por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 21 de setembro de 2011

O TREM- por Tetê Peretti




O trem

Lá vem... lá vem o trem.

Gigante. Imponente. Com os seus vagões, de carga ou de passageiros, encantava a criançada. No início, a Maria Fumaça que, movida à lenha, deixava o seu ruído ser interpretado, na doce ingenuidade embalada pelo espírito leve e criativo de criança, de café com pão, bolacha não...café com pão, bolacha não. Piui...Piui... Aos poucos, a Maria Fumaça foi substituída por um maquinário moderno, mais elegante, de cores vibrantes. Revelando sempre a sua imperiosidade, ainda distante, através de sua buzina estridente, sibilante, trilhando entre os seus trilhos e a paisagem verde, anunciava, em breve, a sua passagem. E, a criançada, destemida e abraçada por sonhos e fantasias, deixava para trás toda a brincadeira, chinelos e, com vestes despojadas, cabelos soltos ao vento, corria em direção ao seu encontro. Não importava a temperatura da terra, do sol ardente, dos espinhos que atravessavam o caminho. Nada era empecilho para desfrutar dessa aventura, de acenar para os passageiros, como um gesto de saudação, onde a satisfação se fazia presente em cada rosto, pelo sorriso singelo e inocente, próprio da idade.

Gigante em seu tamanho. Para a criançada, nada mais que um brinquedo miudinho, que, atrelado às suas estripulias, em período de férias, deleitava-se na mais doce ingenuidade de brincar com os seus trilhos, sobrepondo areia e pedras, na ilusão de desviar o seu percurso. E o trem continuava com a sua imponência, suavemente deslizando sobre os seus trilhos, ignorando e jogando ao lado as pedras e areia ali depositadas pelas nossas travessuras.

Tanta inocência! Somente o mundo de fantasias poderia responder tão grandioso desafio.

Hoje, cada um seguiu o seu destino. O trem, a criançada com os seus sonhos, fantasias e estripulias, bem como os demais habitantes daquela região, que, dos alpendres e calçadas de suas casas, contemplavam a sua passagem. O tempo passou e levou consigo todo o encantamento do trem. Com ele, muitos passageiros fizeram sua última viagem em busca de uma nova vida. Da bagagem, sentimentos, amizades, sonhos, alegrias e lembranças que adoçam a nossa existência.

E o trem de passageiros, assim como aconteceu com a Maria Fumaça, seguindo o ritmo da vida, ficou para trás. Lá se foi o trem... lá se foi o trem. Assim é a vida. Vivendo cada um o seu momento. Agora o espaço é do metrô, que certamente encantara a criançada.



Sítio São José – Crato – Ce
Teresa Barreto M. Peretti (Tetê)

Nenhum comentário: