"Quem pensa muito não casa ". Quem pensa muito vive cansado. Quem vive o dia, no caminho do sol, tem a esperteza dos mascotes.
Dias chuvosos , nos convidam a permanecer na cama. O apetite é voraz, olhamos menos para o espelho, nos desapaixonamos .
Hoje estou assim ... Desativada da minha energia natural. Caminho pesadamente , entre o térreo e o primeiro andar... Parece que tenho tamancos nos pés. O céu tem cheiro de lavanda ; minha roupa tem cheiro de lama , e perfume do passado.
Escrever , ainda é uma boa saída. Até porque , oferece passagem de ida e de volta , num vai e vem sem limites.
Visito um recanto , que apenas imagino. Busco o concreto imaginável , já que estou diante da cegueira , no invisível ...
Subo no elevador. É o apartamento de um pintor. Respiro terebentina e tintas frescas . Imagino afrescos , e telas espalhadas pelos cantos. O dono está ausente. Viajou com um baú de desenganos , esculpindo pedras no caminho. Rasgando a matéria , como se ela fosse molambo. Deixando nela , o produto do seu pranto.
Faço a vistoria , tateando a intuição. Um sofá confortável , mas cheio de marcas; sala íntima com cheiro de " vetiver ";um relógio de pulso atrasado ; canetas e papéis , numa escrivaninha de cedro... Escritos em negrito.Uns esquecidos , e outros amassados.
Falei com seu short , largado na cadeira do quarto. Ele olhou para mim meio intimidado,(Desconfiou que eu não era uma ladra comum... De nada dali , me apossara , a não ser com o olhar , e o resto dos sentidos) e disse-me : ele sempre me deixa assim , quando se cansa de mim.
Meu dono viajou . Ele sempre volta com um sorriso enfadado , e um brilho novo no olhar.
Sai do cenário. Não olhei em volta , nem fui até a janela , descobrir em qual cidade estive. Desprezei a personalidade física de um lugar... De um lugar , provavelmente conhecido.
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