A COLEIRA FROUXA DOS CÃES DA RUA
As manifestações foram menores. Mas pessoas circularam com
bandeiras do país e vestidas de verde e amarelo. No meio delas a voz que se
amplificou foi a organizada para hostilizar o governo e para pregar um coquetel
corretamente identificado com o sabor do ódio. (Colheu-se imagem de duas
senhoras da terceira idade com uma delas portando um cartaz com os seguintes
dizeres: “Por que não mataram todos em 1964?”
Nos dias anteriores a grande mídia, empresários e lideranças
da elite defenderam o mandato de Dilma. Imediatamente surgiu uma fórmula: Renan
no Senado para se contrapor a Cunha na Câmara dos Deputados.
E, claro, uma agenda.
A agenda que interessa às vozes dos dias anteriores. Vozes
poderosas: apoiadas no Ciclone mundial da globalização financeira; na forte
ideologia liberal; no domínio da Justiça e agora do Legislativo. Nada
revolucionário ou reformista à margem destas vozes poderá ocorrer.
Lá na lógica vocal, pois no rés-do-chão a realidade não é
bem assim.
No momento algumas imagens do passado parecem voltar: a
morte de Getúlio, o Golpe de 64, a primazia da violência de classe por meio das
instituições do Estado, o cão da rua de coleira frouxa, a unanimidade de algum
tribunal (o TCU?), as tentativas de acordão malsucedidas (Collor tentando fazer
um ministério de notáveis), as fraquejadas públicas do PT (tipo fazer Lula
Ministro para não ir para a cadeia).
Isso sem contar a enorme marca de batom na cueca da
corrupção. Agora seletiva, apenas do PT, mas a lambança é ampla, geral e
irrestrita.
Enquanto se cantam loas pelas vozes neodemocráticas há uma
sensação fluida, que se infiltra pelas brechas, quando na verdade o Governo
Dilma teria sido capturado. Faça o que as vozes recomendam e o café-da-manhã no
Alvorada será duradouro até a data sucessória.
Só que as vozes dos dias anteriores bem gostariam do pódio
eterno. Mas todos somos humanos. Cheios de ódios (como os porta vozes da rua),
de amores, mas fatalmente ávidos por amanhãs. Somos fazedores de tempo.
Fazedores de tempo se aliam. Se juntam. Se movem, comovem e
removem. Todos os fazedores de tempo conhecem suas potências e a realidade onde
estas se exercem. E a realidade existe igual àquele efeito da energia
gravitacional que lança uma nave sem energia própria ao limite do sistema
solar.
As vozes não têm o pódio da história. O mérito de alguns só
acontecerá enquanto não houver este amplo e distributivo demérito. Portanto nem
esta ideia “luminar” do mérito se sustenta.
E o acordão de governabilidade continuará na corda bamba,
mesmo com o cão de rua de coleira frouxa. Como sabemos outros cães poderão
soltar-se de suas coleiras e também tomarem as ruas.
Afinal porque pagar tantos juros do governo se o dinheiro dos
benefícios gerais não dá nem para uma tapioca com café?
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