E lá venho em meu
caráter renitente a esse banco vazio de uma praça da minha cidade. É noite de
sábado, mas em minuto algum desta noite ela se encheu de gente como no passado.
Estão todos no Facebook,
em frente às telas iluminadas das televisões, deixando vazios um, dois, três,
quase todos bancos e apenas um ocupado, esse em que me sento.
Mas venho com esperança
do humano. Não me falem em passado e nem em futuro. Basta ser vivo para ser
presente. Acho um horror aquela frase que diz ser o jovem o futuro. Conversa de
conservador querendo guardar seu privilégio de há muito que domina.
E venho como aquele
personagem da canção do Milton Nascimento que todos os dias vem esperar o trem
que nunca passa. Mas enquanto solitário nesta noite de sábado, o silêncio me
faz ouvir o clic das pequenas sementes pretas que caem do cimo das palmas que
adornam a praça sobre o mosaico do seu piso.
Um Crato inteiro sumiu
desta praça. Entrou profundamente dentro das furnas onde se comunica com o
mundo todo, menos com a praça. Talvez resguardando seus peitos de balas das
armas apontadas que lhes surrupiam os objetos de valor. Até os tênis de marca. Como
se as armas não ultrapassem os portais das furnas.
E por isso meu caráter
renitente. Vim à solidão da praça esquecida. Do esquecimento que a praça tem de
gente. A amnésia das estrelas que já não enxergam os dedos que lhes contavam. A
lua que olvidou todas as pessoas sumidas.
Vim para solidão para
não esquecer de ninguém. Ninguém que nesta praça não se encontra.
Um comentário:
A personalidade física do Crato registra-se nas suas praças.
A praça dos pombos, da Estação, que congregava gente da terra e dos mares...Indo, voltando, chegando ficando...
Pertinho, a Viação Varzealegrense. Recife era tão longe! São Paulo, Rio... Estas cidades faziam parte de todos os sonhos.
Haja fritado de galinha caipira, numa lata de leite.
Acordei muito na madrugada pra viajar ou esperar...
"NOVENTA" era o nosso carregador oficial. Toda viagem parecia-me longa. A toalha no pescoço denunciava os viajantes.
A Praça São Vicente ficava próxima às casas onde passei minha infância maior e adolescência. Rezava em São Cristovão, sentava no batente da casa de "Rosa Amélia", e via o movimento de estudantes da Escola Técnica. Brinquei de roda nas calçadas da Rua Dr.João Pessoa. São tantas as lembranças que elas pulam fora da minha página nostálgica ou saudosa.
A Praça Siqueira Campos acolhia saltos e olhares. A magia dos cinemas, as músicas da "Frigidaire".Billy Voghan, nos ensinando passos de um bolero cruzado, com todas as paradinhas, e rodopios.
Por fim a Pça da Sé com "porcarias" adoráveis. Desde filhoses, roletes de cana, amendoim torradinho, e uma amplificadora que se ativava, na festa da padroeira.
Ainda existia o Parque Municipal e seus eucaliptos. A quadra com o nosso futebol de salão nos dias de quarta e sábado.
Lá na frente a Rádio Educadora, e o Tênis.
Teve tempos melhores?
Milhares de histórias nestes nossos cenários totalmente modificados... Ou quase!
Ontem olhei os bancos das praças. Vi o escritor com zoom no olhar. E aí, vamos conversar?
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