por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Sombras e Sonhos



Tenho pensado mal dos meus sonhos , mas não posso deles me queixar... Fotografam e revelam os meus desejos conscientes e inconscientes. A culpa é minha se eles são modestos ou mesquinhos.

Concentram-se em coisas realizáveis a qualquer tempo.

Os sonhos alcançam as nossas graças.São respostas às nossas dúvidas. Quem quiser que os entendam. Eu até tento !

Sonhei encontrando todo mundo.

Eram duas salas. Na primeira eu via o povo , como era no passado. Percebo-me tímida , mas de olhar caçador e danado. Pronto ! Cruzei meu olhar com um moço tímido mas de sorriso zombeteiro. Por uma fração de segundos a gente se viu. Só que desta vez , eu congelei o fato.

Na segunda sala a gente apareceu com a roupa do futuro. Cabelos cansados , mas restaurados. Percebi novos rostos, adicionados pela vida.

Se os encontros se desencontrarem, não importa... Nos sonhos eles são perfeitos !

Hoje é quarta-feira. Minha agenda está desobstruída dos trâmites gerais. Posso tudo , inclusive ficar de pernas para cima, e deixar a casa sem almoço.

Pra que é que serve ovos e sardinha ? Também tenho os meus dias de farofa , banana , e doce de pacote.

Acordei sem lembrar do que sonhei , mas lembrando um passado remoto , e uma das minhas inúmeras mortes.

A vida reflete o sonho Tenho parcos sonhos. Economizo distâncias , dinheiro, paixão , e até saúde. Sou tão injusta...! Só não economizo poesia.Por falta de sonhos ela chega de chinelos franciscanos, perambulando no frio fulgor das auroras.

Tenho tudo e deixo de querer o essencial. Estou presa à quatro paredes, e de janelas e portas abertas para o mundo virtual. Lá também não sonho , nem invento realidades. Não brinco de amar.

Não sou exatamente triste, nem exatamente romântica. Sou quase esquisita... Alegro-me com o brilho no olhar dos meus amigos. Absorvo e rejeito a tristeza. Choro-a em prantos, sem entender o meu luto contínuo.... Coisas perdidas , ganhos em caixas vazias. Quando a morte chegar , de nada me separará... A não ser das manhãs e madrugadas, e dos irrespiráveis ares que insisto em tragar.

Eu resumi a vida , e ela teimosa se estica. Comprimi todas as músicas, no repertório de Nana Caymmi ( nunca vou escrever sem dúvidas , o sobrenome Caymmi...). Não gosto de política, nem de Economia, nem de futebol ...Não gosto do risível , nem do aterrador. Vivo as madrugadas que nascem e morrem em mim, num cotidiano repetitivo, desequilibrado com algumas surpresas...

Um desconto ou troco poético , que me roubam do tédio.

O contato com as palavras é recreativo. Tomo café com vogais, e faço sopas com todas as letras.

Faço turismo nos contos de alguns, catando arrepios e extraindo gotas de emoção para molhar a secura do coração. Não sei os motivos da arte. Ela foge de mim , quando a procuro, e esconde-se nos meus porões.

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