por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sábado, 13 de julho de 2013

Assim como Renan Calheiros e Henrique Alves eu também já viajei num avião da FAB - José do Vale Pinheiro Feitosa

Antes da conversa começar uma lembrança de um fato passado: alguém aí no Crato, agastado por minhas críticas políticas, andou espalhando que eu fora figura importante na saúde do PSDB e depois, por oportunismo, me aliara à oposição vitoriosa. Foram notas dissimuladas nos blogs da região, cuja verdadeira versão assim como a fonte do boato eu apenas soube por um e-mail revelador. Eu nunca fui nem do PMDB dos tempos áureos de cuja costela saiu o PSDB mas ocupei cargos de confiança em diversos governos, desde Sarney, passando por Brizola no Rio, depois com Jatene nos governos Collor e no primeiro Fernando Henrique. E foi aí no governo FHC que andei numa aeronave da FAB.

Vi o amanhecer de Brasília na Base Aérea esperando um avião do modelo Avro, um velho turbo-hélice que vinha da Base Aérea do Galeão. Destino: Marabá no Pará. Quatro horas de voo até pousar. Além de quadros de vários ministérios do governo FHC, ia um batalhão de repórteres.

Cinegrafistas, repórteres de televisão, gente do rádio, jornais e revistas. Viajava com uma quantidade imensa de rostos conhecidos da televisão. Todo mundo pago pelo governo, numa aeronave da FAB. E sim, todas as grandes cadeias de jornalismo, com a Globo à frente, Bandeirantes, SBT e outras mais além da revista Veja, Isto É os principais jornais de Brasília, São Paulo e Rio. E, claro, grandes rádios.

Eu fora enviado pelo Ministério da Saúde sem saber exatamente qual era a missão. Mas como tinha delegação para analisar qualquer demanda estava tranquilo naquele ambiente ambíguo e impreciso. Por volta de uma hora estávamos todos, autoridades e imprensa hospedados nos mesmos hotéis e à noite em rodas comuns.

Eu tinha um amigo entre os quadros do governo, a missão era do Ministério da Reforma Agrária e este amigo era assessor direto do Raul Jugmann,  então ministro e hoje destacado quadro do PPS do Roberto Freire. No dia seguinte o ministro chegou num jatinho da FAB e fomos em duas aeronaves, a elite no jatinho e o rebotalho no turbo hélice até São João do Araguaia.

Logo após o pouso foi toda a excursão até um assentamento de agricultores e ali vimos a “maravilha da obra de reforma agrária” do governo FHC. Tudo funcionava. Raul Jugmann mostrava força, uma esquadra de representantes de todos os ministérios estava ali para salvar os trabalhadores sem terra.

Depois foi um banquete com os peixes da Amazônia, carnes de gado à vontade e a presença de todos os prefeitos da região e o Raul juntando força contra alguém ou algo. Foi um discurso de união para organizar a reação. Que era previsível mas não dito às claras.

No dia seguinte, em Marabá, após o café da manhã eis a cereja do bolo. Num auditório do INCRA Raul reuniu-se com representantes do MST e na presença de toda a imprensa que viajava às expensas do governo, armou a arapuca para expor as reinvindicações dos trabalhadores com mero sectarismo.

Olhe que aquela manobra ocorreu após aquele massacre de Eldorado dos Carajás executado pelo polícia do Pará então governado por um político do PSDB. Logo depois Raul com seus assessores subiram no jatinho e rumaram para Brasília e nós almoçamos para começar a longa e demorada viagem de volta naquele turbo-hélice dos anos sessenta. Chegamos a Brasília por volta de onze horas.

O pessoal da imprensa ainda tinha energia para piadas e brincadeiras, mas sinceramente tive pena de todos nós a serviço de uma causa anti-democrática que era desmoralizar um legítimo anseio por inclusão econômica da gente do campo e que os governos vêm apenas como baderneiros. E que o agrobusinesse tem horror como tem às reservas indígenas. Como as empreiteiras têm dos terrenos que poderiam se tornar parques para o lazer nas cidades tensas e atulhadas.  


Do mesmo modo que ventríloquos nas redes sociais movem suas mandíbulas pelos mesmos cordões que fazem parte dos voos da FAB.

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