por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 7 de janeiro de 2011


Um amor e Adélia Prado
Adélia Prado me foi apresentada por José Ítalo de Andrade Proto, em 1981.
Recebi pelos Correios, o presente de um livro de poesias com a dedicatória:
“Adélia não é a tua cara?
-Insaciável, em termos de vida!”
Li, avidamente. Afinal, Ítalo fôra e continuara sendo o meu maior referencial afetivo de sabedoria, sensibilidade e inteligência.
Descobri na Adélia, a simplicidade que existia em mim... Pensar poeticamente, enquanto lavava a louça do café, varria a casa, cuidava do jardim, testava uma receita nova, me enfeitava para esperar um namorado.
Em 1987, Ítalo foi convocado pelos céus, e partiu. As pessoas que o amavam tiveram que conviver com a dor da separação, hoje transformada, na mais doce das saudades.
Ítalo amigo, cidadão, camarada, filho, irmão... "O Mimi" dos afetos mais próximos!
Com esta ponte sutil, permaneci ligada à suavidade do Ítalo, e sabedoria poética da Adélia.
Conheci o Ítalo, em Várzea Alegre, no ano de 1967. Época de férias. Juventude lúdica: dançante e cantante. Mas ele era diferente... Preocupava-se com as causas sociais. Instigava a nossa consciência crítica. Queria por idealismo, um mundo mais justo, mais fraterno, mais livre.
Correspondemos-nos por meses seguidos... Até que nos ligamos a outros destinos, sem jamais perder o fio da meada: boas lembranças!
Uma década depois, em 1977, nos reencontramos em Fortaleza. Ele me olhou e disse:
Socorrinha, você, Odalice e Dayse não ficam velhas, nem feias... Continuam lindas!
Já adultos, e com responsabilidades, curtimos uma grande amizade. Cantamos Nelson Cavaquinho, Chico, Vinícius... Voltamos a dançar, e a fazer poesia com o nosso olhar. E, por mais dez anos, nos correspondemos.
Cartinha vai, cartinha vem... Eu de vários recantos... Ítalo, no Rio de Janeiro. Dizia-me sempre: Você devia morar em Londres!
Até que um dia, as cartas tornaram-se telepáticas.
Visitou-me algumas vezes, e ainda me visita trazido pelo perfume de uma flor ou o som de uma canção de amor. Arrastado pelo vento, ou voando como um passarinho... Pousa nas minhas janelas diurnas e noturnas, e faz com a alma, um afago, um carinho.
"Love is a many splendored thing”...
-A voz de veludo e o verde esmeralda do olhar, que nunca esqueci!

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