Por Crato Notícias
Antônio Vicelmo
Dizem que ser cratense é, sobretudo, um estado de espírito. O Crato consegue ser culta, debochada, carrancuda, moderna e boêmia. Esta mistura de hábitos e costumes faz da “Princesa do Cariri” uma cidade diferente, com comerciantes que ainda fecham seus estabelecimentos para o almoço, seguido de uma sesta. Existe até um ditado que diz: “Só no Crato”! Em uma alusão às coisas inusitadas que acontecem nesta cidade, fundada pelo frade italiano Carlos Maria de Ferrari.
A Rua Pedro II, que muitos teimam em manter o antigo nome de “rua da Pedra Lavrada”, é um exemplo desse comportamento fora do comum dos seus moradores. Ali, todo final de semana, uma oficina mecânica se transforma num ponto de encontro de seresteiros, notívagos, trovadores do amor que se reúnem para lembrar os velhos tempos, quando a seresta era feita no meio da rua.
A luz elétrica, a violência e a necessidade de acordar cedo para o trabalho expulsaram os seresteiros da noite. Mas o romantismo não chegou ao fim. “Enquanto houver um violão e um boêmio apaixonado, a seresta sobreviverá a esta avalanche de progresso que invade as cidades do interior”, garante o violonista Eliezer Pinheiro, um dos integrantes deste grupo de remanescentes que, todo final de semana, enche a velha oficina de melodias.
Ponto de Encontro
De repetente, o barulho das máquinas é substituído pelo som plangente de violões, pandeiros e cavaquinho. A voz possante dos seresteiros ecoa na rua Pedro II, mostrando o jeito apaixonado e poético, de sentir, e viver a vida do cratense. O proprietário da oficina, Francisco Geraldo Barreto, conhecido por “Pixa”, justifica que, além da magia da música, a seresta tem também o objetivo de reunir velhos amigos.
A voz romântica de Francisco Peixoto, que marcou as gerações dos anos 60, emociona os corações apaixonados que viveram aquela época. O violão de Flaviano Callou desperta emoções e sentimentos que estavam reprimidos ou sufocados por esta enxurrada de músicas modernas que, segundo os seresteiros, não tem história. A sinfonia cratense é complementada pelo som do cavaquinho de Vicente Lobão, um deficiente visual, que faz da música uma forma de enxergar o mundo.
Outro ponto de encontro dos seresteiros é a oficina mecânica de José Francisco Mauricio, conhecido por “Prego”, localizada à Rua Cursino Belém. A velha oficina, ocupada por tornos mecânicos, se transforma no relicário de músicas antigas na voz do ex-goleiro da seleção cratense de futebol “Luiz Pé-de-pato”, um dos mais requisitados seresteiros da cidade.
Em cada canção, uma saudade, uma história de amor que marcou a vida de uma geração que cresceu ouvindo Vicente Celestino, Orlando Silva, Augusto Calheiros, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves, dentre outros que enterneceram a alma lírica dos poetas que, através de retrovisor do tempo, iluminam a estrada do passado.
A música, segundo o seresteiro Gilberto Teles, não é só associação de sons e palavras, mas um rico instrumento que pode fazer a diferença, pois desperta o indivíduo para um mundo prazeroso e satisfatório para a mente e para o corpo que facilita a aprendizagem e também a socialização. Gilberto Teles, lembra que a música é uma das mais antigas e valiosas formas de expressão da humanidade e está sempre presente na vida das pessoas, em todas as idades.
Fonte: Diário do Nordeste
Um comentário:
sou cearence de juazeiro e moro na paraiba semore vou ao cariri e gosto muito do crato,queria conhecer e participar desta seresta nesta oficina,proximA viagem estarei com voces.
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