Acabei de receber uma segunda ligação pelo meu Iphone 5 vinda
de uma antena qualquer de São Paulo. Era um primo que mal acabara de ouvir o
que lhe contara sobre as nossas tias Maria, Rosa e Raimunda, ligava-me de volta
para pedir que contasse essa para a Stela Siebra.
Pois bem.
- Stela desculpe o
tarde da noite, mas obrigação é obrigação e cumpro a tarefa a mim confiada.
Não é de agora. Isso já vem rolando com meses de
estratégias, táticas, aproveitamento de oportunidades e de um empreendedorismo digno
de um órgão qualquer desses do Sistema S, especialmente o SEBRAE. As minhas
tias Rosinha, Maria e Mundinha vinham desenvolvendo um complexo plano para uma
viagem transcontinental.
O mais fácil seria imaginar um retorno histórico dos
caminhos errados que pretendiam as Índias Orientais e terminaram em terras
nunca dantes navegáveis muito além da Taprobana. Elas queriam o GPS de retorno
das Américas até o Velho Continente.
- Velho Continente não
menina! Assim dito é muito vago. Como atingir o correio eletrônico exato de
nossa querença se o Google Earth não aponta a Cidade Imperial?
- Pois é Maria: As Sete Colinas, a Via Apia, o
Senado, as Catacumbas e a Pietá com o Cristo morto sobre os seus braços naquela estante de vidros do Vaticano!
- Mundinha eu examinei as nossas economias, o dinheiro
das nossas aposentadorias e o que ainda entra da fazenda tem o suficiente para
toda a viagem.
- Rosinha vamos entrar
no Decolar.Com para examinarmos as passagens e como adquiri-las e enquanto isso
tu vai aí no Ipad e examina o site dos Hotéis.Com, viu Maria?
Quer dizer as conversas evoluíram rapidamente. Já haviam
escolhido desde os voos de Juazeiro a Fortaleza, a TAP com conexão em Lisboa
até Roma. Traslado, hotéis e excursões na cidade. Os desejos de locais
turísticos. A vontade de tomar a bênção do Papa. A Capela Sistina, a Cúpula de
São Pedro, os milagres da Santa Igreja.
- Rosinha pelo amor de
Deus não vá meter a mão na “Bocca della Veritá”. Teus dedos são importantes
para mexer a massa da nossa tapioca matinal.
- Nem ligo para tais
aleivosias. A verdade é testemunha do meus pensamentos, palavras e obras. –
Tia Rosinha respondia à brincadeira de Tia Mundinha.
Como estamos sentido, além do complexo planejamento
internético, até já brincavam com as situações a serem visitadas por todas.
Queriam um breve deslocamento até Assis, mas isso também não seria problema. Já
poderiam sair do Potengi com tudo agendado. Desde a calçada do hotel em que
ficariam em Roma até o retorno no fim do dia, já incluindo a merenda antes de
dormir.
Naqueles dias havia mais luz nas manhãs, mais planos no
entardecer e mais sonhos na hora de dormir. A Cidade Eterna povoava cada
segundo das minhas tias, desde a hora de tirar o leite e colher os ovos no
galinheiro até o chá de canela antes do deitar-se. E o lindo destas aventuras é
que elas são imensamente duradouras: vão desde os planos, passam pelas
antecipações, as esperas, o deslocar-se, visitar, aproveitar e pelas
infindáveis horas contando vantagens, aventuras, perigos e espírito sagaz sobre
as situações inusitadas. Nem mesmo as fotografias digitais, com tantos picheis que
até duvidamos que os iphones tenham, são tão plenos de gigabits quanto o
relembrar-se, especialmente nas rodas de fogueira nas noites do sertão com
todos os moradores das vizinhanças em animada conversa.
Nada pode ser mais belo do que tais momentos a não ser
quando a era da informação e do conhecimento mostra algumas das suas faces
indesejáveis. O ruim que sempre se infiltra nos planos do bem viver. Pois foi
isso que motivou os meus telefonemas para o primo em São Paulo.
Tia Rosinha com toda a decepção do mundo saiu da mesa do
desktop e foi encontrar-se com as irmãs que se sentavam na brisa do entardecer,
sobre as espreguiçadeiras na varanda. Maria já sentiu o semblante pesado da
irmã:
- O quê foi que houve
mulher?
- O prefeito de Roma
proibiu a pessoas de merendarem enquanto visitam as ruínas da Roma Imperial. E
agora? Como vamos merendar?
2 comentários:
Eita, Zé do Vale, que as tias se superam a cada dia (e a cada invenção/novidade tecnológica)!!
Adorei o roteiro da viagem e vou te dizer uma coisa, sem merenda não dá mesmo pra bater pernas pelas ruínas da Roma Imperial.(rrsrsrs) Mas o que seria mesmo que as tias levariam pra merendar em Roma? Novidades das Oropa ou as nossas tradicionais merendas nordestinas? Tô tão curiosa.
Outra coisa: nenhuma delas é romântica, a ponto de querer conhecer a Fontana de Trevi?
Bom, apesar de super antenadas, as tias conservam outros velhos costumes, não é?
Ah, isso já é provocação para o escritor. (risos)
Abraços, Zé do Vale. Sou fã das tias.
Eita, Zé do Vale, que as tias se superam a cada dia (e a cada invenção/novidade tecnológica)!!
Adorei o roteiro da viagem e vou te dizer uma coisa, sem merenda não dá mesmo pra bater pernas pelas ruínas da Roma Imperial.(rrsrsrs) Mas o que seria mesmo que as tias levariam pra merendar em Roma? Novidades das Oropa ou as nossas tradicionais merendas nordestinas? Tô tão curiosa.
Outra coisa: nenhuma delas é romântica, a ponto de querer conhecer a Fontana de Trevi?
Bom, apesar de super antenadas, as tias conservam outros velhos costumes, não é?
Ah, isso já é provocação para o escritor. (risos)
Abraços, Zé do Vale. Sou fã das tias.
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