Não me lembro de ti - por José do Vale Pinheiro Feitosa
Logo tu, esse sinônimo de lembrança,
Esta exuberância de Chapada do Araripe,
De acordar a sonolência da preguiça,
De mover as moendas do engenho,
E depois aproveitar as águas levadas.
Como me esqueceria desta presença?
Capaz de flutuar no mais escuro da tristeza,
Submergir no manto inconcluso desta vida mutante,
E como as baleias esguichar alto as lágrimas sentidas,
Colhidas, firmes como o frutos de buriti da segunda-feira.
Não me lembro de ti,
Como nem lembro de mim,
De nós, deles, daqueles minutos selecionados,
Como o relógio da estação de trens,
A estátua da samaritana,
O Cristo de braços abertos,
A cidade a brincar de golfinho,
Fugidia, pulando e mergulhando nos abismos da lembrança.
Não me lembro de ti,
E mesmo que me digas,
mas eu me lembro de ti!
Juntemos a afirmação à minha “deslembrança”
Ambas se anularão como a antimatéria,
E ao final teremos:
Inteiros, destacados, com todos ângulos e lados,
Nós os deslembrados,
A nossa própria natureza.
A natureza que não precisa de lembranças,
Sobretudo energia a gerar no presente,
As lembranças quando o presente se tornar futuro.
Mas aí o futuro já será presente e tudo se resolve.
Socorro Moreira disse...
Esses versos me deixam no presente do futuro,
sem deixar a saudade chegar.
Lembrar um papel,
quase em branco...
Sentir falta da mensagem
que chega, sem atrasos.
Que importa o esquecimento
e as lembranças ?
Elas são únicas, e nos deixam
confinados,
num sentimento estranho.
Nem quero dar nome aos bois...
O vaqueiro é José
O santo do Seminário é José
A festa de março
de quem é ?
E agora, José ?
Jesus , Maria , e todos os anjos
são velhos índios de uma tribo ambulante , mas confiante !
12 de março de 2010
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