Estávamos ainda no século 19 quando veio ao mundo um dos maiores poetas da música popular de nossa terra : ORESTES BARBOSA, nascido aqui no Rio de Janeiro, no dia 7 de maio de 1894.
Autor de versos maravilhosos, muitos musicados por Francisco Alves (14), outros por Sílvio Caldas (também 14) e inúmeros outros compositores.
ORESTES foi autodidata e muito cedo começou no jornalismo, sendo sempre um lutador pela democracia, a ponto de, em 1945, fundar um jornal exatamente com o nome de "Democracia", que não durou muito, mas foi combativo quando estávamos saindo da ditadura Vargas e enfrentaríamos as primeiras eleições livres.
A primeira gravação de uma composição sua foi "Flor do Asfalto", com J.Thomaz, gravada por Francisco Alves em 1928. Chico só passou a fazer parceria com Orestes em "Abelha da Ironia"(1932).
Seguiram “”A Mulher que Ficou na Taça; “Não Sei”; “Romance”;. “Dona da Minha Vontade”; “Por Teu Amor”...
Somente em 1936, Sílvio começou a gravar Orestes Barbosa, com "Santa dos Meus Amores".
No ano seguinte gravou, pela primeira vez, o clássico "Chão de Estrelas", tendo na outra face do disco de 78 rotações outra valsa: “Arranha-Céu”.
CHÃO DE ESTRELAS
Orestes Barbosa e Sílvio Caldas
Minha vida era um palco iluminado
Eu vivia vestido de dourado
Palhaço das perdidas ilusões
Cheio dos guizos falsos da alegria
Andei cantando a minha fantasia
Entre as palmas febris dos corações
Meu barracão no morro do Salgueiro
Tinha o cantar alegre de um viveiro
Foste a sonoridade que acabou
E hoje, quando do sol, a claridade
Forra o meu barracão, sinto saudade
Da mulher pomba-rola que voou
Nossas roupas comuns dependuradas
Na corda, qual bandeiras agitadas
Pareciam estranho festival!
Festa dos nossos trapos coloridos
A mostrar que nos morros mal vestidos
É sempre feriado nacional
A porta do barraco era sem trinco
Mas a lua, furando o nosso zinco
Salpicava de estrelas nosso chão
Tu pisavas os astros, distraída,
Sem saber que a ventura desta vida
É a cabrocha, o luar e o violão
VESTIDO DAS LÁGRIMAS
Sílvio Caldas e Orestes Barbosa
Vou me mudar soluçante
Do apartamento elegante
Que tem do antigo fulgor.
Lindos biombos ornados
,De crisântemos dourados
Cenário do nosso amor
A nossa vida calma,
Mas eu senti em minh'alma
Um medo não sei de que;
E um dia quanta tristeza,
Achei a lâmpada acesa
E não achei mais você..
.Fechei a luz com vergonha
Da minha face tristonha.
Para mim mesmo esganar..
.Para não ver nos espelhos
Meus olhos muito vermelhos
De tanto, tanto, chorar...
E solucei, vou ser franco,
Só o luar,-cisne branco-
Ouviu meu soluçar.
O soluçar comovido
Com que eu molhava o vestido
Que você deixou ficar.
"Vestido das Lágrimas" foi gravada por Floriano Belhem, um cantor que pouco gravou. É que Sílvio e Orestes tiveram uma desavença e Sílvio negou-sae a gravar essa e a valsa "Soluços".
Quem acabou levando a melhor foi Floriano Belhem.
Além dessas composições, Sílvio e Orestes foram autores de "O Nome Dela eu Não Digo"; "Suburbana "; "Serenata"; "Santa dos Meus Amores"...
Quando do centenário de nascimento de Orestes (7 de maio de 1994) a Caixa Econômica, pelo fato de ele ter uma composição com esse nome, fez uma homenagem especial a Orestes, em sua agência no Boulevard, na qual Sílvio Caldas, já com 86 anos, interpretou "Chão de Estrelas "(o óbvio) e "Serenata"(outra valsa da dupla Orestes e Silvio Caldas, de difícil interpretação).
Foi a última vez que vi Sílvio Caldas e penso que foi sua última apresentação em público.
Nessa mesma festa, Roberto Barbosa, neto de Orestes, lançou um livro sobre seu avô, com o nome de "Passeio Público", no qual se podem conhecer as várias etapas da vida de Orestes e a relação de todas suas composições.
Ali confirmamos que a primeira gravação de uma composição sua foi exatamente "Flor do Asfalto", com J.Thomaz, gravada por Francisco Alves .
Na capa do livro de Roberto Barbosa tem o manuscrito de "Chão de Estrelas", que desmente uma informação que Sílvio Caldas gostava de repetir dizendo que o nome "Chão de Estrelas" fora dado à composição por Guilherme de Almeida, porque a música chamar-se-ia "Sonoridade que Acabou".
Conversando a esse respeito com Roberto Barbosa, ele disse que Sílvio gostava de "inventar" histórias.
Em um dia de Nossa Senhora da Glória (15 de agosto de 1966) Orestes Barbosa partiu para a Glória do céu.
Sílvio, Orestes e mais Francisco Alves hoje se encontram “do outro lado da vida” , mas suas passagens por este mundo foram de grande riqueza para nossa música popular
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