É
difícil imaginar que alguém, em sã consciência e em pleno século XXI, acredite ainda
que o gerir a “coisa privada” guarde alguma similaridade com o comandar a
“coisa pública”. Afinal, contemplam atividades completamente divorciadas, estanques
e dissociadas.
Na “privada”, cujo universo de atuação normalmente é restrito ou
direcionado a uma atividade específica, o objetivo final será sempre e
unicamente o “lucro”, o crescer pra repartir o bolo com um grupo restrito
(preferencialmente familiares), sem ter a obrigação de prestar contas a quem
quer que seja. Já na esfera “pública”, o universo de atuação além de ser muito
mais amplo, complexo e diversificado, tem no atendimento aos anseios de
milhares de pessoas o seu objetivo maior, a sua meta prioritária. Em suma, na
primeira vige o capital e sua falta de sensibilidade, enquanto que na segunda deve
prevalecer o cuidado com o social, o olhar preferencial nas pessoas. Portanto,
não têm nada a ver uma coisa com a outra.
A
reflexão acima é só para lembrar que, nas eleições recém-findas, lá no Crato, o
candidato vencedor usou como mote principal para se credenciar ao cargo de
prefeito da cidade, o fato de ser um empresário vitorioso do ramo cerâmico.
Inclusive, justiça lhe seja feita, a Cerâmica
Gomes de Matos, de sua propriedade, em sociedade com um dos irmãos (especializada
na produção de tijolos, lajotas e telhas) foi a primeira empresa a usar o
crédito de carbono no Nordeste. O crédito de carbono, como se sabe, é uma
espécie de moeda ambiental trocada por projetos que promovem a redução do
despejamento de gás carbono na atmosfera. Nos anos de 2007 e 2008, a Cerâmica Gomes
de Matos vendeu R$ 1,3 milhão de crédito de carbono ao Banco Mundial, deixando
de emitir 114.000 toneladas de CO². Portanto, uma mente plugada nas
transformações do dia a dia, o que já é um alento.
Mas,
retomando o fio da meada, a verdade é que o povo do Crato (aleluia, aleluia),
percebendo o estrago patrocinada por 08 anos de uma administração caótica, sem
norte e desprovida de qualquer apoio político, ficou tão decepcionada,
frustrada e desiludida por ver a cidade no fundo do poço, que achou por bem esquecer
as diferenças entre o privado e o público e jogar todas as suas fichas num
empresário de sucesso, acreditando que ele poderá levar para a prefeitura os
mesmos conceitos, dinâmica e atitudes adotadas em sua empresa particular. Um
autêntico “salto no escuro”, já que indo de encontro à racionalidade que viceja
nos campos público e privado.
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