por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 2 de março de 2011

LIEBESTOD - morte de amor




Tristão e Isolda de Wagner apresenta uma das mais belas canções dos dois últimos séculos que reverencia o amor erótico no limite entre a permanência e a morte.

Vozes da tristeza,
continente no baú.
costurado: flores de rebites,
tampa: ecos dos tempos,
força dúbia: penetrante e evasiva,
que das frestas surge,
envolvendo genitálias,
fisgando ermos insulares,
em multiplicidade continental.

Revolvendo brisas matinais,
inocências virgens,
arrebatando a castidade,
voluptuosa canção,
poderosa, sucessiva, impreterível,
surgindo,
ocupando,
esgueirando-se,
afirmando-se.

Traços e pautas,
impregnações de ondas emocionais,
mágica revelação,
repuxos e avanços,
suave e permanente,
fugaz promitente,
rápida feito raio,
espalhafatoso trovão,
se tenta e esvai-se rápido.

Novamente é o mesmo,
veio e imergiu,
película lacustre de nuvens refletidas,
pausa breve,
sucedida dos pingos circulares,
indeciso e efêmeros,
tanto é silêncio,
quantos decibéis,
quase retirante,
gritos de chegança.

Surge como golfinhos,
silvando e, lindo, mergulhando,
deixando espumas translúcidas,
agora não mais indefinidas,
todas majestades,
em dourado de explosões,
chocalhando úvulas palatinas,
e cordoalhas ventriculares,
apaixonando cada fragmento
desta vida explodida.

A cauda submerge,
total como o corpo dos cetáceos,
jato forte da respiração,
inundando céus de aerossóis,
arco-íris sobre a cabeça,
num segundo de arranque,
minha vida inteira,
conjugando-se em verbo regular.

Caudais intransponíveis,
desta balsa louca dos vendavais,
ao mesmo que revolução
também costa verdejante,
cheia de flores multicores,
quase grito,
afinal grito
e minha voz se mistura ao redemoinho de fogo.

No auge que distrai,
das entranhas revoltas que reconstroem,
todo o drama da humanidade
e seus desejos loucos de permanência,
acima da morte,
fazendo filhos
numa paixão de corpos,
convulsas copulações.

E lá chegas
Isolda?


A fraqueza dos meus olhos não viram,
a voz do ciúme traidor
abriu a vela negra,
no barco que tua ausência presumiu-se
quando a vida em momento pós-ejaculado,
minha respiração acalmando-se,
pálpebras em sombra,
os olhos sonhando,
com o filho
que nossa morte de amor gerou.

por José do Vale Pinheiro Feitosa

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