A história é a que seguirá. Havia um povo muito esforçado, morando
nas terras baixas por onde corria um rio de águas limpas e puras. As águas do
rio eram a riqueza daquele povo: dela vinha a irrigação dos alimentos, a
solução da sua cozinha e o cuidado dos produtos trocados com outros povos.
O
povo descobriu que os cavalos que habitavam as estepes poderiam ser utilizados
para transportar os produtos trocados à distância, em maior quantidade e sem o
sacrifício próprio.
Por isso alguns foram destacados para laçar e cuidar dos
animais. Logo se deram conta da importância daqueles animais para as pessoas e
passaram a exigir cada vez mais recursos para fazer a parte que lhes cabia.
As pessoas, na sua terra, com o rio de águas limpas e puras
virava o dia de sol a sol em seus afazeres, fizesse inverno ou seca, fosse
calor ou frio. Os cuidadores dos cavalos nada mais faziam do que subir e descer
das estepes. Passaram a morar no único estreito da montanha que ligava a
planície e o planalto e pelo controle exigiam cada vez mais parcela dos
produtos fruto do trabalho de todos.
Ficaram tão espertos e egoístas que ao levarem os cavalos a
se saciarem nas águas puras e limpas do rio, se desleixavam e os animais
urinavam, turvavam as águas com as patas, defecavam na correnteza e o povo
sofria a poluição das águas. Os cuidadores tinham naquela atitude o poder de
força capaz de fazer o que bem quisessem sem que ninguém nada pudesse em
contrariedade.
Quando o povo começava a se irritar com aquela arrogância,
eles corrompiam os mestres do povo para dizerem que o mundo era assim mesmo e
que nada se podia contra. Se um mal-estar se generalizasse eles mandavam porta-vozes
anunciarem o pior por vir se as coisas não fossem mais como eles queriam que
fosse.
O povo foi perdendo capacidade de plantar e produzir e assim
os cavalos foram ficando ociosos. Com os cavalos ociosos os cuidadores perderam
parte da boa vida que levavam. Eles rebaixaram algumas exigências, mas não o
teor das ameaças e do medo não.
Naquela situação o povo se lixou para os mestres e porta-vozes
e começou a fazer juízo da própria realidade. Até que um dia chamaram uma
mulher muito simples, vivia anotando o estoque dos produtos trocados e
disseram: “vamos lhe dar uma nova tarefa. Você irá dizer aos cuidadores de
cavalos que só poderão beber água no nosso rio se deixarem a água limpa e pura.
Como é a natureza da água.”
A moça foi e deu o recado. Missão cumprida foi para casa
descansar. No dia seguinte um porta-voz muito importante anunciou para que
todos ouvissem: os cavalos foram levados até a beira do rio e como não têm a liberdade
de beber a água do modo que sabem se recusaram a beber a água.
O porta-voz gritava bem alto para que o povo soubesse que os
cuidadores de cavalos estavam se lixando para o recado da moça. A moça ficou
uma arara. Sacrificara-se indo até o estreito onde os cuidadores moraram, fora
educada e ao invés de ameaça, soube argumentar com as vantagens da água limpa e
pura para todos, inclusive para a capacidade de produzir mais e gerar
necessidade de utilizarem-se os cavalos. Agora ela via todo este esforço
tornado em nada pelo anúncio do porta-voz.
Só podia ficar uma arara. Além de ter chamado o porta-voz e
demonstrado a irritação, chamou o companheiro que fora na viagem para negociar
com os cuidadores de cavalos e disse: os cavalos não bebem mais e
transportaremos os produtos com alguns cavalos que vivem por aqui mesmo.
Os cuidadores se desesperaram. Não é bem isso, este porta-voz
é um idiota. Não representa as nossas intenções. Nós queremos mais produção,
água limpa e pura e levar os produtos. Não queremos outra coisa, foi tudo um
mal entendido.
Ficou tudo bem? Acabou de acontecer. Vamos assistir aos
desdobramentos.
Um comentário:
Maravilha!
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