Aécio representa uma coligação de partidos de
ultradireita, com uma base ainda mais conservadora que a do governo Dilma no
Parlamento.( Por Jean Wyllys)
O muro não é meu lugar, definitivamente. Nunca
gostei de muros, nem dos reais nem dos imaginários ou metafóricos. Sempre
preferi as pontes ou as portas e janelas abertas, reais ou imaginárias. Estas
representam a comunicação e, logo, o entendimento. Mas quando, infelizmente, no
lugar delas se ergue um muro, não posso tentar me equilibrar sobre ele. O certo
é avaliar com discernimento e escolher o lado do muro que está mais de acordo
com o que se espera da vida. O correto é tomar posição; posicionar-se mesmo que
a posição tomada não seja a ideal, mas a mais próxima disso. Jamais lavar as
mãos como Pilatos – o que custou a execução de Jesus – ou sugerir dividir o
bebê disputado por duas mães ao meio. Sei que cada escolha é uma renúncia. E,
por isso, estou preparado para os insultos e ataques dos que gostariam que eu
fizesse escolha semelhante às suas. Por respeito à democracia interna do meu
partido, aguardei a deliberação da direção nacional para dividir, com vocês,
minha posição sobre o segundo turno. E agora que o PSOL já se expressou, eu
também o faço.
Agora, no segundo turno, a eleição é entre os dois candidatos que a
população escolheu: Dilma Rousseff e Aécio Neves. E eu não vou fugir dessa
escolha porque, embora tenha fortes críticas a ambos, acredito que existam
diferenças importantes entre eles.
A candidatura de Aécio Neves – com o provável apoio de Marina Silva (e o
já declarado apoio dos fundamentalistas MAL-AFAIA e Pastor Everaldo; do
ultrarreacionário Levy Fidélix; da quadrilha de difamadores fascistas que tem
por sobrenome Bolsonaro e do PSB dos pastores obscurantistas Eurico e Isidoro)
– representa um retrocesso: conservadorismo moral, política econômica
ultraliberal, menos políticas sociais e de inclusão, mais criminalização dos
movimentos sociais, mais corrupção (sim, ao contrário do que sugere parte da
imprensa, o PT é um partido menos enredado em esquemas de corrupção que o PSDB),
mais repressão à dissidência política e menos direitos civis.
Mesmo com todos as críticas que eu fiz, faço e continuarei fazendo aos
governos do PT, a memória da época do tucanato me lembra o quanto tudo pode
piorar. Por outro lado, Aécio representa uma coligação de partidos de
ultradireita, com uma base ainda mais conservadora que a do governo Dilma no
Parlamento. Esse alinhamento político-ideológico à direita entre Executivo e
Legislativo é um perigo para a democracia.
Vocês, que acompanham meus posicionamentos no Congresso, na imprensa e
aqui sabem o quanto eu fui crítico, durante esses quatro anos, das claudicações
e recuos do governo Dilma e do tipo de governabilidade que o PT construiu. Mas
sabem, também, que tenho horror a esse antipetismo de leitor da revista marrom,
por seu conteúdo udenista, fundamentalista religioso, classista e ultraliberal
em matéria econômico-social. Considero-o uma ameaça às conquistas já feitas,
que não são todas as que eu desejo, mas existem e são importantes, principalmente
para os mais pobres. As manifestações de racismo e classismo que vi nos últimos
dias nas redes sociais contra o povo nordestino, do qual faço parte como baiano
radicado no Rio, mais ainda me horrorizam.
Por isso, aderindo à posição da direção nacional do PSOL, que declarou
"Nenhum voto em Aécio", eu declaro que, neste segundo turno das
eleições, EU VOTO EM DILMA e a apoio, mesmo assegurando a vocês, desde já, que
farei oposição à esquerda ao seu governo (logo, uma oposição pautada na
justiça, na ética, nas minhas convicções e no republicanismo), apoiando
aquilo que é coerente com as bandeiras que defendo e me opondo ao que
considero contrário aos interesses da população em geral e daqueles que eu
represento no Congresso, como sempre fiz.
Hoje, antes de dividir estas palavras com vocês, entrei em contato com a
coordenação de campanha da presidenta Dilma para antecipar minha posição e
cobrar, dela, um compromisso claro com agendas mínimas que são muito caras a
mim e a todas as que me confiaram seu voto.
E a presidenta Dilma, após argumentar que pouco avançou na garantia
de direitos humanos de minorias porque, no primeiro mandato, teve de levar em
conta o equilíbrio de forças em sua base e priorizar as políticas sociais mais
urgentes, garantiu que, desta vez, vai:
1. fazer todos os esforços que lhe cabem como presidenta para convencer
sua base a criminalizar a homofobia em consonância com a defesa de um estado
penal mínimo;
2. fazer todos os esforços que lhe cabem como presidenta para mobilizar
sua base no Legislativo para legalizar algo que já é uma realidade jurídica: o
casamento CIVIL igualitário (ela ressaltou, contudo, que vai tranquilizar os
religiosos de que jamais fará qualquer ação no sentido de constranger igrejas a
realizarem cerimônias de casamento; a presidenta deixou claro que seu
compromisso é com a legalização do CASAMENTO CIVIL – aquele que pode ser
dissolvido pelo divórcio – entre pessoas do mesmo sexo);
3. realizar maior investimento de recursos nas políticas de prevenção e
tratamento das DSTs/Aids, levando em conta as populações mais vulneráveis à
doença;
4. dar maior atenção às reivindicações dos povos indígenas, conciliando
o atendimento a essas reivindicações com o desenvolvimento sustentável;
5. e implementar o Plano Nacional de Educação (PNE) de modo a assegurar
a todos e todas uma educação inclusiva de qualidade, sem discriminações às
pessoas com deficiências físicas e cognitivas, LGBTs e adeptos de religiões
minoritárias, como as religiões de matriz africana.
Por tudo isso, sobretudo por causa desse compromisso, EU VOTO EM DILMA e
apoio sua reeleição. Se ela não cumprir serei o primeiro a cobrar junto a
vocês.
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