por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



domingo, 23 de outubro de 2011

Palavras Cruzadas Francis Hime




Aqui no meu quarto, sozinho,
Ouvindo baixinho uma canção de amor.
Do alto na minha janela
O quadrado é uma tela de som, luz e cor.
Esqueço a retina parada,
Olhando pra nada e pra qualquer lugar.
Lá embaixo a visão se repete,
É uma grande maquete a se movimentar.


Me deito na cama, um momento,
O olhar desatento no telejornal.
A noite acende a cidade
Numa claridade artificial.
E como um papel solto ao vento,
Solto o pensamento a vagar por aí:
Da infância a um amor antigo,
Da mãe a um amigo que eu nunca mais vi.


Mas vem a lembrança recente
De um amor ausente a me torturar.
E esse vazio sem jeito,
Na cama e no peito, me faz relembrar
Quando ela fechou-me as saídas,
Levou minha vida sem olhar pra trás.
Dizendo, assim, se desculpando,
Baixinho, chorando: "Eu não te amo mais".


Revejo num canto, jogadas,
Palavras cruzadas de um velho jornal.
E em meio às notícias do dia,
Rio da ironia de uma vertical
Que diz: "sentimento profundo
Que ilumina o mundo com seu resplendor".
E aqui no meu quarto, sozinho, amigo da dor,
Eu ouço calado, baixinho, uma canção de amor.


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