por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



quarta-feira, 9 de maio de 2012

ORESTES BARBOSA- por Norma Hauer



Estávamos ainda no século 19 quando veio ao mundo um dos maiores poetas da música popular de nossa terra : ORESTES BARBOSA, nascido aqui no Rio de Janeiro, no dia 7 de maio de 1894.

Autor de versos maravilhosos, muitos musicados por Francisco Alves (14), outros por Sílvio Caldas (também 14) e inúmeros outros compositores.

ORESTES foi autodidata e muito cedo começou no jornalismo, sendo sempre um lutador pela democracia, a ponto de, em 1945, fundar um jornal exatamente com o nome de "Democracia", que não durou muito, mas foi combativo quando estávamos saindo da ditadura Vargas e enfrentaríamos as primeiras eleições livres.

A primeira gravação de uma composição sua foi "Flor do Asfalto", com J.Thomaz, gravada por Francisco Alves em 1928. Chico só passou a fazer parceria com Orestes em "Abelha da Ironia"(1932).

Seguiram “”A Mulher que Ficou na Taça; “Não Sei”; “Romance”;. “Dona da Minha Vontade”; “Por Teu Amor”...

Somente em 1936, Sílvio começou a gravar Orestes Barbosa, com "Santa dos Meus Amores".

No ano seguinte gravou, pela primeira vez, o clássico "Chão de Estrelas", tendo na outra face do disco de 78 rotações outra valsa: “Arranha-Céu”.

CHÃO DE ESTRELAS

Orestes Barbosa e Sílvio Caldas

Minha vida era um palco iluminado

Eu vivia vestido de dourado

Palhaço das perdidas ilusões

Cheio dos guizos falsos da alegria

Andei cantando a minha fantasia

Entre as palmas febris dos corações

Meu barracão no morro do Salgueiro

Tinha o cantar alegre de um viveiro

Foste a sonoridade que acabou

E hoje, quando do sol, a claridade

Forra o meu barracão, sinto saudade

Da mulher pomba-rola que voou

Nossas roupas comuns dependuradas

Na corda, qual bandeiras agitadas

Pareciam estranho festival!

Festa dos nossos trapos coloridos

A mostrar que nos morros mal vestidos

É sempre feriado nacional

A porta do barraco era sem trinco

Mas a lua, furando o nosso zinco

Salpicava de estrelas nosso chão

Tu pisavas os astros, distraída,

Sem saber que a ventura desta vida

É a cabrocha, o luar e o violão


VESTIDO DAS LÁGRIMAS

Sílvio Caldas e Orestes Barbosa

Vou me mudar soluçante

Do apartamento elegante

Que tem do antigo fulgor.

Lindos biombos ornados

,De crisântemos dourados

Cenário do nosso amor

A nossa vida calma,

Mas eu senti em minh'alma

Um medo não sei de que;

E um dia quanta tristeza,

Achei a lâmpada acesa

E não achei mais você..

.Fechei a luz com vergonha

Da minha face tristonha.

Para mim mesmo esganar..

.Para não ver nos espelhos

Meus olhos muito vermelhos

De tanto, tanto, chorar...

E solucei, vou ser franco,

Só o luar,-cisne branco-

Ouviu meu soluçar.

O soluçar comovido

Com que eu molhava o vestido

Que você deixou ficar.


"Vestido das Lágrimas" foi gravada por Floriano Belhem, um cantor que pouco gravou. É que Sílvio e Orestes tiveram uma desavença e Sílvio negou-sae a gravar essa e a valsa "Soluços".

Quem acabou levando a melhor foi Floriano Belhem.

Além dessas composições, Sílvio e Orestes foram autores de "O Nome Dela eu Não Digo"; "Suburbana "; "Serenata"; "Santa dos Meus Amores"...

Quando do centenário de nascimento de Orestes (7 de maio de 1994) a Caixa Econômica, pelo fato de ele ter uma composição com esse nome, fez uma homenagem especial a Orestes, em sua agência no Boulevard, na qual Sílvio Caldas, já com 86 anos, interpretou "Chão de Estrelas "(o óbvio) e "Serenata"(outra valsa da dupla Orestes e Silvio Caldas, de difícil interpretação).

Foi a última vez que vi Sílvio Caldas e penso que foi sua última apresentação em público.

Nessa mesma festa, Roberto Barbosa, neto de Orestes, lançou um livro sobre seu avô, com o nome de "Passeio Público", no qual se podem conhecer as várias etapas da vida de Orestes e a relação de todas suas composições.

Ali confirmamos que a primeira gravação de uma composição sua foi exatamente "Flor do Asfalto", com J.Thomaz, gravada por Francisco Alves .

Na capa do livro de Roberto Barbosa tem o manuscrito de "Chão de Estrelas", que desmente uma informação que Sílvio Caldas gostava de repetir dizendo que o nome "Chão de Estrelas" fora dado à composição por Guilherme de Almeida, porque a música chamar-se-ia "Sonoridade que Acabou".

Conversando a esse respeito com Roberto Barbosa, ele disse que Sílvio gostava de "inventar" histórias.

Em um dia de Nossa Senhora da Glória (15 de agosto de 1966) Orestes Barbosa partiu para a Glória do céu.

Sílvio, Orestes e mais Francisco Alves hoje se encontram “do outro lado da vida” , mas suas passagens por este mundo foram de grande riqueza para nossa música popular


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