Como um intelectual (FHC) pode se unir à
grita da corrupção generalizada petista assim, de forma tão leviana? Sem o
adensamento das causas? Sem uma perspectiva histórica? Sem analisar o sistema
legal que proporciona tais desvios? Sem uma análise comparativa? Sem qualquer
pronunciamento sobre a existência ou não das ações de combate?
A corrupção
inexistia no Brasil pré-PT ou nasce a partir da assunção desse partido? A
malfadada governabilidade no Brasil - e seus filhos diletos, o fisiologismo e o
patrimonialismo - é uma pré-condição do exercício do poder ou somente foi e
será praticada pelo PT, mas não por outros partidos que eventualmente venham a
conquistar o governo? Em outras palavras, é possível a qualquer partido
governar sem se render aos clamores e anseios de sua inexoravelmente necessária
base de apoio?
UM DOS PRIMEIROS ATOS DE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO (PSDB) , ASSINADO SOMENTE DEZOITO DIAS DEPOIS DE TOMAR POSSE, ATRAVÉS DO DECRETO 1.276/1995, FOI EXTINGUIR A COMISSÃO PARA INVESTIGAR A CORRUPÇÃO, COMISSÃO QUE HAVIA SIDO CRIADA EM 1993, POR ITAMAR FRANCO.
LULA, NO 1º DE JANEIRO DE 2003, PRIMEIRO DIA DO SEU GOVERNO, ASSINOU A MP n° 103/2003 (DEPOIS LEI 10.683/2003), CRIANDO A CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO, E ATRIBUINDO AO SEU TITULAR DENOMINAÇÃO DE MINISTRO DE ESTADO DO CONTROLE DA TRANSPARENCIA, O QUE IMPLICOU ELEVAR O STATUS ADMINISTRATIVO DA PASTA E SINALIZOU AOS SUBALTERNOS O NORTE A SER ORIENTADO.
Nos oito anos de governo do PSDB, com FHC,
a Polícia Federal realizou um total de 48 (quarenta e oito) operações, ou seja,
uma média de seis operações por ano. Nos doze anos de governo do PT, esse
número saltou para cerca de duas mil e trezentas, o que dá uma média de mais de
190 (cento e noventa) por ano.
Ao assumir, o governo do PT encontrou cerca
de cem varas federais. Agora já são mais de quinhentas. Como você sabe, ou
deveria saber, são as operações da Polícia Federal e as varas da Justiça
Federal que, no âmbito federal, investigam, combatem e julgam os crimes de
corrupção. Durante o governo do PSDB, havia Geraldo Brindeiro, o “engavetador
geral da república”.
Durante o governo do PT poderosos membros
do governo em exercício foram investigados, denunciados pelo Procurador Geral
da República (não mais um “engavetador”), julgados, condenados e presos por
corrupção. Você pode não apreciar a famosa expressão do Lula, “nunca antes na
história desse país”, mas, quanto a esse fato, é possível desmenti-la? Quando e
em que circunstâncias isso, antes, ocorreu?
O que não dá é para alcunhar o PT de “dono
espúrio de um Brasil que é de todos nós”, uma frase de efeito cujo único
objetivo é o aplauso fácil. Ou de falar em “aparelhamento do Estado”, um mantra
que pode ser considerado bonitinho para aqueles que ignoram as formas pelas
quais se materializam os processos políticos, mas que se torna ridículo se
proferido por um intelectual (FHC) ciente de que o aparelhamento do Estado faz
parte do processo democrático, uma vez que todo partido que chega ao poder
preenche os espaços de indicação política existentes no governo justamente como
meio de oferecer aos eleitores a direção política que eles escolheram através
da eleição livre. Ou você acha que o PSDB não “aparelhou” o governo federal,
quando lá esteve, ou, atualmente, não nomeou todo e cada um dos cargos
políticos de livre nomeação no Estado de São Paulo durante esses vinte anos de
seu governo (algo a dizer sobre a “perpetuação no poder” em São Paulo?).
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