Isso
sem contar a indefectível programação matutina da nossa querida TV aberta
apresentando vendedores de saúde e outras normas fundamentais que logo se
esgotam na próxima edição.
Aquele bem vestido corpo esguio, de bolsa pendurada no
antebraço (todas as mulheres a carregam), cabelos mechados de louro, escovado,
unhas luminosas e na ponta dos dedos um digitar na tela com a força simbólica
de uma executiva empresarial. Conversava com uma mais jovem, embevecida diante
da oportunidade, anotando freneticamente em sua tela o que a outra lhe diz.
Bermuda. Cabelos brancos. Peso acima das tabelas e a cintura
nos últimos furos do cinto. É uma verdadeira coorte de aposentados, meio
expediente ou que mais tempo houver para um jejum, uma picada na veia e um café
com um pacotinho de biscoito cream cracker.
A mulher do cafezinho ausentou-se. Alguns começaram a operar
a máquina por conta própria. Chega um senhor, pouco mais do que sessenta anos,
com algum problema neurológico e, vendo os outros, também entra no balcão para
acionar a máquina do café. No seu modo lento começa a operação.
Sua acompanhante, uma senhora afrodescendente, diz: não faça
isso senão a moça-do-café briga com você. Alguém explica que todo mundo está a
fazer o mesmo. Aceita, mas daí em diante quem dirige todas as suas iniciativas
é ela. Que fica a busca de soluções até meia hora após saírem em busca de um
táxi. Ele, obediente, a segue.
Senhas para receber exames. Envelopes carregados. Braços
dobrados para estancar a picada da agulha. Um estalo de lábios no sabor do café.
Passos como um passarinho fugindo da gaiola. A satisfação do dever cumprido.
O médico, no seu consultório com cestos cheios de Revistas
Caras e da Veja, continua a expedir as idas àquele salão onde a expressão é o fluxo
de um ramo da economia.
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