1
Maçã verde
pomba branca
olhos de fogo
nudez.
Carne mistério luz
olhar cavalo alado.
Mulher nua
seio espelho vulva.
Círculos
pernas dança
vôo múltiplo.
Banheira
vermelha.
Teclado
cores verde vermelho.
Sangue
verbo vermelho
vento bilboquê.
Mão no espaço
lábios.
Flor vermelha
coração
sangrando.
Olhar musa mágico
a pomba na mão
um olho na ponta dos dedos.
Corpo
corneta
córnea.
2
Onde está meu cachimbo?
Desçam as cortinas
estou morto.
Minha mulher deposita rosas vermelhas
no meu túmulo
eu sorrio.
Estou cego por isso vejo
eu sorrio
falo palavras claras vejo com clareza.
Quebrem o ovo
quero nascer desse parto.
Cantem comigo.
Mordi a língua minhas palavras sangram.
As idéias cheiram
sabem a mulher
a pássaro.
As idéias não são nada diante do corpo
da mulher.
3
Simples
o fogo sai do ovo
o fogo queimando o pássaro.
Os espelhos quebrados são múltiplos espelhos.
Nuvens voam
sai das nuvens a mulher sem face.
Um esqueleto triste não é um esqueleto.
Acendam as velas
acendam uma vela por mim.
Um fantasma me habita.
A minha língua apunhalada
não se cala.
não se cala.
4
Sou uma estátua no parque
cofiando os bigodes.
Meu assassino se recusa a me enterrar.
Possuo o corpo da mulher
no corpo da terra.
Navego no mar
na carne
da terra.
5
A língua voa verde pássara.
Uma folha que se queima é uma floresta
que se queima.
Uma pedra é nítida como só uma pedra
é nítida.
Quero o meu poema nítido
como uma pedra.
No chão desolado do poema
cresce uma flor de pedra.
Quando a nuvem se tornar nítida
sólida e nítida
como uma pedra
meu poema estará terminado.
José Carlos Brandão
Um comentário:
Perfeito!
Grande abraço!
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