Eu não estranho quando meus conterrâneos, cheios da seiva
ideológica, acreditam no liberalismo econômico e no liberalismo dos EUA. Acham
que o Estado americano é o mais democrático que existe e que a sua sociedade é
a mais livre. De modo frequente pensam que a maior pureza espiritual emana
entre as paredes do Vaticano com as diatribes típica de uma corte absolutista e
seus mordomo.
Não estranho alguns dos meus conterrâneos porque isso é
propaganda ideológica que se espalha no mundo todo. Como a coca-cola adere ao
gosto popular aquele sabor no mínimo estranho digamos assim: muito ruim. A
manipulação da psicologia social foi uma das maiores práticas desde as
revoluções burguesas associadas com a industrialização, o comércio mundial
monopolista e o domínio do sistema financeiro.
Os EUA têm a maior população carcerária do planeta. Composta
essencialmente de pobres, negros e chicanos.
A essência das prisões é por dano ao patrimônio privado. Alguma coisa por
comércio ilegal de drogas e uma miscelânea de coisas dispersas em vários
crimes. Mas são crimes do ralo de malhas seletivas: nunca atinge os ricos e
protege as categorias dominantes daquela atrasada sociedade: machos, brancos,
cristãos, políticos, jogadores do sistema financeiro, vendedores de armas e
assim por diante.
Recente reportagem do jornal americano Huffington Post expõem dois aspectos da sociedade americana que
deixaria aflita a alma de alguns dos meus conterrâneos, embora já se saiba de
pronto que os antolhos os protegerão dos horrores em volta que assim funcionou
entre os velhos ortodoxos da União Soviética. Nos EUA uma em cada seis mulheres
sofrem assédio sexual indevido ou são ostensivamente estupradas.
Uma sociedade que expõe este aspecto certamente não avançou
na história que aponta a libertação da mulher e o domínio pleno de seu corpo,
mente e vontade política. Chama a atenção que naquela cultura que foi sede de
alguns movimentos pelo direito de voto da mulher, que defendeu liberdades civis
em lutas sociais e políticas memoráveis e formulou bases teóricas e marchou por
teses feministas tenha um comportamento machista tão vil desse modo.
Nas forças armadas americanas a hierarquia militar
entronizou a impunidade machista ao extremo. O risco de uma mulher de serviço
nas forças armadas americanas ser estuprada por colegas machos é 180 maior do
que ser morta em combate no Afeganistão ou no Iraque. A estimativa é que em
apenas um ano 19 mil abusos sexuais contra mulheres tenham acontecido nas
forças armadas da “democracia americana”. A média é que uma em cada três
mulheres sofra de estupro ou outros abusos sexuais.
O pior de tudo isso é que dos 19 mil casos estimados, apenas
3,2 mil foram denunciados e se tornaram objeto de apuração interna. Isso por
enormes dificuldades tais como: não lavar roupa suja fora dos quartéis, o
próprio denunciado era o chefe que deveria apurar, vingança pessoal,
acobertamento hierárquico e assim por diante com um pool de injustiças e
violências legais contra as mulheres que denunciam. Das 3,2 mil denúncias que
foram apuradas apenas 6% redundaram em condenação e a maior parte com pagamento
de multas ou rebaixamento de posto.
Sempre humilhantes e arrasadores da integridade feminina
essa é a democracia que não ousa se reformar e nem se criticar. Por isso neste
dia de votar as mulheres em cada município devem ou deveriam ter pensado na
situação de cada uma. Nós contamos é conosco mesmo para ser outra sociedade com
melhores valores: mais solidária e mais igual.
Definitivamente não precisamos nos espelhar no que é ruim e
precisamos olhar bem dentro do olho do furacão que semeia inquietudes no
dia-a-dia das nossas cidades. Chega das amarras que existem para que não se
mova. Tudo se move e tudo pode ser mudado. Apaguemos esse círculo de giz que
tenta aprisionar a realidade com uma ilusão ideológica.
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