por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



segunda-feira, 1 de abril de 2024

 RELEMBRANDO UM “PEQUENO GRANDE GESTO" (da série, recordar é viver) - José Nilton Mariano Saraiva


E de repente, de uma área não muita afeita a manifestações da espécie, porquanto povoada por “machões sarados”, aparentemente embrutecidos, e ainda por cima praticantes de um esporte onde o contato físico forte e ríspido é uma constante, uma atitude inusitada, um laivo de ternura e afeto, um “PEQUENO GRANDE GESTO”, que parece ter passado despercebido pela maioria dos que o vivenciaram, ao vivo ou via telinha (pelo menos não se ouviu ou se leu nada, a respeito).

Deu-se na frienta noite londrina do dia 28.05.2011, no novo e monumental estádio de Wembley, por ocasião da partida final da Copa dos Campeões da Europa 2010/11, quando se enfrentaram as tradicionais e caras esquadras do Barcelona (Espanha) e Manchester United (Inglaterra), dois dos maiores expoentes do mundo futebolístico da atualidade. Final: Barcelona 3 x 1 Manchester United.

Aos fatos.

Quase ao final do aguardado confronto, que mobilizou adeptos do futebol em todo o mundo (aos 43 minutos do segundo tempo) com o jogo já definido e o título assegurado em favor do excepcional Barcelona (3 x 1), o técnico Guardiola (ex-jogador do próprio clube), numa atitude de grandeza e desprendimento, resolve prestar uma justa homenagem ao seu correto “capitão”, o aguerrido zagueiro PUYOL, que, lesionado, não tivera condição de adentrar ao gramado, de início; então, faltando dois minutos para o término da pugna, convoca-o a substituir um companheiro, com o claro intuito de, naquele momento maior, no ápice daquela gloriosa jornada, braçadeira de capitão no braço, fazê-lo erguer o troféu de campeão e, consequentemente, aparecer para a posteridade nas TVs de todo o mundo, ao vivo e a cores, e na primeira página dos principais jornais do mundo, dia seguinte.

Providenciada a substituição, daí a pouco o juiz determina o término da partida. E foi então, no momento da premiação, ante um batalhão de fotógrafos e centenas de canais de televisão de todo o mundo, que deu-se o inusitado, aquilo que denominamos um “PEQUENO GRANDE GESTO”, pelo espontaneidade e nobreza do ato: o guerreiro PUYOL, evidentemente que fugindo do script armado pelo técnico Guardiola, mostra toda a sua humildade e excelência de caráter ao abdicar de tamanha honraria ao delegar ao discreto companheiro ABIDAL (lateral esquerdo), o privilégio de erguer o troféu, como se fora o verdadeiro “capitão” da equipe catalã.

Explica-se: meses atrás, ABIDAL fora desenganado pelos médicos, em razão da descoberta de uma grave e normalmente letal enfermidade (“câncer” no fígado) e fora afastado sumariamente das atividades esportivas; agora, após um tratamento pra lá de penoso, ali, ante um estádio ocupado por 80 mil pessoas e com a partida sendo transmitida pra bilhões de telespectadores em todo o mundo, além da confiança do técnico Guardiola em escalá-lo e mantê-lo durante toda a partida, PUYOL, o “capitão” de todos eles, que entrara ao final do jogo unicamente pra “exercitar o que lhe conferia a patente”, humilde e simbolicamente transferia pra ele, ABIDAL, o privilégio de erguer o troféu de campeão.

Uma cena de cortar corações e levar qualquer um às lágrimas (embora alguns teimem em afirmar que “homem que é homem não chora”). Pois, acreditem, não resistimos à cena e “abrimos o berreiro” (e prestamos esse depoimento, sem nenhum constrangimento).

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