Janice Japiassu
Com um pano
de seda encarnada
Costuramos as
vestes do amor
Contra a
negra descrença do amado
Acendemos uma
vela sem cor
Que a cultura
do homem arrancou
Cultivamos
sementes sozinhas
Com a certeza
do céu e da flor
Não tememos a
luz nem as trevas
Rastreamos a
luz no escuro
Recolhemos a
lágrima eterna
Não fechamos
o céu com um muro
Nem o choro
do amor de histeria
Não rimamos
feliz com medíocre
Não fazemos
do sexo, orgia
Retirando do
corpo, alegria
Não compramos
poemas vazios
Nem fazemos,
do medo, teorias.
Onde, atados,
os sonhos se partem
Fenecendo de
pura asfixia
Impedidos da
brisa da tarde
O profundo segredo
da Terra
Conversamos
com Deus, com o eterno
E jamais
inventamos as guerras
Nem
serpentes, nem culpas, nem dor
Nem igrejas,
governos, cadeias
Nós nascemos
pras artes do amor
Dos infernos,
dos céus, dos partidos
Nos encanta o
corpo do mundo
Com sua alma
de sangue e de viço
E rezamos pra
Nossa Senhora
Jesus Cristo
e pra Madalena
À
Aristóteles, Comte ou Descartes
Preferimos a
nossa Novena
É por isso
que, em nós, o céu dança
E as estrelas
também, se é preciso
Entendermos
de tudo que é vida
De esfinges e
de Paraísos.
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