por José do Vale Pinheiro Feitosa




Viva junto à alma mais próxima e compreenda que a proximidade é a medida da distância. Que a distância que os separa é este movimento maravilhoso da matéria e da energia. A maravilha é apenas esta surpresa porque esta proximidade é tão diminuta entre os dois e é a inesperada distância.

José do Vale P Feitosa



sexta-feira, 8 de julho de 2011

A AMBROSIA E A COCA-COLA- por José do Vale Feitosa



As colheradas de ambrosia numa tarde amena e esticada pelas férias são a mais universal comunicação entre os seres humanos. Quem inventou a ambrosia? Existe patente da ambrosia? Algum egoísta se arvora em único dono da ambrosia?

Não. Ninguém detém o monopólio da ambrosia. Não se conhece por quem foi inventada, não se costuma um selo de procedência e nem é necessário pagar-se royalties por tal consumo. A ambrosia é como o ar que circula na atmosfera. pode ser poluído, mas é um recurso natural e sem dono. A ambrosia é de todos.

Como das esticadas tardes amenas das férias. Existe nela um grande canal que se comunica com tempos tão remotos na história que dizemos cultura. A ambrosia é como um sorriso, um ar triste, um gesto de querença. Ela é como a Pamonha, a Feijoada, o Bacalhau a Zé do Pipo, tal e qual um Einsbein, uma lembrança de Madaleine na intimidade burguesa de Marcel Proust. A ambrosia somos nós como tais ditas coisas também o são.

Numa azáfama da plenitude do dia o mundo negocia. Inventam-se, aumentam-se os valores banais, subtraem-se os defeitos de face, se tornam proprietários das terras comunais e cercam para criar pasto, os alqueires em que todos plantavam. Assim é que o cupuaçu foi patenteado por uma firma japonesa. Uma usurpação do coletivo em aproveito de apenas um.

No meio dia os negócios fervem. A Coca-Cola inventou uma bebida e a transformou em segredo. Se assim ocorresse com a ambrosia um único fabricante existiria espalhado em filiais pelo mundo, avarentamente agarrado à sua invenção. A coca-cola é tão própria de um coletivo roubado já que milhares trabalham em suas fábricas, centenas de engenheiros químicos trabalham na engenharia do sabor regionalizado.

Seja pela usurpação do recurso coletivo, seja pela apropriação do esforço coletivo a ambrosia não estaria como é numa tarde amena de umas férias esticadas. Um vento do litoral, o canto da folhagem de uma mangueira, a luminosidade fosforescente de verdes do jardim sobre a vida. Da vida que chama feito um bem-te-vi de galho em galho.
por José do Vale Pinheiro Feitosa

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