Dentre as tantas histórias de Francisco Cândido Xavier, consta que, uma
vez, o médium viajava de avião, na época dos resistentes DC-3, tradicionais
bimotores a servir nas linhas aéreas do interior do Brasil, quando a aeronave resolveu
falhar um dos motores em pleno vôo, para desespero dos que a ocupavam.
Mobilização geral na tripulação, por si só conformada, nessas horas
difíceis. Os passageiros, todavia, entraram em pânico e desalento, tumultuando
de incomum agitação os céus tranquilos de Minas Gerais.
Chico Xavier também não ficou de fora daquilo de emoções intensas nos
momentos críticos. Entrou extremoso no clima que se configurava. Corre daqui,
corre dali, braços aos ares, mãos a coçar a cabeça, gritos, aflição que tomava
conta dos protagonistas, nas ensolaradas nuvens lá de cima.
Esse instante de gravidade fê-lo lembrar do
seu guia espiritual, Emmanuel. Naquilo tudo, recolheu-se aos mais íntimos
pensamentos e ainda conseguiu estabelecer contato e emitir pedido de urgência
ao bom espírito, dada a situação vexatória por demais aonde padecia.
Naquele meio tempo, o comandante estabelecera providências e buscava
aeroporto próximo, a fim de realizar o pouso forçado, quando Chico avistou,
deslocando-se pelo intervalo das poltronas do avião, chegando na sua direção, a
figura benfazeja de Emmanuel, motivo inigualável da mais pura felicidade do
médium.
- Sim,
Chico, me chamou? – indagou a princípio.
- Chamei, chamei – respondeu ofegante o sensitivo mineiro.
- Pois diga de lá o que com isso pretendeu.
- Ora, Emmanuel, não vê o que se passa comigo, no meio desse sufoco? Os
acontecimentos a seguir como vão, e morreremos todos, sem qualquer apelo.
O espírito olhou em volta, prudente, reconhecendo a agitação que
contagiava os ocupantes do vôo tumultuado. Outra vez fitou Cândido Xavier e
disse:
- Sei, Chico, que ocorre tudo isso. Vejo o medo que invade os corações
do grupo de que fazes parte, nesta hora – seguiu dizendo: - Contudo trate de
adquirir a calma; se comporte à altura; controle seus nervos; dê exemplo de
quem sabe das coisas do outro lado da vida.
- Mas, Emmanuel, o que espera para nos auxiliar a todos? Não observa
que posso a qualquer momento desencarnar com a queda do aparelho? – e, quase a
chorar, acrescentou: - Vou morrer sem ver os amigos, parentes...
- O que é que tem demais, Chico? Por isso mesmo, então, domine o
desespero e morra com educação... No mínimo isso, morra com educação.
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