por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

MULHERES

    Janice Japiassu

 
Com um pano de seda encarnada

Costuramos as vestes do amor

Contra a negra descrença do amado

Acendemos uma vela sem cor

 
Replantamos no chão esse verde

Que a cultura do homem arrancou

Cultivamos sementes sozinhas

Com a certeza do céu e da flor

 
Não tememos a luz nem as trevas

Rastreamos a luz no escuro

Recolhemos a lágrima eterna

Não fechamos o céu com um muro

 
Não chamamos a dor de tolice

Nem o choro do amor de histeria

Não rimamos feliz com medíocre

Não fazemos do sexo, orgia

 
Do abandono fazemos os filhos

Retirando do corpo, alegria

Não compramos poemas vazios

Nem fazemos, do medo, teorias.



Onde, atados, os sonhos se partem

Fenecendo de pura asfixia

Impedidos da brisa da tarde

 
Habitamos o mar, o mistério

O profundo segredo da Terra

Conversamos com Deus, com o eterno

E jamais inventamos as guerras

 
Também nunca inventamos pecados

Nem serpentes, nem culpas, nem dor

Nem igrejas, governos, cadeias

Nós nascemos pras artes do amor

 
Somos antes, durante, depois

Dos infernos, dos céus, dos partidos

Nos encanta o corpo do mundo

Com sua alma de sangue e de viço
 

E rezamos pra Nossa Senhora

Jesus Cristo e pra Madalena

À Aristóteles, Comte ou Descartes

Preferimos a nossa Novena

 
É por isso que, em nós, o céu dança

E as estrelas também, se é preciso

Entendermos de tudo que é vida

De esfinges e de Paraísos.

 

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